Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Na sexta-feira, 13 de outubro, às 19h30, uma edição especial do Projeto Raros apresenta o programa duplo com Tara Diabólica (The Sadist, 1963), de James Landis, primeiro longa fotografado pelo lendário Vilmos Zsigmond nos Estados Unidos, e Malatesta's Carnival of Blood (1973), inventivo horror b dirigido por Christopher Speeth. Com apoio do Imaculada Pub e apresentação do crítico Cristian Verardi, a sessão tem entrada franca.
A partir de 14 de outubro, a Cinemateca Capitólio apresenta a mostra O Cinema é Nicholas Ray e Ida Lupino, com oito filmes dirigidos por dois nomes incontornáveis da virada moderna do cinema hollywoodiano, incluindo Johnny Guitar, No Silêncio da Noite, Cinzas que Queimam e O Mundo Odeia-me. Em novembro, uma segunda parte do ciclo apresentará mais filmes, com foco nos trabalhos de atuação de Ray e Lupino.
A mostra Berlanga & Bardem, dedicada a Luis García Berlanga e Juan Antonio Bardem, segue em cartaz até o dia 18 de outubro.
A programação é uma realização da Cinemateca Capitólio e do Instituto Cervantes de Porto Alegre, com apoio do Ministerio de Asuntos Exteriores, Unión Europea y Cooperación, e da Versátil Filmes. O valor do ingresso é R$ 10,00.
Sinopse: Henry Sugar faz de tudo para dominar uma técnica extraordinária para trapacear nos jogos de azar.
Wes Anderson vem chamando bastante atenção nestes últimos tempos com relação aos seus filmes, pois embora o mesmo mantenha a sua visão autoral, ao mesmo tempo ele está cada vez mais indo além com relação a transição entre o cinema com uma peça teatral. Para dizer a verdade não é nem bem a linguagem teatral que ele queira nos passar, mas sim usando recursos de antigamente para elaborar diversas histórias em uma e fazendo com que prestemos maior atenção aos seus desdobramentos vistos na tela. Foi assim o que aconteceu em "A Crônica Francesa" (2021) e intensificando ainda mais em "Asteroid City" (2023).
Claro que não faltou críticas por parte do público que não compreendeu essa proposta. Porém, esse mesmo público anda cansado dos cenários CGI dos filmes de super-heróis e optando por um cinema mais realista, menos fantasioso e que soe mais crível. No caso de Anderson ele se encontra no meio dessa transição sem escolher um lado, mas sim propondo para que o público desfrute de tramas em que o velho e o novo se cruzem para o nascimento de algo no mínimo diferente do que estamos acostumados. "A Maravilhosa História de Henry Sugar" e outros curtas (2023) é basicamente isso, onde o realizador intensifica ainda mais a sua proposta inserida em seus últimos filmes, queira o público ou não.
Os curtas adaptam diversos contos do autor britânico Roald Dahl - mais conhecido por A Fantástica Fábrica de Chocolate - com foco na história de Henry Sugar (Benedict Cumberbatch), um homem rico que acaba ganhando a habilidade de enxergar através de objetos e prever acontecimentos do futuro graças a um livro que roubou. Com os novos talentos, o homem bola um grande plano para trapacear em jogos de apostas. Com Ralph Fiennes, Ben Kingsley, Rupert Friend, Dev Patel e Richard Ayoade.
Uma vez que nos é apresentado a premissa Wes Anderson o mesmo já nos deixa claro para prestarmos bastante atenção com relação aos acontecimentos vistos na tela, principalmente pelo fato que os respectivos personagens quebram a quarta parede a todo momento e fazendo com que os próprios nos obriguem a entender o que eles estão dizendo. Se um determinado personagem interpretado por Ralph Fiennes começa a contar a história sobre Henry Sugar, esse último por sua vez começa a contar a história de um artista que vê tudo com os olhos fechados, sendo que a sua história é contada através de dois médicos e cujo mesmos ouvem outra história contada pelo artista. Ou seja, é como se descêssemos de um andar para o outro para testemunharmos novas histórias, mesmo quando as mesmas sejam interligadas.
E como não poderia deixar de ser, principalmente após o que foi visto em "Asteroid City", os cenários vão mudando a todo o momento, com o direito de técnicos surgindo sem nenhum aviso e nos apresentando um novo local em que dá continuidade a trama com os seus desdobramentos. O enquadramento, por sua vez, quase parece uma HQ em movimento o que faz não me surpreender se caso alguns desses momentos se tornarem até mesmo memes na internet em um futuro próximo. Como não poderia deixar de ser, a fotografia possui as velhas cores quentes que sintetiza toda a visão autoral do realizador, além de uma edição de arte cartunesca e que possui forte ligação ao que já foi visto na filmografia do cineasta.
Talvez muitos acusem Wes Anderson de se tornar repetitivo, mas em tempos em que poucos cineastas norte-americanos possuem carta branca para fazer tudo do seu jeito, é bom ver alguém como Anderson obter a chance de ter total liberdade de fazer algo diferente e que foge do buraco sem fundo da previsibilidade que o cinema hollywoodiano está passando atualmente. E olhe que estou falando de quatro curtas metragens lançados recentemente pela netlfix, mas que em termos de qualidade estão acima de qualquer outra produção lançada pelo streaming recentemente.
Acompanhado ainda pelos curtas “O Cisne”, “O Caçador de Ratos” e “Veneno”, "A Maravilhosa História de Henry Sugar" é Wes Anderson livre de quaisquer amarras e nos brindando com uma nova proposta de se apreciar cinema.
Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana.
SESSÃO CLUBE DE CINEMA
Local: Sala Eduardo Hirtz, Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana
Data: 14/10/2023, sábado, às 10:15 da manhã
"Nostalgia"
Itália, 2022, 118 min, 14 anos
Direção: Mario Martone
Elenco: Pierfrancesco Favino, Tommaso Ragno, Francesco Di Leva
Sinopse: Depois de 40 anos, Felice volta ao lugar onde nasceu, no centro de Nápoles. Ele reencontra sua mãe, suas lembranças, alguns antigos amigos e descobre que muitos códigos do seu antigo bairro ainda são os mesmos. O filme é baseado no romance homônimo de Ermanno Rea e competiu pela Palma de Ouro no Festival de Cannes. Também foi o título indicado pela Itália para concorrer ao Oscar de filme internacional.
Sobre o Filme: Atualmente vivemos em uma sociedade em que muitos tem aquela sensação nostálgica de tempos mais dourados e cujo alguns desejam revisitá-los. Porém, o passado guarda situações que guardam certos erros que não desejaríamos revê-los e cabe nós fugirmos deles ou então enfrentá-los. "Nostalgia" (2022) fala sobre retornar ao passado para rever as nossas cruzadas de um passado longincuo, mas que talvez tenha que enfrentar um alto preço.
Dirigido por Mario Martone e baseado na obra homônima do escritor italiano Ermanno Rea, no filme acompanhamos a história de Felice Lasco (Pierfrancesco Favino), um homem que, depois de passar quarenta anos longe de casa, dividindo seu tempo entre o Egito e o Líbano, decide retornar ao lugar onde nasceu: o bairro de Sanità, no centro de Nápoles, na Itália. Ao voltar para o local, Felice acaba redescobrindo os lugares que uma vez, há muito tempo, costumava andar, além de conhecer alguém que o ajudará a relembrar os antigos códigos do bairro, sendo completamente tomado por um passado que o devora.
Confira a minha crítica completa já publicada clicandoaqui.
Sinopse: Desesperada por dinheiro, uma mulher concorda em namorar o filho introvertido e desajeitado de 19 anos de um casal rico.
Tanto a comédia romântica como o besteirol vivem em decadência, pois as fórmulas de sucesso de ambas se encontram praticamente degastadas. O besteirol, por exemplo, sofre ainda mais pelo fato de que atualmente convive com tempos politicamente corretos e que qualquer piada pode acabar ofendendo determinados grupos de pessoas. Portanto, "Que Horas eu Te Pego?" é corajoso ao chegar em um momento em que se fazer comédia romântica ou besteirol se encontra praticamente impossível.
Dirigido por Gene Stupnitsky, o filme conta a história de Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher que tem o costume de sempre tomar as atitudes erradas. Quando percebe que pode perder a sua casa de infância, onde cresceu e viveu por muito tempo, ela decide arranjar um emprego. Mas não é qualquer emprego que se acha nos anúncios, e sim um pedido desesperado de dois pais com seu filho de dezenove anos. O anúncio descreve o trabalho que ela terá de fazer: "namorar" o garoto de dezenove anos, Percy, que é muito introvertido, antes que ele saia definitivamente de casa para ir para a faculdade.
Quando se lembra de Jennifer Lawrence imediatamente vem à mente papeis dramáticos como "Mãe" (2017) ou de franquias criativas como "Jogos Vorazes" (2012). Porém, a ganhadora do Oscar pelo filme "O Lado Bom da Vida" (2012) demonstrou que possui sua veia cómica, ao menos do seu jeito, no filme "Não Olhe Para Cima" (2022). Portanto, Lawrence se entrega de corpo e alma para uma personagem sem papas na língua, pretensiosa, mas que não consegue escapar de diversos problemas corriqueiros da vida.
A partir do momento em que é paga para tirar a virgindade do jovem protagonista, interpretado de forma segura pelo ator Andrew Barth Feldman, nós já temos uma noção sobre o que irá acontecer em seguida, já que o filme possui diversas fórmulas de sucesso das comédias românticas de antigamente, mas entrelaçadas com um humor politicamente incorreto e que está cada vez mais raro de se ver hoje em dia. Portanto, é hilário a cena em que a personagem de Lawrence sai da água completamente nua para agredir um trio de adolescentes que estão roubando as suas roupas e nos surpreendendo pelo fato da atriz não se intimidar em cena.
Curiosamente, o filme fala sobre tempos em que essa nova geração de jovens não se entrega exatamente para o sexo em si, mas para outras coisas que vão desde as redes sociais, lives, Selfie e desse interesse constante de muitos ficarem observando a vida particular das pessoas através das redes. Se no passado tudo poderia gerar uma grande orgia juvenil, hoje parece que o medo pelo que os outros irão pensar faz com que a haja um freio mesmo que imperceptível para alguns. Não é o caso da personagem Lawrence, da qual ainda pertence a uma geração que não vê barreiras de fazer o que bem entender, mas tendo que enfrentar os dilemas morais do seu parceiro de cena.
A química de ambos é bastante divertida, sendo que Andrew Barth Feldman não se intimida perante atriz veterana e ao criar um personagem complexo e cheio de camadas. O filme, infelizmente, descamba por aquelas velhas fórmulas das comédias românticas, principalmente quando é explorado o passado complicado da protagonista. Por conta disso, do segundo ao terceiro ato já temos uma noção básica de como o filme irá se encerrar, principalmente para aqueles que viveram tempos em que ambos os subgêneros se encontravam fortes para dizer o mínimo.
Ao menos, o filme é um refresco para tempos em que as fórmulas de humor estão perdidas ao vento e que tão pouco possuímos um astro do besteirol como Jim Carrey para que possa conquistar o público. Talvez o que falta mais seja coragem dos grandes estúdios em começar a investir nos velhos hábitos e trazerem atualmente com uma nova vestimenta para agradar os plantonistas que sempre criticam as piadas das quais se sentem ofendidos. "Que Horas eu Te Pego?" é uma grata surpresa para aqueles que achavam que a comédia romântica e o besteirol estavam mortos e enterrados.
Sinopse: Após 40 anos longe de casa, Felice retorna ao lugar onde nasceu, no centro de Nápoles, e redescobre os lugares em que andava, os códigos do bairro e um passado que o devora.
Atualmente vivemos em uma sociedade em que muitos tem aquela sensação nostálgica de tempos mais dourados e cujo alguns desejam revisitá-los. Porém, o passado guarda situações que guardam certos erros que não desejaríamos revê-los e cabe nós fugirmos deles ou então enfrentá-los. "Nostalgia" (2022) fala sobre retornar ao passado para rever as nossas cruzadas de um passado longincuo, mas que talvez tenha que enfrentar um alto preço.
Dirigido por Mario Martone e baseado na obra homônima do escritor italiano Ermanno Rea, no filme acompanhamos a história de Felice Lasco (Pierfrancesco Favino), um homem que, depois de passar quarenta anos longe de casa, dividindo seu tempo entre o Egito e o Líbano, decide retornar ao lugar onde nasceu: o bairro de Sanità, no centro de Nápoles, na Itália. Ao voltar para o local, Felice acaba redescobrindo os lugares que uma vez, há muito tempo, costumava andar, além de conhecer alguém que o ajudará a relembrar os antigos códigos do bairro, sendo completamente tomado por um passado que o devora.
Pierfrancesco Favino vem se tornando um rosto conhecido entre os cinéfilos gaúchos, principalmente para aqueles que frequentam as cinematecas do centro histórico de Porto Alegre. Filmes como "O Traidor" (2022), "Irmãos a Italiana" (2021), "O Colibri" (2023) foram alguns títulos que vieram para cá e fazendo com que muitos observassem de perto o seu talento. Aqui não é diferente, já que ele cria para o seu personagem alguém complexo, que guarda consigo um grande peso de culpa um tanto que desconhecido no início, mas que logo vai sendo desvendado.
Mario Martone nos passa uma curiosa transição entre o presente e o passado, sendo que ele acontece sem nenhum aviso, mas logo percebemos através de uma tela estreita, como se o passado fosse mais dourado, mas contendo algo apertado e que incomodasse o protagonista como um todo. No passado, conhecemos Oreste Spasiano, interpretado com intensidade no presente por Tommaso Ragno, do qual soube lidar com a violência das gangues juvenis do local, mas caminhando por um caminho sem volta e fazendo com que o protagonista fosse embora. A interligação de ambos acaba se tornando o ponto forte do filme como um todo, ao ponto que quando ambos finalmente se encontram face a face se torna o ponto alto do filme.
Até lá, Mario Martone capricha em uma direção perfeccionista, da qual sintetiza toda a beleza e o lado da história do bairro de Sanità, no centro de Nápoles. Curiosamente, ficamos nos perguntando se há realmente ou não esse conflito entre gangues e a própria igreja no mundo real, mas da qual nasceu como uma espécie de simbolismo com relação as guerras infinitas que perduram diversos pontos da história da Itália. Um belo exemplo disso é a cena em que é explorada as catacumbas do local e onde se revela inúmeros crânios de vidas perdidas no passado.
Acima de tudo, o filme foca na questão de que sempre existirá uma segunda chance para tudo, mesmo quando a causa aparenta ser completamente perdida. O encontro dos dois protagonistas sintetiza os dois lados de uma mesma moeda, mas da qual uma cairá de um lado e caberá quem sobrevivera neste conflito. O final pode soar uma desagradável surpresa para alguns, mas que soa verossímil para aqueles que acompanhavam a trama com os pés no chão.
"Nostalgia" fala sobre redescobrir as nossas próprias raízes, mas que nem todas serão agradáveis ao serem revisitadas como um todo.
Neste ano, a Bienal Internacional de Arte Contemporânea do Sul (BIENALSUR) chega a sua 4ª edição, promovendo atividades em mais de 70 cidades, de 28 países, nos 5 continentes. Em Porto Alegre, a BIENALSUR apresenta uma mostra de vídeos de artistas latinoamericanos, intitulada “Ways of Vanishing” (Modos de Desaparecer). Realizada na Sala Redenção – Cinema Universitário, a mostra conta com três sessões, que acontecem nos dias 02, 03, 05 e 06 de outubro, às 16h e às 19h.
Com a curadoria da argentina Florencia Incarbone, a mostra “Ways of Vanishing” reúne produções de artistas do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Equador e México. Em suas três sessões, a mostra propõe uma investigação estética acerca do processo de desaparecimento. Uma cultura, um ecossistema, uma nação, um povo e até mesmo um edifício podem desaparecer ao longo do tempo ou em um instante, mas sempre há maneiras de ressurgimento. A arte oferece a possibilidade de “rematerialização” através do seu potencial expressivo, e fornece indícios de como lidar com processos radicais de destruição e transformação.
Todas as sessões têm entrada franca e aberta à comunidade em geral. A Sala Redenção está localizada no campus central da UFRGS, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.
Atenção: a programação foi alterada pela produção da BIENALSUR. Confira clicandoaqui.
"O que Terá Acontecido com Baby Jane?" (1962) fez parte de uma revolução que o gênero de suspense estava obtendo, sendo que se iniciou com o clássico "Psicose" (1960) e gerando assim cada vez mais filmes de teor tenso e psicológico. O diretor Robert Aldrich queria repetir o feito novamente com as atrizes Bette Davis e Joan Crawford, sendo que o clássico havia revitalizado a carreira de ambas e ao mesmo tempo fortalecendo ainda mais a rivalidade entre elas. Eis que então surgiria "Com a Maldade na Alma" (1964) projeto que tinha tudo para repetir a dobradinha, mas algo aconteceu no meio do percurso.
Joan Crawford chegou a filmar algumas cenas, mas como estava tendo uma fase difícil em sua vida pessoal, além de seus atritos constantes com Bette Davis, ela acabou adoecendo e tendo que se afastar das filmagens permanentemente. Coube então Robert Aldrich viajar até Londres para convencer Olivia de Havilland em substituir Crawford e que, felizmente ou infelizmente. aceitou a tarefa ingrata, pois ao assistir o filme percebo que era um papel realmente moldado para Joan Crawford. Mas do que trata exatamente o filme?
A trama começa em Louisiana, 1927. Samuel Eugene "Big Sam" Hollis (Victor Bueno), um rico proprietário, tem uma discussão com John Mayhew (Bruce Dern), o amante de sua filha, Charlotte Hollis (Bette Davis). John é casado com Jewel Mayhew (Mary Astor) e Sam diz para ele que continuará com a esposa, pois não terá nem Charlotte nem sua propriedade, que tanto sacrifício fez para reerguer. Sam avisa para John que no baile daquela noite romperá com Charlotte. John cumpre a exigência, deixando Charlotte inconformada. Logo depois John tem uma das mãos e a cabeça cortada por um cutelo, com Charlotte surgindo no salão com o vestido sujo de sangue.
Após 37 anos, Charlotte se tornou uma reclusa, que é vista até pelas crianças como uma assassina louca. Quem cuida dela é Velma Cruther (Agnes Moorehead), uma fiel criada. Porém ela enfrenta outro problema com a vinda do progresso, pois para fazerem uma autoestrada querem derrubar sua casa, que pertence à família desde os tempos da Guerra Civil. Ela se recusa a deixar o lugar, apesar dos pedidos do xerife Luke Standish (Wesley Addy), e atirou nos trabalhadores que entraram em suas terras. Charlotte chama a prima Miriam Deering (Olivia de Havilland) para lutar numa batalha pública para salvar seu lar.
O primeiro ato é um primor de filmagem, já que assim como foi visto em "O que Terá Acontecido com Baby Jane?" Robert Aldrich fez uma grande abertura para nos apresentar o início desse grande conflito psicológico que a personagem central estava envolvida. Curiosamente, é a própria Bette Davis que faz a versão mais jovem da personagem, mas cujo seu rosto fica entre as sombras e escondendo o fato de ser uma mulher muito mais velha. Vale destacar as luzes e sombras que moldam a bela fotografia do filme, sendo que ela remete aos bons tempos do cinema noir e ao mesmo tempo sintetizando um clima mórbido na medida em que a trama fica cada vez mais tensa no decorrer do tempo.
Se a trama em si que envolve um misterioso assassinato e herança sendo disputada não soe tão original hoje em dia, ao menos o roteiro colabora para que fiquemos na dúvida a todo o instante sobre o que realmente está acontecendo em cena. Em muitas ocasiões, por exemplo, Charlotte começa a ter diversas alucinações, sendo do amante lhe chamando, ou vendo mesmo sem cabeça em determinados momentos. A loucura impera em diversos pontos da trama, sendo que a governanta também nos transmite certo desiquilíbrio e que é interpretada de forma intensa pela atriz Agnes Moorehead acabou levando um Oscar por esse papel.
Não tenho a menor dúvida que Bette Davis se entregou ao limite no filme "O que Terá Acontecido com Baby Jane?", sendo que ali na minha opinião se encontra uma das atuações mais poderosas da história do cinema. Aqui ela novamente interpreta uma personagem complexa e com sérios problemas mentais, mas que em muitos momentos nos lembra o seu desempenho do filme anterior, o que acaba meio que prejudicando o resultado final. Porém, é de Bette Davis que estamos falando, uma intérprete que se entregava de corpo e alma aos seus personagens e aqui não é diferente mesmo não superando o seu maior desempenho anteriormente.
Porém, é triste constatar que o filme poderia ter sido melhor ainda se Joan Crawford tivesse se mantido no projeto, sendo que quando vemos Olivia de Havilland atuando nos passa uma sensação de incomodo, como se ela estivesse no lugar errado e na hora errada e cujo seu desempenho me pareceu como se ela estivesse imitando o que teria sido atuação de Joan Crawford. Não que eu esteja desmerecendo a grande veterana do cinema e que fez parte de clássicos como "E o Vento Levou" (1939), mas revendo hoje se percebe que ela caiu de paraquedas no projeto de forma involuntária, mas colocando em prática o que precisava ser feito durante o desenvolvimento das cenas.
É preciso reconhecer também que Robert Aldrich precisou tirar leite de pedra na elaboração de um projeto que causou certa dor de cabeça para os envolvidos e constatando que o mesmo criou cenas inesquecíveis para dizer o mínimo. A minha preferida fica mesmo para enigmática cena em que a personagem de Davis tem uma suposta alucinação e novamente se vê em volta do cenário do crime, mas todos os demais em cena estão usando máscaras, como houvesse alguém querendo esconder a verdade perante ela. Como se isso não bastasse, quando acreditamos que a personagem cometeu um ato terrível eis que não é bem assim o que havia acontecido, sendo que é partir daí que conhecemos o outro lado da moeda da personagem de Olivia de Havilland.
Por melhor que seja o filme, ao mesmo tempo eu acredito que ele sofreu da sombra do clássico "O que Terá Acontecido com Baby Jane?". Porém, é um longa-metragem que que revisto hoje reviste ao teste do tempo, sendo algo muito melhor do que é feito em termos de suspense hoje em dia em algumas ocasiões e que merece ser descoberto por essa nova geração de cinéfilos que procura por algo mais de significativo dentro da sétima arte. Atualmente o filme foi lançado em DVD pela Classicline e, portanto, vale aquisição.
"Com a Maldade na Alma" pode não ser um grande clássico do suspense, mas que merece todo o meu respeito ao me surpreender e diversos pontos da obra a serem analisados.