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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Cine Dica: Cine Dica: Streaming: 'Vozes'

Sinopse: Depois de uma tragédia ocorrer em sua nova casa, Daniel escuta um pedido de socorro sinistro e pede a ajuda de um famoso especialista em paranormalidade.

Fazer um filme de terror do modo tradicional que nos convença hoje em dia é algo complicado, principalmente em tempos em que o cinema "pós terror" tem ganhado espaço ao inserir mais realismo e com um teor bem reflexivo. Porém, há ainda bons exemplos de filmes produzidos que ainda usam os velhos clichês do gênero, mas conseguindo obter um resultado positivo, principalmente aqueles que conseguem fazer a gente pular da poltrona a todo momento. "Vozes" é um desses casos em que a velha fórmula pode ainda ser bem conduzida com uma boa direção e um roteiro que nos surpreende em cenas muito bem realizadas e imprevisíveis.

Dirigido por  Ángel Gomez Hernández, o filme conta a história de Daniel (Rodolfo Sancho) e Sara (Belén Fabra), que são um casal que costuma comprar casas em mau estado ao redor da Espanha e reformá-las para vender a um preço mais alto. Por isso eles acabam se mudando junto com o filho, Eric (Lucas Blas), para um casarão enorme, super deteriorado e mal assombrado. Já no primeiro dia Eric começa a ouvir vozes malignas, mas seus pais fazem pouco caso e, aos poucos, coisas sinistras começam a acontecer na casa, ao ponto de Dani ter que pedir ajuda ao especialista em fenômenos paranormais, Germán (Ramón Barea), e a filha deste, Sofia (Nerea Barros), para tentar fazer com que as assombrações parem de atormentá-los.

O grande acerto já no início do filme é criar personagens bem construídos para que faça com que a gente simpatize com eles e para assim temermos pelos seus destinos. O interessante é que o roteiro não dá nenhuma chance para aqueles personagens se guardarem em um porto seguro, pois a qualquer momento pode acontecer o pior para eles. Tudo isso moldado pelas fórmulas de sucesso dos filmes de casa mal assombrada, mas sem os vícios do cinemão norte americano.

Digo isso porque os efeitos visuais são quase zero aqui, fazendo com que aqui o filme se torne menos artificial e mais verossímil, mesmo se tratando de uma trama com teor fantasmagórico. Vultos no escuro, ruídos estranhos e maquiagem no bom e velho estilo fazem a gente relembrar dos velhos filmes terror e principalmente aqueles dos anos setenta que transitava entre o psicológico e sobrenatural. Há especialmente uma cena que me fez lembrar do clássico "A Profecia" (1976) e cujo os minutos que antecedem o momento está entre os melhores momentos do filme como um todo.

O filme somente derrapa um pouco ao usar ideias bastante repetidas em outros filme em seu terceiro ato final. Porém, isso tudo é posto por terra no momento em que vários quebra cabeças vão se juntando e revelando um grande segredo inserido na trama e do qual estava ali o tempo todo. Em termos de final dentro do gênero talvez esse seja um dos mais corajosos do ano e que não se preocupa sobre qual a reação que nós sentiremos.

Com pistas sobre uma possível continuação, "Vozes" é uma grata surpresa para aqueles que esperavam um sopro de criatividade dentro do gênero de horror tradicional e provando que as velhas fórmulas de sucesso ainda não morreram. 

Onde Assistir: Netflix. 

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Magnatas do Crime'

Sinopse: Um talentoso graduado estadunidense em Oxford, usando suas habilidades únicas, audácia e propensão à violência, cria um império da maconha usando as propriedades dos aristocratas ingleses empobrecidos.

Guy Ritchie surgiu no final dos anos noventa sendo comparado a Quentin Tarantino graças ao sucesso de crítica "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998). Se por um lado a comparação pode ser interpretada como um elogio, do outro, Ritchie tem uma visão própria na realização de seus filmes autorais, mesmo quando ainda há críticos sem sal por aí batendo nesta mesma tecla anos a fio. Mas, embora tenha lançado em seguida o maravilhoso "Snatch - Porcos e Diamantes" (2000), o cineasta cometeu o erro de se casar com a rainha do pop Madonna e lançando o desastroso "Destino Insólito" (2002) protagonizado por ela.  

Quando parecia que a sua carreira estava indo para o fundo do poço, principalmente após o desastroso "Revólver" (2005) eis que o divórcio com a cantora lhe serviu bem a saúde, ao ponto de ele voltar aos eixos com o ótimo "RocknRolla - A Grande Roubada" (2008). Com o prestígio resgatado, Ritchie foi convidado para dirigir super produções que, embora não seja a sua praia de se envolver com blockbusters, é preciso reconhecer que os dois filmes de "Sherlock Holmes" (2009 - 2011) são divertidos e do qual o segundo contém todos os vícios com a câmera que o cineasta adora injetar em suas obras. Mas embora "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) seja um filme charmoso de sua autoria, novamente, o cineasta cometeu o ato falho em não obter liberdade criativa no problemático "Rei Arthur - A Lenda da Espada" (2017).  

Tendo dividas a pagar, é óbvio que Guy Ritchie se vendeu por necessidade aos estúdios Disney para dirigir a versão Live action do clássico "Aladdin" (2019), mas que, convenhamos, é o mais divertido filme dessa leva de versões que ninguém pediu para lançar. Chego até aqui fazendo um resumo dos altos e baixos da carreira desse diretor, do qual possui uma visão autoral, mas que as vezes é preciso vender a alma a Hollywood para uma vez ou outra voltar a fazer filmes de sua autoria. Felizmente, o último pacto com o Diabo deu ao diretor liberdade novamente para dirigir um filme da sua maneira e o resultado é o ótimo "Magnatas do Crime" (2020).  

O filme acompanha um traficante graduado em Oxford (Matthew McConaughey) que usa suas habilidades para criar um império de maconha. Porém, quando ele tenta vendê-lo para um colega americano bilionário (Jeremy Strong), uma série de eventos passa a se desenrolar, envolvendo assassinato, chantagens, oligarcas russos, gangsters da Tríade e jornalistas corruptos. Tudo isso narrado pelo jornalista charlatão Fletcher (Hugh Grant).  

Guy Ritchie nos pega de jeito em seus primeiros minutos de projeção, já que acontece um momento imprevisível e do qual somente iremos ver os desdobramentos disso mais adiante. Até lá, a trama vem e volta no tempo, como se a intenção do diretor seja para que prestemos atenção no emaranhado de subtramas, mas das quais são todas envolvidas em uma única linha de teia. Com isso, temos todo o direito do mundo de prestigiarmos uma trilha sonora que empolga, uma edição de cenas frenéticas e cuja a câmera do cineasta viola as leis da física.  

Como se isso tudo já não bastasse, o cineasta tem a proeza, novamente, de comandar um elenco ilustre e que cada um consegue dar o melhor de si em suas criativas cenas dirigidas pelo cineasta. Mas se temos Matthew McConaughey como protagonista e rei da maconha dentro da trama, por outro lado, Hugh Grant rouba a cena no que, talvez, seja a melhor atuação de sua carreira. Narrando toda a trama do começo ao fim dela, Hugh Grant de nada lembra aquele garoto que se consagrou em comédias românticas inglesas dos anos noventa e criando assim um personagem sarcástico e do qual jamais será esquecido.  

Como um todo, o filme nos faz relembrar os principais e melhores títulos do cineasta citados acima, mas tendo luz própria de sua maneira e que merece ser degustada. O diretor pode ter vendido a sua alma algumas vezes para a fábrica dos sonhos, mas nunca abandonou a sua visão autoral como um todo. "Magnatas do Crime" é uma prova que Guy Ritchie não se vendeu por completo ao jeito fácil de fazer filmes em Hollywood e nos brindando com um filme que é uma injeção na veia para aqueles que procuram oxigênio de criatividade na medida certa. 

Onde Assistir: TELE CINE PLAY

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (28/01/21)

 RESSACA

Sinopse: O corpo artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos símbolos culturais do Brasil, se vê paralisado por uma grave crise. Com salários atrasados, sem notícias animadoras no horizonte, bailarinos, cantores, músicos e demais funcionários enfrentam diariamente uma situação triste que diz muito sobre o Brasil de hoje.

disponível nas plataformas NetNow, Oi Play e Vivo Play.  

Dente por Dente

Sinopse: Ademar, dono de uma empresa de segurança particular, descobre que seu sócio está envolvido em um grande esquema criminoso.

MINHA IRMÃ

Sinopse: Situado em Berlim e nos Alpes Suíços, o filme apresenta Nina Hoss como Lisa, esposa e mãe de dois filhos que chega à beira do esgotamento enquanto tenta equilibrar a família e o trabalho com o desafio físico e psicológico de cuidar do irmão. 


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Nunca Raramente Às vezes Sempre'

Sinopse: Após descobrir que está grávida, uma jovem de 17 anos decide abortar. No entanto, para realizar a operação seguindo as leis estadunidenses, Autumn decide fazê-lo em Nova York, e embarca na metrópole acompanhada de sua prima Skylar. 

Embora o conservadorismo atual tente acobertar certos assuntos, os responsáveis pela cultura, por sua vez, debatem situações que os mesmos não querem acobertar, mas sim para que nos faça refletir. O cinema sempre levou para as telas a questão do aborto com certa delicadeza para que assim todas as pessoas, independentemente de quaisquer opinião, possam pensar sobre o assunto como algo sério a ser debatido. "Nunca Raramente Às vezes Sempre" (2020) nos coloca ao lado de duas protagonistas que adentram uma jornada em busca de uma solução delicada, mas que nos faça pensar do começo ao final desta história.

Dirigido por Eliza Hittman, o filme conta a história de amigas e primas inseparáveis Autumn (Sidney Flanigan) e Skylar (Talia Ryder), que navegam precariamente na vulnerabilidade da adolescência feminina na Pensilvânia rural. Quando Autumn inesperadamente engravida, ela é confrontada com uma legislação conservadora de colarinho azul, sem piedade de mulheres, que impõe um aborto. Com o apoio infalível da Skylar e recursos ousados, o dinheiro para financiar o procedimento é garantido e a dupla embarca em um ônibus com destino ao estado de Nova York para encontrar a ajuda que o Autumn precisa.

A cineasta Eliza Hittman procura trazer a realidade mais próxima possível para os nossos olhos, pois a questão do aborto perdura já a vários anos e, portanto, ela coloca em sua obra, tanto a difícil decisão em escolher esse caminho, como também enfrentar o difícil percurso para poder praticá-lo. Por conta disso, a cineasta escancara o conservadorismo norte americano, que do qual não é muito diferente do nosso e que acha que tem a palavra final sobre as escolhas que as jovens de hoje têm que tomar neste momento complicado. Curiosamente, o filme sintetiza o lado solidário das mulheres quando se dão as mãos, mesmo quando as mesmas fraquejam perante a sombra do machismo.

Machismo esse, por sua vez, é representado por figuras masculinas que colaboram para que as mulheres cada vez mais se distancie da ajuda do homem, pois os mesmos não oferecem nenhuma solução, mas sim somente angustia, dor e repreensão. Quando, por exemplo, as duas protagonistas entram no coração de Nova York, tudo o que elas encontram são figuras masculinas que, por mais inofensivas que sejam, cobram um alto preço para estender a mão para ajudá-las em uma situação complexa.

Tanto Sidney Glanigan como Talia Ryder estão ótimas em seus respectivos papéis, sendo que ambas possuem um mesmo olhar perante uma realidade opressora que elas precisam enfrentar em seu dia a dia. Se por um lado Talia consegue sintetizar pela sua personagem uma pessoa que sabe contornar essa realidade machista, por outro lado, Sidney Flanigan nos conduz com sua personagem momentos em que ela nos passa toda a dor que ela carrega nas costas, ao ponto de temermos pelo seu próximo passo que será dado. A cena em que ela responde um questionário com relação a sua escolha do aborto está entre os melhores momentos do filme e cujo o desempenho da jovem atriz nos impressiona a cada segundo que passa durante essa cena.

"Nunca Raramente Às vezes Sempre” nos coloca a frente em assunto espinhoso, mas do qual já não pode mais ser escondido perante os nossos olhos. 

Onde Assistir: Google Play Filmes. 

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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'On The Rocks'

Sinopse: Laura (Rashida Jones) começa a suspeitar quando o seu marido Dean (Marlon Wayans) começa a trabalhar tarde no escritório. Ela começa a temer o pior e começa a ouvir os conselhos do seu pai (Bill Murray). 

Por ser filha de Francis Ford Coppola parece que há um desejo entre os cinéfilos para que Sofia Coppola seja tão boa quanto o seu pai. Ao meu ver ela não tem que provar nada, mas sim fazer somente bons filmes, sendo que desde "As Virgens Suicidas" (1999) e "Encontros e Desencontros" (2001) ela, pessoalmente, não me decepcionou. Com "On The Rocks" talvez alguns venham acusa-la de ter feito um filme menor de sua filmografia, mas defendo que ela fez um filme gostoso de se assistir em uma tarde chuvosa.   

Afastada de seu pai playboy (Bill Murray) há anos, Laura (Rashida Jones) uma jovem mãe, resolve se aproximar dele. O reencontro entre os dois se torna tão intenso, principalmente em um momento que Laura acredita que o seu marido esteja lhe traindo. Ambos então decidem unir forças para descobrir se a suspeita de Laura seja realmente verossímil. 

A possibilidade de Laura estar sendo traída pelo marido se torna em alguns momentos uma mera desculpa para que a mesma aceite a proposta do seu pai e assim possam se aproximar. O grande charme do filme está na relação entre os dois, de como ambos precisavam de uma reaproximação e para assim conhecerem mais um ao outro. Acima de tudo, é um filme sobre laços familiares, mesmo quando os mesmos se arrebentam em meio aos atritos ao longo dos anos.  

Como sempre, Bill Murray dá um show de interpretação, cujo o seu papel parece um cruzamento do que já foi visto em "Encontros e Desencontros" com o filme "Flores Partidas" (2005), do qual ainda é para mim a melhor atuação de sua carreira. Se por alguns momentos Rashida Jones deixa a desejar em sua atuação, por outro lado, ela melhora graças ao ator em cena e fazendo dos diálogos reflexivos de ambos os melhores momentos do filme. Sofia Coppola, por sua vez, consegue fazer um filme de humor refinado e do qual nos faz rir sem ser forçado.  

O filme só talvez decepcione para aqueles que esperam por algo de novo, pois a trama em si não traz nada disso. Além disso, quando a gente deseja que a jornada de pai e filha continue, o filme simplesmente acaba com soluções fáceis e desapontando aqueles que esperavam um fechamento mais coerente. Isso não fragiliza o filme como um todo, mas talvez Sofia deveria ter repensado em um melhor encerramento.  

"On The Rocks" é uma boa comédia refinada de Sofia Coppola, mas do qual a gente se diverte se não exigirmos muito dela. 

Onde Assistir: Apple TV+ 

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Álguém Avisa?'

Sinopse: As namoradas Harper e Abby visitam a família de Harper para o jantar anual de Natal. No entanto, logo após chegar, Abby percebe que a moça tem mantido seu relacionamento em segredo de seus pais conservadores.

A comédia romântica é um gênero que existe desde quando o clássico "Aconteceu Naquela Noite" (1934) lançou a receita para o sucesso. Porém, os anos oitenta e noventa vieram e foram lançados tantos filmes com a mesma temática nestas duas décadas que ela ficou desgastada, ao ponto de virar piada algumas fórmulas apresentadas de tão repetitivas. O casal se conhece; o casal se apaixona; o casal briga e, por fim, o casal reata e assim por diante.

A entrada dos anos dois mil foi uma prova de como esse gênero foi revisitado a exaustão, já que é difícil eu puxar pela memória filmes com essa temática que tenham se tornado inesquecíveis nestes últimos tempos. Porém, nunca diga nunca para a indústria de Hollywood, que sempre tenta revitalizar algum gênero moribundo e para assim adquirir algum lucro. "Alguém Avisa?" (2020) é um sopro de vida para esse gênero, ao tocar em assunto pouco explorado, mas que merece a nossa atenção nos dias de hoje como um todo.

Dirigido por Clea DuVall, da série "The Handmaids Tale", o filme se passa em Happiest Season, onde Abby, interpretada pela atriz Kristem Stewart, está decidida a finalmente pedir sua namorada Harper, interpretada pela atriz Mackenzie Davis do filme "Blade Runner 2049" (2017), em casamento durante uma festa de família. No entanto, ao descobrir que ela ainda não se assumiu para os pais, seus planos são suspensos. Com isso se cria um cenário indefinido com relação ao futuro do casal central.

São poucos exemplos em que a comédia romântica tentou ousar ao tocar assuntos que para determinadas épocas poderiam gerar polémicas. O clássico "Adivinhe Quem Vem para Jantar" (1967), por exemplo, apresentou um dos primeiros casais inter raciais da história do cinema, mesmo quando o tempo fez da obra se tornar um tanto que datada, mas ao mesmo tempo corajosa para aqueles tempos em que preconceito norte-americano ainda era muito acentuado. Difícil dizer se "Alguém Avisa?" sobreviverá aos longos dos próximos anos, mas ao retratar um casal LGBT em situação similar é mais do que bem-vindo nos dias de hoje em que esse assunto precisa ser sempre debatido.

Curiosamente, o filme possui uma edição de arte e fotografia que remete aos clássicos natalinos, que vai desde "Felicidade Não Se Compra" (1946) como "Esqueceram de Mim" (1990). Esse visual, aliás é gostoso de ser apreciado, já que ele remete aos tempos mais dourados, dos quais a gente esperava sempre o final de ano para assistir aos clássicos natalinos. Portanto, ao mostrar nos primeiros minutos o nascimento amoroso do casal central a gente até se esquece que são duas garotas que se apaixonaram, pois é algo que sim precisa ser passado de forma naturalizada o quanto é tempo.

Uma vez começando a trama ficamos questionando até que ponto o segredo ficará sendo encoberto pela Harper e fazendo a gente até mesmo questionar as suas atitudes com relação ao seu relacionamento. Porém, o roteiro faz questão de nos mostrar o quanto esse passo é difícil em ser dado até mesmo nos dias de hoje, já que, querendo ou não, há famílias até hoje que vivem somente pelas aparências, mas sempre querendo guardar o esqueleto dentro do armário. Embora sendo uma comédia romântica, o filme não foge desse dilema.

Transitando entre comédia e com algumas pinceladas de drama, o filme nos diverte em vários momentos, principalmente ao retratar a excentricidade da família de Harper, sendo que suas duas irmãs roubam as cenas que nos fazem a gente se preparar com relação ao que virá em seguida. Com relação ao casal central, Mackenzie Davis se sai muito bem nos momentos em que se exige dela tanto o lado cômico como dramático e fazendo a gente torcer para que possamos vê-la em outros papéis que possam explorar as suas outras camadas de atuação. Kristem Stewart, por sua vez, trabalha em uma atuação econômica, mas não insípida, pois ela já provou a muito tempo que quer provar o seu lado versátil em diversos gêneros.

O ato final, logicamente, se encaminha para as velhas fórmulas desse gênero. Porém, em tempos em que a luta em defesa da comunidade LGBT está em alta, tudo está valendo, mesmo quando as adversidades mostradas dentro da história tenham sido resolvidas de um modo tão fácil. É um filme gostoso de ser assistido, mas se vai ser ou não lembrado somente a história nos dirá ao longo do tempo.

"Alguém Avisa?" é uma revitalização para o gênero da comédia romântica e nos convidando para uma sessão em que o preconceito fique do lado de fora da sala. 

Onde Assistir: Alugue pelo Youtube ou no Now. 


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'EU, DANIEL BLAKE'

NOTA: O filme será debatido na próxima live (26/01/21) do Cine Debate. Para participar entre em contato com Maria Emília Bottini clicando aqui. 

Embora eu não tenha muito conhecimento sobre a filmografia do cineasta Ken Loach, eu sei que ele se destacou pelo mundo em 1969 com o filme "Kes" e que a classe trabalhadora sempre se destaca em suas obras. "Eu, Daniel Blake" (2016) , novo filme do cineasta, acabou se tornando a sua segunda obra a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, sendo que a primeira havia sido Ventos da Liberdade. Chegando agora em cartaz, há indícios aqui que, o seu mais novo filme, tenha ganhado o grande prêmio do festival por questões políticas, mas ao mesmo tempo, é uma obra que nos mexe do começo ao fim e faz com que nos identificamos facilmente.

"Eu, Daniel Blake" é um longa bastante humano, criado em situações familiares e que faz com compreendemos as motivações dos personagens de uma forma rápida. Tendo pontos em comum com o belga "Dois Dias, Uma Noite" (2014), o filme nos brinda com uma atmosfera mórbida, como se não houvesse saída para esses personagens, mesmo quando ocorram situações da qual nasce uma esperança. Não é um cinema autoral, onde você não encontrará truques de movimento de câmera ou até mesmo trilha da qual nós iremos nos lembrar, sendo que o trabalho do compositor Gerge Fenton aqui é bem contido e discreto.

Já o diretor de fotografia Robbie Ryan cria uma atmosfera fria e de pouca esperança naquele universo particular daquelas pessoas, que vivem em busca de um objetivo na vida e de um pouco de respeito que se havia perdido. O roteiro de Paul Laverty, embora simples, consegue extrair o melhor das atuações de cada um dos atores. Dave Johns, ao interpretar Daniel, criou-se então um dos personagens mais queridos do cinema recente e do qual faz a gente torcer por ele do começo ao fim, mesmo estando numa situação que é um verdadeiro precipício.

Contudo, é preciso reconhecer a grande interpretação da atriz Hayley Squires que, ao construir para si a personagem Katie, ela consegue passar todo o grande peso do mundo do qual a sua personagem passa: a cena da qual ela abre um pote de comida de um supermercado para matar a fome é marcante e desconcerta qualquer um que se preze quando assiste.

Diferente do que se acontece em determinados filmes, Ken Loach deu ao seu elenco um espaço do qual fez com que as suas interpretações soassem verossímeis, como se alguns momentos os interpretes saem de cena e dando lugar aos seus personagens como um todo. Dito isso, o filme nunca cai na armadilha de cair no melodrama, mas sim obtendo pontos dramáticos convincentes e transitando em alguns momentos de humor, principalmente em situações das quais é preciso rir para não chorar quando o protagonista sofre na sua cruzada em busca de seus direitos.

Embora torçamos pelo melhor, o filme se encaminha para um desfecho do qual até mesmo já prevíamos, embora torcêssemos para que determinada situação  não acontecesse. Quando ela ocorre, nos damos conta então de como somos frágeis perante um sistema hipócrita e cada vez mais preso em uma realidade capitalista, da qual somente enriquece os poderosos, mas se esquece das pessoas que moram num nível abaixo deles, mas que merecem todo o direito de serem tratados como semelhante. Um filme que, para o bem ou para o mau, ecoa em nossa realidade cada vez mais sendo invadida por um conservadorismo intolerante e ambicioso. 

"Eu, Daniel Blake" é um filme alerta com relação ao nosso tempo atual, do qual se encaminha por um futuro cada vez mais sombrio e indefinido para nós e para as próximas gerações.  

Onde Assistir: Netflix. 

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