Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: No live action de Pinóquio, somos apresentados à verdade sombria por trás de um clássico que marcou gerações. O solitário marceneiro Gepeto (Roberto Benigni) tem o grande desejo de ser pai, e deseja que Pinóquio (Federico Ielapi), o boneco de madeira que acabou de construir, ganhe vida.
Estranho Passageiro - Sputnik
Sinopse: O único sobrevivente de um incidente no espaço não retornou para casa sozinho – escondida dentro do seu corpo há uma criatura perigosa. Sua única esperança é uma médica determinada a fazer o que for preciso para salvar seu paciente.
Fale com as Abelhas
Sinopse: Depois da morte do pai, a médica Jean Markham (Anna Paquin) volta à sua cidade natal para assumir as funções dele. Quando ela conhece Charlie (Gregor Selkirk) e sua mãe Lydia (Holliday Grainger) a sua vida toma um rumo inesperado que coloca a sua carreira e reputação em risco.
Monos - Entre o Céu e o Inferno
Sinopse: No topo de uma montanha, numa selva sul-americana, oito adolescentes têm a grande missão de cuidar de uma refém norte-americana, sequestrada por uma misteriosa organização.
MINHA IRMÃ
Sinopse: Situado em Berlim e nos Alpes Suíços, o filme apresenta Nina Hoss como Lisa, esposa e mãe de dois filhos que chega à beira do esgotamento enquanto tenta equilibrar a família e o trabalho com o desafio físico e psicológico de cuidar do irmão.
Sinopse: Nascida e criada em Russas, Pacarrete alimenta desde criança o sonho de ser artista e viver a vida na ponta da sapatilha. Mas as mulheres nasceram para casar e ter filhos em sua conservadora cidade. Ela parte para Fortaleza, onde consegue se consolidar como bailarina clássica e se torna professora de dança.
Enquanto o Brasil definha devido ao seu conservadorismo e crise política, por outro lado, ainda há artistas que procuram nos dar um pouco de cor nestes tempos acinzentado e sem futuro. Porém, a situação é tão grave que os velhos veteranos não conseguem mais obter a sua voz, pois o povo atual se encontra em total transe e vivendo com as migalhas dadas por essa realidade ingrata. "Pacarrete" (2020) conta a história de uma artista que não propõe parar, mesmo estando na aposentadoria e quando as pessoas em sua volta não conseguem mais dar atenção para ela.
Dirigido por Allan Deberton, do filme "Do Outro Lado do Atlântico" (2017), o filme conta a história de Pacarrete (Marcélia Cartaxo), uma professora de dança aposentada que vive com a irmã Chiquinha (Zezita Matos), no Russas, interior do Ceará. Rigorosa e ranzinza, ela vive limpando a calçada e brigando com quem passa por ela. Seu grande sonho é estrelar um balé para a população local durante a grande festa da cidade, que está prestes a acontecer. Para tanto, ela manda confeccionar uma nova roupa de bailarina ao mesmo tempo em que tenta convencer a prefeitura de seu show. Entretanto, a falta de interesse da população em geral por espetáculos do tipo, logo se torna um grande oponente.
Já na abertura percebemos que iremos ao longo do filme somente testemunhar a bolha em que a protagonista vive, onde o seu interesse é somente a sua arte e mantendo limpa a frente do seu lar. Curiosamente, o restante da cidade quase não aparece, como se não houvesse mais nada de interessante ali, a não ser a espera de algo que os faça acordar. Somente o personagem Miguel, interpretado pelo ator João Miguel, é que dá alguma atenção carinhosa para a protagonista, mesmo quando o próprio já se encontra preso em sua realidade definhando.
Vale destacar o interior da casa da protagonista, cheia de detalhes, onde cada objeto tem uma história para contar, mas dos quais os mesmos ainda existem graças a teimosia dela. A protagonista, aliás, é uma entidade da natureza da área artística, da qual a idade lhe bate à porta, mas ela persiste em continuar mesmo quando o mundo tenta faze-la desaparecer. Colecionando papéis memoráveis, desde a sua estupenda atuação em "Madame Satã" (2002), Marcélia Cartaxo nos brinda aqui com um dos melhores papéis de sua carreira e cuja a sua personagem pode ser interpretada como uma forma da artista colocar para fora os seus demônios interiores em tempos em que ser artista no Brasil de hoje é uma tarefa cada vez mais ingrata.
Começando com cores quentes, o filme vai se enveredando por cores mais frias, principalmente quando a protagonista sente na pele quando a sua bolha é furada e se dando conta da real realidade que existe em sua volta. O ato final nos revela um grande talento sendo escondido para dentro de um Brasil caindo aos pedaços e tudo que lhe resta é manter o seu talento para si para então continuar vivendo. O que parece ser o fim, talvez, seja o recomeço com o pouco que tem.
"Pacarrete" é sobre a persistência de um grande talento em manter o seu maior dom em meio a um Brasil em frangalhos.
Sinopse: Depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, uma estranha voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano.
No média metragem "Sete de Maio" (2020), o diretor Affonso Uchoa, do filme "A Vizinhança do Tigre (2016), dá voz a um jovem negro da periferia. Por vários minutos vemos somente o protagonista contando o seu passado sofrido e do qual o preconceito racial lhe bateu na cara ao longo dos anos. Em "Vaga Carne" (2020) a voz novamente é o destaque, onde ela se expressa de uma forma que possa ser ouvida, mesmo quando há detratores que tentam silenciá-la.
Dirigido por Grace Passô e Ricardo Alves Junior, do filme "Elon Não Acredita na Morte" (2017), o filme conta a história de uma voz, que depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, a voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano. Juntos, a voz e o corpo procuram por pertencimento e por uma identidade própria enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade.
Os primeiros cinco minutos nos deixam na dúvida sobre o que está acontecendo, já que somente ouvimos uma voz e da qual pertence a estupenda atriz Grace Passô. Com um tom imponente, a voz fala de sua trajetória, de suas experiências dentro de uma sociedade da qual muitas vozes são censuradas, amordaçadas e silenciadas. A voz seria, portanto, uma entidade querendo desbravar esse Brasil sempre encurralado pelo preconceito e do qual as mortes provocadas pelo ódio são jogadas para debaixo do pano.
Durante os quarenta e cinco minutos de projeção Grace Passô dá tudo de si em cima de um palco, onde as suas palavras não são ouvidas em um primeiro momento, mas que logo surgem pessoas no auditório e lhe correspondendo. Essas mesmas pessoas seriam representação daqueles que vivem nas periferias, das quais sofrem o preconceito do dia a dia e tendo essa situação piorado em tempos de um Brasil cada vez mais retrógrado. Aos poucos, essas pessoas reagem as palavras da voz em cima do palco e onde cada uma reage de uma forma imprevisível, porém, mais do que justificável.
Na reta final, constatamos que o corpo onde a voz se encontra está na realidade ferido, ou na pior das hipóteses morto. O corpo seria uma representação das inúmeras vozes que foram silenciadas nos últimos anos, sejam elas por um golpe político, ou tiros a mando de personagens que ainda hoje se escondem no escuro. Ao subir os créditos ouvimos vozes familiares, algumas vivas, outras mortas, mas cuja a força de todas elas jamais serão caladas.
"Vaga Carne" é sobre as vozes que não se calarão neste Brasil atual cheio de preconceito e do qual esse último atraso precisa ser derrotado.
Sinopse: Um general insano que acredita que os comunistas planejam dominar o mundo dá ordens para bombardear a Rússia, iniciando processo de guerra nuclear. Ao mesmo tempo, o presidente e seus assessores do Pentágono tentam desesperadamente parar o processo.
No auge da Guerra Fria (1947 – 1991) sempre havia o temor do fim do mundo vir a ocorrer devido as bombas nucleares que poderiam ser iniciadas graças a rivalidade entre os EUA e a antiga União Soviética. Verdade seja dita, essa rivalidade não passava de uma briga de egos para ver quem era a potência mais forte, ou como se fossem dois grandes machistas que ficam fazendo comparações com os seus pênis para ver quem se daria melhor na cama. O clássico "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" (1964) permanece mais atual do que nunca porque esse machismo imbecil ainda comanda diversos governos pelo globo e fazendo com que nós fiquemos sempre a beira do precipício.
Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick, o filme conta a história de um general americano que acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos "vermelhos". Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial.
A origem do conflito dentro da trama é, por vezes, muito absurda, mas verossímil perante ao fato que hoje testemunhamos nas redes sociais diversos políticos incompetentes que mais preferem se aparecer lançando as suas ideias ideológicas do que ajudar o país. Stanley Kubrick tinha um grande temor pela possibilidade de o fim do mundo vir acontecer através das bombas nucleares, pois já naquela época ele possuía um olhar crítico com relação ao lado irracional do ser humano e do qual está sempre disposto a cometer atos imbecis devido ao seu ego. Baseado no livro "Alerta Vermelho", escrito pelo ex-tenente da Força Aérea Britânica Peter George, o diretor pegou esse material com teor sério para criar uma comédia de humor sombrio, mas como uma forma de combater o seu medo interior e lançar, enfim, um olhar crítico cheio de humor com relação aqueles tempos paranoicos.
Rodado com uma belíssima fotografia em preto e branco, o filme tecnicamente possui uma beleza mórbida, como se aquela realidade não colorida, talvez, tenha perdido o lado da razão já a muito tempo. Se por um lado vemos soldados norte-americanos sendo jogados em uma missão da qual eles não têm a menor noção da gravidade da situação, do outro, temos os governantes de ambos os lados procurando dialogar na Sala de Guerra do Pentágono, mas se preocupando mais com os seus pensamentos pessoais do que buscar uma solução para a situação. O resultado é piadas que nos fazem rir, mas que não esconde a gravidade da situação da qual os personagens se encontram ali.
É incrível, por exemplo, como o discurso anticomunista daquela época não é muito diferente de hoje em dia, pois a paranoia e a estupidez não morreu, mas sim sobreviveu para manter viva a ideia capitalista que nos governa. Basta pegarmos como exemplo o personagem General Jack Ripper, interpretado pelo veterano Sterling Hayden, sendo que ele próprio é o responsável pelo conflito da trama e cujo os seus motivos pessoais são, por vezes, absurdos demais para serem imaginados. O seu discurso sobre o perigo comunista e de como surgiu esse temor dentro dele é irracional, mas absurdamente real, pois basta pegarmos em um único dia o twitter e constatarmos que ainda há vários Jack Tipper por aí.
O filme também se destaca pela atuação assombrosa de Peter Selles, que não interpreta um, mas sim três personagens: Capitão Lionel Mandrake, o Presidente dos EUA e o ex nazista Dr. Folamour, que é o Dr. Fantástico que dá título ao filme. Curiosamente, esse último personagem tem somente poucos momentos, mas o suficiente para roubar a cena e cuja as suas falas e trejeitos que o próprio ator criou durante as filmagens são de uma imprevisibilidade estupenda.
Peter Selles é a alma do filme, já que os seus improvisos durante as filmagens surgiam sempre do nada e surpreendendo até mesmo Stanley Kubrick. Na cena do telefone, por exemplo, do qual ele interpreta o Presidente, Selles improvisou em diversos momentos as suas falas e arrisco a dizer que os olhares dos outros intérpretes naquele momento são de tamanho espanto e não sabendo ao certo o que fazer naquele momento. O veterano George C. Scott também não fica muito atrás, ao interpretar um general também viciado pelo anticomunismo e que não esconde as suas necessidades com relação ao sexo justamente meio ao conflito.
Voltando a Peter Selles, vale lembrar que ele interpretaria o Major King Kong, mas devido ao grande esforço físico que o papel lhe exigia e de ter quebrado o tornozelo, o personagem acabou caindo no colo do ator Slim Pckens. Aliás, a figura do personagem é uma forma satírica que Stanley Kubrick faz ao cidadão norte americano, do qual ele é jogado em uma guerra não declarada e tudo que ele faz é somente com relação ao que foi lhe ensinado no decorrer da vida. A cena dele cavalgando em cima de uma bomba nuclear sintetiza o lado irracional e irresponsável da potência norte americana perante o assunto e se tornando um momento de grande impacto e cheio de simbolismo.
Com um final dominado pela voz de Vera Lynn, cantando We’ll Meet Again, canção muito simbólica também para vários soldados da 2ª Guerra Mundial, constatamos que, quase sessenta anos depois do seu lançamento, "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" envelheceu muito bem, pois ainda hoje, infelizmente, somos governados por imbecis.
Onde Assistir: Alugue pelo Youtube clicando aquiou compre a edição especial do filme pela Versátil clicando aqui.
NOTA: Cinemas da região Sul voltam a reabrir. Porém, previna-se, siga as orientações do local e nunca tire a sua máscara. Cinema é o verdadeiro lar dos filmes, mas cuide de sua saúde sempre.
A Delicadeza é Azul
Sinopse: Oferecendo uma outra perspectiva para a rotina das pessoas que vivem com o autismo, pais, professores, assistentes sociais e crianças explicam, em suas próprias visões, como enxergam a vida. Das questões sensoriais até educacionais, todo o cenário daqueles que lidam com a questão é analisado por uma ótica social externa.
QUANDO HITLER ROUBOU O COELHO COR DE ROSA
Sinopse: uma garota judia-alemã dá seus primeiros passos na vida adulta, à medida que os eventos mundiais se intrometem em sua rotina feliz e despreocupada.
QUARTO 212
Sinopse: Richard (Vincent Lacoste) e Catherine (Chiara Mastroianni) são casados há 20 anos. Catherine se diverte tendo casos com homens mais jovens, enquanto Richard permanece fiel.
Atravessa a Vida
Sinopse: Enquanto alunos do 3º ano do ensino público no interior do Sergipe se preparam para a prova que pode determinar o resto de suas vidas, o documentário retrata as angústias e os prazeres da adolescência através de seus gestos, inquietações e conquistas.
O Mensageiro do Último Dia
Sinopse: Em O Mensageiro do Último Dia (The Empty Man), quando um grupo de adolescentes de uma pequena cidade começa a desaparecer misteriosamente, os moradores acreditam que é obra de uma lenda urbana local. Enquanto um policial aposentado investiga os desaparecimentos, ele descobre um grupo secreto e suas tentativas de evocarem uma entidade sobrenatural, colocando a vida de todos em perigo.
Um Crime em Comum
Sinopse: A professora Cecília, 37 anos, acorda de madrugada ao som de batidas na porta de sua casa. Alguém está tentando entrar à força. Ela vê que é Kevin (15), filho da faxineira que trabalha em sua casa. Ele está sangrando. Assustada, ela não abre a porta. No dia seguinte, ela descobre que o garoto foi assassinado pela polícia.
Unidas pela Esperança
Sinopse: Em Unidas Pela Esperança, um grupo de mulheres casadas com oficiais militares decide se unir para formar um coral. À medida que a inesperada amizade entre elas se desenvolve, a música e o riso transformam suas vidas, enquanto elas ajudam uma a outra a superar o medo pelos entes queridos em combate.
Sinopse: Prestes a ser jogados no moedor da vida adulta, meninas e meninos encaram a câmera quase sempre tímidos, mas invariavelmente corajosos. Contam detalhes de infâncias duras e do momento que vivem, falam sobretudo de expectativas e medos.
Observo que a minha geração dos tempos de escola não era muito diferente se ela for comparada a essa atual da qual está sendo instruída a construir um futuro melhor para o Brasil. No meu tempo, por exemplo, nos ensinavam o básico sobre todas as matérias, ao mesmo tempo que já se discutia sobre qual poderia ser o nosso futuro, enquanto a escola em que eu estudava quase sempre passava por reformas a todo momento. "Atravessa a Vida" (2020) não é somente um retrato dessa geração de alunos do Brasil, como também uma síntese de como alunos de todas as gerações são ensinadas em meio a turbulências políticas e poucos recursos a serem usufruídos.
Dirigido por João Jardim, do filme “Getúlio” (2014), o filme acompanha o cotidiano de uma turma do 3º ano, no interior do Sergipe, que se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio. Durante o documentário, os alunos são entrevistados sobre diversos assuntos, desde a preparação do ENEM, como também o conhecimento que eles têm sobre o passado e o presente do Brasil. Ao mesmo tempo, alguns decidem abrir os seus corações.
O documentário transita em duas formas, tanto em momentos em que a câmera somente observa os alunos e professores dialogando em diversos momentos, como também em situações em que os alunos decidem se abrir na frente da câmera com as perguntas que, por vezes, são difíceis de serem respondidas. Ao mesmo tempo, João Jardim faz questão de tornar o cenário da escola como um personagem fundamental da obra, já que enquanto os alunos estão estudando há sempre muito barulho e aparições de trabalhadores reformando o local que se encontra não exatamente nas melhores condições. É uma única escola, mas que pode ser encarada como um exemplo de várias deste país que sempre precisam de ajuda, mas que por vezes é esquecida pelo estado acomodado em não querer em investir no ensino.
Curiosamente, o documentário se passa em momento em que o Brasil estava tendo as últimas eleições para Presidente e criando-se assim um paralelo com as palavras de um professor de história com relação ao passado do país principalmente sobre os tempos de ditadura. Com o fato de o passado ecoar em nosso presente, vemos então esses alunos tendo que se posicionar sobre diversos assuntos, desde a questão do aborto como também a pena de morte tão questionada. O resultado é vermos alunos tentarem responder questões complexas, mas cujo os seus olhares tem muito mais a dizer do que meras palavras.
Aliás, é nós olhares de cada um desses alunos que faz bombar o coração do documentário como um todo. Desde cedo cada um deles é dada a missão de estudarem ao máximo, para obterem boas notas e assim conseguirem passar na prova do ENEM porém, ficando aquela sensação de que era isso que eles queriam ao longo de todo esse percurso? Cada um ali tem o seu sonho, mas nem todos serão alcançados, seja pela falta de recursos, ou pelo fato de não bater com a exigência de um sistema capitalista que vive de sugar dos mais necessitados.
No ato final, observamos que todos que surgiram na tela seguiram caminhos distintos, mas não com um destino conclusivo. Em tempos em que o Brasil atual se encontra cada vez mais instável, talvez não seja o bastante passar em provas para somente entrar na faculdade, mas sim usar esse conhecimento que obtiveram para sobreviver em um país em que o ensino está sendo cada vez mais atacado e cabe cada um proteger o dom do saber como um todo. A ignorância não pode prevalecer em nosso futuro.
"Atravessa a Vida" é o retrato da geração de alunos do Brasil atual, dos quais lutam para obter um futuro melhor, mesmo quando o presente nos horroriza a cada instante.
Sinopse: Em uma noite em maio, sete anos atrás, Rafael estava chegando do trabalho. Ao abrir o portão, alguém chamou seu nome. Ele olhou pra trás e viu pessoas que não conhecia.
Affonso Uchoa chamou atenção da crítica e do público ao dirigir em 2016 o filme A "Vizinhança do Tigre" (2016). Na obra, o cineasta usa moradores de uma periferia para interpretarem eles mesmo e assim criando um retrato dessas pessoas em comunidades que convivem com a pobreza e a violência. Com "Sete Anos em Maio" (2020), o cineasta usa o mesmo artificio, ao fazer uma dura crítica sobre uma parcela de uma sociedade massacrada pelo preconceito e pela violência da guerra do tráfico.
O filme conta a história de Rafael, que chegou em casa depois do trabalho e descobriu que pessoas que ele não conhecia o procuravam. O rapaz imediatamente fugiu, sem olhar para trás. A partir daquele momento, sua vida mudou, como se aquela noite nunca tivesse terminado. Um dia, ao redor de um incêndio improvisado perto de uma fábrica, ele decide confidenciar sua jornada a um estranho que teve uma experiência semelhante, também marcada por violência, vícios e miséria. O relato íntimo de Rafael encontra o testemunho coletivo de uma nação inteira oprimida pela pobreza, repressão policial e corrupção institucional.
No início do filme, Affonso Uchoa filma um grupo de amigos de uma periferia em meio a chamas de um morro. Lá, eles começam a se vestir de policiais e os mesmos fazem uma encenação abordando violentamente um morador local. O que se vê ali é a visão que eles enxergam todos os dias, da polícia violenta contra os moradores, assim como a milicia disposta a matar ou controlar as pessoas que passam por necessidades.
Embora seja um “média metragem”, o cineasta cria em poucos minutos uma obra poderosa, principalmente pelo fato dela vim em momento em que o Brasil transborda de preconceito e acumulando um número de mortes unicamente pela diferença de raça ou credo. Assistir a obra me veio rapidamente a história de João Alberto, morto recentemente por seguranças racistas e incompetentes do supermercado Carrefour de Porto Alegre e, portanto, o filme vem em um momento em que esse debate não pode ser silenciado, mas sim prolongado e para assim um dia obter um ponto final nisso. A história que o personagem Rafael conta na frente da fogueira é uma representação de muitas histórias e das quais elas precisam ser ouvidas mesmo quando a luta seja cada vez mais árdua.
Os minutos finais se tornam simbólicos ao representar uma autoridade fazendo um jogo conhecido com algumas pessoas da periferia. A cena é simples, mas que sintetiza o desejo de escolha da autoridade em decidir quem vive e quem morre nesta guerra ininterrupta e que cada vez mais divide a nossa sociedade ao invés de uni-la. Infelizmente o jogo visto ali acontece todos os dias e cabe nós darmos um basta.
"Sete Anos em Maio" é a síntese de um Brasil de 2020 dividido, preconceituoso e que passa pano para autoridade branca sem escrúpulos.