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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Os Miseráveis'

Sinopse: Um esquadrão anticrime parisiense fica sobrecarregado com a tensão e a violência do bairro.

É bom deixar já claro que "Os Miseráveis" não é exatamente uma nova adaptação do clássico literário escrito por Victor Hugo. Tão pouco não é refilmagem ou nova versão do musical que, aliás, fez grande sucesso na Broadway e chegou alguns anos atrás em adaptação para as tlas com a presença de um grande elenco encabeçado por Hugh Jackman, Anne Hathaway e Russell Crowe. Porém, isso não significa que a escolha do nome não seja intencional.
O novo filme se passa no bairro de Montfermeil, justamente o cenário que acontece momentos importantes na obra clássica. Stéphane (Damien Bonnard) é um policial que acaba de se juntar ao esquadrão anti-crimes do bairro. Ele passa a trabalhar lado a lado com Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), e logo em seu primeiro dia se vê envolvido com um conflito envolvendo gangues locais e crianças da região.
A trama ocorre no ano de 2018, durante os eventos da Copa do Mundo da Rússia, em um momento em que o time francês obtém sucesso no campo, mas gerando tensões pelo país.  Mas adversidades sociais prosseguem, o preconceito contra imigrantes ou cidadãos de outras religiões são hostilizadas até mesmo pela polícia. Com essa situação, há um momento que parece uma celebração, para logo em seguida gerar protestos sociais irreversíveis.
É interessante observar que, assim como títulos como os recentes "Coringa" e "Parasita", "Os Miseráveis" é mais atual do que nunca. Os atos de trio de policiais ocorrem em situações urgentes, mas que vai muito além disso.  Há uma sensação incômoda e social, onde não há um meio de controlar algo que está prestes a explodir.
A escolha de colocar um policial novato acaba se tornando certeira, pois ele se torna o nosso olhar perante a realidade que ele encara. Ao mesmo tempo, as atitudes exageradas dos outros dois colegas são verossímeis, infelizmente, perante uma realidade dura que já perdura a anos. Em determinada situação, por exemplo, relembramos dos protestos que marcaram, onde ocorreu bastante destruição nas ruas, mas que não colaborou com a vida das pessoas.
Dirigido por Ladj Ly, é uma obra cujo o seu tema se casa muito bem com a sétima arte, mas também fala dos dilemas que a sociedade atual, independente de qual país, passa atualmente. Vale observar que o filme dividiu o prêmio no último festival de Cannes com o nosso "Bacurau". Aliás, são duas obras que que dialogam com a gente de uma forma das pessoas do mundo real fortalecer o seu patrimônio perante a invasão de estrangeiros gananciosos.
Alinhado com uma bela fotografia, o cineasta cria um clima de tensão do seu início ao fim. É notório de como a sua câmera, em alguns casos específicos, se mantém estática para registrar os principais pontos turísticos de país.  como no caso, por exemplo, do Arco do Triunfo e a Torre Eiffel. Vale mencionar o elenco jovem da produção, principalmente o jovem Issa Perica, que interpreta Issa, um garoto que se vê envolvido em um problema com a política que despertará as adversidades na área.
Com um terceiro ato que mais parece uma montanha russa cheia de emoções, "Os Miseráveis" se encerra com um final em aberto, pois afinal os conflitos prosseguem, tanto por lá como também no resto do mundo. 



Onde Assistir: Google Play Filmes e Youtube.  

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Cine Dica: "CINEMA QUEER" com ROSÂNGELA FACHEL DE MEDEIROS

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terça-feira, 19 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Um Lindo Dia Na Vizinhança'

Sinopse: Fred Rogers foi o criador de Mister Rogers' Neighborhood, um programa infantil de TV muito popular na década de 1960 nos EUA. Em 1998, Tom Junod, até então um cínico jornalista, aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire. 
 
Quando olho para trás para observar o cinema americano de antigamente percebo uma realidade distante do mundo real e que não tinha muito haver com o que acontecia realmente. Os anos 50 e 60, principalmente, os estúdios possuíam uma obsessão de vender o tão sonhado sonho americano, onde tudo era perfeito em seu solo e que o restante do mundo não chegava aos pés daquela realidade cheia de promessas que, ao final de contas, não se cumpriam. Isso acabou caindo por terra aos poucos, principalmente quando os americanos perderam a sua inocência a partir do assassinato do Kennedy, ou até mesmo do insano assassinato da atriz Charon Tate.
Nestes últimos tempos, por exemplo, se tornou comum o próprio cinema americano resgatar esses tempos inocentes que soavam plasticamente falsos. Se por um lado o filme "Foi Apenas um Sonho" (2008) mostrava a real família norte americana dos anos 50 em frangalhos, do outro, "Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso" escancara o lado hipócrita e grotesco da vizinhança norte americana. Eis então que chegamos ao "Um Lindo Dia Na Vizinhança", filme que passa uma mensagem positiva, mas que não esconde o lado plástico e falso da tão sonhada utopia norte americana.
Dirigido por Marielle Heller, do filme "Poderia Me Perdoar?" (2019), o filme conta a história de Fred Rogers (Tom Hanks), um criador do Mister Rogers' Neighborhood, um programa infantil de TV muito popular na década de 1960, nos Estados Unidos. Em 1998, Tom Junod (Matthew Rhys), até então um cínico jornalista investigativo, aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire. Durante as entrevistas para a matéria, Junod mudou não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também sua visão de mundo, iniciando uma inspiradora amizade com o apresentador.
Eu acredito friamente que Marielle Heller criou propositalmente o início do filme como uma forma que sintetizasse tempos mais inocentes dos EUA, mas que não escondesse um certo teor absurdamente falso naquilo tudo. Fred Rogers é uma figura conhecida dos anos 60, mas como a trama se passa nos anos 90, esse mesmo artificialismo acaba sendo injetado para essa época. O que não deixa de ser irônico, já que as maquetes que representam uma Nova York ainda com as Torres Gêmeas simbolizam tempos em que o norte americano ainda sonhava com o mundo perfeito.
Com esse meu pensamento, não me surpreende a escolha de Tom Hanks em ser Fred Rogers em cena, já que o ator possui essa imagem de bom moço que todo norte americano adora e do qual Hanks tira de letra. O casamento entre o ator e a proposta principal do filme acaba se tornando tão perfeita que torcemos a boca quando nos primeiros minutos de projeção vemos um Hanks se apresentando como uma caricatura dele mesmo de bom moço perfeito, mas que também não esconde certas cicatrizes em seu íntimo vindas do passado. Toda essa autoestima é sempre bem-vinda, porém, ela jamais se casa com a realidade dos dias atuais e dos quais são, por vezes tão loucos e absurdos do que história de ficção científica.
Se por um lado essa figura unidimensional de Hanks nos chama atenção, o mesmo não pode dizer muito de Tom Junod (Matthew Rhys) e cuja a sua linha dramática com relação ao conflito emocional com o seu pai (Chris Cooper) não nos envolve por completo como deveria ser. Ao  menos esse último nos brinda com um personagem genuinamente humano, falho, mas que não desiste da busca de sua própria redenção perante a conquista do seu filho. Logicamente, o filme possui aqueles ingredientes de comédias dramáticas que nos faz adivinhar o que acontecerá no ato final e fazendo, novamente, nos remeter aos tempos em que hollywood nos manipulava até mesmo facilmente.
"Um Lindo Dia Na Vizinhança" é um retrato plástico sobre a utopia norte americana que o cidadão do bem de lá tenta sempre encontrar, mas cuja a realidade nua e crua de hoje torna esse sonho ultrapassado e sem nenhum poder de convencimento.

Onde assistir: Em DVD e lançamento no Now 

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domingo, 17 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Hollywoodland' (2006)


Sinopse: O detetive Louis Simo investiga a morte do ator George Reeves, o Super-Homem da televisão americana da década de 50. Porém, um romance com a esposa de um executivo de Hollywood acaba em assassinato. 

Ben Affleck é um ator que transitou entre o sucesso e o fracasso ao longo de sua carreira. Quando se consagrou como um ótimo roteirista ao lado de Matt Damon pelo seu trabalho em "Gênio Indomável" (1997), o astro acabou sentindo na pele o lado bom e ruim de uma Hollywood obcecada pelo lucro. Mesmo colecionando sucessos em super-produções como "Armagedom" (1998) e "Pearl Harbor" (2001), Affleck não escapou de críticos ferozes que eram obcecados em sempre criticar a sua atuação em cena.
Com isso, o ator acabou se enveredando para o lado da comédia no início dos anos 2000, mas só piorando a sua imagem como ator. Talvez o ápice da mediocridade tenha sido em 2003, onde atuou na esquecível comédia policial "Contato de Risco", ou na adaptação das HQ de "Demolidor", mas que, infelizmente, os engravatados da Fox da época não sabiam lidar com a pepita de ouro que tinham em mãos. O ator só daria a volta por cima através do ramo da direção a partir do filme "Medo da Verdade" (2007), "Atração Perigosa" (2010) e "Argo" (2012), sendo que esse último ele levaria o Oscar de melhor filme.
Com a carreira estabilizada, Ben Affleck se renderia novamente para adaptações das HQ para o cinema, mas mal sabendo no que se envolveria. Ambiciosa em fazer o seu universo compartilhado assim como a sua concorrente Marvel Estúdios, Warner/DC chamou o ator para ser Batman em "Batman vs Superman" (2016) e surpreendendo o público e a crítica pelo seu esforço ao conseguir fugir de comparações com relação aos seus antecessores. O problema é que a crítica se dividiu com relação ao filme, o que fez o ator cair em desânimo e só piorando cada vez mais a situação com a chegada do problemático "Liga da Justiça" (2017).
Com isso, o ator largou o capuz do morcego e voltando para a cadeira de diretor pelo filme "Lei da Noite" (2016), mas colecionando mais um fracasso e fazendo ele cair em desgraça. Separado de Jennifer Garner, o ator acabou caindo na bebida, drogas e sendo obrigado a se internar em uma clínica de reabilitação. Atualmente em recuperação, o ator aguarda por uma nova virada de mesa na carreira, mas para isso terá que aguardar esses tempos de pandemia.
Escrevi todo esse texto até aqui porque é curioso observar quando um ator consegue obter um papel do qual consiga se identificar e assim conseguir obter a melhor atuação de sua carreira. Pegamos, por exemplo, Robert Downey Jr que, de uma carreira problemática e pessoal, deu uma volta por cima graças ao filme "O Homem de Ferro" (2008), mas conseguindo esse feito principalmente pelo fato que o ator e personagem terem muito em comum. É aí que chegamos finalmente ao filme "Hollywoodland" (2006), filme protagonizado por Ben Affleck em uma época em que ele estava transitando entre o fracasso e o sucesso e que merece ser redescoberto pelo cinéfilo.
Dirigido por Allen Coulter, o filme começa em 16 de junho de 1959. O ator George Reeves (Ben Affleck), mais conhecido como o protagonista da série de TV "As Aventuras do Super-Homem", comete suicídio. O ato ocorreu no quarto de Reeves, deixando sua namorada, a aspirante a atriz Leonore Lemmon (Robin Tunney), e milhões de jovens fãs boquiabertos. Helen Bessolo (Lois Smith), a mãe de Reeves, não se conforma com a possibilidade de que seu filho tenha se suicidado e contrata o detetive Louis Simo (Adrien Brody), que tem por missão provar que o caso na verdade foi de assassinato. Simo passa a investigar Reeves, descobrindo seu antigo caso com Toni Mannix (Diane Lane), esposa de um poderoso executivo do estúdio MGM.

O filme como um todo sintetiza como era a Hollywood dos anos 50, mais precisamente sendo uma época em que o desejo do público em conseguir entretenimento se dividia entre o cinema e a tv. Em uma época em que a tv ganhava espaço, os executivos dos grandes estúdios caçavam sem trégua pelo lucro e não se importando com inúmeros atores e atrizes que poderiam ser excluídos. Nesse cenário temos então George Reeves, ator com certo talento, mas jamais reconhecido com relação ao que tinha por dentro.
Pode-se dizer que George Reeves foi um desses primeiros exemplos de talento que transitaram do cinema para a tv, mas numa época que trabalhar para tv seria o mesmo que dar um tiro no pé e ser duramente criticado pela crítica especializada. Embora tenha se tornado um grande clássico, a série "Superman" se tornou um estigma para o ator, do qual jamais alcançou o seu real sonho de se tornar uma grande estrela de cinema e culminando em sua trágica e precoce morte. É nesse ponto que o filme começa, do qual se questiona de que maneira realmente o astro morreu e explorando o outro lado de uma Hollywood.
Com uma belíssima fotografia e uma edição de arte caprichada, o filme retrata com perfeição todo esse lado glamoroso daqueles tempos longínquos, mas não escondendo as ambições, festas, orgias e o lado conservador hipócrita de uma sociedade norte americana.  Louis Simo (Adrien Brody) se torna o nosso guia ao adentrar nesse universo de show e luzes artificiais, para descobrir o que realmente aconteceu com George Reeves, mas testemunhando segredos dos quais muitos poderosos de estúdios gostariam que permanecessem quietos. Na medida em que o filme avança, testemunhamos as engrenagens de um cinema movido pelas aparências, da qual a boa etiqueta é essencial para os futuros sucessos milionários e para agradar os executivos ambiciosos.
Basicamente há duas linhas temporais na trama, da qual uma se passa no passado, revelando o passado de George Reeves e no presente, onde vemos Louis Simo investigando a sua vida, mas também tendo problema pessoais que o afetam ao longo de sua jornada. Roteiro fortalece a ideia de que ambos os protagonistas tem muito em comum, principalmente por serem afetados por esse universo movido pelo dinheiro, mas ambos tendo destinos diferentes um do outro. A recém saído dos sucessos como "O Pianista" (2002) e "King Kong" (2005), Adrien Brody nos brinda com uma grande atuação e provando que soube sobreviver através de bons papeis após ter recebido o Oscar de melhor ator pelo filme de Roman Polanski.
Porém, o filme pertence mesmo a Ben Affleck. Vindo de fracassos e desapontamentos da época, o ator se entrega de corpo e alma ao interpretar George Reeves, enxergando no papel uma forma de exorcizar os seus próprios demônios e o desapontamento que sentia com relação a fábrica dos sonhos daqueles tempos. O filme, portanto, é uma curiosa crítica crua sobre a Hollywood, da qual cria grandes astros, mas não se importando quando existe a possibilidade de tritura-los.
Com grandes atuações de Diane Lane e Bob Hoskins, "Hollywoodland" é um retrato ambicioso de uma "Hollywood" do passado, mas não muito diferente se ela for comparada ao nosso presente, onde grandes astros são revelados, mas que sofrem quando alguns não conseguem alcançar os seus tão sonhados desejos.  

Onde assistir: Em DVD, Blu-Ray e pelo Youtube. 

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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: ‘Os Irmãos Willoughby’

Sinopse: Os Irmãos Willoughby, Tim, Jane e seus irmãos gêmeos, possuem pais com temperamentos egoístas. Para se livrar deles e formar a família que desejam, eles bolam um plano para enviá-los em uma viagem de férias. 

Animação "Os Irmãos Willoughby" chama atenção pela sua personalidade distinta de cada um dos seus personagens principais. Como no caso, por exemplo, de Tim (Will Forte), que usa sempre a razão e busca uma forma de honrar a família como ela era antigamente; a boa Jane (Alessia Cara) que ama cair de cabeça em questões cotidianas e soltar a sua voz;  enquanto os gêmeos Barnaby e Barnaby (Seán Cullen) são de uma excentricidade única e roubando a cena toda vez que abrem a boca.  
O genial narrador, um gato (Ricky Gervais) que dá sempre uma pausa durante a projeção do filme para explicar melhor para nós sobre o que está acontecendo, acaba elaborando situações para colocar a bebê Ruth na realidade dessa família imprevisível. Isso acaba se tornando o estopim para os pequenos brigarem com os pais, fugirem para o nosso mundo, buscar um protetor e depois a babá linda (Maya Rudolph) surge em cena para se tornar peça fundamental na trama.  
O divertido de Os Irmãos WIllhougby, que é baseada na obra de Lois Lowry, são as suas cores vibrantes. Alinhado com uma animação 3D e stop Motion, o filme é bastante fluido, dinâmico, mas que ao mesmo tempo lembra até mesmo o universo cinematográfico de Tim Burton e isso só já é um grande elogio.  Os cabelos de lã, por exemplo, são muito lindos de se ver, passando a sensação de camada e sintetizando o cuidado que animação como um todo foi criada.   
"Os Irmãos Willoughby"  fala sobre o verdadeiro significado do que é  família, mas embalado com altas doses de humor e com um visual cartunesco de encher os olhos. 

Onte assistir: Netflix.  

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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Aniquilação'

Sinopse: O marido de Lena desaparece enquanto explorava uma misteriosa zona em quarentena pelo governo. Ela resolve se juntar à equipe encarregada de entrar na mesma área. 

Alex Garland havia nos impressionado pela sua direção criativa e seu roteiro original com "Ex_Machina: Instinto Artificial" (2015), filme que deu o que falar e ganhando inúmeros prêmios pelo mundo a fora. Logicamente não demoraria muito para que ele ganhasse carta branca para que fizesse o que bem entendesse em seu próximo projeto. O resultado é "Aniquilação" (2018), filme que dividiu bastante a opinião do público e da crítica, mas sendo algo muito diferente do que se vê dentro do gênero de ficção hoje em dia.
O filme conta a história de uma bióloga (Natalie Portman), que se junta a uma expedição secreta com outras três mulheres em uma região conhecida como Área X. O local isolado da civilização onde as leis da natureza não se aplicam. Lá, ela precisa lidar com uma misteriosa contaminação, um animal mortal e ainda procura por pistas de colegas que desaparecem, incluindo seu marido (Oscar Isaac).
Vindo e voltando entre o passado e o presente, Alex Garland possui a fé de que o cinéfilo irá prestar o máximo de atenção sobre essa realidade em que um pedaço de terra do planeta começa a mudar drasticamente a partir do contato com uma misteriosa luz que atinge um farol. Embora seja uma ficção científica não espere por um filme cheio de ação, mas sim com um visual fantástico, do qual se casa  com a proposta principal da obra e que fala, mais especificamente, sobre as diversas formas de vida que surgem naquele ambiente de uma forma, por vezes, inexplicável. Logicamente, o cinéfilo de carteirinha principalmente, irá encontrar referências aos clássicos "Alien" (1979) e o "O Enigma de Outro Mundo" (1982), o que fará com que alguns fiquem desapontados caso procurem por algo originalíssimo.
Em contrapartida, o filme é rico em seu visual em que, por vezes, lembra uma espécie de viagem ácida de LSD, da qual faz uma referência, por vezes explicita, de um tempo em que a propaganda "paz e amor" estava muito envolvida com drogas e rock roll. Polêmicas à parte, o filme também se sustenta graças a um elenco escolhido a dedo, desde uma competente Natalie Portman, como também a presença enigmática de Oscar Issac. Vale e muito destacar o ato final da trama, onde o talento da atriz, mais os efeitos visuais mirabolantes, se unem para criar minutos finais enigmáticos e dos quais serão bastante debatidos.
Embora controverso, "Aniquilação" é um filme curioso pelo seu visual e pelas diversas camadas subliminares escondidas durante toda a sua projeção.  

Onde assistir: Netflix 

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terça-feira, 12 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Distúrbio'

Sinopse: Traumatizada e angustiada por um assunto do passado, a jovem Sawyer procura ajuda em uma clínica, onde acaba ficando presa. Lá, ela acredita que está sendo perseguida e começa a questionar se tudo é real ou uma invenção da sua cabeça.

"Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça". Era assim que o nosso mestre do cinema brasileiro Glauber Rocha dizia sempre ao se referir sobre fazer cinema, pois não importa o quanto tenha de pirotecnia nas mãos, pois o que conta mesmo é a sua criatividade e da maneira como se fazer um ótimo filme. Independente de qual tipo de câmera seja usada, é através dela que enxergamos o lado autoral e o perfeccionismo de um cineasta e do qual pode resultar em uma obra que dificilmente será esquecida.
Steven Soderbergh é um desses casos de cineastas criativos, dos quais mesmo com pouco recursos na mão conseguiu obter grande êxito. Vindo do cinema independente como, por exemplo, "Sexo, mentiras e videotape" (1989), para superproduções como o genial, para não dizer profético "Contágio" (2011), Soderbergh construiu uma carreira sólida ao realizar filmes muito diferentes um do outro, mas que na maioria deles passavam a sua criatividade e muito para ser dito. "Distúrbio" é um filme rodado com poucos recursos, mas demonstrando todo o seu potencial de criatividade e na sua ótima direção com o elenco.
O filme conta a história de Sawyer Valentini, interpretada pela atriz Claire Foy da série (2016), que está sendo perseguida por um perigoso stalker virtual (Joshua Leonard). Ao tentar recorrer à ajuda legal, ela é involuntariamente cometida à uma instituição mental onde é confrontada pelo seu maior medo - mas é real ou apenas um produto de sua ilusão? 
Logicamente, o que chama em primeiro lugar nesse filme é o fato de Soderbergh rodar todo ele em  iPhones e passando para nós uma sensação de simplicidade com relação a determinadas cenas, mas não escondendo a criatividade do cineasta na maneira como ele fez para realiza-las. Com ângulos de câmera criativos, o filme nos passa uma sensação, tanto claustrofóbica com relação ao que a protagonista passa, como também uma sensação de pesadelo constante, como se tudo o que a gente está testemunhando pode ser, ou não, delírios da protagonista. Muito se deve, tanto na forma de filmar do cineasta, como também na atuação de Claire Foy e que aqui nos brinda com uma das grandes atuações de sua carreira.
Desde o início da projeção, temos a sensação de que sua personagem Sawyer esteja com sérios problemas mentais e fazendo a gente duvidar sobre as suas reais motivações e pensamentos. Porém, na medida em que a trama avança, cada vez mais desconfiamos que algo está extremamente errado e fazendo com que passemos a torcer para que ela se dê bem ao final desse percurso. O problema é ela dar de encontro com o sistema corrupto do universo da medicina, do qual não mede esforços para obter algum lucro por meio da saúde das pessoas.  
É aí então que o roteiro se divide entre o verossímil, para momentos, por vezes, ligeiramente absurdos. Nada contra aos pontos forçados da trama para fazer com que acreditemos na protagonista, mas ao surgir em cena a verdadeira causa dos problemas da protagonista, os roteiristas se arriscaram ao tentar nos convencer de que aquilo realmente seria possível. Se por um lado isso soe um tanto que forçado, ao menos, isso é compensado pela ótima atuação, tanto da atriz principal, como os demais do elenco secundário e que cada um está ali por ter uma participação extremamente essencial no decorrer do tempo.
Do final do segundo ato, para o terceiro e final ato em diante, o filme se divide entre a imprevisibilidade com momentos em que se é usado velhas fórmulas do cinema de suspense. Nas mãos de outros cineastas, talvez, o resultado seria parcial, mas Steven Soderbergh consegue obter a nossa satisfação de forma eficaz na medida do possível. O minuto final pode até parecer bobo, mas ao mesmo tempo ele soa divertido e sendo uma espécie de refresco perto de tudo que a nossa protagonista havia passado até aquele ponto.
Com uma participação hilária de Matt Damon, “Distúrbio” é um ótimo exemplo de criatividade do qual é realizado com poucos recursos, mas que conta com a genialidade e na forma de filmar vinda de um grande mestre cinematográfico.   

Onde assistir: Amazon Prime Video 

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