Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Cine Especial: 'Encurralado' - 50 Anos Depois

Sinopse: David Mann, um educado vendedor de eletrônicos, está dirigindo em uma estrada de duas pistas quando encontra um caminhão-tanque que está sendo guiado por um motorista invisível, o qual parece gostar de irritá-lo com brincadeiras perigosas. 

Os anos setenta foi a década que o cinema norte americano perdeu de vez a sua inocência, ao abordar em seus filmes temáticas muito mais voltadas com as questões que ocorriam em nosso mundo real. Essa nova leva de obras reflexivas se tornou o melhor período da sétima arte por lá e se tornando o que hoje é conhecida como a "Nova Hollywood", da qual foi inaugurada por jovens novos talentos que foram surgindo naqueles tempos, como no caso de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Brian de Palma, George Lucas e Steven Spielberg. Esse último, aliás, foi o primeiro ao inaugurar o termo blockbuster com o seu clássico "Tubarão" (1975), porém, o diretor já havia se consagrado antes com a sua pequena obra prima "Encurralado" (1971).

A trama é simples: Homem de negócios (Dennis Weaver) dirige sozinho em uma estrada secundária, quando de repente se vê perseguido por um motorista de caminhão (Lou Frizzell). Depois de algum tempo, ele chega à conclusão de que aquele homem pretende matá-lo. Não demora muito para que a trama se torne uma verdadeira perseguição de gato e rato.

Rodado em apenas 13 dias nas estradas da California, além de um orçamento minúsculo, o jovem Steven Spielberg, com apenas 25 anos de idade, criou um filme de suspense de estrada eletrizante, com direito há vários planos-sequências, montagem de cenas eletrizantes e que não deve nada para outros filmes de grande orçamento da época. O filme foi rodado para ser exibido diretamente para a  tv norte americana, em uma época em que os canais estavam cheio de filmes melodramáticos e coube ao jovem diretor quebrar esse tabu. O sucesso foi tão grande que não demorou muito para sua obra ser lançada nos cinemas e se tornando um cult instantâneo na época.

O roteiro é de Richard Matheson, que por sua vez criou a história se inspirando em um caso real que ele mesmo havia participado. Curiosamente, por muito tempo o público achava que o filme era baseado em alguma obra de Stephen King, o que não é surpresa nenhuma, já que o escritor tem vários romances com essa mesma temática. Portanto, não me surpreenderia se o próprio "Encurralado" tenha servido de inspiração para o escritor criar um dos seus clássicos literários que foi "Christine" (1983), que contava a história de um carro que criava vida e que teria a sua adaptação para o cinema no mesmo ano.

No caso do clássico de Spielberg, se percebe que há várias mensagens subliminares na trama e que revisto hoje em dia se tornam ainda mais explicitas. Para começar o filme se passa no início dos anos setenta, época em que os norte-americanos ainda sofriam da ressaca com relação a guerra do Vietnã, crise econômica e a turbulência política nas mãos de Richard Nixon. A trama foca somente dois personagens, o cidadão de bem David Mann interpretado por Weaver e o caminhoneiro, interpretado por Carey Loftin, que jamais vemos o seu rosto e fazendo dos personagens os dois lados da mesma moeda com relação ao sentimento do norte americano daqueles tempos.

Enquanto David seria a representação do cidadão de bem norte americano, o caminhoneiro, por sua vez, seria aquele cidadão frustrado com os tempos que estava convivendo e colocando o seu ódio contra o primeiro que apareceria em sua frente. Já David insiste em não usar a violência durante esse duelo psicológico, principalmente na cena do bar onde ele tenta adivinhar quem é o dono do caminhão e que pode estar dentro do estabelecimento naquele momento. Antes disso, ele tem um curioso diálogo com a sua esposa pelo telefone e dando a entender que os dois estão brigados, já que ele não a defendeu de um quase estupro.

É neste ponto da trama que o filme me fez lembrar de uma outra obra lançada naquele mesmo ano, que foi "Sob o Domínio do Medo" (1971), do qual o protagonista, interpretado por Dustin Hoffman, procura usar a lógica para conter a onda de violência que invadirá a sua casa, mesmo suspeitando que um dos invasores tenha estuprado anteriormente a sua esposa. Nos dois casos, são protagonistas que temem pelas consequências de suas ações caso respondam contra a violência que estão os afligindo. Logicamente, a razão dá lugar para ação, pois os personagens se encontram encurralados e cabem agir para sobreviverem antes que seja tarde demais.

Há quem goste de simplificar o clássico de outras diversas formas, como na possibilidade do caminhão ter sido possuído por uma força demoníaca, ou que o veículo seja um monstro que só Deus sabe da onde veio. Não é de se admirar, portanto, que muitos consideram "Tubarão" como uma espécie de continuação de "Encurralado", já que ambos os casos vemos os protagonistas sendo perseguidos implacavelmente por uma força tenebrosa e que jamais descansa até ela ser eliminada. Curiosamente, o grito de um Tiranossauro Rex ouvido na cena final do caminhão que cai direto para um precipício é o mesmo grito que ouvimos após a morte do tubarão.

"Encurralado" é a semente que Spielberg plantou em Hollywood em 1971 e que mudaria em grande escala o cinema norte americano para sempre e cujo os seus efeitos são sentidos até hoje. 

Onde Assistir: Em DVD ou Telecine. 

Joga no Google e me acha aqui:  
Me sigam no Facebook twitter, Linkedlin e Instagram.  

Nenhum comentário: