Mais contundente e polêmico entre os tantos filmes de ficção americanos sobre a Guerra no Iraque, Redacted (2007) não foi lançado no Brasil – tampouco tem previsão de sair em DVD. Uma rara chance para se assistir ao filme de Brian De Palma na tela grande será oferecida pelo projeto Cineclube, iniciativa de Zero Hora que promove mensalmente uma sessão de cinema seguida de debate, com entrada franca. A exibição será no próximo sábado, às 10h, no CineBancários, parceiro de ZH no projeto.
Um dos nomes de frente da geração de jovens cineastas que revolucionou Hollywood nos anos 1970 – ao lado de nomes como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese –, De Palma é autor de títulos marcantes como Carrie, a Estranha, Um Tiro na Noite, Os Intocáveis e Pagamento Final. Em Redacted, o diretor decidiu mexer em um vespeiro.
Logo após ser convidado por uma produtora a realizar um longa-metragem de até US$ 5 milhões sobre qualquer tema, desde que realizado em vídeo digital de alta definição, De Palma tomou conhecimento de um episódio escabroso ocorrido na Guerra do Iraque: em 2006, na cidade de Mahmudiya, ao sul de Bagdá, soldados americanos estupraram, assassinaram e queimaram o corpo de uma garota de 14 anos, barbárie que prosseguiu com o massacre da família da menina.
De Palma passou a pesquisar na internet e deparou com vídeos captados no front e postados em blogs de militares e em sites como o YouTube. Decidiu fazer de seu filme um inventário da guerra a partir de diários pessoais dos combatentes, combinando o registro documental com a encenação do assassinato. Alertado sobre possíveis problemas legais se usasse imagens reais dos soldados, De Palma optou por recriar esses diários com atores. Simula assim “a realidade” com um documentário construído por imagens de câmeras amadoras, webcams, celulares e circuitos de vigilância.
O resultado é um impactante e brutal retrato da guerra sem os filtros usuais da dramaturgia, no qual De Palma – reconhecido esteta cinematográfico – ao mesmo tempo experimenta novas possibilidades audiovisuais e faz uma crítica feroz ao intervencionismo americano. O resultado, lógico, desagradou ao governo George W. Bush e no, clima de patriotismo que viviam os EUA à época, selou a carreira do filme.
Redacted teve uma ruidosa première mundial em agosto de 2007, no Festival de Veneza. De Palma saiu do prestigiado certame italiano consagrado com o prêmio de melhor diretor. O filme, entretanto, teve uma circulação internacional restrita. Em 2008, chegou a ter seu lançamento anunciado no Brasil, como Guerra sem Cortes – mas foi exibido apenas na Mostra Internacional de São Paulo e no Festival do Rio. O título original faz referência à censura pela qual passam documentos oficiais antes de serem divulgados. Censura que De Palma sofreu nos EUA – Redacted mostra em seu desfecho imagens do massacre real, que produtora americana cobriu com tarjas para não chocar o público local.
Vale lembrar que sobre tema bastante perecido, também baseado em uma história real, ocorrida durante a Guera do Vietnã, De Palma realizou Pecados de Guerra. O filme, protagonizado por Sean Penn e Michael J. Fox, mostra o conflito que surge em um pelotão de soldados americanos após o estupro e assassinado de uma jovem vietnamita.
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