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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 12 de julho de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: ‘ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR’

Sinopse: A cidade de Toritama é um microcosmo do capitalismo implacável. A cada ano, mais de 20 milhões de jeans são produzidos em fábricas de fundo de quintal.  Os locais trabalham sem parar e os moradores são orgulhosos de serem os donos do seu próprio tempo.

Embora tenha quase sempre ficado por detrás da câmera, o inesquecível diretor Eduardo Coutinho, realizador de obras importantes do nosso cinema como "Edifício Master" (2002), sempre se destacava em suas obras como um todo. No "Edifício Master", por exemplo, ele tinha o dom de saber se entrosar com os entrevistados e fazendo com que eles colocassem para fora a realidade do seu dia a dia. Assistindo "Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar" me fez relembrar dos melhores momentos do falecido diretor, porém, Marcelo Gomes obtém aqui a sua identidade própria, mas de uma forma bem mais nua e crua.   
Realizador de filmes como, por exemplo, "Viajo Porque eu Preciso, Volto Porque eu Te Amo" (2009), Marcelo Gomes decide retornar para a cidade de Toritama que se localiza em Pernambuco. A intenção, no princípio, era fazer um paralelo das suas lembranças de infância com a realidade atual da qual a cidade se encontra. Ao chegar lá, ele encara uma realidade como um verdadeiro contraste se for comparado com as suas lembranças, pois a cidade se tornou centro ativo do capitalismo local, mais de 20 milhões de jeans são produzidas anualmente em fábricas caseiras.  
Meio que hipnotizado com o que testemunha, Marcelo Gomes desfila com a sua câmera pelas ruas, adentrando em cada casa e conhecendo um pouco sobre cada pessoa que ele encontra. Embora aparentem envergonhados em um primeiro momento, as pessoas começam a se abrir na frente da câmera, onde cada um fala um pouco de suas vidas e do porque se dedicarem em um trabalho quase escravo. Acreditando que possuem o seu próprio negócio, as pessoas de lá trabalham quase 16 horas por dia, em meio a maquinas que fazem um barulho incessante e gerando uma montanha de tecidos que virão a se tornar roupas de jeans a serem vendidas para a massa do mundo a fora.   
Em um documentário em que o principal destaque é o trabalho braçal ininterrupto, Marcelo Gomes tenta suavizar a situação em determinados momentos. Há, por exemplo, momentos em que ele coloca uma trilha sonora clássica para que ela se case com os movimentos contínuos das mãos de uma pessoa enquanto a própria fica fabricando as peças. É nesse momento, além de outros que virão durante a projeção, que o cineasta tenta dar uma suavizada em uma realidade fechada dentro de uma bolha e da qual serve somente para um mundo capitalista e que se encontra do outro lado dessa realidade injusta.  
Ao testemunharmos a realidade dessas pessoas isso fornece uma boa dose de reflexão.  É possível levantar comentários sobre o trabalho dito “autônomo”, mas do qual vira uma espécie de escravidão do século 21, como também ser interpretado como luxo, mas estando muito longe disso. A cidade em si, não é um lugar que você o encontra nos noticiários, sendo que muitos terão somente conhecimento através desse documentário e fazendo a maioria se perguntar como é possível ter acontecido isso.  
Curiosamente, o único momento em que vemos esses personagens largando a ferramenta e se sentirem mais humanos, é nos tempos de carnaval e onde abraçam a tão sonhada praia. É aí que Marcelo Gomes destaca a figura de Leo, trabalhador desde a sua infância, explorado por muitos, mas que não deseja largar os seus tão sonhados desejos que encontram além do infinito. O cineasta decide então testemunhar o seu dia a dia, tanto como trabalhador braçal sem nenhuma remuneração, como também alguém feliz com o pouco que tem e indo junto com a sua família para a tão sonhada praia.  
Os tão sonhados dias de descanso no carnaval, por sua vez, faz o cineasta testemunhar uma cidade fantasma, da qual somente irá voltar a ganhar vida através do retorno dos seus moradores e do barulho de suas maquinas. É nesse ponto que sentimos a voz de Marcelo Gomes desanimada, ao concluir que aquela cidade, antes dourada através de suas lembranças, se tornou somente um grande maquinário humano e a serviço do capitalismo desenfreado. Todos movidos pelo Deus do dinheiro, mas também alimentado pelo fio de esperança por um futuro mais iluminado.  
"Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar", é a síntese do vampirismo do capitalismo e do qual anseia por somente estarmos não despertos.   


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Cine Dica: Estreia do Final de Semana (12/07/19)

Atentado ao Hotel Tal Mahal 

Sinopse: Em 2008, ataques terroristas ocorreram na cidade de Mumbai, na Índia. Foram três dias de completo caos, nos quais a cidade foi tomada por terroristas e devastada por incêndios, tiros e explosões de granadas.


A Pequena Travessa  

Sinopse:Lilli Susewind tem a habilidade de falar com animais, mas fora seus pais e sua avó, ninguém sabe deste segredo. 

Amor á Segunda Vista

Sinopse: Do dia para a noite, Raphael acorda em um universo paralelo no qual nunca conheceu Olivia, o amor da sua vida. Agora, ele precisa reconquistar a sua esposa, mesmo sendo um completo estranho.

Inocência Roubada 

Sinopse: Odette é uma menina de 8 anos que adora dançar e desenhar. Por que deveria desconfiar de um amigo de seus pais que se oferece para "fazer cócegas" nela? 



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quinta-feira, 11 de julho de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Annabelle 3: De Volta Para Casa' – Onde a Freira Erra, a Boneca Acerta

Sinopse: O casal Warren mantém a boneca Annabelle trancada em uma sala de artefatos. Porém, em uma noite, Annabelle desperta outros espíritos malignos e ameaça a jovem filha do casal e suas amigas. 

Os dois primeiros filmes de "Invocação do Mal", iniciados em 2013 e comandados por James Wan, são exemplos de criatividade em provocar ótimos sustos e fazendo a gente pular da poltrona de um modo bem fácil. Com o uso de velhas técnicas cinematográficas, os dois filmes não se limitaram com os recursos de ponta e dos quais somente poderiam poluir as duas obras. Infelizmente, não é o acontece com os seus derivados, como no caso do recente "A Maldição da Chorona" e, principalmente, do filme "A Freira" (2018), que se tornou um genuíno exemplo de uma produção preguiçosa e sem identidade própria.  
Dos filmes derivados é preciso destacar os que são protagonizados pela boneca amaldiçoada Annabelle. Se por um lado o seu protagonismo começou de uma forma morna no filme "Annabelle" (2014), por outro lado, "Annabelle 2: A Criação do Mal" (2017) surpreende por aprender com os erros do passado e obtendo assim a sua identidade própria. É aí que chegamos ao recente  "Annabelle 3: De Volta Para Casa", um filme simples, mas usando tudo o que havia dado certo nesta franquia iniciada por James Wan. 
Dirigido por Gary Dauberman, o filme se inicia, cronologicamente, após os primeiros minutos iniciais do primeiro filme "Invocação do Mal". Vemos então o casal Lorraine Warren (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) levando a boneca para a casa deles e onde ela ficará presa dentro de uma caixa de vidro. Porém, a filha do casal, a pequena Judy Warren (McKenna Grace), é deixada aos cuidados de sua babá (Madison Iseman) em uma noite em que várias situações estranhas começam acontecer dentro da casa.  
O filme possui em si um fiapo de trama, mas do qual é muito bem explorado por tudo o que havia dado certo no passado. Já tendo uma experiência desastrosa com o filme "A Freira, Gary Dauberman não brinca em serviço e usa os velhos recursos criativos para gerar bons sustos. Portanto, aguarde por sombras, vultos no canto da sala, portas rangendo, truques de espelho e o bom uso da câmera a serviço para se criar um bom espetáculo macabro.  
O melhor de tudo é que os eventos acontecem em um único cenário, ou seja, dentro da casa do casal Warren e gerando assim uma sensação e claustrofóbica na medida em que os jovens personagens adentram onde não se deveria. Nesse último caso, isso acontece devido a curiosidade da personagem Daniela (Katie Sarife), que deseja ter contado com o seu pai já falecido a partir do uso de artefatos amaldiçoados que se encontram dentro da sala fechada da casa do casal. É nesse cenário, aliás, que se encontram vários elementos já vistos da franquia, ou que irão posteriormente surgir se caso aconteça novos filmes.  
É claro que o cinéfilo mais exigente irá se desapontar com os desdobramentos da trama, já que muitos de nós já sabem como ela irá terminá-la.  Ao meu ver, os realizadores optaram em não arriscar em criar uma trama mirabolante, mas sim em uma trama simples, honesta e com o único intuito de provocar ótimos sustos. Antes em ser honesto em sua proposta principal, do que ir além de uma forma desnecessária e previsível.  
"Annabelle 3: De Volta Para Casa" retorna as suas raízes, nos assustando de uma forma certeira e muito bem-vinda. 


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Cine Especial: A Obra Prima de Michael Powell


Nessa semana eu adentrei na mente do diretor Michael Powell para sintetizar a importância de sua obra prima, o filme "A Tortura do Medo". Confira a minha analise e conheça o site Cinesofia clicando aqui.


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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Cine Dica: PROGRAMAÇÃO CINEBANCÁRIOS DE 11 A 17 DE JULHO

Cartaz estou me guardando para quando o carnaval chegar.png
ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR
Brasil I 2019 I 85min. I Direção: Marcelo Gomes
Sinopse: A cidade de Toritama é um microcosmo do capitalismo implacável. A cada ano, mais de 20 milhões de jeans são produzidos em fábricas de fundo de quintal.  Os locais trabalham sem parar e os moradores são orgulhosos de serem os donos do seu próprio tempo. Durante o Carnaval - o único momento de lazer do ano, eles transgridem a lógica da acumulação de bens, vendem seus pertences sem arrependimentos e fogem para as praias em busca de uma felicidade efêmera. Quando chega a Quarta-feira de Cinzas, um novo ciclo de trabalho começa.


cartaz Divino Amor.jpg
DIIVINO AMOR
Brasil I Drama I 2019 I 100min. I Direção: Gabriel Mascaro.
Sinopse: Brasil, 2027. Uma devota religiosa usa seu ofício num cartório para tentar dificultar os divórcios. Enquanto espera por um sinal divino em reconhecimento aos seus esforços é confrontada com uma crise no seu casamento que termina por deixá-la ainda mais perto de Deus.
Elenco: Dira Paes (Joana), Julio Machado (Danilo),Emílio de Mello (Pastor),Teca Pereira (Mestra Divino Amor),Calum Rio (Narrador),Mariana Nunes (Divorciando),Thalita Carauta (Cliente Cartório).


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O OLHO E A FACA
Brasil I Drama I 2018 I 100 min I Direção: Paulo Sacramento
Sinopse: Roberto trabalha há anos em uma plataforma de petróleo, onde criou fortes vínculos de amizade. Uma inesperada promoção, no entanto, abala a estabilidade de suas relações profissionais em um momento em que vive também uma grave crise familiar.
Elenco: Rodrigo Lombardi, Maria Luisa Mendonça, Roberto Birindelli, Caco Ciocler e Luís Melo

HORÁRIOS DE 11 a 17 DE JULHO (não há sessões nas segundas);

Dia 11 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Dia 12 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Dia 13 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Dia 14 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Dia 16 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Dia 17 de julho:
15h – O OLHO E A FACA
17h – DIVINO AMOR
19h - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR


Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema ou no site ingresso.com . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados,portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00. Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo. 

C i n e B a n c á r i o s 
Rua General Câmara, 424, Centro 
Porto Alegre - RS - CEP 90010-230 
Fone: (51) 34331205

Cine Dica: Anos 90 de Jonah Hill e Isabel Sarli no Projeto Raros (11 a 17 de julho)

PROJETO RAROS CELEBRA A ARTE DE ISABEL SARLI ANOS 90 DE JONAH HILL ENTRA EM CARTAZ

A partir de quinta-feira, 11 de julho, a Cinemateca Capitólio Petrobras promove a estreia de Anos 90, primeiro longa-metragem de Jonah Hill. Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes, ganha novas exibições até o dia 17 de julho. O valor do ingresso é 16 reais, com meia entrada para estudantes e idosos.

ANOS 90
(Mid90s)
ESTADOS UNIDOS, 2019, 84 minutos, DCP
Direção: Jonah Hill
Distribuição: Diamond Films
Aos 13 anos, Stevie (Sunny Suljic) é um garoto de Los Angeles tentando curtir o início da adolescência enquanto tenta relevar o relacionamento abusivo com o irmão mais velho. Em plena década de 1990, ele descobre o skate e aprende lições de vida com o seu novo grupo de amigos.

ISABEL SARLI GANHA HOMENAGEM NO PROJETO RAROS
Na sexta-feira, 12 de julho, às 20h, o Projeto Raros da Cinemateca Capitólio Petrobras exibe Fuego (1969, 90 minutos), clássico drama sexploitation argentino protagonizado por Isabel Sarli, a célebre “La Coca”, morta em junho deste ano. O filme é uma das mais cultuadas parcerias da atriz com o diretor, produtor, ator e seu companheiro de vida, Armando Bo. Com exibição digital e legendas em inglês, a sessão tem entrada franca
Fuego é, em definição da própria atriz, a história de uma mulher insaciável, uma ninfomaníaca incapaz de se contentar com qualquer homem ou mulher.  
A sessão conta com introdução de John Waters, cineasta apaixonado pela filmografia de Sarli e Bo desde os anos 1960, registrada no programa de televisão “John Waters Presents Movies That Will Corrupt You”. O pesquisador Carlos Thomaz Albornoz participa de um debate após a exibição.  

GRADE DE HORÁRIOS
11 a 17 de julho de 2019

11 de julho (quinta)
14h – Kinoclube: Historietas Mal Assombradas
15h30 – Anos 90
17h – Longa Jornada Noite Adentro
19h30 – Suspíria – A Dança do Medo

12 de julho (sexta)
14h – Inferninho
15h30 – Anos 90
17h – Suspíria – A Dança do Medo
20h – Projeto Raros (Fuego, de Armando Bo)

13 de julho (sábado)
14h – Inferninho
15h30 – Anos 90
17h – Longa Jornada Noite Adentro
19h30 – Suspíria – A Dança do Medo

14 de julho (domingo)
14h – Inferninho
15h30 – Anos 90
17h – Longa Jornada Noite Adentro
19h30 – Suspíria – A Dança do Medo

16 de julho (terça)
14h – Inferninho
15h30 – Anos 90
17h – Longa Jornada Noite Adentro
19h30 – Suspíria – A Dança do Medo

17 de julho (quarta)
14h – Inferninho
15h30 – Anos 90
17h – Longa Jornada Noite Adentro
19h30 – Suspíria – A Dança do Medo

terça-feira, 9 de julho de 2019

Cine Especial: 'Possuídas Pelo Pecado' – Da Boca para a História

Sinopse: Leme, um empresário rico, divorciado e infeliz por não ter herdeiros, vive em casa isolada com duas namoradas, governanta, a filha dela e o motorista, que planeja roubá-lo por quaisquer meios, ainda que tenha que matar o patrão. 

Quando eu era mais jovem sempre ouvia falar que o cinema nacional tinha muita sem-vergonhice e que eram produções pífias. Muitas dessas observações limitadas se direcionavam aos filmes da Boca do Lixo, cuja as obras se tornaram conhecidas como "Pornochanchadas". Redescobertas pelo Canal Brasil, esses filmes passaram a ser reavaliados e hoje pertencem a uma parte importante da história do nosso cinema nacional como um todo.
Embora pertençam aos tempos da Ditadura, muitos se perguntam porque muitas dessas obras não eram perseguidas pelos censores da época. Ao meu ver, os filmes serviam mais como escapismo para a maioria do público, ao invés de serem obras que nos desse altas doses de questionamentos. Nessa última questão, aliás, era o que os censores se preocupavam, já que não queriam que o povo em geral pensasse em seus direitos de liberdade naqueles de chumbo.
Porém, recentemente havia sido lançado o documentário "Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava" (2017), da cineasta Fernanda Pessoa. A obra, não só presta uma homenagem aquele período, como também comprovou que muitos daqueles filmes possuíam uma crítica ácida contra o governo nas entrelinhas. Enquanto as inocentes cenas de sexo animavam os desavisados, os que tinham olhos mais apurados, por sua vez, enxergavam ali algum conteúdo crítico e que passava desapercebido.
Seguindo essa linha de raciocínio, chegamos, enfim, ao clássico "Possuídas pelo Pecado" (1976), do cineasta Jean Garrett. O filme conta a história do empresário Leme (Benjamin Cattan),  que ao chegar na terceira idade e perceber que não poderá mais ter os filhos que sempre quis, decide abandonar seu casamento com Raquel (Meiry Vieira) para entregar-se a amores passageiros com suas secretárias e ao vício em álcool. Raquel então se envolve com seu motorista (David Cardoso) e, logo, todos os membros da família acabam presos em uma grande teia de mentiras.
Embora com as suas limitações, os realizadores da Boca do Lixo possuíam criatividade e das quais foram reconhecidas no seu devido tempo. Abertura de "Possuídas pelo Pecado", por exemplo, se tornou um dos pontos altos do filme, já que Jean Garrett elabora um criativo plano sequência, que na realidade é uma câmera objetiva, ou seja, estamos enxergando o ponto de vista de um personagem, mais precisamente de Leme e que surge em cena em uma de suas festas de bebida, sexo e drogas. Curiosamente, eu fui conhecer esse filme justamente por causa dessa cena de abertura, já que ela foi analisada em um dos cursos "Cinema Popular" aqui de Porto Alegre.
Se por um lado a parte técnica impressiona até mesmo nos dias atuais, o mesmo não se pode dizer muito de sua história, que oscila entre o ingênuo e o politicamente incorreto. Contudo, é preciso destacar que eram outros tempos, onde determinadas situações eram vistas como normais naqueles tempos longínquos. Se hoje fosse feito algo parecido, dificilmente não escaparia de críticas pesadas, principalmente vinda das mulheres atuais e que jamais se enxergariam daquela forma.
Porém, mesmo em tempos mais selvagens como aqueles, há também uma pequena resistência vinda das personagens femininas, mesmo quando elas agem de uma forma questionável. Vale lembrar que o filme marca a estreia da atriz Nicole Puzzi, que na época tinha apenas 17 anos e se tornaria uma das musas daquele período. Sua personagem, aliás, oscila entre ingenuidade e segundas intenções e das quais se casa com a proposta principal da obra.
Benjamin Cattan, por sua vez, interpreta aqui o personagem mais complexo da obra, do qual nos provoca repulsa e ao mesmo tempo pena. É curioso observar que Leme seria uma figura caricata do homem bem-sucedido brasileiro daquele tempo, mas cujo o poder lhe desconstrói e o transformando em apenas uma imagem pálida do que já foi um dia. Não é à toa, portanto, que a obra começa e termina com ele em cena e selando assim uma espécie de tragédia grega.
"Possuídas pelo Pecado" sintetiza os tempos de um cinema brasileiro criticado, mas que revisto hoje se comprova o quanto o brasileiro usa e abusa de discursos moralmente hipócritas e sem brilho. 

NOTA: O filme teve exibição especial nesse último sábado (06/07/19) na Cinemateca Capitólio Petrobras e com a presença ilustre da atriz Nicole Puzzi.  


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