Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Nesta sexta-feira, 8 de dezembro, às 19h30, a Cinemateca Capitólio e o Cineclube Academia das Musas apresentam uma edição especial do Projeto Raros com a exibição de Quando Éramos Bruxas (1990), filme de Nietzchka Keene protagonizado pela artista Björk. A sessão marca o lançamento da sexta edição da revista do cineclube fundado em 2016, com foco em obras dirigidas por mulheres em diferentes períodos da história do cinema. Com apoio da distribuidora FILMICCA, a sessão tem entrada franca.
A Cinemateca Capitólio apresenta nos dias 9 e 10 de dezembro três sessões únicas de cópias restauradas de filmes de Satyajit Ray, o maior nome da história do cinema indiano. Entrada franca.
No sábado, 09 de dezembro, às 19h30, a Cinemateca Capitólio e a Vitrine Filmes apresentam uma sessão especial de Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, em 35mm!
Na terça-feira, 12 de dezembro, às 19h, a Cinemateca Capitólio apresenta uma sessão com a trilogia sci-fi da diretora palestina Larissa Sansour. A Mostra de Cinema Árabe Feminino, apoiadora do evento, promoverá um debate após a exibição. Entrada franca.
Os filmes Tia Virginia, de Fábio Meira (9/12), Vai e Vem, de Fernanda Pessoa e Chica Barbosa (10/12) e Durval Discos, de Anna Muylaert (12/12) entram em cartaz na Cinemateca Capitólio.
"Puan",dirigido por María Alché e Benjamín Naishtat, que foi indicada para o Goya e foi exibido no Festival do Rio na Première Latina, participou na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e levou dois importantes prêmios no Festival San Sebastian: Melhor Roteiro para a dupla de diretores María Alché & Benjamín Naishtat e Melhor Ator para Marcelo Subiotto.
Sinopse: Marcelo (50) dedicou sua vida ao ensino de filosofia na Universidade Pública e, de repente, seu mentor e chefe, o professor Caselli, morre. Desorientado neste novo panorama, Marcelo imagina que herdará o posto deixado vago por seu mentor. O que ele não espera é que Rafael Sujarchuk, um filóso carismático e pedante, formado nas melhores universidades europeias, também queira o posto. Entre seus múltiplos empregos como professor de filosofia em periferias, na universidade e em particular para uma milionária de oitenta anos de idade, ele também deve se preparar para concorrer a um cargo contra este forte adversário que parece encantar a todos. Os esforços desajeitados de Marcelo não parecem ser suficientes para conseguir o emprego, mas é realmente isso o que ele quer?"
Elenco: Marcelo Subiotto, Leonardo Sbaraglia, Julieta Zylberberg, Alejandra Flechner, Andrea Frigerio, Mara Bestelli
FIM-DE-SEMANA NO PARAÍSO SELVAGEM
Brasil/ Drama/2022/116min.
Direção: Pedro Severien
Sinopse: Entre a margem de uma praia marcada por coqueiros tropicais e a margem oposta cravada de usinas e cargueiros, há um território de disputas desleais entre tubarões e peixes pequenos. É nele que Rejane chega para tentar entender o
que aconteceu com seu irmão, um exímio mergulhador encontrado morto em um mar cercado de sombras por todos os lados.
Elenco:Ana Flavia Cavalcanti, Joana Medeiros, Edilson Silva, Eron Villar, Enio Cavalcante, Luciano Pedro Jr.
EM CARTAZ:
PEDÁGIO
Brasil/Portugal/Drama/2023/ 101 min.
Direção: Carolina Markowicz
Sinopse: Mulher precisa juntar dinheiro para mandar o filho para um lugar que promove uma cura gay, ministrado por um famoso pastor estrangeiro. Para isso, ela começa a burlar a lei em seu trabalho, como cobradora de pedágio.
Elenco: Maeve Jinkings, Kauan Alvarenga e Thomás Aquino
EXIBIÇÃO ESPECIAL DIA 09 DE DEZEMBRO, ÁS 10H30, COM ENTRADA FRANCA, PROSSEGUIDA DE DEBATE.
Repórter Brasil lança documentário em homenagem ao jornalista Dom Phillips e aborda a violência enfrentada na cobertura da Amazônia. Seguindo o assassinato do repórter inglês, o filme "Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia" trata dos desafios da cobertura da violência na Amazônia
“Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia", novo documentário da Repórter Brasil, é uma homenagem a Dom Phillips, jornalista inglês assassinado em uma emboscada no Vale do Javari junto ao indigenista Bruno Pereira. Com a proposta de refletir sobre a complexa natureza da cobertura da Amazônia, o filme parte da experiência de Daniel Camargos, que foi companheiro de reportagem de Dom, ao cobrir as buscas pelo amigo desaparecido.
O documentário mergulha nos desafios enfrentados pelos jornalistas que cobrem a violência contra as comunidades indígenas na maior floresta tropical do mundo. A narração em primeira pessoa de Camargos conduz uma reflexão sobre o papel dos repórteres em meio aos conflitos na região. Após ouvir e sofrer com a brutalidade das revelações sobre o que aconteceu com Dom, assassinado e esquartejado, o jornalista se pergunta se “vale a pena seguir adiante”.
Em busca de respostas, o filme acompanha o repórter ao percorrer outros estados e outras terras indígenas, onde observa semelhanças e diferenças no modo como as suas fontes processam o luto. A resistência indígena perante a perda de tantos na disputa pelo território ganha uma nova dimensão para o repórter.
De acordo com Camargos, o filme começa após o trabalho de convencimento frente aos questionamentos sobre os riscos. “O encontro com a morte do amigo, a busca por sentido para a profissão de repórter e a tentativa de dar continuidade ao trabalho do Dom, são passos que dou ao longo do documentário que tem um tom reflexivo”, descreve o jornalista. “Fazer esse documentário foi muito doloroso, sem dúvida. Mas também foi fundamental para encontrar o sentido de ser repórter”.
Com 1h de duração, “Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia" é um filme de Ana Aranha e Daniel Camargos, com fotografia de Fernando Martinho e Caio Castor, montagem de Pedro Watanabe, e realização da Repórter Brasil.
Consórcio em homenagem ao Dom Phillips
O documentário integrou o trabalho feito por um consórcio de mais de 50 jornalistas espalhados por 10 países e representando 16 organizações, incluindo os ingleses The Guardian e The Bureau of Investigative Journalism, Expresso (Portugal), Le Monde (França), Ojo Público (Peru), Paper Trail Media (Alemanha), NRC (Holanda), Tamedia (Suíça), Der Standard (Áustria), além dos brasileiros Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Amazônia Real, Folha de São Paulo e TV Globo. Com coordenação da Forbidden Stories, esses veículos realizam diversas publicações entre os dias 1 e 4 de junho, quando a morte de Dom e Bruno completará um ano. O objetivo é dar eco às investigações que Dom Phillips fez em vida e, de certa forma, continuar o seu trabalho.
HORÁRIOS DE 07 a 13 DE DEZEMBRO (não há sessões nas segundas-feiras):
15h: FIM-DE-SEMANA NO PARAISO SELVAGEM
17h: PEDÁGIO
19h: PUAN
Dia 09, sábado, ás 10h30:
EXIBIÇÃO ESPECIAL DIA 09 DE DEZEMBRO, PROSSEGUIDA DE DEBATE, COM ENTRADA FRANCA, DOCUMENTÁRIO “ Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia”, de Ana Aranha e Daniel Camargos.
Sinopse: O documentário mergulha nos desafios enfrentados pelos jornalistas que cobrem a violência contra as comunidades indígenas na maior floresta tropical do mundo. A narração em primeira pessoa de Camargos conduz uma reflexão sobre o papel dos repórteres em meio aos conflitos na região. Após ouvir e sofrer com a brutalidade das revelações sobre o que aconteceu com Dom, assassinado e esquartejado, o jornalista se pergunta se “vale a pena seguir adiante”.
Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem, trabalhadores associados em sindicatos filiados a CUT-RS e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00.Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
ATENÇÃO: NAS QUINTAS-FEIRAS TODOS PAGAM MEIA ENTRADA EM TODAS AS SESSÕES!
CINEBANCÁRIOS :Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre -Fone: 30309405/Email:cinebancarios@sindbancarios
Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana.
SESSÃO CLUBE DE CINEMA
Local: Sala Paulo Amorim, Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana
Data: 09/12/2023, sábado, às 10:15 da manhã
"Tia Virgínia"
Brasil, 2023, 100 min, 14 anos
Direção: Fabio Meira
Elenco: Vera Holtz, Arlete Salles, Louise Cardoso, Antonio Pitanga, Vera Valdez
Sinopse: Virgínia nunca se casou, não teve filhos e foi convencida pelas irmãs a cuidar dos pais. No primeiro Natal depois da morte do pai, com a mãe dependente de cuidados, Virginia reencontra suas irmãs. Enquanto preparam a ceia, os afetos e os ressentimentos dão o tom das conversas entre Virginia, Vanda e Valquiria. Inspirado nas memórias familiares do próprio diretor, o filme ganhou seis Kikitos no Festival de Gramado, incluindo melhor filme pelo Júri da Crítica, melhor atriz para Vera Holtz e melhor roteiro.
Sinopse: Suellen, cobradora de pedágio, percebe que pode usar seu trabalho para fazer uma renda extra ilegalmente. O seu objetivo é financiar a ida de seu filho à caríssima cura gay ministrada por um famoso pastor estrangeiro.
Carolina Markowicz parece que possui uma predileção por descascar a verdadeira face de um Brasil que vive das aparências, mas cuja essência é tão distorcida que acaba se tornando uma verdadeira piada. Em "Carvão" (2022), por exemplo, existe uma frieza escondia através de personagens que poderíamos até dar certo crédito em um primeiro momento, mas que logo se revelam perigosas através de suas escolhas peculiares para dizer o mínimo. "Pedágio" (2023) um novo capítulo deste cardápio vindo da realizadora, onde a incompreensão, preconceito e a falta de recursos fazem com que a pessoa tome certos caminhos equivocados.
Na trama, Suellen (Jinkings) é uma mulher que leva uma vida simples trabalhando como cobradora de um pedágio. Um dia, ela percebe que pode usar o emprego como uma forma de fazer uma renda extra - mas de maneira ilegal. Ela decide arriscar, mas acredita ter um motivo muito bom para tal: o dinheiro seria totalmente destinado a uma caríssima “cura gay” para seu filho Tiquinho (Alvarenga), ministrada por um pastor estrangeiro muito conhecido.
A falta de recursos traz a falta de conhecimento e fazendo que a pessoa mais humilde se entregue da maneira fácil para obter maior renda o mais rápido possível. Suellen é uma de muitas trabalhadoras brasileiras espalhadas pelo país, mas cujo desejos se tornam cada vez mais distantes e fazendo com que se entregue a uma realidade equivocada e que lhe traz falsas promessas. Novamente Maeve Jinkings se entrega para uma personagem que não esconde as suas raízes, mas ao mesmo tempo revelando uma ambição de fugir de sua própria realidade.
Não há como negar que a interação entre ela e seu filho Tiquinho é o ponto alto do filme como um todo, sendo que esse último sonha em ser até mesmo um artista, mas sendo observada com maus olhos pela mãe que não consegue compreender a sua real essência. É neste ponto, por exemplo, que Carolina Markowicz faz uma crítica acida contra a certas igrejas milagrosas, das quais as mesmas pregam a gura gay, quando na verdade tudo não passa de uma grande piada para enganar e fazer lavagem cerebral nas pessoas mais desinformadas. As cenas da igreja, por exemplo, sintetizam alienação que uma parcela da sociedade está sofrendo atualmente, cuja lavagem cerebral é obtida por situações tão absurdas que não há como deixar de rir.
No final das contas, chegamos a um ponto que talvez não seja preciso tomar uma decisão para salvarmos essas pessoas dessa loucura, pois alguns irão cair na real e se refugiar no seu próprio mundo particular e cuja essa fuga pode se tornar um fio de esperança que não irá tardar. Suellen compreenderá de um jeito ou de outro, mas até lá ela sempre será persuadida, seja pelo seu namorado ou pela sua colega de trabalho, vivida de forma espetacular pela atriz Aline Marta Maia e cuja sua personagem representa uma parcela de uma sociedade hipócrita e que se esconde através das cortinas da igreja.
"Pedágio" é o Brasil atual em que vivemos, cuja desinformação e o preconceito se alinham com a falta de necessidade e fazendo do cidadão comum uma presa fácil.
Sinopse: A partir do registro de sua gravidez frustrada, a diretora Eliza Capai conversa com outras mulheres que tiveram vivências parecidas à sua, criando um potente e tocante coral de vozes que refletem sobre temas universais.
Eu sou contra o aborto, mas ao mesmo tempo a favor da legalização do mesmo. No Brasil de cada dez mulheres que buscam ajuda de forma clandestina para a interrupção da gravidez oito acabam tendo complicações na saúde e podendo até mesmo nunca mais engravidarem. O grande problema do Brasil atual é que, mesmo que o procedimento fosse constitucional, o país não tem uma estrutura suficientemente boa para tratar determinados casos e podendo até mesmo ser freado por uma parcela da sociedade conservadora e ao mesmo tempo hipócrita.
Em 2020, o caso de uma criança grávida aos 10 anos de idade, que era estuprada desde os seis por um familiar, repercutiu no país. A equipe médica do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam/Ufes) se recusou a realizar o procedimento e a criança precisou viajar do Espírito Santo até Pernambuco para fazer o aborto legal no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam/UPE).
O documentário “Incompatível Com a Vida" é um retrato sobre a gravidez complexa e dolorida da cineasta Eliza Capai que, ao receber o diagnóstico de que seu feto tinha uma malformação incompatível com a vida fora do útero, decide documentar o seu momento mais dramático. A sua obra também reúne casos de mulheres grávidas que receberam diagnósticos de que os fetos que carregam dentro de si são “incompatíveis com a vida” e têm alguma malformação congênita que levará à morte ainda no útero ou após o parto. Portanto, a dor da realizadora acaba não se tornando um caso isolado, mas ao mesmo tempo se tornando o mais chocante perante os nossos olhos.
Curiosamente, o projeto inicial da realizadora tinha uma outra forma, pois era para documentar a rotina de um casal grávido durante o isolamento provocado pela pandemia da Covid-19, em 2020. O roteiro que foi sendo remodelado durante o percurso acaba obtendo uma metamorfose completa quando a diretora recebe a notícia do médico. A partir desse momento, fazer esse documentário foi uma forma de exorcizar as dores de Eliza, ao ponto em que a própria se expõe de tal maneira que acabamos sentindo a sua dor, seja quando ela tem problemas de falta de ar ou quando começa a gritar sem excitar.
Para todas as mulheres retratadas em “Incompatível com a vida”, o tema do aborto é dos mais recorrentes. Em paralelo, o documentário inclui discursos de políticos e religiosos ultraconservadores pregando contra a prática, inclusive nos casos previstos em lei. Exibe, também, a dificuldade de se encontrar hospitais que aceitem realizar o aborto legal no Brasil. Por fim, “Incompatíveis com a vida” é um convite que nos leva a sentir a dor de uma mãe que opta por uma dura escolha, mas tendo que enfrentar de frente a burocracia conservadora e que somente retrocede o Brasil e o mundo a fora.
Sinopse: Durval mora com sua mãe no local onde também funciona uma loja de discos, a Durval Discos. Devido ao cansaço da mãe, eles contratam uma empregada que aceita trabalhar por apenas 100 reais. Contudo, alguns dias depois ela desaparece, deixando para trás uma menina e um bilhete, pedindo para que eles cuidem da garota por dois dias. Os dois acolhem a jovem, mas acabam tendo uma grande surpresa.
Anna Muylaert gosta de explorar a desconstrução familiar brasileira, sendo que essa última não se sustenta perante as diversas situações e metamorfoses constantes que o país vai obtendo ao longo da história. Se em "Que Horas Ela Volta?" (2015) constatamos a nova juventude perdida por não obter um ombro paternal, por outro lado, "Mãe Só Há Uma" (2016) é sobre a queda de uma mascara hipócrita de uma sociedade que tenta se sustentar através das aparências, mas cujos os verdadeiros laços de sangue não é exatamente o suficiente para sustentar essa falsa realidade. "Durval Discos" (2002) possui dois lados de uma realidade, da qual a mesma se sustenta através da fantasia, mas cuja a dura realidade começa a bater a sua porta.
O filme conta a história de Durval (Ary França) e sua mãe Carmita (Etty Fraser) que vivem há muitos anos na mesma casa onde funciona a loja Durval Discos, que já foi muito conhecida no passado mas hoje vive uma fase de decadência devido à decisão de Durval em não vender CDs e se manter fiel aos discos de vinil. Para ajudar sua mãe no trabalho de casa Durval decide contratar uma empregada. O baixo salário acaba atraindo Célia (Letícia Sabatella), uma estranha candidata que chega junto com Kiki (Isabela Guasco), uma pequena garota. Após alguns dias de trabalho Célia simplesmente desaparece, deixando Kiki e um bilhete avisando que voltaria para buscá-la dentro de 3 dias.
Rodado com um curto orçamento, porém, com muita criatividade, Anna Muylaert demonstra para que veio já no início da abertura do longa, onde os créditos se apresentam em meio aos letreiros, seja nos anúncios do mercado, ou simplesmente disfarçados nas placas de rua. Tudo feito em um plano-sequência criativo e cujo o desfecho termina justamente com o letreiro do cenário principal e ao mesmo tempo apresentando ao título do filme. Curiosamente, essa abertura sintetiza o movimento constante da situação e do qual não tem como parar.
Durval é uma pessoa pertencente a geração dos anos oitenta e noventa, mas que parou no tempo ao negar a realidade do sistema capitalista e do qual o mesmo está extinguindo aos poucos os discos de vinil do mercado musical. Batendo o pé, Durval mantém a sua loja com que pode, cujo o cenário revela toda a cultura brasileira musical e onde cada foto ou capa de disco de vinil fará com que muitos se identifiquem com o filme como um todo. Atenção para a divertida participação de Rita Lee e cuja aparição é uma cereja de um bolo de muitas camadas de interpretação.
Assim como os discos de vinil, podemos interpretar o filme como dois de uma trama, pois o que começa como uma espécie de comédia familiar, logo vai obtendo contornos mais sombrios e imprevisíveis. A partir do momento em que surge a pequena Kiki logo Durval percebe que o seu comodismo vai se perdendo aos poucos e não conseguindo mais controlar as mudanças que vão acontecendo. O ápice disso é o surgimento da figura de um cavalo e do qual simboliza o furo da bolha e do qual Durval se mantinha até aquele ponto.
Ary França interpreta o que talvez seja o melhor papel de sua carreira, ao criar para o seu Durval uma pessoa fascinada pela cultura pop, seja da música ou do cinema, mas cuja essas artes serviam apenas como refugio ao não aceitar mudanças que ocorriam pelo mundo. Já a mãe é uma figura trágica, da qual transita entre momentos de puro humor, para situações das quais sentimos total pena dela e fazendo a gente se perguntar sobre o seu passado e o que levou ela a querer manter uma realidade que não é sua como um todo. Etty Fraser nos brinda com uma atuação espetacular e que tão cedo não faz a gente se esquecer.
O ato final nos reserva momentos de até mesmo de pura tensão, com desdobramentos que levam os personagens por um caminho sem volta e fazendo com que Durval seja forçado a se transformar e amadurecer em pouco espaço de tempo. Isso simboliza a nossa realidade contemporânea, da qual faz com que não respiremos mais de forma normal, ao ponto que quando vemos pela última vez Durval ele respira fundo ao constatar que não se vê mais preso em sua bolha, mas tendo que sacrificar tudo o que ele tinha. Ao final tudo se destrói, se tornando uma mera lembrança e o que resta é seguirmos em frente para ver o que acontece.
Com participações especiais de Marisa Orth e Letícia Sabatella, "Durval Discos" é um clássico brasileiro surpreendente, cujo mesmo possui uma análise sobre a geração noventista e da qual, talvez, não estivesse preparada para o novo século.
Quais são os diretores considerados importantes para o cinema nacional? Essa questão norteia a curadoria da última mostra do ano na Sala Redenção, em cartaz entre os dias 04 e 15 de dezembro. Intitulada “Além do Cânone”, a programação apresenta obras de realizadoras brasileiras, ao mesmo tempo que questiona a composição de um cânone cinematográfico composto basicamente por homens.
Juliana Rojas, Flavia Castro, Suzana Amaral, Maya Da-Rin e Lúcia Murat são as diretoras homenageadas em “Além do Cânone”. A mostra reúne cinco longas-metragens, produzidos pelas cineastas entre 2008 e 2012 com o apoio da ANCINE (Agência Nacional do Cinema). Com este recorte, a programação não só problematiza a questão de gênero do cânone cinematográfico, mas também ressalta a importância das leis de incentivo para a diversidade das produções audiovisuais brasileiras. Para ampliar o debate, a mostra apresenta um bate-papo no dia 06 de dezembro, às 19h, com as críticas de cinema Daniela Strack e Juliana Costa, acompanhando a exibição do filme “Trabalhar Cansa”.
Todas as sessões contam com entrada franca e aberta à comunidade em geral. A Sala Redenção está localizada no campus central da UFRGS, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.