Nota: O filme será exibido para associados e não associados na próxima Segunda, 12 de junho, Sala Redenção, Campus Central da UFRGS as 19h.
Construindo uma comédia sobre os laços matrimoniais e seus eventuais problemas, Billy Wilder nos entrega um filme leve e dinâmico que cumpre sua proposta. Longe de alocar-se entre as grandes obras do diretor, “O Pecado Mora ao Lado” (1955), no entanto, traz o que há de mais comum na filmografia de Wilder, trabalhando com ambientes limitados, personagens erráticos e a figura feminina como força propulsora para as atitudes emanadas da trama.
A história do filme se concentra no período de férias de uma família tradicional americana. Neste período, Richard Sherman decide não viajar com sua família, tendo como desculpas seu trabalho, ficando sozinho em sua casa enquanto sua mulher e filho curtem o período de calor. A trama do filme ganha sua força quando Sherman acaba por conhecer uma jovem e atraente vizinha, dando início a uma batalha pela preservação de sua fidelidade ao casamento.
Um grande sucesso no mundo inteiro que consolidou a imagem de Marilyn Monroe com símbolo sexual do cinema na época. Segundo notícias, as fotos que Marilyn iria fazer para promover o filme, usando a cena do vestido levantado na grade do metrô, causaram um grande rebuliço, pois a atriz se apresentou sem calcinha (como ela gostava de dormir). Foi preciso providenciar a peça íntima de uma das assistentes de produção para que as fotos fossem tiradas.
A interessante abertura do filme dá o tom a trama que vai se desenrolar e nos lembra, a cada cena, que Billy Wilder costuma ser lembrado (principalmente pela crítica) por filmes como “Crepúsculo dos Deuses” (1950) e “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), mas ele tem habilidade suficiente para ter em mãos gêneros distintos e alcançar resultados notáveis.
No ano de 1954, Marilyn assinou com a Famous Artits Agency e deixou a William Morris. A Fox queria, a qualquer custo, que ela gravasse o filme Pink Tights, após o roteiro ser enviado a sua casa, leu e não se interessou. Preocupada em articular um casamento às pressas (e às escondidas) com Joe DiMaggio, seu segundo marido, renomado ex-jogador de baseball e ídolo dos Yankees, a atriz aceitou os conselhos de Joe, que pretendia gradualmente afastá-la do cinema, e não topou. A Fox então desiste e oferece papel em “O Mundo da Fantasia” (1954) e em troca ela teria reservado o papel principal para gravar O “Pecado Mora ao Lado” em Nova York, em setembro de 1954.
Orçado em 3,2 milhões, o filme é uma adaptação da peça de teatro homônima, onde Tom Ewell repetiu, na pele de Sherman, o papel da peça no cinema. Marilyn, por sua vez, vivia novamente o estereótipo de loira burra que a perseguiu em toda sua carreira. No ano de seu lançamento, o filme causou furor por sua ousadia. Os censores da época queriam proibi-lo por tratar de um tema polêmico, o adultério, de uma forma leve e banal, ainda que de fato não exista nenhuma cena explícita, tudo fica a cargo das insinuações e ironias. A sensualidade de Marilyn na banheira e a famosa cena do vestido esvoaçante sobre o respiradouro do metrô foram os principais alvos dos conservadores.
Para 1955, a ousadia era de mais. A multidão que se juntou tornou inutilizáveis as tomadas de vistas que se fizeram na Avenida de Lexington, em Nova Iorque, tal era o ruído dos comentários, dos assobios, das reações a uma visão que se repetia, uma e outra vez, a cada engano da estrela (e foram muitos). E a cada repetição o embaraço do marido, Joe DiMaggio, aumentava, tendo chegado a tal ponto que acabou com aquele casamento de nove meses. Novas tomadas de vistas foram recolhidas em estúdio, num cenário de recriação daquele troço da Avenida de Lexington, o que explica, para os mais atentos, a discrepância que existe entre a imagem que ilustra os cartazes e o conteúdo da cena que ficou na versão final do filme.
Curiosamente, "O Pecado Mora ao Lado" é rodado quase que integralmente na sala da casa de Richard Sherman. A primeira cena no interior daquela residência dura aproximadamente quarenta minutos. A segunda mais trinta. Considerando que o filme tem pouco menos de uma hora e meia de duração, dá para perceber o quanto os acontecimentos concentram-se nesse local. A parte mais divertida do filme está na entrada de vizinhos, amigos e funcionários do condomínio na casa de Richard enquanto ele está com sua vizinha. O proprietário tenta disfarçar a visita da bela jovem para não ser mal interpretado pelos outros homens, que não acreditariam na sua fidelidade à esposa. O final é um tanto previsível, mas perfeitamente adequado para aqueles tempos.
"O Pecado Mora ao Lado" foi agraciado com o sorriso dos Deuses do cinema e fazendo de Marilyn Monroe um dos maiores símbolos da sétima arte.
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