Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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World Premiere - Rotterdam International Film Festival 2020
Sinopse - Desterro. Descompasso. O que se passa dentro de Laura (Carla Kinzo) parece estar sempre em um espaço diferente e em um ritmo distinto daquilo que se espera dela. Desconfortável, Laura decide sair de casa e seguir uma jornada pessoal sem rumo definido. Num percurso de autodescoberta, ela se depara com situações imprevisíveis e outras histórias de vida que vão reconfigurar suas próprias ideias.
Elenco: Carla Kinzo,Otto Jr., Rômulo Braga.
O LIVRO DOS PRAZERES
Direção: Marcela Lordy
Brasil/Argentina/ Drama/ 2021/ 100 min
O longa fez sua estreia na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 2020, quando o evento aconteceu exclusivamente online, e ficou no top 3 dos mais vistos e bem votados da edição. Depois disso, o longa viajou o mundo em festivais presenciais e virtuais, recebendo diversos prêmios como no 22˚ BAFICI (Competição Americana – Prêmio de Melhor Atriz para Simone Spoladore e Menção Honrosa para o longa); 26 ̊ Festival de Cinema de Vitória (Prêmio de Melhor Roteiro, Melhor Interpretação para Simone Spoladore e Menção Honrosa para Fotografia de Mauro Pinheiro Júnior, ABC); e Festival do Rio 2021
Sinopse: Professora do ensino fundamental, melancólica e reservada, Lóri vive só. Uma rotina monótona entre as tarefas da escola e relacionamentos furtivos, que evidenciam sua dificuldade em construir relações com afeto. Num acaso, ela conhece Ulisses, um reconhecido professor de filosofia, argentino egocêntrico e provocador, mas que ainda não entendeu nada sobre as mulheres. É com ele que Lóri aprende a amar enfrentando sua própria solidão.
Elenco: Simone Spoladore e Javier Drolas.
HORÁRIOS DE 22 A 28 DE SETEMBRO:
NÃO HÁ SESSÕES NAS SEGUNDAS-FEIRAS!
Dias 22, 23, 24, 25, 28/9:
14h45: O LIVRO DOS PRAZERES
16h45: DESTERRO
19h: O LIVRO DOS PRAZERES
Dia 27/9:
14h45: O LIVRO DOS PRAZERES
16h45: DESTERRO
19h: Sessão especial dia 27/9, às 19h, em comemoração aos 18 anos do Coletivo Catarse: lançamento do documentário “Dilúvio – riacho que a cidade esqueceu” e do curta TAINHAS NO DILÚVIO, seguida de debate após a sessão. Entrada Franca.
Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem, trabalhadores associados em sindicatos filiados a CUT-RS e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00. Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
Sinopse: Eike Batista já foi um dos sete homens mais ricos do mundo. Hoje, a sua ruína é uma marca de um escândalo que estampou as manchetes de todo o país.
Em meio a tantas crises, corrupções e retrocessos que o Brasil de hoje enfrenta fica até mesmo difícil de nos lembrarmos atualmente sobre quem foi Eike Batista. Dono do grupo EBX, o empresário acabou se tornando em pouco tempo um dos homens mais ricos do país, mas cujo o seu declínio acabou provocando rachaduras que repercutem até nos dias de hoje. "Eike - Tudo ou Nada" (2021) procura retratar esse curto, porém, importante período de sua vida, mesmo com algumas partes importantes terem sido suprimidas.
Dirigido por Andradina Azevedo, Dida Andrade, o filme é baseado no livro homônimo de Malu Gaspar sobre a vida do ex-bilionário Eike Batista. A história começa em 2006, quando a economia brasileira estava um caos por conta do pré-sal. Batista decide criar então a OGX, uma petroleira, que o faz ser o sétimo homem mais rico do mundo, mas depois o leva a falência, tanto em dinheiro quanto poder e prestígio.
É curioso observar que quando o filme começa a gente já tem uma noção de como será o seu enredo, ao mostrar o início da infância de Eike Batista, mas cuja a sua inocência logo é partida ao meio devido aos pensamentos ambiciosos de sua mãe com relação ao seu próprio futuro. Não demora muito para vermos aquele menino crescido, sendo ambicioso e logo se tornando um poderoso empresário. Logicamente os realizadores, ou autor do livro do qual os mesmos buscaram se basear, se inspiraram no clássico "Cidadão Kane" (1941) que por sua vez serviu de modelo de inspiração para outros filmes como o genial "A Rede Social" (2010).
Porém, Andradina Azevedo e Dida Andrade procuram fugir de comparações, principalmente na forma como contam a história, seja em narração off, ou visualmente de uma forma mais circense. Neste último caso, por exemplo, isso é muito bem sentido na passagem em que mostra a relação do protagonista com a modelo Luma de Oliveira, interpretada aqui pela atriz Carol Castro. Curiosamente, essa passagem é rápida, como se os realizadores não quisessem perder tempo com essa história, quando na verdade poderia gerar um filme inteiro somente com relação a toda aquela polêmica e cuja a mídia sensacionalista se alimentou da imagem de Luma de Oliveira naquela época até a última gota.
Com esse ritmo circense, cuja a edição torna o filme quase dinâmico, diga-se de passagem, o filme esconde o lado mais técnico e complexo com relação ao mundo dos negócios dessas empresas que se alimentam através das privatizações principalmente em tempos de crise. A proposta do filme não está em querer nos passar passo a passo o que foi o império de Eike Batista, mas sim retratar o mesmo em seu auge e decadência. Surpreendentemente, Nelson Freitas está muito bem caracterizado, ao ponto de nos surpreendemos com a sua semelhança quando durante os créditos finais mostram fotos verdadeiras do empresário.
Vale salientar que o interprete carrega boa parte do filme nas costas, já que os demais coadjuvantes somente se tornam peças principais de um grande tabuleiro na reconstituição dos fatos daqueles tempos. Um deles, por exemplo, representa um dos inúmeros brasileiros que inventaram em investir na bolsa de valores quando Eike Batista estava por cima, para logo se dar conta que acabou sendo precipitado demais ao querer agilizar para obter a sua maior ambição. Ao final todos pulam do barco e deixando o protagonista à deriva para responder pelos seus pecados.
Mas como eu disse acima, é um filme que já sabemos como ele começa e como ele termina, o que não significa que já devemos risca-lo do mapa. O filme somente sofre um pouco por ser um tanto que conservador, seja na passagem com relação a Luma de Oliveira, como também em sua reta final em que se tenta resumir a queda do protagonista até no momento em que aparece os famosos letreiros sobre os desdobramentos da história. Curiosamente, a participação da Lava Jato no caso é levada as telas, mas de uma forma quase desapercebida, pois eu acredito que em tempos de eleição ninguém quer voltar a tocar neste assunto que foi comandado por certo Juiz suspeito.
"Eike - Tudo ou Nada" é o retrato de um homem que fez parte de um jogo de um grande tabuleiro, mas cujo o rápido xeque-mate retratado aqui nos faz pensar que ficou algo pelo caminho.
A Cinemateca Capitólio celebra a obra de Jean-Luc Godard com três sessões especiais no domingo, 25 de setembro. Na programação, os três longas-metragens que o diretor francês realizou no início da década de 1980, em um dos mais belos momentos de reinvenção de sua trajetória: Salve-se Quem Puder (A Vida), Paixão e Carmen de Godard – seguido de um filme surpresa. Todas as sessões têm entrada gratuita.
No próximo final de semana, ocorre o lançamento da série de filmes Atestado de Ficção com a exibição do documentário Em nome de Scheherazade ou o primeiro Biergarten de Teerã, da diretora iraniana Narges Kalhor, na Cinemateca Capitólio, nos dias 24 e 25 de setembro, às 17h, com entrada franca. A programação é uma realização do Goethe Institut Porto Alegre.
A Associação de Amigas e Amigos da Cinemateca Capitólio convida para a Sessão AAMICCA #5, a ser realizada no sábado, 24 de setembro, às 19 horas, na Cinemateca Capitólio. No programa, o filme O veneno está na mesa II (2014, 1h10min), de Silvio Tendler, que defende a produção agroecológica, o respeito à natureza, aos trabalhadores rurais e consumidores. Debatem o filme o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo e o ativista Jair Krischke. A mediação ficará a cargo de Luiz Antonio T. Grassi, presidente da AAMICCA.
Na sexta-feira, 23 de setembro, às 19h, a Cinemateca Capitólio promove o lançamento do livro Helena Ignez: atriz experimental, com a presença do autor Pedro Guimarães. Escrito em parceria com Sandro de Oliveira, o livro analisa o trabalho de uma das atrizes mais relevantes do cinema brasileiro, com foco no processo de cocriação que Ignez estabeleceu com os cineastas Rogério Sganzerla e Júlio Bressane na produtora Belair Filmes em 1970. Os exemplares do livro estarão disponíveis para venda na bilheteria da Cinemateca. Após a sessão de autógrafos, às 20h, haverá a exibição gratuita de A Família do Barulho (Júlio Bressane, 1970), protagonizado por Helena Ignez, com apresentação de Pedro Guimarães.
A partir de quinta-feira, 22 de setembro, a Cinemateca Capitólio exibe o longa-metragem Marte Um, de Gabriel Martins. Documentário de Bruno Gularte Barreto, 5 Casas segue em exibição até o dia 28 de setembro. O valor do ingresso é R$ 16,00.
Na quinta-feira, dia 22 de setembro, às 18h30min, ocorre a pré-estreia de Samba às Avessas, filme dirigido por Gautier Lee sobre a produção do álbum de Pâmela Amaro. Entrada franca.
Sinopse: Maria Bethânia fala sobre amores, discorre acerca das rédeas curtas autoimpostas, relembra momentos maiúsculos de sua trajetória, mareja ao falar das saudades da mãe, se curva em reverência ao irmão Caetano Veloso, diz que é absolutamente rigorosa com seus colaboradores, etc.
A música brasileira de hoje anda se enterrando através da música sertaneja universitária, da qual a mesma tem um único tema, que é sobre traição e sexo nas entrelinhas. Bons tempos em que o nosso país tinha uma música poética, da qual não era somente romântica, como também falava sobre as adversidades do nosso dia a dia. Em "Maria, Ninguém Sabe Quem Sou Eu" (2022) a cantora Maria Bethânia se abre sobre a sua pessoa, sobre a sua carreira e revelando a verdadeira beleza da nossa música brasileira.
Dirigido por Carlos Jardim, o documentário foi gravado no teatro do Hotel Copacabana Palace, onde a cantora, que completou 55 anos de carreira em 2020, fala sobre assuntos importantes na sua trajetória. O documentário conta com a participação da atriz Fernanda Montenegro, que narra cinco textos marcantes de autores como Ferreira Gullar e Caio Fernando Abreu, sobre Bethânia, ilustrados com imagens de fãs e de arquivo, além de registros raros de ensaios e shows da cantora.
O documentário em si é um bate papo descontraído onde artista revela um pouco sobre a sua pessoa, sobre as suas raízes e o que levou ela a cantar. A própria mal sabia que um dia se tornaria uma das melhores vozes da nossa música que, ao lado do seu irmão Caetano Veloso, nos passou poesia e reflexões sobre o amor, vida e a nossa realidade brasileira através de suas letras. O documentário tanto transita em momentos em que a cantora fala frente a frente com Carlos Jardim, como também nos momentos em que surgem imagens de arquivo e revelando os tempos dourados da cantora e os seus primeiros anos de sucesso.
Curiosamente, a cantora é franca em suas palavras, seja com relação aos outros talentos do mundo da música dos quais ela buscou inspiração, como também demonstra total humildade perante as pessoas que acham ela uma parte importante da nossa história cultural. Sendo tema da escola de samba da Mangueira em 2016, Maria Bethânia não esconde o seu papel com relação à política, sendo que ela não discute sobre o assunto, mas sim ela fala através da sua letra ao longo dos anos. Logicamente, assim como outros grandes talentos como Chico Buarque, ela também foi perseguida nos tempos da ditadura, pois as suas músicas faziam as pessoas refletirem e só por conta disso já era mais do que o suficiente os milicos da época se preocuparem.
Sobrevivente daqueles tempos e tendo seguido em frente até nos dias de hoje, Bethânia escancara o fato que a música é a melhor coisa que ela fará em vida, ao ponto que nas cenas dos ensaios ela demonstra total exigência consigo mesma, assim como também ela exige total empenho com relação aos demais em sua volta. Ao meu ver, a sua dedicação tem com relação ao fato dela tentar manter essa arte ainda intacta em solo brasileiro, principalmente em tempos em que esse desgoverno não está interessado em mantê-lo, mas sim extingui-lo. Cabe então talentos como Maria Bethânia e tantos outros continuarem combatendo para que assim a cultura prevaleça perante a ignorância.
"Maria, Ninguém Sabe Quem Sou Eu" é um documentário sobre uma grande artista, mas que também fala sobre como se faz a verdadeira arte da nossa música brasileira.
Na sexta-feira, 23 de setembro, às 19h, a Cinemateca Capitólio promove o lançamento do livro Helena Ignez: atriz experimental, com a presença do autor Pedro Guimarães. Escrito em parceria com Sandro de Oliveira, o livro analisa o trabalho de uma das atrizes mais relevantes do cinema brasileiro, com foco no processo de cocriação que Ignez estabeleceu com os cineastas Rogério Sganzerla e Júlio Bressane na produtora Belair Filmes em 1970. Os exemplares do livro estarão disponíveis para venda na bilheteria da Cinemateca.
Após a sessão de autógrafos, às 20h, haverá a exibição gratuita de A Família do Barulho (Júlio Bressane, 1970), protagonizado por Helena Ignez, com apresentação de Pedro Guimarães. A programação conta com apoio do Grupo de Pesquisa Semiótica e Culturas da Comunicação (Gpesc) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS.
Existe um antes e um depois com relação a "Cidade de Deus" (2002), filme de Kátia Lund e Fernando Meirelles que mudou a cara do cinema brasileiro para sempre. Para chegar esse feito o nosso cinema brasileiro passou diversos obstáculos e todos criados por um governo que não investia na cultura e educação, ou seja, governo Collor. No início dos anos noventa, por exemplo, esse governo extinguiu Embrafilme, fazendo com que a nossa indústria cinematográfica se estagnasse por, ao menos, cinco anos e fazendo com que a nossa arte entrasse em um futuro indefinido. Com as mudanças governamentais e o retorno do investimento, o cinema brasileiro deu um respiro com a superprodução "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil" (1995) e iniciamos o que chamamos de "a retomada do cinema brasileiro".
Vieram então "O Quatrilho" (1995), Central do Brasil" (1998), “O Alto da Compadecida” (2000), O Bicho de Sete Cabeças"(2000), Lavoura Arcaica" (2001) e tantos outros que fizeram com que o mundo enxergasse o nosso cinema com novos olhos. Se há um encerramento dessa retomada esse encerramento se encontra em "Cidade de Deus", mas não porque começaria um novo declínio, mas sim porque se concluiu um momento de recuperação e dando a entender que o nosso cinema estava, por enquanto, estabilizado. Com um orçamento de pouco mais de três milhões de reais, o filme alcançou a marca de R$ 30 Milhões pelo mundo, adquirindo diversos prêmios obtendo quatro indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor para Fernando Meirelles.
Nada mal para um projeto que começou de uma forma experimental. Baseado no livro de Paulo Lins (1997), que por sua vez é baseado em eventos reais que ocorreram na favela localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, surgida nos anos sessenta. Porém, tanto o livro como o filme contam eventos que transitam entre o final dos anos sessenta, durante os anos setenta e começo dos anos oitenta. Por conta disso, se tem uma construção gradual da história de uma favela de acordo não somente com relação as ações de seus personagens principais, como também relacionado as idas e vindas de um governo de tempos ditatoriais e que estavam em fase de declínio.
Mais do que uma reconstituição dos fatos, Meirelles queria uma obra com um teor quase documental, onde a gente não via atores conhecidos, mas sim gente como a gente e fazendo com que imediatamente nos identificássemos com eles. Para isso, o realizador confiou na sua parceira do projeto Kátia Lund em formar uma escola de atores, para recrutar jovens de favelas do rio, para que os mesmos estudassem atuação e criassem para si os seus respectivos personagens que iriam atuar no projeto. No documentário encontrado na primeira versão do DVD, por exemplo, se tem passo a passo de como foi esse laboratório e cujo resultado nós testemunhamos quando o longa foi lançado.
Do elenco original, se destaca o fato de interpretes como Seu Jorge e Alice Braga que, a partir do sucesso do filme, criaram carreiras tanto nacionais como internacionais, sendo que a sobrinha de Sonia Braga é vista até hoje em super produções norte americanas como no caso, por exemplo, "Esquadrão Suicida" (2019). Porém, embora o bom moço Buscapé, interpretado pelo jovem Alexandre Rodrigues, seja o protagonista e narrador da trama, todos eventos se voltam perante Zé Pequeno, interpretado com intensidade pelo Leandro Firmino da Hora e que na época nunca havia atuado na vida.
O seu Zé Pequeno é uma figura complexa, trágica, da qual sintetiza a formação desses jovens das favelas sem nenhuma boa perspectiva com relação ao seu futuro e tendo que sobreviver com o que tem, nem que para isso se renda ao desejo de matar. Tecnicamente o filme dá também um verdadeiro show, sendo que cada época possui a sua fotografia distinta uma da outra. Enquanto a trama dos anos sessenta sintetiza tempos mais inocentes e dourados, os anos setenta adentra com diversas cores, mas que logo vão sendo impregnadas com um teor mais sombrio e culminando nas cores pálidas do início dos anos oitenta.
Porém, na parte técnica, é onde mora o verdadeiro brilho autoral de Meirelles. Já na abertura, por exemplo, vemos Buscapé sendo encurralado entre a polícia e a gangue de Zé Pequeno e imediatamente se faz um giro de 360 graus em volta do personagem, fazendo com que o mesmo retorne ao passado é aí que a trama se tem início. Algo parecido com efeito bullet time visto alguns anos antes em "Matrix" (1999), mas tudo feito a mão e cujo resultado acaba se tornando ainda mais verossímil. Mas o grande feito de Meirelles se encontra no uso do efeito tridimensional, ou seja: várias telas se abrindo e mostrando várias coisas acontecendo ao mesmo tempo para o espectador, sendo algo que somente eu viria a seguir em 2003 no filme "Hulk" de Ang lee.
Outra grande sacada do realizador foi sempre retornar em um ponto especifico da história e fazermos a gente revisita-lo por outra perspectiva. No assalto do motel no início do filme, por exemplo, vemos em um primeiro momento o assalto planejado pelo trio ternura, para logo depois testemunharmos uma verdadeira chacina. Porém, somente depois constatamos que quem provocou isso foi Dadinho, ou seja, o futuro Zé Pequeno.
Mas o que dizer sobre a origem de uma boca de fumo contada passo a passo em um único cenário, mas que aos poucos vai sendo modificado perante os nossos olhos. Nesta cena especifica acompanhamos como o local passou de mãos em mãos, até chegar às mãos de Zé Pequeno, sendo que o mesmo se apresenta de três formas diferentes elevando a cena em um patamar que poucas superproduções hollywoodianas alcançam até hoje. Porém, muito se deve esse feito ao montador de cenas Daniel Rezende e que, posteriormente, se tornaria um grande diretor a partir do filme "Bingo - O Rei das Manhãs" (2017).
Portanto, vinte anos depois, é preciso se comemorar o aniversário de "Cidade De Deus", principalmente em um momento em que o nosso cinema brasileiro se encontra novamente ameaçado. Além da sempre ameaça da extinção da Ancine, há também a possibilidade da aprovação da Medida Provisória 1135 (que adia para 2023 repasses da União a entes federativos para apoio aos setores culturais em razão da pandemia de Covid-19, retirando inclusive a obrigatoriedade do repasse de valores) e a proposição, por meio do plano orçamentário para 2023, de extinguir a Condecine (contribuição paga pelas empresas ligadas ao audiovisual e às telecomunicações que financia a atividade cinematográfica no Brasil) são decisões preocupantes que, se implementadas, desestabilizarão um segmento simbolicamente essencial e economicamente pujante da cultura brasileira.
Porém, isso somente irá acontecer se caso não mudarmos esse governo nas próximas eleições de uma vez, ou seja, tudo depende de nós. A nossa cultura, infelizmente, não é muito valorizada por uma parcela do povo brasileiro e, portanto, é uma luta árdua para manter o que é nosso, para não ser extinguido e ser lembrado ao longo do tempo. Os erros do passado não podem ser repetidos em nosso futuro e cabe nós darmos esse grande novo passo.
"Cidade de Deus" comemora os seus vinte anos de existência no pior momento do cinema brasileiro desde a era Collor e cabe nós mudarmos esse cenário.
Documentário/ 2022/ 105min. / Brasil- reino Unido-Irlanda do Norte
Presidenta Dilma Rousseff, Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel, cantor e compositor Chico Buarque, Geoffrey Robertson QC, Jean Wyllys, Glenn Greenwald e outros.
Trilha sonora original:: Chico Buarque, Francisco El Hombre, Josyara e Erika Nande
Sinopse: Dois jornalistas brasileiros radicados no Reino Unido investigam a longa tradição de golpes de estado no Brasil e na América Latina. Eles revelam como a grande mídia e as fake news tiveram um papel fundamental na derrubada de Dilma Rousseff, na campanha de lawfare e prisão política de Lula, e na ascensão da extrema-direita, encarnada por Bolsonaro.
Paralelos claros com outras nações em todo o mundo revelam o viés e a manipulação da mídia como um fenômeno internacional. Imagens de arquivo e reportagens são combinadas com extensas entrevistas, que incluem a ex-presidenta do Brasil, ganhadores de prêmios Pulitzer e Nobel, advogados de direitos humanos e músicos. A trilha sonora original é assinada por Erika Nande, com canções compostas pelo icônico Chico Buarque e interpretadas pelos jovens artistas Francisco El Hombre e Josyara.
CONTINUAÇÕES:
MARTE UM
Drama, Brasil, 2022, 115 min
Direção: Gabriel Martins
O filme teve sua premiére mundial no Festival de Sundance em janeiro e, desde então, vem tendo uma carreira de muito êxito, já tendo passado por mais de 40 festivais internacionais. Foi premiado como "melhor longa de ficção" no BlackStar Film Festival. E como o Melhor Filme Júri Popular no 50ºFestival de Gramado.
Sinopse: O Os Martins, família negra de classe média baixa, seguem a vida entre seus compromissos do dia-a-dia e seus desejos e expectativas, mesmo com a tensão de um governo conservador que acaba de assumir o poder no país. Em meio a esse cotidiano, Tércia cuida da casa enquanto passa por crises de angústia, Wellington quer ver o filho virar jogador de futebol profissional, Eunice tem um novo amor e o pequeno Deivinho sonha em colonizar Marte. Elenco: Rejane Faria, Carlos Francisco, Camilla Damião, Cícero Lucas, Ana Hilário, Russo APR, Dircinha Macedo, Tokinho e Juan Pablo Sorrin
MARIA, NINGUEM SABE QUEM SOU EU
Direção: Carlos Jardim
Brasil/ Documentário/ 1h40m/2022
Sinopse: O filme é um depoimento inédito e exclusivo de Maria Bethânia para o diretor e roteirista Carlos Jardim, entremeado por imagens raras de ensaios e shows da cantora ao longo de seus 57 anos de carreira. A atriz Fernanda Montenegro narra cinco textos de autores como Ferreira Gullar e Caio Fernando Abreu sobre a importância de Bethânia no cenário cultural brasileiro.
HORÁRIOS DE 15 A 21 DE SETEMBRO:
NÃO HÁ SESSÕES NAS SEGUNDAS-FEIRAS!
14h45: MARIA – NINGUEM SABE QUEM SOU EU
16h45: MARTE UM
19h: A FANTÁSTICA FÁBRICA DE GOLPES
Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem, trabalhadores associados em sindicatos filiados a CUT-RS e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00. Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
CINEBANCÁRIOS
Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre -Fone: 30309405/Email: cinebancarios@sindbancarios.org.br