Sinopse: A trama acompanha Harper, uma jovem que, após se tornar viúva, decide passar um tempo sozinha no interior da Inglaterra. Vivendo o seu luto, ela começa a perceber que alguém está lhe perseguindo e suas memórias e medos voltam para assombrá-la.
Alex Garland tem chamado atenção com pequenos projetos, porém, com grande repercussão devido a construção de tramas criativas e bem peculiares na medida certa. Se em "Ex-Machina" (2015) ele traça uma linha transitória nas questões humanas com a robótica, por outro lado, em "Aniquilação" (2020) ele usa a ficção alinhada com doses pesadas de violência e cuja a enigmática história gera desconforto do começo ao final dela. Em "Men - Faces do Medo" (2022) o realizador aposta alto na dosagem, ao trazer questões sobre culpa, relacionamentos e com um visual que irá embrulhar o estômago.
Após uma tragédia pessoal, Harper (Jessie Buckley) decide ir sozinha para um retiro no meio de um belo campo inglês, na esperança de encontrar um lugar para se curar. Mas alguém ou algo da floresta ao redor parece estar perseguindo-a. O que começa como um pavor fervente se torna um pesadelo, habitado por suas memórias e medos mais sombrios.
O estúdio A24 tem se especializado nos seus quase dez anos de existência na criação de diversos filmes com gêneros distintos um do outro, mas dos quais todos tem algo em comum que é perturbar o público. Basta pegarmos exemplos como o "Hereditário", "Midsommar - O Mal Não Espera a Noite", "A Bruxa" e "O Farol" para nos darmos conta que eles não brincam no serviço principalmente com relação na realização de filmes de terror e dando total liberdade para os cineastas criarem algo que nos toques profundamente. "Men - Faces do Medo" não foge dessa regra, pois Alex Garland cria algo perturbador em uma premissa até bastante simples, mas que através de suas mãos ele cria algo mais além do que poderíamos imaginar.
Para começar, se percebe que realizador busca inspiração em obras feitas por outros realizadores que deixaram marca na história do cinema. Em termos de efeitos práticos, por exemplo, é notório que o realizador é grande fã da filmografia John Carpenter, principalmente de títulos como "O Enigma do Outro Mundo" (1982), onde o mesmo usou e abusou do horror gore, tudo elaborado com bonecos animatrônicos e muita maquiagem pesada para dizer o mínimo. Neste último caso, Alex Garland fez o seu dever de casa, pois ato final nos reserva cenas perturbadoras, porém, tudo moldado com efeitos práticos e cujo os efeitos visuais de ponta de hoje em dia ainda não nos passa tal feito.
E se alguém acha que Garland se limita na busca da genialidade através de John Carpenter basta repararmos que o cenário principal da trama, cuja a sua bela fotografia alinhada com uma incrível edição de arte, nos remete rapidamente as obras dos diretores italianos de horror Mario Bava e Dario Argento, cujos os mesmos deram cores vibrantes e cenas cada vez mais fortes e ousadas para dentro do gênero e mudando por completo as regras do jogo. Mas toda essa busca por inspiração fez com que Garland crie uma trama com diversas camadas e tudo girando em torno sobre o papel do homem e da mulher atual em meio as velhas crenças e pensamentos que hoje em dia se tornam tabus perante uma sociedade que busca maior liberdade e principalmente desta questão vindo do anseio das mulheres.
Essas questões florescem no decorrer da trama, cuja a mesma se alinha em um horror psicológico, mas que aos poucos vai se revelando algo maior para dizer o mínimo. Tudo acaba girando em torno da personagem de Jessie Buckley, que se sente culpada pela morte do seu marido, mas que não busca exatamente redenção e sim uma razão lógica para que se explique as suas ações e consequências perante uma situação em que a mesma não soube controlar. Ao invés de adquirir consolo, ela acaba sendo julgada por homens conservadores e, por vezes, bem peculiares.
Neste último caso, alguns deles é vivido pelo ator Rory Kinnear e cujo o seu trabalho aqui nos incomoda, pois nos passa a todo momento uma sensação mórbida e nos alertando de que a protagonista não pode confiar em ninguém de sua volta. Jessie Buckley, por sua vez, carrega todo o filme nas costas, ao construir para a sua personagem uma personalidade complexa, mas não tanto perante as situações bizarras do local em que ela se encontra. Quando tudo foge do controle é aí que o filme nos fala para o que veio e Alex Garland comanda um espetáculo enigmático, que vai desde a referencias cristãs aos mais diversos assuntos vindos de diversas mitológicas fantasiosas, porém, bem enigmáticas.
Com um final cheio de simbolismos e que irão gerar diversos debates ao longo do tempo, "Men - Faces do Medo" é um filme que veio para incomodar, nos fazer pensar, tirando da nossa zona de conforto e, portanto, temos mais do que agradecer.
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