NOTA: O filme será debatido na próxima live (26/01/21) do Cine Debate. Para participar entre em contato com Maria Emília Bottini clicando aqui.
Embora eu não tenha muito conhecimento sobre a filmografia do cineasta Ken Loach, eu sei que ele se destacou pelo mundo em 1969 com o filme "Kes" e que a classe trabalhadora sempre se destaca em suas obras. "Eu, Daniel Blake" (2016) , novo filme do cineasta, acabou se tornando a sua segunda obra a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, sendo que a primeira havia sido Ventos da Liberdade. Chegando agora em cartaz, há indícios aqui que, o seu mais novo filme, tenha ganhado o grande prêmio do festival por questões políticas, mas ao mesmo tempo, é uma obra que nos mexe do começo ao fim e faz com que nos identificamos facilmente.
"Eu, Daniel Blake" é um longa bastante humano, criado em situações familiares e que faz com compreendemos as motivações dos personagens de uma forma rápida. Tendo pontos em comum com o belga "Dois Dias, Uma Noite" (2014), o filme nos brinda com uma atmosfera mórbida, como se não houvesse saída para esses personagens, mesmo quando ocorram situações da qual nasce uma esperança. Não é um cinema autoral, onde você não encontrará truques de movimento de câmera ou até mesmo trilha da qual nós iremos nos lembrar, sendo que o trabalho do compositor Gerge Fenton aqui é bem contido e discreto.
Já o diretor de fotografia Robbie Ryan cria uma atmosfera fria e de pouca esperança naquele universo particular daquelas pessoas, que vivem em busca de um objetivo na vida e de um pouco de respeito que se havia perdido. O roteiro de Paul Laverty, embora simples, consegue extrair o melhor das atuações de cada um dos atores. Dave Johns, ao interpretar Daniel, criou-se então um dos personagens mais queridos do cinema recente e do qual faz a gente torcer por ele do começo ao fim, mesmo estando numa situação que é um verdadeiro precipício.
Contudo, é preciso reconhecer a grande interpretação da atriz Hayley Squires que, ao construir para si a personagem Katie, ela consegue passar todo o grande peso do mundo do qual a sua personagem passa: a cena da qual ela abre um pote de comida de um supermercado para matar a fome é marcante e desconcerta qualquer um que se preze quando assiste.
Diferente do que se acontece em determinados filmes, Ken Loach deu ao seu elenco um espaço do qual fez com que as suas interpretações soassem verossímeis, como se alguns momentos os interpretes saem de cena e dando lugar aos seus personagens como um todo. Dito isso, o filme nunca cai na armadilha de cair no melodrama, mas sim obtendo pontos dramáticos convincentes e transitando em alguns momentos de humor, principalmente em situações das quais é preciso rir para não chorar quando o protagonista sofre na sua cruzada em busca de seus direitos.
Embora torçamos pelo melhor, o filme se encaminha para um desfecho do qual até mesmo já prevíamos, embora torcêssemos para que determinada situação não acontecesse. Quando ela ocorre, nos damos conta então de como somos frágeis perante um sistema hipócrita e cada vez mais preso em uma realidade capitalista, da qual somente enriquece os poderosos, mas se esquece das pessoas que moram num nível abaixo deles, mas que merecem todo o direito de serem tratados como semelhante. Um filme que, para o bem ou para o mau, ecoa em nossa realidade cada vez mais sendo invadida por um conservadorismo intolerante e ambicioso.
"Eu, Daniel Blake" é um filme alerta com relação ao nosso tempo atual, do qual se encaminha por um futuro cada vez mais sombrio e indefinido para nós e para as próximas gerações.
Onde Assistir: Netflix.