Sinopse: Um advogado vê sua vida perfeita desmoronar quando um detetive particular chega à sua pacata cidade para investigar um desaparecimento.
Nos últimos anos, tanto no cinema brasileiro como no argentino, tem sido lançado diversos filmes que retratam as Ditaduras da América Latina entre os anos sessenta e setenta. Tanto na ficção como em documentário, temos então uma base de como funcionava as engrenagens da opressão e que sua principal meta eram calar aqueles que eram contra os regimes fascistas. Contudo, "Vermelho Sol" é um caso raro de retratar os tempos da ditadura, mas sem ela explicitamente em cena.
Dirigido por Benjamín Naishtat, do filme "O Movimento" (2015), o filme conta a história de Claudio (Dario Grandinetti), um advogado de meia idade que vive uma vida calma e confortável com sua esposa em uma pequena cidade da Argentina da década de 1970. Porém, um detetive particular (Alfredo Castro) aparece na sua cidade determinado em localizar um estranho com quem ele brigou meses atrás em um restaurante. O mundo do advogado começa a ruir e cabe a ele tomar uma providência.
Se existe alguma dúvida que o filme irá nos conquistar isso logo se dissipa em seu prólogo imprevisível. Ao focar o desentendimento entre o protagonista e uma figura genuinamente trágica, temos aqui um retrato de uma sociedade alienada e sem saber ao certo o motivo que os levaram ao conflito. Porém, enquanto o advogado pouco se importa com os problemas crescentes que ocorrem no mundo a fora, o outro parece saber muito bem o que acontece fora da bolha, mas tendo a chance somente de expressar sua frustação através da violência.
Benjamín Naishtat procura retratar aqueles tempos de opressão dentro do cenário Argentino não pelo caminho óbvio, mas sim através de imagens sugestivas, frases vindas dos personagens e cuja a mensagem principal se encontra nas entrelinhas fortemente. É bem da verdade que o advogado Claudio procura se alienar perante os fatos que acontecem no mundo. Porém, no momento que não consegue encontrar o equilíbrio perfeito dentro da sua própria família, é aí que as consequências vindas dos seus atos, além do que acontece no mundo real, venham então ao seu encalço.
O lado sugestivo, aliás, é motor que move o filme como um todo. O lado opressor vindo do governo, por exemplo, faz com que as pessoas desfrutem de situações que acreditam que podem fazer o que bem entenderem. Em tempos atuais, em que a Extrema Direita fez aflorar o pior de nós, qualquer semelhança retratada na obra não é mera coincidência.
Se há ainda alguma dúvida que a sugestão é a força catalizadora da obra, aguardem a cena do eclipse do sol. É nesse momento, por exemplo, que é retratado uma argentina em transe, preocupada demais com os seus afazeres do dia a dia, mas mal sabendo dos horrores que poderiam estar acontecendo próximo a ela. A cor vermelha do eclipse, aliás, é a cor do sangue de inocentes e que defendiam o sonho de um país livre.
O ato final reserva momentos em que as consequências chegam a cavalo, muito embora pouco pode ser feito. Em um período em que os horrores aconteciam a torto e a direito, o que restava para alguns era, ou despertar, ou ignorar os tempos violentos que aconteciam nos porões do governo argentino. "Vermelho Sol" é sobre tempos em que uma parte da população se encontrava em transe enquanto os demais lutavam pela liberdade.
Em cartaz: Cine Bancários - 15:00 e 19:15 e Cinemateca Paulo Amorim - 17:15.
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