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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Cine Especial: 'Um Barco e Nove Destinos' - 80 Anos Depois

Alfred Hitchcock fazia os seus filmes de acordo com os seus pensamentos, medos e desejos. Nos anos quarenta, por exemplo, ele sofria de um certo temor devido a explosão da Segunda Guerra Mundial e principalmente pelo fato de sua Inglaterra começar a ser ameaçada pela Alemanha Nazista. Através desse temor ele criou "Um Barco e Nove Destinos" (1944), mas não sendo um filme que possui dois lados distintos com relação ao bem e o mal, mas sim sobre pessoas comuns que se veem obrigadas a sobreviver a todo custo, nem que para isso desperte o seu pior lado.

A história se passa durante o calor desse conflito no Atlântico, onde um navio e um barco alemão se envolvem em um combate e ambos acabam naufragam, porém, existem alguns sobreviventes que vão para um dos botes. Contudo, eles têm diferentes origens e propósitos, mas surge o pomo da discórdia quando um dos sobreviventes se revela um nazista. A partir daí se nasce diversos dilemas ao longo dessa jornada com um destino indefinido.

Pela premissa acima dá a entender que o filme foi rodado no alto mar. Porém, estamos falando dos anos quarenta, sendo que seria praticamente impossível fazer algo de tamanha magnitude. Além disso, Hitchcock era um defensor ferrenho com relação de sempre rodar em estúdio, pois as cenas externas ele sempre detestou filmar devido ao barulho do ambiente natural.

Por conta disso, o realizador criou um imenso tanque de água onde ele colocou o barco onde aconteceria os principais eventos da trama. Além disso, o barco era dividido em dois, pois somente assim o diretor poderia colocar a sua câmera no meio para que pudesse rodar os diálogos dos personagens. Antes disso, porém, Hitchcock já tinha todo o seu filme idealizado na forma de Storyboard, sendo que as cenas que o próprio havia desenhado em papel ele, como sempre, conseguiu filmá-las com total facilidade.

Revendo o filme hoje em dia notasse que ele possui uma linguagem quase teatral, já que a trama poderia ter sido facilmente encenada em um palco, pois toda ela se passa em um barco com nove personagens. Cada um ali possui uma história para se contar, desde um capitão de coração partido, como uma jornalista implacável e um nazista como prisioneiro de guerra. Esse último, aliás, se tornou peça importante para que os críticos da época ficassem torcendo o nariz para o filme, já que alguns insinuaram que Hitchcock queria mostrar o lado positivo dos nazistas.

É um pensamento bastante limitado, já que na trama assistimos pessoas comuns em uma situação incomum e que se veem obrigadas a trabalharem juntas para sobreviver antes que os recursos comecem a desaparecer. Curiosamente, a figura do nazista não é uma coisa estereotipada que muitos estavam esperando, mas sim uma personalidade que nos transmite certa ambiguidade e fazendo a gente questionar as suas verdadeiras intenções até o final da trama. A meu ver, todos ali são colocados em situação limite e fazendo os mesmos se colocarem a frente perante as suas ações que no passado jamais imaginariam tomar.

Destaque para atriz Tallulah Bankhead, que aqui faz a repórter sem papas na língua e se tornando uma personagem que se diferencia dos demais em cena. Com uma personalidade forte, a sua Constance Porter é o sarcasmo em pessoa, mas cuja essa forma de se apresentar parece que ela usa para se manter forte perante a situação em que ela se encontra. Tallulah Bankhead nunca foi muito diferente da sua personagem, já que sempre teve na vida real um temperamento fortíssimo, sempre provocando polêmicas nos bastidores e se tornado, portanto, a escolha perfeita para o filme.

Com críticas positivas nos primeiros dias de exibição, o longa foi perdendo folego após o surgimento de críticas infundadas que foram citadas acima e a obra logo foi colocada no esquecimento. Porém, o tempo fez com que os fãs e demais cinéfilos redescobrissem o filme e revisto hoje se percebe como ele se encontra mais atual do que nunca, principalmente quando o assunto é com relação as guerras que gera somente medo e ódio contra as nações, sendo que no final das contas estamos todos no mesmo barco. O temor do cineasta, portanto, fez com que o mesmo fizesse um filme sobrevivente ao teste do tempo.

"Um Barco e Nove Destinos" é uma pequena, porém, preciosa perola atemporal de Alfred Hitchcock e que merece ser mais bem reconhecida pelos cinéfilos de plantão. 

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sexta-feira, 26 de maio de 2023

Cine Especial: 'Era Uma Vez no Oeste - A desconstrução de um gênero'

Na cena final do clássico “Rastros do Ódio” (1956) de John Ford, o protagonista (John Wayne) está levando de volta a sua sobrinha para sua família, sendo que essa, por muitos anos, estava sendo criada por uma tribo de índios. No minuto final da obra, cada um entra pela porta da frente, sendo que o protagonista fica por último, mas optando em dar meia volta e partindo sem rumo. A cena é simbólica, já que o típico caubói racista contra o povo indígena daqueles tempos, talvez, não poderia mais ter o seu lugar naquele mundo.

John Ford havia, então, dado o seu recado, pois as fórmulas manjadas dos faroestes, que por décadas haviam sido usadas para gerar lucro para os estúdios, não poderiam continuar mais nesse mesmo formato. A previsão se confirmou quando a década de 60 chegou e o gênero estava dando os seus primeiros sinais de esgotamento. Coube um grupo de jovens diretores italianos do outro lado do mundo ressuscitar o faroeste do seu modo. O resultado, por sinal, foi o nascimento de um subgênero intitulado western spaghetti, onde o velho oeste era retratado de uma forma mais nua e crua, onde o glamour hollywoodiano, para não dizer plástico, não teria espaço para esse novo produto cinematográfico.

Dentre os cineastas italianos dessa nova leva o que mais se destacou foi Sergio Leone, já que o primeiro filme que ele viria a dirigir dentro desse subgênero, "Por Um Punhado de Dólares" (1964), que viria a se tornar um enorme sucesso na Itália. Isso fez com que ele criasse a “trilogia dos Dólares”, da qual se encerraria com "Três Homens e um Conflito"(1966), filme que, aliás, fez com que Leone se tornasse muito conhecido nos EUA. Vendo o potencial do cineasta, o estúdio Paramount convidou Leone para dirigir mais um novo faroeste, mas nem tudo começou com flores.

Após o encerramento da “trilogia dos Dólares”, o cineasta acreditava que não havia mais nada para se fazer a respeito com relação ao gênero e tinha a ambição naqueles tempos de fazer um épico com relação à construção da América. Após muita insistência vinda do estúdio o cineasta veio aceitar o convite, mas tendo a idéia de fazer com que "Era uma Vez no Oeste" (1968) se tornasse o primeiro capítulo de uma nova trilogia, que daria continuidade com "Quando Explode a Vingança" (1971) e se encerrando, então, com o projeto dos seus sonhos que viria a ser "Era Uma Vez na América" (1984).

Com locações na Itália, Espanha e EUA (com o direito ao rico cenário natural de Monument Valley), Leone, não só quis fazer da produção uma homenagem de tudo o que já havia sido feito dentro do gênero western, como também desconstruí-lo. O resultado é um filme que foi contra as expectativas daqueles que foram assisti-lo, onde cada fórmula manjada apresentada na película, logo em seguida era fraturada e levando o filme a um novo rumo. Os dez minutos iniciais, aliás, não só prestam uma homenagem ao clássico "Matar ou Morrer" (1952) de Fred Zinnemann, como também pega o espectador desprevenido, pois começamos a simpatizar com os três misteriosos pistoleiros, mas que são logo eliminados pelo personagem harmônica (Charles Bronson) quando surge ele em cena.

Mal tendo se recuperado desses minutos iniciais, o espectador logo é apresentado a novos personagens. Uma família que, aparentemente, se prepara para uma festa para uma ocasião especial, mas que são logo massacrados por tiros vindos da mata. Com uma trilha poderosa de Ennio Morricone disparando contra os nossos ouvidos, uma criança sobrevivente do massacre testemunha o cenário de horror e dando de cara com os seus algozes que se aproximam da casa onde a família vivia.

Perfeccionista como ninguém, Leone filma de uma forma bem pensada para surpreender o espectador que assiste. A câmera se encontra atrás do assassino, para que quando ela se movimentasse e focasse o seu rosto isso provocaria, então, um efeito devastador para os olhos do público. A cena teve fortíssimo impacto no ano de 1968 para os americanos, já que o assassino não era ninguém menos que próprio Henry Fonda.

Queridinho da América naqueles tempos, Fonda havia ganhado prestigio em produções que o tornaram um astro respeitável nos filmes americanos como, por exemplo, "12 Homens e uma Sentença"(1957). Embora reticente num primeiro momento, Fonda aceitou o desafio de fazer o seu primeiro vilão de sua carreira e criando um personagem do qual ele extraiu do mais fundo de sua alma. O resultado foi tão impactante que alguns espectadores não aceitaram o astro matando uma criança indefesa, ao ponto da cena ter sido cortada quando o filme era exibido nos canais de televisão da época.

Cortes, aliás, é o que o filme mais sofreu em território americano, já que o estúdio achava a obra extensa e, por vezes, monótona. Isso criou problemas para melhor compreensão da história na época do seu lançamento, pois dentre as cenas cortadas, por exemplo, estava à primeira aparição do anti-herói Cheyenne (Jason Robards). Embora tenha ficado mais curto para os padrões que o estúdio, o filme não escapou de um relativo fracasso nos EUA, mas nem tudo estava perdido.

Em alguns países da Europa, por exemplo, o filme foi exibido com o seu corte final (2h55min) e fazendo um grande sucesso. Em Paris, o berço da 7ª arte, o filme foi exibido durante 48 meses numa sala de cinema, ao ponto dos rolos ficarem arranhados de tantas e tantas vezes o filme ter sido exibido para o público. Num país onde se nasceu o movimento cinematográfico Nouvelle vague, era mais do que natural que os franceses acolhessem o lado autoral de Sergio Leone.

Com o passar do tempo o filme foi, enfim, sendo reconhecido pelo público americano que antes o havia ignorado. Em sua total plenitude, o filme não é somente uma homenagem ao gênero, como também uma forma de dizer Adeus aos símbolos que o moldaram ao longo do seu tempo. Se John Ford foi sugestivo com relação a isso no seu clássico "Rastros do Ódio", Sergio Leone optou em sua obra em ser mais explicito.

Nos minutos finais do longa, quando vemos harmônica (Bronson) testemunhar a morte de Cheyenne (Robards), a câmera logo foca a chegada do trem no cenário principal da obra. É a onda do progresso invadindo aquele território, onde a imagem do cavaleiro solitário, enfim, não teria mais lugar ao sol naquele mundo. Com a trilha sonora poderosa de Ennio Morricone, da qual simboliza o fim e o começo de uma nova era, testemunhamos Jill (Claudia Cardinali) aceitar o seu destino em ser dona daquela terra e dar água aos homens que ajudarão a erguer um novo mundo.

Mais de cinqüenta anos já se passaram, mas "Era Uma Vez no Oeste" continua poderoso ao conseguir desconstruir um gênero jaz moribundo e revigorando para novos tempos.

Onde Assistir: Amazon Prime Vídeo

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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Cine Especial: 'A Fortaleza Escondida - Uma Fonte de Riqueza'

Sinopse: No século XVI, durante as guerras civis que assolam o Japão, uma princesa, a sua família, os seus guerreiros e o seu tesouro são perseguidos. A cabeça da princesa está a prémio. A princesa parte em busca de refúgio com um general, dois camponeses que este capturara, e o tesouro. 

A frase "na vida nada se cria, mas tudo se copia" pode ser muito bem usado quando pensamos com relação ao papel do cinema ao longo da história, principalmente em tempos atuais em que cada vez há menos filmes com histórias originais, mas sim tramas que nos dá sempre a sensação que já tínhamos assistido em outras obras. Porém, a busca de inspiração pode acabar gerando algo bem criativo e até mesmo rendendo algo vasto em todos os sentidos. Um ótimo exemplo disso é a franquia "Star Wars" criada por George Lucas.

Quando o realizador criou o primeiro e grande clássico da franquia, intitulado "Uma Nova Esperança" (1977) ele buscou inúmeras fontes de inspiração para a criação daquele universo, mais precisamente se inspirando nos antigos filmes de aventura, faroeste e ficção que o mesmo assistia quando era mais jovem. O resultado foi uma obra épica que mudaria a história do cinema, mas revisitando ela se nota as inúmeras referencias de outros clássicos da sétima arte. "A Fortaleza Escondida" (1958) de Akira Kurosawa serviu de base para algumas ideias criadas por George Lucas e sendo revisto hoje como um grande filme de aventura.

A trama se passa durante o Japão do século XVI. A caminho de casa, um poderoso homem escolta uma bela princesa fugitiva em meio ao território inimigo. Em sua viagem cruzam dois medrosos fazendeiros, que estão tentando retornar para casa depois de fugirem da Guerra Feudal.

Claramente se percebe que os dois fazendeiros medrosos se tornariam fonte de influência para George Lucas, mais precisamente na criação de R2D2 e C3PO, os dois simpáticos androides de Star Wars que embarcariam mesmo sem querer para uma grande aventura. Em ambos os casos, são personagens comuns que se envolvem em uma grande cruzada e se tornando peças fundamentais para a vitória dos mocinhos da trama. Ao mesmo tempo, podemos concluir que a dupla criada por Kurosawa seja uma espécie de convite para nós adentrarmos junto com eles para uma jornada cheia de perigos, onde envolve desde lutas e sacrifícios.

Na jornada da dupla eles acabam conhecendo o herói da trama, mais precisamente o General Rokurota Makabe, interpretado por Toshirô Mifune e cujo o mesmo está encarregado de proteger a princesa. O ator, aliás, é uma figura simbólica dos filmes de Samurais, principalmente daqueles dirigidos por Kurosawa e sendo que antes havia sido um dos sete protagonistas de sua obra prima "Os Sete Samurais" (1954). Não me admira, por exemplo, que a figura de Toshirô Mifune serviu de inspiração para os cavaleiros solitários durões do velho oeste do cinema americano, como no caso, por exemplo, de personagens interpretados por Clint Eastwood.

Embora não seja uma super produção monumental como foi "Os Sete Samurais" Kurosawa se encarregou para que cada cena se tornasse inesquecível, sejam elas de maior ou menor grau. Se por um lado tempos cenas simples, porém, intensas de duelos com espadas e lanças, por outro lado, há cenas que nos impressionam até hoje graças ao cenário e inúmeros figurantes que ainda hoje não envelheceram. Quando vemos trabalhadores descendo correndo a escadaria contra os soldados, pisoteando pessoas, caindo e tropeçando pelo caminho, Kurosawa presta uma impressionante homenagem ao clássico russo " Encouraçado Potemkin" (1925) de Serguei Eisenstein.

Com uma belíssima fotografia em preto e branco, "A Fortaleza Escondida" foi o primeiro filme de Kurosawa filmado em Widescreen, com a tecnologia Tohoscope. Kurosawa usou a tecnologia durante uma década em seus filmes. Um belo exemplo de um cineasta de tempos passados que usava a tecnologia que estava surgindo com o intuito de melhorar a história e nunca poluir a mesma.

O filme recebeu o Prêmio FIPRESCI e venceu na categoria de melhor diretor no Festival de Berlim em 1959. Foi indicado ao Urso de Ouro de melhor filme. Os anos se passaram e o filme se tornaria uma das obras mais importantes da filmografia do cineasta, mesmo sendo o mais leve se formos comparar com títulos mais pesados do realizador como no caso, por exemplo, "Ran" (1985).

"A Fortaleza Escondida" é uma obra prima do gênero de aventura do mestre Akira Kurosawa e que serviu de fonte para outros clássicos da história do cinema. 


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