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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Cine Especial: Conhecendo 'Possessão'  

O termo "pós-terror" foi dado aos filmes de horror lançados na última década que exploravam não somente fórmulas fáceis de sucesso dentro do gênero, como também questões que vão desde o lado dramático, psicológico, mas que aos poucos se enveredou para um horror, por vezes, até então inédito. Títulos como, por exemplo, "Hereditário" (2018) causaram certo desconforto para o espectador que ia assisti-lo, já que ele transita para elementos do gênero fantástico, mas ficando fortemente os pés no chão e se transformando em um horror psicológico e até mesmo causando certo desconforto em seu derradeiro final. Contudo, essa fórmula dentro do gênero não é algo novo, mas que levou tempo a ser reconhecido, pois somente assim para explicar "Possessão", filme de 1981, mas que era a frente do seu tempo e que com certeza serviu de inspiração para os outros títulos que vieram no decorrer dos anos.

Dirigido por Andrzej Zulawski, do filme "O Diabo" (1972), o filme se passa em Berlim, próximo ao grande muro da época e que conta a história de Mac (Sam Neill), que retorna de uma viagem de negócios e que deseja rever a esposa e filho em casa. Porém, sua esposa Anna (Isabelle Adjani) se encontra transtornada, desejando divorcio e confessando que está tendo um caso. O que aparenta ser uma típica história sobre o término de um relacionamento logo vai ganhando contornos de puro horror inesperado.

É o início dos anos oitenta, época que o divórcio ainda era visto como certo tabu para alguns setores da sociedade. No cinema americano, por exemplo, tivemos o suave "Kramer vs. Kramer" (1979), um dos poucos filmes da época a tocarem sobre o assunto, mas que era necessário, pois os ventos das mudanças com relação aos costumes da época estavam acontecendo. No filme de Andrzej Zulawski a situação vai mais ao extremo, onde os acontecimentos do cenário ocorrem justamente próximo ao muro de Berlim, arquitetura que virou um verdadeiro tabu para uma sociedade que desejava liberdade e a união entre os povos e que era preciso ser derrubado. No caso do casal central da trama, porém, a separação é muito mais complexa, já que Marc é uma representação do desejo daqueles que desejam o patriarcado, mesmo colocando a esposa à beira de um ataque de nervos.

No caso da esposa vista na tela, ela se encontra em estado de desequilíbrio, onde o corpo e a mente começam a se digladiar com a realidade em sua volta e dando de encontro com um marido que não aceita o que está acontecendo naquele momento. O primeiro ato é pura tensão psicológica, onde vemos o casal central se digladiando verbalmente e fisicamente e ganhando ares de quase terror quando Anna começa a sofrer agressão da parte do marido, mas ao mesmo tempo se mutilando. Neste último caso, por exemplo, é como se ela desejasse sair de um casulo e para que possa assim voar mais alto.

Tendo a conhecido em "Nosferatu" (1979) Isabelle Adjani entrega a melhor interpretação de sua carreira, mas que por pouco quase custou a sua saúde mental, pois atriz se transforma em cena, tanto em momentos em que ela se debate como estivesse sendo possuída, como também em diálogos pesados e nos transmitindo em seu olhar uma mente fragmentada e pronta para estourar. É difícil até mesmo dizer qual o seu melhor momento em cena, pois eles são vários e, por vezes, perturbadores. Destaco a cena do corredor onde ela parece estar tendo um surto total, se debatendo e com certeza serviu de inspiração para uma determinada cena no recente filme "A Primeira Profecia" (2024).

Porém, é preciso dar crédito a Sam Neill, já que o seu personagem transita para momentos de confusão mental, fúria e até mesmo aceitação perante a desordem total vista na tela. Curiosamente, ele é a representação do homem machista que anseia pela mulher perfeita, mas sempre desejando que a sua mulher pudesse corresponder os seus anseios internos. Portanto, ao vermos a professora do filho dele ser idêntica a sua esposa, sendo interpretada também pela atriz Isabelle Adjani, é que podemos concluir que nem tudo o que é visto na tela possa ser real, pois podemos estar diante de uma confusão mental que os personagens vão adquirindo no decorrer da trama.

Andrzej Zulawski procura causar essa estranheza para aqueles que assistem a obra, principalmente ao criar o conflito dentro do apartamento e gerando em nós até mesmo uma tensão claustrofóbica. Ao mesmo tempo, há sempre um giro da câmera perante os personagens, como se eles adentrassem a um redemoinho inexplicável e os levando para algo cada vez mais grotesco. É então que o filme se envereda para o gênero fantástico, mas do qual cada um tira as suas próprias conclusões quando ocorre isso.

No meu entendimento, o lado grotesco visto na tela criado pelo cineasta seria uma crítica ácida da forma como o olhar conservador via a questão da separação daqueles tempos. Uma vez a separação colocada em pauta dentro da trama, o realizador nos convida para adentrarmos o que talvez não seja exatamente a mente fragmentada do casal central, mas como certos setores da época enxergavam a questão da separação e resultando em elementos já explorados na época pelo diretor canadense David Cronenberg em títulos como "Filhos do Medo" (1979). Com toda essa bagagem não me admira que o filme tenha sido bastante elogiado pela parte da crítica, mas dividindo a opinião do público que não se identificava com um filme de horror com grandes doses psicológicas.

Conhecendo o filme até recentemente me surpreendi ao testemunhar elementos que seriam posteriormente reutilizados nas décadas seguintes em outros títulos de sucesso. Portanto, veio a se tornar cada vez mais cultuado através dos anos e servindo de análise até mesmo para debates na área da questão da psicanálise. Se na "Trilogia do Apartamento", orquestrada pelo realizador Roman Polanski, ele já havia nos levado pelo lado sombrio da mente humana, Andrzej Zulawski decidiu ir ainda mais a fundo e provocou em nós diversas sensações peculiares para dizer o mínimo.

"Possessão" é um filme de horror a frente de sua época e que ganhou o seu status de cult de forma merecida.

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