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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Cine Especial: 'Os Inocentes' - Sombras do Passado

Sinopse: Mulher que trabalha como governanta de dois órfãos. Vivendo em uma casa vitoriana, começa ter visões de fantasmas e suspeita que o comportamento bizarro das crianças é influenciado por poderes sobrenaturais. 

O cinema "pós-terror "tem impressionado o público atual, ao trazer tramas que transitam entre o sobrenatural para situais verossímeis e até mesmo reconhecíveis em nosso dia a dia. Porém, não é a primeira vez que isso acontece, pois o horror com teor mais psicológico, por exemplo, começou a surgir entre o final dos anos cinquenta e começo dos anos sessenta. Já em 1958 o mestre Alfred Hitchcock havia lançado "Um Corpo que Cai", filme que usa ingredientes do sobrenatural, mas que se tornam somente cortina de fumaça para ocultar um plano maior.  

O próprio Hitchcock retornaria em 1960 com a sua obra prima "Psicose" e do qual a mesma mudaria a história do cinema para sempre. A partir daquele filme os monstros tradicionais daqueles tempos longínquos quase não assustavam mais, pois o próprio mundo real já dava sinais de que era mais assustador. Do outro lado do mundo, o estúdio Hammer ainda se sustentava com o sangue vermelho e cenas mais violentas com os seus filmes, muito embora alguns cineastas quisessem arriscar para se elevar dentro do gênero. Com isso, temos a pérola "Os Inocentes" (1961) filme apontado por alguns como a frente do seu tempo e que impressiona até mesmo nos dias de hoje como um todo.

Dirigido por Jack Clayton e baseado no livro "A Volta do Parafuso" de Henry James, cujo o roteiro foi adaptado por William Archibald e Truman Capote, a trama se passa na Inglaterra, durante o era Vitoriana: dois irmãos, Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens), moram com seu tio em uma antiga casa após ficarem órfãos. Os meninos são deixados aos cuidados da senhorita Giddens (Deborah Kerr), uma governanta muito competente, que ganha total liberdade de criação dos meninos. Porém, as duas crianças começam a serem possuídas por espíritos que habitavam a casa. Cabe a Giddens salva-las e exorcizar os espíritos que rondam a casa.

A última frase dita acima pode nos dar a entender que o filme gira em torno de elementos comuns do gênero de horror. Porém, o filme não nos dá respostas de uma forma fácil sobre o que realmente está acontecendo dentro da trama, já que a sua própria fonte literária nunca nos deixou algo conclusivo e o diretor Jack Clayton respeitou isso. Na abertura, por exemplo, vemos a protagonista desejando o melhor para as crianças, pois ela anseia de todo custo para que elas sejam protegidas e puras.

Aliás, é preciso destacar abertura, sendo ela gótica, incomoda e parecendo até mesmo fruto de algo parecido que Hitchcock havia criado na abertura de "Um Corpo Que Cai". Vale destacar a sombria e triste música na abertura e da qual é cantada pela atriz mirim Isla Cameron, que interpreta a pequena Flora. Se formos analisar mais a fundo, a música serve como um grande spoiler sobre o final da trama que, desde já, está entre os finais mais tristes e corajosos da história do cinema.

Até lá, somos brindados com uma bela fotografia em preto e branco, criada pelo realizador renomado Freddie Francis e fazendo da mansão Bly um ambiente não muito diferente do que era visto nos filmes de horror dos anos trinta, mas ganhando maior profundidade na medida em que a protagonista vai conhecendo cada parte da casa. Curiosamente, o filme me lembrou também do clássico "Rebecca" (1940), também do mestre Hitchcock, já que ambos os filmes se passam em uma grande mansão e cujo os personagens principais são envoltos pela sombra do passado de personagem que já, aparentemente, faleceram. Porém, aqui a possibilidade de um teor mais sobrenatural fica cada vez mais forte na medida em que a protagonista tenta de todo custo saber o que realmente está acontecendo naquele local e com as crianças.

Mas, assim como no livro, jamais temos uma certeza se tudo foi orquestrado por forças que vão além da realidade ou se foi tudo fruto de uma mente que se encontra a beira do precipício. Giddens se apresenta como uma pessoa disposta a proteger o lado inocente das crianças, mas cuja essa proteção não esconde uma mulher que foi reprimida no passado, seja através do lado paternal ou até mesmo das leis vindas da igreja. Sendo assim, a sua personagem possui momentos ambíguos, mas que quase revelam os seus reais desejos.

Deborah Kerr, atriz conhecida pelas suas atuações em "Quo Vadis?" (1951) e "Rei e Eu" (1956) nos brinda aqui como uma das suas melhores atuações da carreira, já que ela constrói para a sua personagem um olhar cheio de história, cicatrizes e da quais as mesmas influenciam as suas ações com relação ao que acontece na mansão. Em alguns momentos, por exemplo, ficamos temendo as suas atitudes muito mais do que aquelas que são vindas das crianças, sendo que as próprias não escondem certa estranheza em seus comportamentos, mas que se tornam em alguns momentos inocentes perante a instabilidade da protagonista que segue sempre temendo pelo que possa acontecer.

O ato final é claustrofóbico, angustiante e do qual nos leva em um beco sem saída. Não é uma explicação plausível sobre o que realmente aconteceu e cabe cada um tirar suas próprias conclusões. Revisto hoje, se percebe que o filme não era somente a frente do seu tempo, como também corajoso e que se fosse feito em tempos de hoje politicamente corretos seria completamente inviável.

Vale destacar que o clássico literário "A Volta do Parafuso" foi revistado em outras produções, sendo que a mais recente foi a minissérie "A Maldição da Mansão Bly" (2020) e fazendo com que uma nova geração procurasse nas livrarias o livro. Porém, nada supera o clássico de 1961, cujo o seu teor gótico e proposta ousada para época o tornam ainda hoje impecável. "Os Inocentes" um clássico de horror psicológico surpreendente e que nos leva aos mais profundos conflitos do interior do ser humano.    

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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Cine Dica: Em Cartaz - 'O Debate'

Sinopse. Paula e Marcos acabaram de se separar depois de 20 anos juntos. Ele é editor-chefe de um telejornal e ela uma apresentadora de televisão. Eles têm opiniões divergentes, mas continuam amigos e parceiros de trabalho. 

Nos últimos três anos a realidade brasileira tem sido tão complexa que com certeza renderia uma série com diversas temporadas. Porém, imagine cada um tendo que conviver com a essa realidade e ao mesmo tempo tendo que administrar a sua própria vida e que, querendo ou não, os rumos do país acabam por afetar o seu dia a dia. "O Debate" (2022) é uma comédia brasileira inteligente sobre como os rumos do mundo em volta atinge a vida das pessoas e sendo que elas precisam tomar uma providência para seguir por uma nova estrada desta cruzada.

Dirigido por Caio Blat e com roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, o filme conta a história de Paula e Marcos, interpretados pelos atores Paulo Betti e Débora Bloch, que acabaram de se separar depois de 20 anos juntos. Ele é editor-chefe de um telejornal e ela uma apresentadora de televisão. Eles têm opiniões divergentes, mas continuam amigos e parceiros de trabalho. Mas apesar disso, o relacionamento de respeito entre eles não impede que eles tenham visões distintas sobre como devem conduzir a edição dos melhores momentos do debate que a TV vai exibir - e que pode interferir na escolha de centenas de milhares de eleitores indecisos.

O roteiro elaborado por Arraes e Furtado consegue transitar entre os elementos de ficção protagonizados pelo casal central com os eventos verídicos que ocorreram nos últimos três anos no país, desde a questão do desgoverno Bolsonaro como também o surgimento da Covid-19. Se dividindo entre os afazeres jornalísticos com a vida pessoal de casados, os protagonistas centrais estão sempre dialogando em cena, cujos os assuntos políticos são os mesmos que nós ouvimos e discutimos ao longo de todo esse tempo. Isso faz com que nos identifiquemos com o casal, pois determinadas palavras que Paula lança, por exemplo, contra o Presidente são aquelas mesmas que nós disparamos todos os dias, pois motivos é que o não faltam e a lista foi se alongando ao longo do tempo.

Tanto Paulo Betti como Débora Bloch estão bem em seus respectivos papeis, pois ambos possuem uma veia quase cômica nas cenas em que eles discutem diversos assuntos sobre o universo político, mas surpreendendo até mesmo nas cenas quando se exige um apelo mais dramático. Voltando entre o passado e o presente, o roteiro dá o espaço necessário para que ambos os interpretes consigam criar as mais diversas camadas de interpretação sobre determinadas atitudes que os seus personagens praticam em determinados momentos da trama e fazendo criar dentro de nós um pequeno conflito se devemos ou não torcermos para que eles fiquem juntos. Uma vez conseguindo essa façanha o resultado da fictícia, ou não, eleição política acaba ficando em segundo plano, pois desejamos que ambos fiquem bem ao final de tudo mesmo em meio aos escombros.

Assim como no nosso mundo real, o resultado das eleições fica em aberto, fazendo com que tiremos as nossas próprias conclusões sobre o destino do país e de como o casal central terá que conviver pelos próximos quatro anos. Logicamente, é uma lição que os realizadores querem nos passar nesta reta final antes da nossa real eleição, pois independente do que aconteça tudo o que nos resta é mantermos unidos perante um futuro indefinido, porém, talvez não tão nebulosos como nós tememos.

"O Debate" fala sobre um casal gente como a gente, que enfrenta as adversidades destes tempos complexos brasileiros e que tentam sobreviver para manter o que tinham de mais precioso em um passado mais dourado.   

NOTA: O filme estreia dia 25 de Agosto. 


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Cine Dica: PROGRAMAÇÃO DE 18 A 24 DE AGOSTO DE 202 na Cinemateca Paulo Amorim

 SEGUNDAS-FEIRAS NÃO HÁ SESSÕES

Os Amores Dela


SALA 1 / PAULO AMORIM


14h30 – OS AMORES DELA Assista o trailer aqui.

(Les Amours d’Anaïs - França, 2022, 100min) Direção de Charline Bourgeois-Tacquet,com Anaïs Demoustier, Valeria Bruni Tedeschi, Denis Podalydès. Imovision, 14 anos. Comédia dramática.

Sinopse: Anaïs tem 30 anos e não leva nada a sério: é infiel com o namorado, não paga o aluguel em dia e nem cumpre os prazos do seu orientador de doutorado. Seguindo seus desejos, ela se interessa por Daniel, um editor literário que é casado com Emilie, uma escritora famosa. Mas, aos poucos, a jovem percebe o quão interessante é Emilie e resolve se aproximar dela.


16h30 – TRALALA Assista o trailer aqui.

(França, 2020, 120min). Direção Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu, com Mathieu Amalric, Josiane Balasko, Mélanie Thierry. Bonfilm, 14 anos Comédia dramática.

Sinopse: Tralala é um sem-teto de 48 anos que ganha a vida cantando pelas ruas de Paris. Certo dia, uma jovem misteriosa lhe deixa uma mensagem e desaparece. O artista parte em busca desta mulher, mas acaba encontrando uma senhora que acredita que Tralala é seu filho que desapareceu 20 anos atrás. Surpreso pela revelação, ele aceita interpretar este papel. O filme fez parte do Festival Varilux de Cinema Francês de 2021.


18h45 – IL BUCO Assista o trailer aqui.

(França/Itália/Alemanha, 2021, 93min). Direção de Michelangelo Frammartino, com Paolo Cossi, Jacopo Elia, Denise Trombin, Nicola Lanza. Zeta Filmes, 14 anos. Drama.

Sinopse: Durante o boom econômico da década de 1960, o próspero norte da Itália ergue o edifício mais alto da Europa. Do outro lado do país, no interior da Calábria, jovens exploradores investigam a caverna mais profunda da Europa, de 700 metros. Em uma aldeia vizinha, um velho pastor começa a entrelaçar sua vida solitária com os dois fatos.


SALA 2 / EDUARDO HIRTZ


15h – AOS NOSSOS FILHOS Assista o trailer aqui.

(Brasil, 110min, 2022). Direção de Maria de Medeiros, com Marieta Severo, José de Abreu, Laura Castro, Marta Nóbrega. Imovision, 16 anos. Drama.

Sinopse: Vera é responsável por uma ONG de crianças soropositivas, ao mesmo tempo em que luta contra traumas do passado deixados pela ditadura militar. Tânia, sua filha, vive um casamento de 15 anos com outra mulher e pretende ter um filho. Separadas por ideais diferentes, preconceitos e muitas mágoas, mãe e filha precisam se entender e se adaptar aos novos tempos. O filme é uma adaptação da peça de teatro homônima, protagonizada pela própria Maria de Medeiros no Brasil.


17h – UM HERÓI Assista o trailer aqui.

(Ghahreman - Irã/França, 2021, 125min). Direção de Asghar Farhadi, com Amir Jadidi, Mohsen Tanabandeh, Fereshteh Sadrorafaii. Califórnia Filmes, 16 anos. Drama.

Sinopse: Rahim resolve usar uma licença de dois dias da cadeia para tentar convencer o seu credor a perdoar a dívida que o levou à prisão. Parte da negociação envolve uma bolsa com algumas moedas de ouro, mas o plano dá errado e Rahim tenta encontrar o verdadeiro dono deste pequeno tesouro – o que acaba gerando uma resposta positiva da opinião pública. Mas a situação toma outros rumos e envolve toda a família de Rahim numa verdadeira teia de notícias falsas.


19h15 – A TEORIA DOS VIDROS QUEBRADOS Assista o trailer aqui.

(La Teoria de los Vidrios Rotos - Uruguai/Argentina/Brasil, 85min, 2022). Direção de Diego “Parker” Fernández, com Martín Slipak, Roberto Birindelli, César Troncoso, Veronica Perrotta. Okna Filmes, 14 anos. Comédia policial.

Sinopse: Inspirado na teoria que dá título ao filme, o roteiro acompanha Claudio, funcionário de uma companhia de seguros que é designado para trabalhar em uma cidade do interior do Uruguai. A experiência deveria ser tranquila, mas, quando ele chega, vários carros são incendiados. Para se garantir no emprego – e no casamento - Claudio terá que descobrir o que realmente aconteceu. O filme foi o vencedor do Kikito de longa estrangeiro no Festival de Gramado 2021.


SALA 3 / NORBERTO LUBISCO


16h – LOS CONDUCTOS Assista o trailer aqui.

(Colômbia-França-Brasil, 2020, 70min). Direção de Camilo Restrepo, com Luiz Felipe Lozano. Olhar Distribuidora, 16 anos. Drama.

Sinopse: Recém liberto do controle de uma seita religiosa, Pinky encontra abrigo e trabalho numa fábrica ilegal de camisas. Enquanto tenta reconstruir sua vida, memórias violentas lhe assombram e clamam por vingança. O filme é baseado na experiência pessoal do protagonista, que interpreta seu próprio papel.

*NÃO HAVERÁ SESSÃO NO DIA 20, SÁBADO.*


FESTIVAU DE C4NN3S


16h – AUTOBIOGRAFIA OBSCENA + O CASO DORA

(Brasil, 2022, 20min + 60min)

Trabalhos das artistas Dora Longa e Fabricia Jordão, com apresentação comentada pelas próprias artistas.

*SESSÃO NO DIA 20, SÁBADO.* ENTRADA FRANCA.


PREÇOS DOS INGRESSOS:

TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES. 

Professores têm direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional. Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013. Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.

*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.

A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos. Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.


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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Cine Dica: Em Cartaz - 'MÁ SORTE NO SEXO OU PORNÔ ACIDENTAL'

Sinopse: A professora Emi vê a sua carreira e reputação ameaçadas depois de uma ‘sex tape' pessoal ir parar acidentalmente à Internet. Forçada a enfrentar os pais dos seus alunos que exigem a sua demissão, Emi recusa-se a ceder à pressão. 

Sexo todo mundo faz, mas ninguém quer ouvir, pois ainda vivemos em uma sociedade conservadora, porém, bastante hipócrita. A propaganda dos bons costumes que determinadas pessoas que se dizem "cidadãos do bem" põem em prática nada mais são do que uma forma de esconder as suas próprias bestialidades que até Deus dúvida."Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental" (2021) é uma tragicomédia que sintetiza esses tempos hipócritas e do qual se tornou uma verdadeira piada pronta.

Dirigido por Radu Jude, o filme conta a história de  Emi, uma professora, vê sua carreira e reputação ameaçadas depois que uma fita de sexo pessoal vazou na Internet. Forçada a encontrar os pais exigindo sua demissão, Emi se recusa a ceder à pressão deles. Em meio a isso, há algo de podre na Dinamarca.

Não é de hoje que o cinema faz uma crítica ácida com relação a hipocrisia da sociedade, principalmente vinda daquela que se acha intocada. Basta nos lembrarmos, por exemplo, do genial Luis Buñuel que dentre os seus títulos estão "O Discreto Charme da Burguesia" (1972) ou "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (1977), sendo que ambos possuem um humor absurdo ao colocar o dedo na ferida e revelando o que há por trás da mascaras de certos círculos. Aqui, o filme de Radu Jude segue uma premissa parecida, mas de uma forma muito mais explicita.

Já na abertura, por exemplo, somos pegos desprevenidos devido a cena de sexo explícito protagonizada pela protagonista e seu marido. Logicamente começamos a pensar como as pessoas estão reagindo ao seu lado dentro do cinema, já que a cena em si somente a gente vê em sites pornográficos, mas aqui ela é usada como peça principal de um roteiro muito mais complexo do que imaginamos. Dividido em atos, ao som da animada canção francesa “Eh Toto”, o filme mostra a via cruz da protagonista antes de ser julgada, mas até lá algo mais acontece.

Com elaborados planos sequências,  Radu Jude filma a protagonista perambulando na cidade onde vive e justamente em meio a pandemia do Covid-19. Há uma certa tensão no ar, como se algo de ruim pudesse acontecer a qualquer momento, pois sentimos que alguns personagens que surgem na tela estão com o mal humor transbordando. Curiosamente, é como se estivéssemos testemunhando algo realmente real, como no caso da discussão do supermercado, onde a protagonista testemunha o atrito entre duas mulheres e fazendo daquele momento algo bem verossímil.

Aliás, o segundo ato longa metragem é sem sombra de dúvida o mais curioso da obra, onde por um momento a trama principal é deixada de lado e os letreiros começam a surgir na tela onde é contado diversas curiosidades da história humana. Surgem diversas informações que colocam em pauta os equívocos criados pelo ser humano em diversas situações na linha do tempo, onde escancara que a hipocrisia do mesmo já é coisa antiga e que dificilmente será extinguida. Uma pessoa comum deixar vazar um vídeo intimo é deveras absurda para muitos, mas uma boa parcela de uma sociedade eleger determinados imbecis para o principal posto de governos se torna menos explicito, ao menos em um primeiro momento, pois todo o estrago somente virá em um futuro próximo.

Tudo isso se encaminha para o terceiro ato em que acontece um julgamento criado pelos professores, diretores e pais de família contra a professora do tal vídeo pornográfico. Curiosamente, os personagens que aparecem aqui parecem unidimensionais, mas não muito distante da personalidade de alguns do nosso próprio mundo real. É neste momento que o filme ganha tons quase de uma comédia trágica pastelão, mas que nos soa familiares algumas situações, pois posicionamento de alguns ali nada mais é do que algo parecido que vemos em nosso mundo político, religioso e até mesmo próximos de nós, pois a falsidade é o que mais sobra hoje em dia.

"Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental" é uma piada pronta no bom sentido da palavra, ao escancarar a hipocrisia de uma sociedade que esconde o seu lado obscuro para debaixo dos panos e tornando tudo mais volumoso. 



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Cine Dica: PROGRAMAÇÃO CINEBANCÁRIOS 18 A 24 DE AGOSTO

 ESTRÉIAS:

MEU ALBUM DE AMORES

PAIXÕES RECORRENTES

B rasil, Drama, 2021, 100 min.

Direção: Ana Carolina

Da Seleção Oficial do 51a Festival Rotterdam, "Paixões Recorrentes", novo filme de Ana Carolina, estreia em 18 de agosto nos cinemas. Eleita pela renomada revista francesa Cahiers du Cinema a única brasileira entre as 100 cineastas mais influentes do século e considerada uma das mais autorais do País, diretora retorna às telonas após oito anos.


Sinopse: Em 1939, o mundo está em convulsão e a guerra é inevitável. Não há refúgio seguro, no entanto, no Atlântico Sul sempre haverá uma rota de fuga. Os navios que viajam pela costa sul-americana frequentemente fazem paradas obrigatórias para recapturar os fugitivos imigrantes que escaparam de outros navios. Nessas paradas, imigrantes desesperados preferem se atirar ao  mar do que enfrentar a deportação ou a dor da nova realidade. Praias deslumbrantes, bebidas e traições os transformam em amantes vagabundos. Na tentativa vã de evitar a morte de suas  ideologias, estes estrangeiros preferem vidas imaginárias e paixões sem fim.

Elenco: Thérèse Cremieux, Luciano Cáceres, Pedro Barreiro, Silvana Ivaldi, Danilo Grangheia, Iran Gomes e Luiz Octavio Moraes.


MEU ALBUM DE AMORES

Brasil, Drama, 2021, 101 min.

Diretor: Rafael Gomes

Sinopse: Júlio é um jovem dentista careta e conservador. Após ser abandonado pela namorada de muitos anos, recebe a notícia de que é filho de Odilon Ricardo, um popular e mulherengo cantor  dos anos 70. E conhece também um meio-irmão em tudo diferente de si, com quem nunca conviveu. A convivência com estes novos afetos e sentimentos fará Júlio repensar suas aspirações  românticas e descobrir quantos amores da vida cabem em uma vida. 

Elenco:  Gabriel Leone, Carla Salle, Felipe Frazão, Laila Garin


HORÁRIOS DE 18 A 24 DE AGOSTO (NÃO HÁ SESSÕES NAS SEGUNDAS-FEIRAS):


15h: PAIXÕES RECORRENTES

17h: MEU ALBUM DE AMORES

19h: PAIXÕES RECORRENTES


Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem, trabalhadores associados em sindicatos filiados a CUT-RS e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00. Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.


CINEBANCÁRIOS

Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre -Fone: 30309405/Email: cinebancarios@sindbancarios.org.br

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: 'X'

Sinopse: Na década de 1970, um grupo de filmmakers descem para uma antiga casa de fazenda no interior de uma cidade no Texas para gravar um filme pornográfico. Mas quando os reclusos e idosos anfitriões da antiga casa os pegam em flagrante, o elenco logo se vê em uma luta desesperada por suas vidas. 

O clássico "O Massacre da Serra Elétrica" (1974) foi o que definitivamente inaugurou o subgênero de terror "Slasher", nome que dá aos filmes de orçamento apertado, onde retratava psicopatas matando jovens que somente pensavam em sexo e que ficavam perdidos em lugar nenhum no interior dos EUA. Entre a década de setenta oitenta esses filmes fizeram um tremendo sucesso, mas que, curiosamente, o que começou como uma crítica acida com relação ao lado obscuro e derrotado dos EUA daqueles tempos, se tornou posteriormente como um alerta sobre os perigos do sexo em tempos em que a AIDS estava se alastrando. O subgênero acabou tendo sobreviva na década seguinte através da franquia "Pânico" (1996), mas nunca mais retornando aos seus tempos mais dourados.

Retornando ao "Massacre da Serra Elétrica", o filme possuía várias camadas interpretativas, desde ao fato de uma geração moldada por drogas, sexo  rock roll dar de cara com o lado obscuro da sociedade norte americana, como também a mesma estava em mutação no momento em que sofria com crise financeira, governo Nixon e a ressaca sem fim devido a derrota no Vietnã. Em meio a isso, havia uma rixa entre o conservadorismo religioso versus "paz e amor" de uma geração que se via na não obrigação de seguir uma linha reta com relação a sua própria vida. "X" é um filme que presta uma homenagem, não somente ao subgênero "Slasher", como também faz um paralelo dos tempos conservadores hipócritas de ontem e hoje.

Dirigido por Ti West, o filme acompanha um grupo de cineastas pornográficos em sua gravação de um novo longa. Em 1979, Maxine, uma atriz pornô, Wayne seu namorado e produtor e mais um grupo de atores e pessoas vão para o Texas em uma fazenda, propriedade de Howard e Pearl, um casal idoso, para gravar o novo filme pornográfico The Farmer's Daughters. Quando o grupo chega na propriedade, são recebidos pelo casal - que apresenta estranhas características.

Com um prólogo que consegue obter a nossa atenção, o filme começa já dando indícios que veremos muitas homenagens com relação a esse subgênero, ao ponto de que as regras do mesmo já disparam em nossas cabeças e já fazendo com que nos preparemos por elas. Porém, diferente do que acontecia nos anos oitenta, não é pelo fato de um ou outro protagonista em “não fazer sexo” que irá salva-lo, pois aqui ninguém está salvo do perigo iminente que irá acontecer posteriormente. Essa mensagem subliminar é deixada de lado e fazendo com que o destino de alguns personagens entre em contramão com relação ao que estávamos imaginando.

Além disso o filme é uma curiosa homenagem dos tempos de um cinema mais independente, do qual bastava uma ideia na cabeça para pôr a mão na massa. Ao mesmo tempo o filme sintetiza tempos em que a pornografia fazia um grande sucesso, desde quando o clássico "Garganta Profunda" (1972) se tornou um grande sucesso e levantando a hipótese de se tornar um gênero lucrativo para aqueles tempos. Porém, tanto aqui como no clássico "Boogie Nights" (1999) é mostrado que o advento de novas tecnologias faria com que tudo se tornasse mais fácil para ser feito, mas ao mesmo tempo perdendo o espaço das grandes salas de cinema e sendo sucateado no advento do vídeo cassete.

Com uma reconstituição de época precisa, da qual a mesma sintetiza os tempos quentes dos anos setenta, o filme se encaminha para um verdadeiro banho de sangue, daqueles que todos imaginam quando embarcam neste tipo de subgênero. Curiosamente, o filme fala sobre os desejos reprimidos pelo sistema da igreja, cuja a mesma sempre uma hora e outra surge do nada, mas para somente se casar com a proposta principal da obra. Ti West talvez procura passar para nós a teoria de que nada pode ser reprimido em uma realidade em que o conservadorismo deseja sufoca-lo, pois quanto mais se estica a corda mais existe a chance de arrebenta-la.

"X" é um dos filmes de horror mais criativos do ano, onde presta uma curiosa homenagem ao subgênero  "Slasher" e tendo a coragem de quebrar certas regras criadas pelo conservadorismo. 


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Cine Dica: Próximas Sessões do Clube de Cinema de Porto Alegre - 'Cabascabo' / 'Carro, Casa, Dinheiro'

Cabascabo

 Boa Noite

Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana. Exibiremos dois filmes da mostra Câmeras da África: "Cabascabo" e "Mulher, Carro, Casa, Dinheiro".


SESSÃO CLUBE DE CINEMA

Local: Cinemateca Capitólio

Data: 20/08/2022, sábado, às 10:15 da manhã 


"Cabascabo"

Níger, 1969, 45 min

Direção: Oumarou Ganda

Elenco: Oumarou Ganda, Zalika Souley, Balarabi

Sinopse:  Um fuzileiro a serviço da força expedicionária francesa na Indochina retorna ao Níger. Aos poucos ele se vê abandonado por todos seus amigos. O filme é uma resposta de Oumarou Ganda ao filme “Eu, um negro” (1958) do cineasta francês Jean Rouch, no qual Ganda viveu seu próprio personagem, o de um fuzileiro senegalês alistado na guerra da Indochina. Restaurado em 2K em 2019. Parceiros do Institut Français na restauração: Orange Studio, Cinémathèque Afrique, Argos Films.


"Mulher, Carro, Casa, Dinheiro" (F.V.V.A)

Níger, 1972, 68 min

Direção: Moustapha Alassane

Elenco: Zingare Abdoulaye, Sawadogo Bintou, Hemazro Ivonne, Sotigui Kouyaté

Sinopse:  Ali é um modesto funcionário público que tem uma vida agradável na cidade. Um dia, forçado por seus pais a se casar com uma mulher que não quer, Ali é arrastado para um vórtice formado por “Mulheres (Femmes), Carros (Voitures), Vilas (Villas) e Dinheiro (Argent)” que, no Níger, é sinônimo de sucesso social. Original em 16mm, será exibido a partir de uma master digital.


Atenciosamente,

Carlos Eduardo Lersch

Diretor de Programação CCPA.

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