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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 17 de julho de 2020

Cine Dica: Clássicos do terror compõem mostra online da Sala Redenção pelas próximas semanas


Contando com quatro longas de terror que marcam suas épocas, Mistérios da Meia-Noite é o novo ciclo online da Sala Redenção pelas próximas duas semanas. A primeira parte da mostra é construída com filmes que estão gratuitamente disponíveis no site The Internet Archive, e vai até a próxima sexta-feira (17/07), encerrando com um debate virtual.


MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE

Como uma celebração dos cantos escuros da alma, a Sala Redenção, de 10 a 17 de Julho de 2020, apresenta a mostra Mistérios da Meia-Noite, com uma curadoria formada por quatro produções que de certa forma nos mostram o potencial do terror como gênero cinematográfico. Seja ao refletir os nossos medos coletivos como sociedade ou apenas construindo uma atmosfera angustiante que suga o espectador para dentro dessa aventura macabra, o cinema de terror fala não através de palavras, mas através de uma ambientação, explorando seus temas a um nível quase primitivo.
Os filmes disponíveis nesta mostra estão disponíveis no Internet Archive, um acervo digital de conteúdos gratuitos liberados para acesso livre e aberto, composto por livros, filmes, discos e milhões de outros materiais que estão em domínio público.Comecemos com A Casa dos Maus Espíritos, de 1959, dirigido por William Castle. Com o Mestre do Macabro Vincent Price no papel de um milionário excêntrico que convida cinco pessoas para uma festa assombrada, prometendo 10 mil dólares a quem sobrevivesse a uma noite na casa. Se esforçando ao máximo para não ser levado a sério, é uma amálgama de efeitos práticos retirados de atrações de circo, onde somos surpreendidos e cativados a cada truque e trapaça.
Angustiante é um bom termo para descrever o segundo filme da mostra, O Parque Macabro. Envolto em uma atmosfera de estranhamento, vemos a protagonista, recém chegada a uma nova cidade para assumir “só um emprego…” como organista de igreja, literalmente incomunicável com os locais, totalmente desconectada de sua realidade. Produzido de forma independente pela equipe de uma produtora de vídeos educativos, esse filme assombra e desorienta, continuando com o espectador por um bom tempo depois de terminados os créditos.
A Noite dos Mortos-Vivos dispensa introduções: essa obra-prima de George Romero está, por bem ou por mal, impressa na história cultural de nossos tempos, inspirando incontáveis obras, tanto dignas quanto profanas. Independentemente de sua influência na cultura pop, é um filme reflexivo, um retrato levemente distorcido da nossa realidade, levado a seu extremo, onde é explorado o limite da sociedade e os horrores provocados – por humanos vivos, diga-se de passagem – em resposta a uma crise.
Finalizando esse percurso, temos Hausu, um festival psicodélico de horrores do outro lado do mundo. É um caleidoscópio formado por imagens alegóricas e subconscientes desenvolvidas pelo diretor em parceria com a sua filha pequena, antigas lendas e monstros folclóricos japoneses, construído a partir de uma constante experimentação, propositalmente surreal. Uma experiência tanto bizarra quanto impressionante.

Texto: Vitor Cunha, bolsista na Sala Redenção e curador da mostra.
Confira a programação online da sala no site oficial clicando aqui.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Bala Perdida'

Sinopse: Um mecânico acusado de assassinato precisa encontrar o carro que contém a única prova de sua inocência: a bala do crime. 

A França é conhecida por fazer inúmeras obras primas do cinema, pois basta prestigiarmos, por exemplo, a época do movimento "nouvelle vague" iniciado em 1959 para termos uma vaga ideia do que eu estou falando. Porém, diferente do que alguns desavisados imaginam, o país não se prende somente na realização de um ou outro gênero, mas sim nos surpreendendo na realização de vários. Em 2001, por exemplo, o mundo foi pego de surpresa com a realização do já clássico "Pacto dos Lobos" de Christophe Gans, um filme baseado em fatos verídicos ocorridos no ano de 1765, mas misturados com ação e terror de uma forma até então inédita e surpreendendo a crítica no mundo a fora naquela época.
Enquanto isso, atualmente, o cinema norte americano se sustenta com vários gêneros para entreter a massa, que vai desde aventura, fantasia e ficção científica. Porém, o filme de ação de alta velocidade se sustenta somente com a franquia atual "Velozes e Furiosos" que, convenhamos, já deveria ter terminado a muito tempo após ter se entregado a histórias absurdas e efeitos visuais que beira ao artificialismo vertiginoso.  É aí que a França faz a sua lição de casa com o seu filme "Bala Perdida", cuja a sua trama é até bastante simples, mas se concentrando na melhor forma de se criar cenas de ação surpreendentes.
Dirigido pelo estreante Guillaume Pierret, o filme inicia nos apresentando Lino (Alban Lenoir), um ladrão que deseja roubar uma joalheria usando um carro fortificado para atravessar uma loja. Claro que o plano dá errado e o ladrão é preso. Porém, o mesmo é recrutado pelo chefe da polícia, para agora usar o seu talento para o bem e ajudar a polícia a fortificar as viaturas locais no combate ao narcotráfico.
Ele aceita a proposta e, desta forma, passa a retornar à prisão apenas para dormir. Entretanto, quando o líder da equipe é assassinado, Lino logo é considerado suspeito do crime. Com isso, ele precisa fugir e encontrar algum meio de provar sua inocência. Não demora muito para que tudo vire uma perseguição de gato e rato e nos levando para momentos imprevisíveis como um todo.
Diferente do cinema de ação norte americano, "Bala Perdida" possui uma ação cuja as consequências virão mais cedo do que se imagina. Por mais absurdas que elas possam ser em alguns momentos, os realizadores fazem questão de seus personagens se machucarem a cada movimento e fazendo a gente até temer pelo destino do protagonista. Alban Lenoir se sai bem como um herói humano que se encontra no lugar errado e na hora errada, mas que se vira a todo custo para salvar a sua pele a cada minuto.
Em termos de ação e luta corporal o filme é um colírio para os olhos, principalmente para aqueles cinéfilos que se encontram com as vistas cansadas de efeitos visuais desnecessários do cinema norte americano. Aqui não há nada disso, mas sim carros de verdade batendo, explodindo e pegando fogo de verdade a todo momento, ao ponto de fazer com que a gente sinta o peso das cenas que são muito bem filmadas e que não deve em nada aos filmes de ação com carros e motocicletas dos  anos setenta. Já as cenas de luta são outro ponto positivo, sendo elas cruas, violentas e, assim como as cenas de ação com os carros, tendo sérias consequências.
É uma pena, portanto, que os minutos finais o filme se renda ao famigerado gancho para uma inevitável continuação, mas nada que tire o brilho dessa surpresa a lá francesa. "Bala Perdida" é um ótimo exemplo de como se faz um filme de ação de qualidade sem uso de pirotecnia, mas sim com criatividade e na preocupação de se filmar cada cena. 

Onde Assistir: Netflix.

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quarta-feira, 15 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'The Old Guard'

Sinopse: Sinopse: Andy é uma mercenária imortal com nada menos que 6 mil anos de idade. Ela e seu grupo agem em segredo, mas acabam sendo expostos depois de uma missão trazer à tona as habilidades extraordinárias de cada um. 

"Highlander" (1986) clássico filme de ação e aventura sobreviveu ao tempo como uma curiosa história sobre guerreiros imortais e que estavam condenados a matarem uns aos outros até somente haver um. Mas para Hollywood uma vez só não basta, ao ponto que o filme teve continuações, séries, derivados, mas jamais chegando ao patamar que o original havia obtido. Porém, Hollywood não desistiu e foi procurar outros heróis que sobrevivessem muito além do seu devido tempo.
Se por um lado podemos contar com os infindáveis Dráculas imortais que nos foi apresentado ao longo dos anos, do outro, temos um Wolverine que foi interpretado sempre com intensidade pelo ator Hugh Jackman. Neste último caso, tanto o personagem como os seus  demais colegas foram extraídos das HQ no ano 2000 para o cinema, sendo que essa arte de contar histórias possui infindáveis personagens imortais e que podem render uma boa franquia. É aí que chegamos a "The Old Guard", filme que nada mais é do que uma espécie de releitura de "Highlander" para os novos tempos, indefinidos em que vivemos, mas com alguns pontos positivos que não podem ser ignorados.
Dirigido pela cineasta Gina Prince-Bythewood, do filme "A Vida Secreta das Abelhas" (2009), o filme conta a história de Andy (Charlize Theron) e seus companheiros que formam um grupo de soldados que possuem a inestimável virtude da vida eterna. Eles vivem através dos anos oferecendo seus serviços como mercenários para aqueles que podem pagar, se passando como seres humanos comuns entre os demais. No entanto, tudo muda com a descoberta de que existe uma outra imortal que atua como fuzileira naval.
Baseado na HQ escrita por Greg Rucka, o prólogo da trama que nos é apresentado não demora muito para nos contar que esses personagens são seres imortais e que possuem uma grande virtude pela prática do bem em tempos em que a humanidade vai cada vez mais se declinando para sua extinção. É uma pena, portanto, que os trailers e divulgações já nos revelavam o verdadeiro dom desses protagonistas, pois abertura é toda construída de uma forma para que nos pegasse de surpresa quando fosse revelado as suas reais naturezas e motivações genuinamente humanas. Apesar desse ato falho, isso é logo compensado com aparição da personagem Nile Freeman (KiKi Layne), fuzileira que descobre da pior maneira que é uma nova imortal e da qual se torna uma representação do nosso olhar com relação essa realidade fantástica que irá testemunhar.
Só com a história em si o filme talvez não se sustentaria, já que ela sofre um pouco ao ser recheada de clichês já vistos em outros filmes dentro do gênero, além de soluções fáceis e, por vezes, previsíveis. O vilão Merrick, interpretado pelo ator Harry Melling, até nos convence de passagem, mas suas intenções com relação aos imortais se torna tão batida que parece que estamos presenciando uma espécie de  déjà-vu ao longo da história. Ao menos, os heróis quase nunca nos soam unidimensionais, pois são genuinamente humanos, identificáveis  e muito se deve pelo bom desempenho dos atores, principalmente vindo de Charlize Theron.
Provando ser uma das maiores e mais versáteis atrizes do cinema atual, além de um Oscar na bagagem pelo filme "Monster" (2003), Theron provou ter fibra em filmes de aventura, ação e ficção científica, pois basta pegarmos exemplos como a obra prima "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015) e "Atômica" (2017) para termos uma vaga ideia. Aqui ela faz o seu dever de casa, ao construir uma protagonista que carrega uma bagagem cheia de história e passando para nós o desejo no seu íntimo de desvencilhar dela.
Em termos de ação, atriz prova que se sente mais do que a vontade em dar porrada e são por essas cenas que constatamos que suas idas dentro desse gênero talvez não se tornem mais passageiras. Aliás, é notório que a cineasta Gina Prince-Bythewood também fez o seu dever de casa com relação as cenas de luta, pois elas revelam que possuem os mesmos ingredientes de sucesso que moldaram a franquia "John Wick", ou até mesmo o recente "Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa". As cenas de ação em si são um verdadeiro balé, empolgantes e cuja a sequência final dentro de um prédio se torna um dos grandes momentos do filme.
Com um gancho para uma inevitável sequência, "The Old Guard" é um filme de ação recheado de clichê, mas positivo ao ser honesto em sua proposta em querer somente nos entreter do começo ao fim. 

Onde Assistir: Netflix 

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terça-feira, 14 de julho de 2020

Cine Especial: 'X-Men: O Filme - 20 anos depois'

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Cine Especial: 'A Origem' - 10 Anos Depois


Se inspirando sempre nos cineastas da velha guarda o diretor Christopher Nolan sempre evitou em usar os efeitos visuais em demasia, mesmo quando o recurso poderia lhe facilitar as coisas. Porém, "A Origem" é o seu primeiro grande filme com uso nítido de efeitos por computador, mas que, ao invés de somente entreter as plateias, os recursos se encontram ali para corresponder com a proposta principal da trama. Se em seu curta-metragem "Doodlebug" (1997), ou até mesmo em "Amnésia" (2001), Nolan explorava as inúmeras possibilidades de como funciona o nosso subconsciente, em "A Origem" ele obtém o ápice desse interesse, graças a uma trama criativa e com uso bem explorado de efeitos de ponta.
Acompanhamos a história de um grupo de ladrões profissionais liderados pelo personagem Cobb (Leonardo DiCaprio), cujo objetivo deles é roubar os principais segredos de pessoas poderosas através dos sonhos. Porém, Cobb recebe uma proposta tentadora do empresário Saito (Ken Watanabe), que é inserir uma ideia no herdeiro de um império econômico chamado Fischer (Cillian Murphy), e para assim ele repensar se deve ou não seguir os passos do seu falecido pai (Pete Postlethwaite). Para realizar este feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.
Se num primeiro momento a trama possa parecer simples, Nolan faz questão de criar elementos de um verdadeiro quebra cabeça que possa, num primeiro momento, confundir o cinéfilo que está assistindo e fazê-lo com que ele tenha uma atenção redobrada ao longo da projeção. Isso é obtido graças a uma edição fragmentada, mas que, diferente de "Amnésia", ela não está de trás pra frente, mas sim espalhada e representando as lembranças (ou sonhos) de Cobb (DiCaprio) que sofre pela perda da esposa Mal (Marion Cotillard). O problema que mal surge como uma projeção nos sonhos de Cobb, o que lhe dificulta, não somente nas missões, como também fazê-lo ter dúvidas com relação a sua própria realidade.
Cobb tem o desejo de reencontrar os seus filhos e que, caso cumpra o trabalho dado por Saito, ele retornará a revê-los. Curiosamente, as crianças sempre surgem, seja nas lembranças ou nos sonhos de Cobb, com os rostos nunca sendo revelados. As crianças então se tornam uma semente da dúvida que Nolan coloca no enredo e fazendo com que tenhamos dúvida até nos últimos momentos de projeção da obra.
Até lá, Nolan faz questão de que o cinéfilo caia de cabeça dentro da trama, ao ponto em que, em muitas passagens da história, os personagens ficam explicando a todo o momento como funciona o mundo dos sonhos e como eles entram neles. Na época do seu lançamento, alguns críticos acharam que o cineasta exagerou nas explicações, fazendo com que o público em geral não parasse por um momento para pensar, pois o cineasta tinha uma preocupação em querer que a gente entendesse a qualquer custo. Revisto hoje, se percebe que há uma transição do que nós sabemos sobre os sonhos no nosso mundo real para o gênero fantástico inserido dentro do filme, onde as explicações vistas na trama servem para que aja uma sensação de verossimilhança que tanto o cineasta injeta em suas obras.
Independente ou não de nos passar um enredo verossímil, Nolan, ao menos, foi feliz no uso de efeitos visuais. Aqui, eles sempre surgem não de forma gratuita, mas sim com que se correspondesse com o enredo visto dentro da trama. Se os personagens, por exemplo, flutuam ou testemunhamos quando os cenários são remodelados, tudo faz parte de um processo para que nos possa parecer como algo familiar, como se já tivéssemos visto algo parecido, por exemplo, em nossos próprios sonhos. Talvez o ápice desse casamento entre o lado técnico e história é quando os personagens transitam de um sonho para outro sonho, onde não somente os efeitos visuais são aqui necessários, como também nos exige uma atenção redobrada, principalmente com relação as três ou mais linhas narrativas que vão surgindo no decorrer da obra.
Sucesso de público e crítica, além de vencer quatro Oscar técnicos, Nolan teria carta branca novamente para fazer o que bem entender no seu próximo filme que, aliás, seria o encerramento de sua visão pessoal com o qual havia começado em Batman Begins.

Curiosidade: Embora o roteiro do filme A Origem seja da autoria de Nolan, sua originalidade possui certa dúvida até hoje. Em "The Dream of a Lifetime", HQ do célebre autor Don Rosa, os Irmãos Metralha utilizam uma nova tecnologia (desenvolvida pelo Professor Pardal) para penetrar nos sonhos do Tio Patinhas e descobrir a senha da Caixa-Forte. A trama foi publicada originalmente na Noruega em 2002, nos EUA em 2004 e no Brasil em 2003 (em Tio Patinhas #457) As semelhanças chegam inclusive à utilização dos totens, os objetos que os invasores de sonhos usam no filme como link com a realidade.

Nolan já disse, em entrevistas, que desenvolveu o primeiro conceito da história há aproximadamente dez anos, chegou a entregar um esboço à Warner e esperou ganhar experiência para realizar o filme. Coincidência ou não, vale a pena ler a HQ dos patos - disponível gratuitamente, em inglês, no site da Disney - e depois imaginar que Leonardo DiCaprio, no filme, está fazendo o papel do Pato Donald. 

Onde Assistir: DVD, Blu-Ray e Google Play Filmes. 

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sexta-feira, 10 de julho de 2020

Cine Especial: 'Um Dia de Fúria' - E Mais Atual do Que Nunca

Sinopse: Um policial tenta deter as atitudes violentas de William Foster, um homem de meia-idade estressado, que está desempregado e em processo de divórcio.   

No último dia 22 de junho faleceu o diretor de cinema norte americano Joel Schumacher. Embora não tenha se destacado por uma visão autoral da qual o cinéfilo poderia identificar, por outro lado, foi um diretor empenhado em fazer o melhor que podia em sua profissão em uma Hollywood que sempre teve o interesse de arrecadar dinheiro nas bilheterias ao invés de criar alguma dose de reflexão. Por essa observação, constato que Schumacher atuou neste ramo em meio aos dois planos.
Quando queria nos dizer algo o cineasta lançava obras interessantes como "O Cliente" (1994) e "Tempo de Matar" (1996), sendo que esse último é corajoso ao colocar o dedo na ferida com relação ao racismo ainda incrustado nos dias de hoje em solo norte-americano. Ao mesmo tempo, lançou filmes divertidos, como o ótimo exemplo que foi "Garotos Perdidos" (1987), filme protagonizados por vampiros, que sintetizava a geração rebelde e sem causa dos anos oitenta. Infelizmente Schumacher ficou por muito tempo sendo lembrado pelos dois infelizes capítulos da franquia Batman que ele dirigiu, intitulados "Batman Eternamente" (1995) e "Batman e Robin" (1997), sendo que se último é apontado por alguns como um dos piores filmes da história do cinema.
Mesmo fazendo obras que limpassem essa imagem, como no caso do genial "Por Um Fio" (2002) e "Tigerland - A Caminho da Guerra" (2000), isso acabou não sendo o suficiente para que o público cinéfilo apagasse em sua memória essa má fase. Anos mais tarde, para surpresa de todos, o próprio Joel Schumacher pediu desculpas para todos os fãs do homem morcego e dizendo que, na época quando realizou as duas obras, eram somente produtos para vender brinquedos, bebidas e camisetas. Uma forma corajosa de nos dizer o quanto o capitalismo continua incrustado hollywood e da qual somente pensa na melhor, ou na pior forma de se ganhar dinheiro.
Fazendo essa análise resumida de sua carreira no cinema, podemos concluir que, sem dúvida alguma, sua maior obra prima seja "Um Dia De Fúria" (1993), filme que mostra o cidadão comum se revoltando contra o sistema cheio de regras em sua volta e que decide criar as suas próprias regras em sua jornada. Em sua melhor atuação de sua carreira, Michael Douglas interpreta William Foster, trabalhador a serviço dos EUA, mas que enfrenta um péssimo dia no trânsito e começa a ficar com raiva por conta disso. Atenção para esse prólogo em que ocorre na na hora do rush, em uma Los Angeles tomada por movimentos agitados, calor terrível e pessoas se destacando em seus limites de tolerância.
É nesse cenário que Foster desisti de seguir as regras, ao sair do carro e ir a pé até sua casa para rever a sua família. De imediato não sabemos quem realmente ele é, mas aos poucos a gente vai conhecendo a sua pessoa, na medida em que ele vai cruzando com as pessoas daquela cidade e revelando a sua real face. É nessa jornada que constatamos que Foster é o típico cidadão Branco norte-americano, moldado pelo governo que vende o país como a terra das oportunidades, mas que é largado as traças uma vez que o próprio cidadão se torna inviável em seus interesses.
O filme se passa no início dos anos noventa, época em que a propaganda da utopia e cheia de luz da vida norte americana da era Ronald Reagan havia passado e sintetizando tempos de transformação em que o cidadão conservador norte-americano não estava preparado. Foster seria esse conservador despreparado perante a essas mudanças, das quais ocorrem em sua frente na medida em que ele avança em direção a sua casa, mas da qual ele reage com certa violência. Porém, Foster não é um fascista, mas sim um cidadão em que acreditava nos princípios em que haviam lhe ensinado e reagindo com violência contra aquilo que ele acha injusto.
Ao mesmo tempo, há o outro lado da moeda, que é o Detective Martin Prendergast, interpretado pelo sempre competente Robert Duvall. Prendergast é a representação da ordem na trama, mas que está prestes a se aposentar e que vive com a ferida ainda aberta devido à perda precoce de sua filha. Ao ver o caso de um homem (Foster) causando desordem na cidade de Los Angeles, ele enxerga ali a oportunidade de seguir atuando em sua profissão, pois no fundo não se vê fazendo mais nada do que isso.
Seguimos então duas linhas narrativas, ordem e caos, das quais reagem em uma cidade que mais parece uma panela de pressão. Porém, ambos reagem de formas distintas, mesmo compartilhando com pontos de personalidades parecidas. Por conta disso, o filme jamais cai em soluções fáceis, pois não estamos diante da típica luta entre o bem contra o  mal, mas sim sobre a história de pessoas comuns  que se veem em situações comuns, mas cuja a realidade é crua e muito distante da realidade em que se acreditava.
Não é toa, portanto, que o filme viria a se tornar um dos grandes títulos da década de noventa e se tornando uma forte fonte de inspiração para realização de outros títulos que viriam a surgir nos anos seguintes. Qualquer semelhança de "Um Dia de Fúria" com o argentino "Relatos Selvagens" (2014) não é mera coincidência, pois ambos destacam a reação do cidadão comum perante uma situação que sempre quis reagir, mas que teve sempre medo de praticar. Em ambos os casos, são filmes em que nos identificamos com os protagonistas, pois lá no fundo do nosso íntimo sempre temos um demônio prestes aflorar, mas que tentamos jamais libertar.
Joel Schumacher poderá até ser lembrado por alguns dos seus erros cinematográficos, mas "Um Dia de Fúria" será sempre lembrado como o seu maior triunfo. 

Onde Assistir: Em DVD, Youtube e Google Play Filmes.  

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Martin Eden'

Sinopse: Martin Eden é um escritor que entra em conflito com a burguesia. Encarando o novo, ele se apaixona e descobre como autores são vistos na sociedade aristocrática, enquanto se questiona sobre sua própria natureza como criador.

Em tempos em que a sociedade vive uma determinada depressão cabe alguns darem o bom exemplo de sobrevivência através do conhecimento, ou seja, através da leitura para abrir as nossas mentes como um todo. O problema é o homem que questiona versus a classe burguesa, que ainda sente o gosto dos tempos em que eram escravocratas. "Martin Eden" fala sobre tempos longínquos, mas cujo tema sobre luta entre as classes em meio a crises políticas e guerras perduram até mesmo nos dias atuais em que vivemos.
Dirigido por Pietro Marcello, o filme conta a história Martin Eden (Luca Marinelli), um jovem escritor de baixa renda que entra em conflito com a burguesia. Encarando um novo mundo, ele se apaixona e descobre como escritores são vistos em uma sociedade aristocrática. Se sentindo deslocado de tudo que faz parte de sua essência, o rapaz percebe que não há como voltar para o que costumava ser. Enquanto tenta publicar alguma obra de grande sucesso, Martin se questiona sobre o mercado literário, a sociedade e sua própria natureza como criador.
Se inspirando no melhor do cinema político italiano, Pietro Marcello surpreende ao nos apresentar o seu filme, ao criar uma fotografia e edição de arte que remete os filmes dos anos sessenta e setenta daquele país. Ao mesmo tempo, há momentos em que a obra relembra o melhor do Neorrealismo italiano, onde vemos uma Itália em frangalhos e mantendo o que tem em meio aos escombros de um país pós guerra. É nesse cenário que encontramos Martin Eden, pessoa sonhadora, que sonha ganhar a vida como escritor, mas tendo que encarar uma realidade opressora e nenhum pouco acolhedora.
Interpretado com intensidade surpreendente pelo ator Luca Marinelli, Martin Eden é uma pessoa deslocada de sua própria realidade, onde tenta se encaixar nela com algo que ele se sinta vivo que é através de sua escrita, mas mal sabendo o preço que isso acarretará ao longo da vida. Em meio a guerra entre capitalismo e socialismo, Eden tenta de todas as formas em ser humanista acima de tudo, mas não escolhendo exatamente um lado deste conflito. Martin Eden, portanto, se torna uma espécie de entidade da qual o seu próprio corpo não suporta e fazendo com que tenhamos uma leve certeza do que irá acontecer em seguida.
Embora o filme agilize um pouco em seu ato final ao mostrar o protagonista no ponto em que ele queria se encontrar, o filme não falha em seu discurso e tão pouco se torna envelhecido se for comparado com os dilemas políticos atuais em que estamos convivendo. Em sua reta final, Martin Eden se torna uma espécie de figura cansada em meio esses atritos de classes e deixando somente os seus pensamentos para a posteridade. O que lhe fez sobreviver e deixar algo para ser lembrado foi a sua principal arma que era os seus textos, sendo algo funciona até hoje para aqueles que se prezam em pôr a escrita em prática, mesmo quando o mundo lhe fecha as portas.
Baseado no livro de Jack London, "Martin Eden" é sobre a resistência do homem através do uso da escrita em meio a uma guerra entre as classes que, infelizmente, nunca termina.    
 
Onde assistir: Disponível no NOW. 

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