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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 10 de julho de 2020

Cine Especial: 'Um Dia de Fúria' - E Mais Atual do Que Nunca

Sinopse: Um policial tenta deter as atitudes violentas de William Foster, um homem de meia-idade estressado, que está desempregado e em processo de divórcio.   

No último dia 22 de junho faleceu o diretor de cinema norte americano Joel Schumacher. Embora não tenha se destacado por uma visão autoral da qual o cinéfilo poderia identificar, por outro lado, foi um diretor empenhado em fazer o melhor que podia em sua profissão em uma Hollywood que sempre teve o interesse de arrecadar dinheiro nas bilheterias ao invés de criar alguma dose de reflexão. Por essa observação, constato que Schumacher atuou neste ramo em meio aos dois planos.
Quando queria nos dizer algo o cineasta lançava obras interessantes como "O Cliente" (1994) e "Tempo de Matar" (1996), sendo que esse último é corajoso ao colocar o dedo na ferida com relação ao racismo ainda incrustado nos dias de hoje em solo norte-americano. Ao mesmo tempo, lançou filmes divertidos, como o ótimo exemplo que foi "Garotos Perdidos" (1987), filme protagonizados por vampiros, que sintetizava a geração rebelde e sem causa dos anos oitenta. Infelizmente Schumacher ficou por muito tempo sendo lembrado pelos dois infelizes capítulos da franquia Batman que ele dirigiu, intitulados "Batman Eternamente" (1995) e "Batman e Robin" (1997), sendo que se último é apontado por alguns como um dos piores filmes da história do cinema.
Mesmo fazendo obras que limpassem essa imagem, como no caso do genial "Por Um Fio" (2002) e "Tigerland - A Caminho da Guerra" (2000), isso acabou não sendo o suficiente para que o público cinéfilo apagasse em sua memória essa má fase. Anos mais tarde, para surpresa de todos, o próprio Joel Schumacher pediu desculpas para todos os fãs do homem morcego e dizendo que, na época quando realizou as duas obras, eram somente produtos para vender brinquedos, bebidas e camisetas. Uma forma corajosa de nos dizer o quanto o capitalismo continua incrustado hollywood e da qual somente pensa na melhor, ou na pior forma de se ganhar dinheiro.
Fazendo essa análise resumida de sua carreira no cinema, podemos concluir que, sem dúvida alguma, sua maior obra prima seja "Um Dia De Fúria" (1993), filme que mostra o cidadão comum se revoltando contra o sistema cheio de regras em sua volta e que decide criar as suas próprias regras em sua jornada. Em sua melhor atuação de sua carreira, Michael Douglas interpreta William Foster, trabalhador a serviço dos EUA, mas que enfrenta um péssimo dia no trânsito e começa a ficar com raiva por conta disso. Atenção para esse prólogo em que ocorre na na hora do rush, em uma Los Angeles tomada por movimentos agitados, calor terrível e pessoas se destacando em seus limites de tolerância.
É nesse cenário que Foster desisti de seguir as regras, ao sair do carro e ir a pé até sua casa para rever a sua família. De imediato não sabemos quem realmente ele é, mas aos poucos a gente vai conhecendo a sua pessoa, na medida em que ele vai cruzando com as pessoas daquela cidade e revelando a sua real face. É nessa jornada que constatamos que Foster é o típico cidadão Branco norte-americano, moldado pelo governo que vende o país como a terra das oportunidades, mas que é largado as traças uma vez que o próprio cidadão se torna inviável em seus interesses.
O filme se passa no início dos anos noventa, época em que a propaganda da utopia e cheia de luz da vida norte americana da era Ronald Reagan havia passado e sintetizando tempos de transformação em que o cidadão conservador norte-americano não estava preparado. Foster seria esse conservador despreparado perante a essas mudanças, das quais ocorrem em sua frente na medida em que ele avança em direção a sua casa, mas da qual ele reage com certa violência. Porém, Foster não é um fascista, mas sim um cidadão em que acreditava nos princípios em que haviam lhe ensinado e reagindo com violência contra aquilo que ele acha injusto.
Ao mesmo tempo, há o outro lado da moeda, que é o Detective Martin Prendergast, interpretado pelo sempre competente Robert Duvall. Prendergast é a representação da ordem na trama, mas que está prestes a se aposentar e que vive com a ferida ainda aberta devido à perda precoce de sua filha. Ao ver o caso de um homem (Foster) causando desordem na cidade de Los Angeles, ele enxerga ali a oportunidade de seguir atuando em sua profissão, pois no fundo não se vê fazendo mais nada do que isso.
Seguimos então duas linhas narrativas, ordem e caos, das quais reagem em uma cidade que mais parece uma panela de pressão. Porém, ambos reagem de formas distintas, mesmo compartilhando com pontos de personalidades parecidas. Por conta disso, o filme jamais cai em soluções fáceis, pois não estamos diante da típica luta entre o bem contra o  mal, mas sim sobre a história de pessoas comuns  que se veem em situações comuns, mas cuja a realidade é crua e muito distante da realidade em que se acreditava.
Não é toa, portanto, que o filme viria a se tornar um dos grandes títulos da década de noventa e se tornando uma forte fonte de inspiração para realização de outros títulos que viriam a surgir nos anos seguintes. Qualquer semelhança de "Um Dia de Fúria" com o argentino "Relatos Selvagens" (2014) não é mera coincidência, pois ambos destacam a reação do cidadão comum perante uma situação que sempre quis reagir, mas que teve sempre medo de praticar. Em ambos os casos, são filmes em que nos identificamos com os protagonistas, pois lá no fundo do nosso íntimo sempre temos um demônio prestes aflorar, mas que tentamos jamais libertar.
Joel Schumacher poderá até ser lembrado por alguns dos seus erros cinematográficos, mas "Um Dia de Fúria" será sempre lembrado como o seu maior triunfo. 

Onde Assistir: Em DVD, Youtube e Google Play Filmes.  

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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Vidas em Jogo' (1998)


No filme anterior, percebe-se que os personagens centrais se encontram presos a uma realidade constante da violência, cuja a cidade sem nome parece, por vezes, um calabouço e que não dá nenhuma boa perspectiva com relação ao futuro. Em "Seven",  David Fincher começa a fazer uma crítica ao sistema pelas entrelinhas, onde a sociedade da década de 90 começa a ser tragada pelo capitalismo cada vez mais desenfreando, fazendo de uma sociedade cada vez mais perder os seus reais valores e culminando no surgimento de um assassino em série para que mudasse o curso daquela realidade nada reconfortante. É então que chegamos a "Vidas em Jogo" (1997), onde nos é apresentado um protagonista que tem tudo, mas que perdeu o seu lado humano.
Com roteiro de John D. Brancato e de Michael Ferris, o filme é estrelado por Michael Douglas, que interpreta o Nicholas Van Orton, uma versão light de seu aclamado personagem do clássico Wall Street – Poder e Cobiça. Ele é um investidor milionário que trata tudo e todos com a mais completa indiferença. É seu aniversário quando o filme começa e as poucas pessoas que hesitantemente desejam “parabéns” recebem ou o silêncio absoluto em troca ou respostas por intermédio de sua secretária. Fincher estabelece essa personalidade também visualmente, trabalhando cores frias, posicionando a câmera sempre abaixo do personagem para mostrá-lo em sua imponência e deixando muito evidente, com um excelente set design, sua mais absoluta solidão, onde quer que esteja.
A trama esquenta quando a única pessoa que o vê como um ser humano, seu problemático irmão Conrad (Sean Penn), dá para ele um “vale-presente” de uma misteriosa empresa chamada CRS, sigla de Consumer Recreation Services (Serviços de Recreação para Consumidores), que, apesar do nome, não tem nenhuma relação com empresas de festas ou serviços de escort. Segundo Conrad, trata-se de serviços que podem mudar a vida de Nicholas, bastando, para isso, que ele ligue para lá. Não demora nada e a curiosidade do protagonista o leva até a CRS. O que acontece em seguida é o tal “jogo” do título em que Nicholas é arremessado em um elaborado e sofisticadíssimo esquema de role playing game.
É aí que a rotina do personagem se quebra e fazendo com que ele precise se virar de uma maneira da qual ele nunca havia feito antes. Fica claro que David Fincher vem nos dizer que esse personagem precisa de uma sacudida, de que ele estava alienado por muito tempo e preso a lembranças ruins do seu pai vindas do passado. Na medida que o personagem cai cada vez mais dentro do jogo, ficamos nos perguntando o que é realmente CRS e quais são as suas reais intenções. Seria somente uma organização querendo o dinheiro do protagonista?  Ou seria uma forma de tirar as pessoas de suas vidas rotineiras?
Não faltam simbolismo no decorrer do filme, desde uma São Francisco um pouco diferente do que é visto nos cartões postais do mundo real, como também pequenas peças significativas que moldam o quebra cabeça como um todo. Entre chaves e espelhos, há uma camada de referências ao clássico “Alice no País das Maravilhas” (1865) e “Alice através do Espelho” (1871) de Lewis Carroll. Há, por exemplo, uma cena digna de nota, onde vemos Nicholas presenciar sua casa ser invadida por inúmeras pichações peculiares na parede e com a música "White Rabbit", cantada pela banda “Jefferson Airplane” e que faz referência ao clássico de Lewis Carroll.
Todos esses simbolismos representan o despertar do protagonista perante o mundo do qual ele estava ignorando e na medida em que ele vai caindo na toca do coelho. Mas para acontecer isso, é preciso também ser feito, literalmente falando. Claro que não faltou detratores acusando o diretor e os roteiristas de criarem um final, por vezes, absurdo, mas que, ao meu ver, jamais escapou de sua real proposta principal.
Ao perder tudo, aparentemente, e cair em desgraça, Nicholas Van Orton volta a se sentir como um ser humano e desvencilhar do peso vindo do passado. "Vidas em Jogo" Um ótimo filme em sua proposta, mas que, ao meu ver, serviria de ensaio para o seu grande próximo filme.

Onde assistir: Google Play Filmes e Youtuber. 

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