Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Neste sábado, o Clube de Cinema de Porto Alegre te convida para mais uma sessão na nossa consagrada parceira, a Cinemateca Capitólio. Nesta ocasião, celebramos o cinema iraniano com a obra-prima de Kiarostami, "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?". Confira as informações abaixo!
SESSÃO CLUBE DE CINEMA DE PORTO ALEGRE
Local: Cinemateca Capitólio (R. Demétrio Ribeiro, 1085 - Centro Histórico)
Data: 08/06/2024, sábado, às 10:15 da manhã
"Onde Fica a Casa do Meu Amigo?"
Irã, 1987, 83 min, indicação etária livre
Direção: Abbas Kiarostami
Elenco: Babek Ahmed Poor, Ahmed Ahmed Poor, Khodabakhsh Defaei
Sinopse: Ahmed, de 8 anos, pegou por engano o caderno de seu amigo Mohammad. Ele precisa devolvê-lo, pois seu colega pode ser expulso da escola. Contamos com sua presença, até lá!
Atenciosamente,
Equipe diretiva do Clube de Cinema de Porto Alegre
Sinopse:Uma mulher começa a questionar a sua própria fé quando descobre uma terrível conspiração para provocar o nascimento do mal encarnado em Roma.
Existe um retorno cada vez mais forte do gênero de horror ao cenário do convento e que nos últimos tempos tem nos chamado atenção. O ótimo "Imaculada" (2024) obteve os olhares do público e da crítica mesmo não sendo um arrasa quarteirão como caso de filmes como "A Freira" (2018) que se tornaram esquecíveis na medida que o tempo passa. "A Primeira Profecia" (2014) é outro que surpreende em não se prender as velhas fórmulas e nos surpreendendo pela sua coragem ao nos apresentar uma trama que poderia se tornar comum nas mãos de outros que poderiam optar pelo convencional.
Dirigido pela estreante Arkasha Stevenson, o filme conta a história da jovem Margaret (Nell Tiger Free), que é enviada a Roma para viver a serviço da igreja. No local, ela se afeiçoa por Carlita, uma jovem quieta e sozinha, que também mora no convento. Ao questionar o passado e a situação da garota para as outras irmãs da igreja, ela é alertada para se manter afastada, mas coisas acontecem no local e a situação piora quando um padre (Ralph Ineson) revela a Margaret algo aterrador.
Por serem lançados no mesmo ano muitos irão comparar "Imaculada" a esse filme, muito embora "A Primeira Profecia" siga para um caminho que transite entre a originalidade e o lado um pouco mais convencional que o público está acostumado. Porém, a realizadora Arkasha Stevenson surpreende ao filmar a trama de uma maneira em que ela foge do que a gente está mais acostumado em franquias como "Invocação do Mal" e optando por algo mais realístico e que fale um pouco sobre o que estava acontecendo, por exemplo, no início dos anos setenta. Eram tempos mais questionadores, onde a juventude estava saindo as ruas protestar por diversos direitos e ao mesmo tempo a própria igreja estava perdendo os seus seguidores.
É a partir desse ponto que a obra transita entre o realismo com o sobrenatural, muito embora esse último fique em seguindo plano e fazendo a gente questionar sobre o que realmente está acontecendo naquele convento. Isso é sentindo principalmente pelo fato de vermos pela perspectiva de Margaret, sendo que a própria já havia sofrido de alucinações no passado e fazendo provocar em nós a dúvida sobre tudo o que está acontecendo. Embora tenhamos a sempre ótima Sonia Braga em cena, quem realmente se sobressai é a própria Nell Tiger Free que obtém a nossa atenção através do seu protagonismo e não dando espaço para os demais intérpretes, pois na medida em que a trama avança, a sua personagem cresce de tal forma que até mesmo nos assusta em uma determinada cena próximo ao fim da história.
O filme, por sua vez, não nos poupa de algumas cenas bastante peculiares, assustadoras e que até mesmo nos faz perguntar como foram liberadas. Há, por exemplo, a cena de uma horripilante parte do qual Margaret testemunha e possuindo uma peça subliminar nas entrelinhas da cena que irá dar o que falar se alguém mais atento fisgou esse momento. Pelo visto, Arkasha Stevenson foi astuta em provocar o público e exigindo maior atenção para aqueles que mergulharam na história como um todo.
Com uma belíssima edição de arte e fotografia de primeira, o filme só peca um pouco pelo seu final, do qual nos desafia pelo puro terror em cena, mas falha em querer deixar algumas pontas soltas para se ter uma eventual sequência. Nada que atrapalhe o resultado, pois é um longa que se diferencia de muitos filmes de horror convencionais e que tem pouco a dizer. Curiosamente, falo tudo isso e digo somente agora que esse é um prelúdio do clássico "A Profecia" (1976), mas que funciona com as suas próprias pernas e não se perdendo em referências aos clássicos e que somente elas surgem na reta final da trama.
"A Primeira Profecia" é um ótimo filme de horror ao saber brincar com a nossa perspectiva e obtendo assim a sua alma própria.
A segunda semana da mostra Ao Sentido Comunitário apresenta na Cinemateca Capitólio, a partir de 06 de junho, filmes de Jean Renoir, Roger Corman, Sara Gómez, Agnès Varda, Shohei Imamura, Isao Takahata e Ozualdo Candeias.
Na sexta-feira, 7 de junho, às 19h30, uma sessão especial destaca cinco curtas realizados nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Taquari pelo Saturno Filmes, coletivo formado por Leonardo da Rosa, Eloisa Soares, André Berzagui e Gianluca Cozza. Os realizadores participam de um debate após a exibição.
Nesta quinta-feira, 06 de junho, entra em cartaz na Cinemateca Capitólio As Linhas da Minha Mão, novo longa-metragem de João Dumans, diretor de Arábia. A obra ganhou o prêmio de Melhor Filme na Mostra Aurora da 26a Mostra de Tiradentes. O valor do ingresso é R$ 16,00.
Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/7315/as-linhas-da-minha-mao/
DOCUMENTÁRIOS FRANCESES EM CARTAZ
A partir de domingo, 09 de junho, a Cinemateca Capitólio apresenta três destaques do documentário francês contemporâneo: Os Anos do Super 8, dirigido pela escritora Annie Ernaux e por seu filho David Ernaux-Briot, Nós, de Alice Diop, e Sobre L’Adamant, de Nicolas Philibert, filme vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2023. O valor dos ingressos é R$ 10,00.
Sinopse: Depois de descobrir que pode ver os amigos imaginários de todos, uma garota embarca em uma aventura mágica para reconectar amigos imaginários esquecidos.
O ator John Krasinski surpreendeu o mundo ao dirigir "Um Lugar Silencioso" (2018), filme de horror e ficção que deu o que falar e gerando até mesmo uma franquia. Porém, a meu ver, ele não irá querer se limitar somente a esse gênero, sendo que em termos de atuação ele até se aventurou em "Doutor Estranho - No Multiverso da Loucura" (2022). Em "Amigos Imaginário' (2024) ele surpreende novamente ao dirigir um filme juvenil cheio de conteúdo, que faz nos lembrar de uma época mais inocente da infância e nos remetendo sobre o que nos faz realmente humanos.
O filme conta a história de Bea (Cailey Fleming), uma jovem que adquire a habilidade de ver os amigos imaginários de todas as pessoas após sofrer um evento traumático. Quando Cal (Ryan Reynolds) descobre seu extraordinário poder, ele se junta com Bea e os dois se unem para uma missão emocionante que jamais pensaram ter. A missão, faz com que as demais pessoas da cidade possam rever os seus amigos imaginários novamente.
Quando criança eu sempre gostava de imitar os movimentos dos desenhos animados, ou imaginar estar ao lado deles em meio a grandes aventuras. Se eu tive um amigo imaginário ou não eu não sei, mas sei que era uma época mágica, dourada e cheio de riquezas que vinham através da minha imaginação. O filme de John Krasinski me trouxe à tona isso, pois ao que tudo indica estamos cada vez mais atarefados com o nosso dia a dia, fazendo a gente se esquecer da simplicidade e de sonhos que ainda podem ser alcançáveis.
Curiosamente, o filme possui um teor que nos remete ao cinema mais simples, mais singelo e principalmente ao que era visto nos anos oitenta e começo dos anos noventa. Alguns poderão dizer que o filme se sustenta através dessa onda nostálgica que todos estamos desfrutando atualmente, mas o longa possui personalidade própria através de sua mensagem positiva e através de ótimas e belas passagens da trama. A cena em que a avó da menina dança como antigamente, cuja música ao fundo remete a um grande clássico do cinema, está entre os melhores momentos da obra.
Uma coisa curiosa é os seus efeitos visuais que, embora vários, são usados em prol da história e sem jamais polui-la. Em uma determinada cena, por exemplo, o personagem de Ryan Reynolds sai de uma pintura e fazendo com que ficasse todo sujo de tinta. A cena em si me lembrou fortemente, tanto o clássico "Sonhos" (1990) do mestre Akira Kurosawa, como também o pouco lembrado, mas que deve ser redescoberto "Amor Além da Vida" (1998).
Falando em Ryan Reynolds é sempre bom vê-lo à vontade sendo um verdadeiro canastrão, mas não de forma negativa, mas sim sabendo se casar com a proposta principal da obra. Já Cailey Fleming também se sai bem ao fazer uma jovem que conhece a dor da perda, mas tendo uma força interna que a faz embarcar nesta incrível aventura e fazendo despertar nela uma força que até então ela desconhecida. Atenção para a cena em que ela conhece o lar dos amigos imaginários e que não deve nada a nenhum lugar mágico dos contos literários.
Com pouco mais de uma hora e meia, o filme cumpre o que promete, ao entreter as crianças, mas ao mesmo tempo despertando uma grande carga de reflexão para os adultos que forem assistir a obra. Em tempos em que cada vez mais a sociedade está presa em seus trabalhos e redes sociais é sempre bom ver um filme que nos ensina a voltar a usar as nossas mentes e liberar a nossa imaginação para voltarmos a sermos ricos em espírito. "Amigos Imaginários" é uma grata surpresa para os cinéfilos de todas as idades e principalmente para aqueles que nunca se limitaram no seu poder de sonhar.
Sinopse: Filme que conta a origem de Furiosa e os motivos que a levaram a se tornar o que se tornou.
George Miller entrou para lista dos principais cineastas do mundo ao realizar a trilogia clássica "Mad Max" (1979 - 1985). Trinta anos depois ele surpreendeu novamente com o seu "Mad Max - Estrada Fúria" (2015), filme vencedor de seis Oscars e que é sem sombra de dúvida um dos melhores filmes nestes primeiros anos do século vinte um. Eis que então o realizador retorna a esse universo apocalíptico em "Furiosa - Uma Saga Mad Max" (2024), longa que não supera a obra anterior, mas que novamente nos dá aulas de como se faz um belo filme de ação.
A trama se passa anteriormente aos eventos que a gente havia testemunhado no longa anterior. Aqui vemos a origem de Furiosa, sendo interpretada pelas atrizes Alyla Brownee e posteriormente por Anya Taylor-Joy, onde vemos como ela foi raptada do seu lar por lacaios do senhor da guerra Dementus (Chris Hemsworth). Buscando vingança, Furiosa se cria em meio aqueles que um dia ela mesmo terá que enfrentar ao lado de Mad Max.
Diferente do filme anterior, George Miller decide tirar o pé do acelerador, ao menos na primeira hora de filme, pois ele deseja que a gente entenda a construção de origem da personagem Furiosa. Por um momento até achamos que não estamos vendo um filme do realizador, já que os elementos que moldam a protagonista nos são apresentados de forma gradual, como se ele quisesse que as justificativas do olhar cheio de dor e ódio da protagonista fizessem algum sentido para nós. Neste último caso o resultado acaba se tornando eficaz, pois a transição entre as duas atrizes que interpretam a personagem quase não é sentida, pois ambas carregam o mesmo olhar de peso que ela obteve ao longo de sua jornada.
Infelizmente o realizador peca um pouco com o uso do CGI, ao menos na primeira hora do filme, onde claramente se vê que várias passagens da trama foram filmadas em estúdio e diminuindo assim a sensação de peso que tinha em abundância no filme anterior. Mas isso acaba sendo um pouco contornado pelo fato dos mais diversos tipos de absurdos que aquele mundo pós-apocalíptico nos é apresentado se tornem uma cortina de fumaça e evitando que o CGI não nos incomode muito. Porém, quando o realizador coloca a Máquina de Guerra na pista é então que retornamos ao que há de melhor na saga Mad Max.
Embora não tenha aquela aceleração quase enlouquecedora de "Estrada da Fúria", as cenas de ação são muito bem filmadas, sendo que a primeira cena de Anya Taylor-Joy com a Máquina de Guerra é digna de nota. É neste ponto, por exemplo, que surge Praetorian Jack (Tom Burke), personagem que possui todos os traços de um guerreiro da estrada assim como Mad Max e que se tornará grande aliado para a protagonista, mesmo nos momentos desesperadores e que irá desafiar a força de vontade da própria. Falando em Mad Max, aguarde pela rápida, porém, importante aparição do personagem e nos dando a entender que ele sempre esteve por perto dos principais eventos dessa terra devastada.
Vale salientar que o filme fortalece ainda mais os tempos do subgênero "bikes movies", onde as tramas eram quase sempre envolta de gangues e arruaceiros com as suas motocicletas envenenadas e que fizeram bastante sucesso nos anos setenta. George Miller fortaleceu esse tipo de filme com a sua trilogia original e, assim como o filme anterior, elas retornam aqui com força e nos brindando da maneira de como devem ser feitas as cenas de ação de verdade com essas máquinas. É uma pena, portanto, que nem todos irão captar a verdadeira mensagem com relação a elas, pois está mais do que na hora do CGI ser deixado totalmente de lado e voltarmos para um cinema mais cru e cheio de realismo.
É claro que é um filme que não agradará a todos, principalmente para aqueles que prezam por filmes mais convencionais, ou até mesmo por aqueles que somente aceitam o universo de Mad Max com o astro original que foi Mel Gibson. Outro fator que gerará debate é a interpretação de Chris Hemsworth como vilão principal, sendo que o seu trabalho nos soa caricato em diversos momentos e nos fazendo até mesmo rir do que temer a sua presença. Não sentimos ódio ou raiva quando surge o personagem, mas somente através de Furiosa que deseja a sua vingança e o que torna outro ponto negativo para o longa.
Para concluir, o filme vem em um momento que não sabemos ao certo onde o cinema irá parar. Em tempos de esgotamento do CGI, além de outros gêneros que se encontram meio moribundos, George Miller vem para nos dizer que cabe usar as velhas fórmulas de sucesso como se fazia antigamente, mas também usá-las com que há de melhor com a tecnologia atual, desde que não polua a trama. Não é uma tarefa fácil, sendo que requer até mesmo gastos astronômicos, mas tudo é válido para talentos que amam o cinema como um todo.
"Furiosa: Uma Saga Mad Max" é George Miller e cinema puro na veia e onde não há espaço para sutilezas em meio a crise que a Hollywood atual enfrenta.
O tempo destrói tudo, mas ao mesmo tempo revitaliza aquilo que foi criado a frente da sua época. Filmes, por exemplo, quando são bem-feitos e cuja proposta nos faz pensar como um todo, sobrevivem ao teste do tempo mesmo quando o longa já existe há uns cem anos. Quando uma obra dialoga com os dilemas perante as adversidades, pensamentos e acontecimentos do mundo real, a obra tende a não falar somente sobre o período em que foi criado, como também dialogar com o tempo em que vivemos. Em tempos atuais em que cada vez mais a discussão política está inflamada, gerando divisão entre classes e misturando a religião como um todo, se abre uma janela desoladora com relação ao nosso próprio futuro.
A ficção cientifica é um terreno que não fala sobre um possível futuro, mas sim fala sobre o nosso presente e sabendo se alinhar com que nos espera futuramente. Os erros do passado são colocados em pauta em nosso tempo e fazendo assim se abrir um leque de diversas possibilidades e das quais geram diversos debates. "O Planeta dos Macacos" (1968) é um desses casos em que os anos passam, mas se mantém mais atual do que nunca graças ao seu teor político, reflexivo e de como ainda não evoluímos para continuarmos existindo.
Baseado no romance de Pierre Boulle (autor da Ponte do Rio Kwai) que julgava a história infilmável para a época. Acabou se tornando um triunfo dos roteiristas Michael Wilson e Rod Serling (criador do seriado Além da Imaginação) e de Schaffner. Rendeu quatro continuações e duas series de TV, uma delas como desenho animado. Ganhou um Oscar especial de melhor maquiagem para John Chambers. Com personagens cativantes, o grande destaque fica para o casal de macacos Cornelius (Roddy McDowell) e Zira (Kim Hnter) que seriam peças importantes de toda a saga. O filme em si, era um retrato do medo daquela época perante as mudanças que poderiam surgir futuramente e ao mesmo tempo uma espécie de critica a hostilidade, crenças e a guerra uns contra os outros. Tudo moldado num único filme e que se encerra com chave de ouro devido à inesperada cena final que entrou para história do cinema.
Isso ainda é pouco perante o peso que o filme carrega, principalmente quando ele é revistado em cada revisão. Nota-se, por exemplo, o lado descrente de Taylor, interpretado pelo ator Charlton Heston, que embarcou em uma missão para descobrir vida fora da terra, pois nada nela o prendia devido ao caminho que a humanidade estava vivendo. Eram tempos em que o mundo ainda estava se cicatrizando devido as feridas da Segunda Guerra, os tempos de Guerra Fria já assombravam e a Guerra do Vietnã se tornaria um duro golpe do mundo real contra o os americanos. Revendo a obra atualmente nota-se que nada mudou, a humanidade não evoluiu, retrocedendo cada vez mais, discursos políticos inflamando ainda mais a situação ao invés de ajudar, guerras acontecendo a todo momento e nos colocando sempre à beira da extinção.
Claro que o estúdio Fox da época sempre tinha ambição de atrair um grande público devido a curiosidade em vermos macacos sendo os verdadeiros protagonistas da trama. Contudo, acho que nem eles esperavam tamanho teor político, religioso e o temor que muitos tinham naqueles tempos sendo levados as telas. Franklin J. Schaffner, por outro lado, fez o que pode em termos de ação para época, já que os estúdios sofriam certa crise naqueles tempos, mas isso não o impediu de criar momentos até mesmo frenéticos para os padrões da época. A cena de ação em que surgem os primeiros macacos montados em cavalos e caçando seres humanos com certeza pegou todos na época desprevenidos.
Esse momento, aliás, se torna ainda mais impactante graças a sua trilha sonora composta pelo maestro Jerry Goldsmith, que soube criar uma atmosfera mórbida principalmente quando surge os primeiros macacos. Quando a câmera foca pela primeira vez os rostos deles há um ensurdecedor som vindo de uma corneta e sintetizando o teor absurdo da cena. O peso dela se torna ainda maior graças a expressão de Taylor que não consegue acreditar no que está havendo em meio ao caos.
Não são meramente atores que vestem uma máscara, mas sim a mais pura maquiagem que levava horas para serem feitas nos seus rostos. Um ano antes, John Chambers havia criado uma cena teste com os atores para ver como ficaria e sendo o que foi visto era o mais próximo do clássico episódio The Eye of The Beholder da série "Além da Imaginação", mas cuja trama era algo completamente diferente. O simples teste serviu de exemplo de como a maquiagem poderia ainda evoluir e o resultado foi visto nas telas de cinema.
Mas, acima de tudo, o filme sempre será lembrado ao possuir um dos finais mais impactantes da história do cinema. Quando a Dra. Zira pergunta ao Dr. Zaius o que Taylor acharia além da zona proibida imediatamente ele responderia "o seu destino". Destino esse não somente do protagonista, como também da própria humanidade e sendo representada pela famosa cena em que o protagonista encara a terrível verdade ao ver a Estátua da Liberdade encravada na praia. O grito de revolta de Taylor não somente horrorizou as plateias dos anos sessenta, como ele ainda hoje ecoa nos dias de hoje ao nos darmos conta que não melhoramos em nada e o temor pela extinção se torna ainda forte a cada dia.
"O Planeta dos Macacos" é uma obra prima atemporal e que se fortalece ainda mais a cada revisão.
"Cuidado com a besta homem, pois ele é o peão do diabo. Sozinho entre os primatas de Deus, ele mata por esporte, prazer ou cobiça. Ele matará o seu irmão para ficar com a sua terra. Não o deixe procriar em grandes números pois ele transformará em deserto a sua terra. Enxote-o, faça-o voltar ao seu lugar na selva... pois ele é o mensageiro da morte."
29ª escritura, 6º verso da Lei do Planeta dos Macacos
(Planeta dos Macacos: O Homem que veio do futuro - 1968)
Sinopse: O jamaicano Bob Marley supera as adversidades para se tornar um dos o músicos mais famosos do mundo.
As cinebiografias de artistas do universo da música obtiveram grande sucesso através do público, mesmo quando as mesmas possuam alguns defeitos. Por melhor que seja, por exemplo, "Bohemian Rhapsody" (2018), o filme omitiu muitas passagens e distorceu alguns pontos especificos sobre a vida e a obra de Freddie Mercury. Já "Bob Marley: One Love" (2024), segue para um caminho parecido, mesmo possuindo a ideia primordial que o artista sempre passava em vida.
Dirigido por Reinaldo Marcus Green, o filme conta a história de Bob Marley (Kingsley Ben-Adir), ícone que revolucionou reggae. O longa reconta os importantes feitos do cantor para seu país a Jamaica, assim como as adversidades que o mesmo, a sua família, amigos e colegas passaram. Marley ficou conhecido por sua pregação pela paz e a fé rastafari. Porém, após sofrer um atentado, ele e sua esposa (Lashana Lynch) partem do país para fazer uma turnê, mas é através dela que novos dilemas irão surgir.
Por melhores que sejam as boas intenções em adaptar sobre a vida de Bob Marley, o filme possui alguns vícios constantes do cinemão norte americano, principalmente quando é retratar um país estrangeiro. Por melhor que seja o retrato da Jamaica, por exemplo, é irritante perceber que os realizadores teimam em usar uma fotografia alaranjada, como se todo o país fora dos EUA fosse quente o suficiente para parecer tudo desta forma. O filme é produzido por Brad Pitt, mas ao meu ver ele precisa viajar um pouco mais para conhecer melhor o mundo real.
Além disso, o filme tem a participação da família na produção, o que faz com que o filme se torne mais conservador do que deveria e que com certeza omitiu passagens mais polêmicas do artista. Porém, ao menos o ator Kingsley Ben-Adir soube captar o que foi Bob Marley em vida, sendo alguém que evitou usar a arma de fogo, mas sim usando a música para tocar nas pessoas e fazer das mesmas se tornarem melhores ao invés de só guerrearem. Além disso, a proposta de saber perdoar ao invés de se vingar é valida, mesmo para tempos como hoje em que as pessoas não sabem mais ao certo o que é praticar o bem para o seu próximo.
Para os fãs o filme é um verdadeiro prato cheio, principalmente pelo fato de boa parte dos seus grandes sucessos embalarem a trilha sonora no decorrer do longa. O album "Exodus", um dos maiores sucessos de sua carreira, é o grande destaque da trama, principalmente na cena em que um determinado personagem questiona simplicidade da capa, quando na verdade o que contava era o seu próprio conteúdo em si. Marley não buscava por um retorno financeiro, mas sim deixar a sua mensagem viva para aqueles que buscavam uma paz de espírito.
Infelizmente o filme nos passa aquela sensação de que poderia ter sido melhor, que poderia ter explorado ainda mais a faceta desse grande artista e não se intimidar com as consequências. Bob Marley era um desses gênios cujo corpo humano não era forte o suficiente para mante-lo neste mundo, mas deixando para nós a sua obra como um todo. Ou seja, é um filme que somente nos dá a superfície, mas faltando algo a mais para a gente compreender melhor a sua real essência.
"Bob Marley: One Love" é uma cinebiografia que ficou aquém do esperado perante do que foi Bob Marley, mas ao menos a sua mensagem que sempre pregou em vida está lá para a gente se lembrar sempre quando der.