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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Holy Spider'

Sinopse: Uma jornalista investiga o submundo da cidade sagrada iraniana Mashad, em busca de um serial killer de prostitutas. Conhecido como Spider Killer, o assassino acredita estar numa missão espiritual de limpar as ruas do pecado. 

Embora com poucos títulos de sua autoria, o diretor Iraniano, Dinamarquês e Sueco Ali Abbasi tem chamado atenção ao realizar contos que transitam entre a realidade crua, mas alinhada com a fantasia. "Border" (2019), por exemplo, retrata seres extraídos dos contos de fadas, mas que caminham em uma realidade suja e tendo que se acostumarem com as regras da mesma. Porém, diferente dos seus títulos anteriores, o realizador decide explorar a verdadeira face da realidade do Irã em "Holy Sipder" (2022) e do qual certamente renderá debates acalorados por onde irá passar.

O filme acompanha a história real de um dos seriais killers mais temidos do Irã que atuou entre os anos de 2000 e 2001. Saee Hanaei, conhecido como "Spider Killer" embarca em uma jornada "espiritual" onde está convicto que tem que limpar a cidade iraniana, Mashhad, da corrupção e imoralidade que, segundo ele, as prostitutas da cidade fazem para "sujar" a cidade. Após matar 16 mulheres que trabalham com sexo, ele fica cada vez mais desesperado com a falta de interesse do público da cidade com sua "missão divina". É então que a jornalista Arezoo Rahimi vai para a cidade para investigar os assassinatos.

Por estarmos acostumado em assistir aos filmes Iranianos dirigidos por mestres como, por exemplo, Abbas Kiarostami, esse "Holy Sipder" acaba nos dando um verdadeiro tapa na cara ao nos colocar frente a frente com algo mais cru ao retratar a realidade por lá na virada do milênio. Não que os filmes de Kiarostami eram fantasiosos, muito pelo contrário, mas ele seguia certas regras impostas pela censura como, por exemplo, retratar sempre as mulheres com o seu véu e vestidas de uma forma que não se visse as suas partes intimas. Aqui é diferente, principalmente na abertura onde vemos uma Iraniana sair a noite para se prostituir e não escondendo os hematomas dessa profissão.

A cena representa a forma como a mulher de lá é tratada de forma machista pelos que se dizem cidadãos do bem e que servem ao Alá. Infelizmente estamos acompanhando a primeira vítima da trama, da qual é brutalmente assassinada por homem misterioso, mas cujo o mistério não perdura muito. Logo se percebe nas entrelinhas que Ali Abbasi procura esclarecer que não estamos diante de somente um assassino, como também de um governo Patriarcado que devora as mulheres como um todo e os restos são devorados pelos seguidores completamente cegos.

Com a presença da personagem da atriz Zar Amir Ebrahimi, o filme ganha contornos de um suspense policial, chegando ao ponto de não dever em nada se formos comparar aos outros títulos, como por exemplo, a saga literária e cinematográfica Millennium. Curiosamente, a personagem de Zar Amir Ebrahimi possui um visual similar da famoso hacker Lisbeth Salander, além de possuir uma personalidade forte e não permitindo que o machismo ou preconceito lhe impõem contra ela. Portanto, é até uma pena que ela não tenha tido mais presença em cena durante a trama, mas foi o suficiente para ela ganhar o prêmio de Melhor Atriz no último festival de Cannes.

Ao meu ver, Ali Abbasi optou em dar um protagonismo maior ao assassino para falar sobre a própria sociedade e governo do Irã, sendo eles portanto os responsáveis pelas mortes dessas mulheres e tudo devido pelas leis alinhadas com as suas regras religiosas. O ator Mehdi Bajestani dá um verdadeiro show de interpretação, ao construir um personagem que demonstra ter sérios problemas, mas que ao mesmo tempo se encontra lúcido ao dizer que não se arrepende com relação ao que fez. As cenas em que ele diz isso comprovam que é um cidadão construído por uma nação moldada por um conservadorismo religioso retrógrado e que se tornou uma fábrica para o nascimento de outros monstros.

O ato final nos cria os mais diversos sentimentos, onde a sentença é imposta ao criminoso, mas ao mesmo tempo não escondendo o lado hipócrita de um governo que unicamente usa a religião para os seus fins corruptos. Além disso, os minutos finais se tornam simbólicos, do qual me fez lembrar do filme "O Reino" (2007), onde o mal pode até ser derrotado, mas as sementes que ficaram no percurso irão germinar para continuar o pesadelo. Uma geração inteira perdida por uma ideia e da qual não poderia continuar viva.

"Holy Spider" é um retrato do lado retrógrado do Irã de ontem e hoje e cuja as mulheres pagam alto preço ao se tornarem cadáveres empilhados em algum terreno obscuro. 


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Cine Dica: Cinemateca Capitólio celebra o centenário da atriz Ava Gardner

Para marcar a recente passagem dos 100 anos de nascimento de Ava Gardner (1922-1990), comemorado em 24 de dezembro último, a Cinemateca Capitólio programou uma pequena mostra com quatro filmes que estão entre os principais momentos da carreira da atriz norte-americana, celebrada à sua época como a mulher mais bela do mundo. Entre os dias 2 e 8 de fevereiro os espectadores poderão admirar a beleza e o talento de Gardner na tela grande, seja no clássico do cinema noir Os Assassinos (1946), filme que a consagrou; sob a direção do mestre John Ford em Mogambo (1953), que lhe deu sua primeira e única indicação ao Oscar de melhor atriz; ou ainda nos cultuados Os Amores de Pandora (1951) e A Condessa Descalça (1954), tidos pela crítica especializada como os dois títulos mais icônicos da filmografia da atriz.

Completando a programação, a Cinemateca Capitólio exibe os três filmes gaúchos premiados pela Accirs, a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, como os melhores do ano passado: o longa 5 Casas, de Bruno Gularte Barreto, e os curtas Madrugada, Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza, e Sinal de Alerta – Lory F., de Frederico Restori.


PROGRAMAÇÃO


Mogambo (1953)

Direção de John Ford

116 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

No Quênia, duas mulheres (Ava Gardner e Grace Kelly) disputam o amor de um caçador (Clark Gable). Aventura romântica dirigida pelo mestre John Ford, rodada em locações na África, com uso virtuoso do technicolor. Filme que deu a Ava Gardner sua primeira e única indicação ao Oscar de melhor atriz.


Os Amores de Pandora (1951)

Direção de Albert Lewin

124 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Em um pequeno porto espanhol chamado Esperanza, vive a bela e enigmática Pandora (Ava Gardner), uma mulher que mantém todos os homens do vilarejo aos seus pés. Um dia, um iate misterioso aparece na baía, comandado pelo misterioso Hendrick Van Der Zee (James Mason). Pandora se sente imediatamente atraída por ele, e logo descobrimos que Hendrick é o capitão do Holandês Voador, um navio fantasma do século 17, amaldiçoado a vagar eternamente pelos mares, a menos que Hendrick encontre uma mulher que o ame a ponto de dar a sua vida por ele. Obra-prima recentemente restaurada, admirada pelos surrealistas por sua atmosfera onírica. Como a sedutora Pandora Reynolds, Gardner está no ápice de sua beleza.


A Condessa Descalça (1954)

Direção de Joseph L. Mankiewicz

128 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Durante o funeral de uma condessa, dois homens relembram episódios do seu passado. A história começa na Espanha, onde eles convencem uma dançarina a se tornar atriz em Hollywood. A fama e a riqueza, no entanto, não lhe garantirão a felicidade. Ava Gardner brilha como Maria Vargas, em trama que inclui elementos de sua própria biografia.


Os Assassinos (1946)

Direção de Robert Siodmak

103 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Um ex-campeão de boxe, Sueco (Burt Lancaster) espera em um velho quarto de hotel pelos dois assassinos profissionais que deverão matá-lo. Um investigador (Edmond O'Brien), contra as ordens de seu chefe, irá pesquisar o caso do Sueco, e descobrir uma intricada rede de traição e crime ligada à máfia, e à bela e dissimulada Kitty Collins (Ava Gardner), uma mulher que consegue ser tão fatal quanto sensual. Baseado em um conto de Ernest Hemingway, o diretor Robert Siodmak conta a história desses personagens em uma surpreendente série de flashbacks, que se tornarão cada vez mais reveladores até o final. Filme que alçou Ava Gardner e seu companheiro de elenco Burt Lancaster ao estrelato.


5 Casas

Direção de Bruno Gularte Barreto

85 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Em uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul há cinco casas e cinco histórias que se confundem em uma mesma. Uma velha professora lutando para manter sua casa de pé, um jovem que sofre agressões por se recusar a esconder sua natureza, uma freira sendo transferida da escola que regeu com punho de ferro por décadas, um velho capataz em uma fazenda mal assombrada e um menino cujos pais morreram 20 anos atrás e que é hoje o diretor que volta para buscar as memórias de sua infância perdida e dar voz a essas pessoas.


 Madrugada (2021)

Direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza

19 minutos

Trabalhadores arriscam suas vidas invadindo trens em movimento para recolher restos de grãos e revendê-los. Noites de trabalho sem fim, em que corpos desaparecem, engolidos pela paisagem industrial do porto de Rio Grande e pela crise econômica brasileira.


Sinal de Alerta – Lory F. (2021)

Direção de Fredericco Restori

19 minutos

A vida breve e intensa da compositora Lory Finocchiaro, que nos anos 90, em Porto Alegre, se firmou como uma roqueira à frente do seu tempo. Como vários expoentes dos anos 90, acabou sendo vítima da Aids e faleceu antes de finalizar seu único disco.


GRADE DE HORÁRIOS

2 a 8 de fevereiro de 2023


2 de fevereiro (quinta-feira)

15h – Ava Gardner 100 Anos (Os Assassinos)

17h – Ava Gardner 100 Anos (Os Amores de Pandora)

19h15 – Madrugada + 5 Casas


3 de fevereiro (sexta-feira)

15h – Ava Gardner 100 Anos (Os Assassinos)

17h – Ava Gardner 100 Anos (A Condessa Descalça)

19h15 – Sinal de Alerta – Lory F. + 5 Casas


4 de fevereiro (sábado)

16h30 – Madrugada + 5 Casas

18h30 – Ava Gardner 100 Anos (Os Amores de Pandora)


5 de fevereiro (domingo)

16h30 – Sinal de Alerta – Lory F. + 5 Casas

18h30 – Ava Gardner 100 Anos (A Condessa Descalça)


7 de fevereiro (terça-feira)

15h – Ava Gardner 100 Anos (Mogambo)

17h – Ava Gardner 100 Anos (Os Amores de Pandora)

19h15 – Madrugada + 5 Casas


8 de fevereiro (quarta-feira)

15h – Ava Gardner 100 Anos (Os Assassinos)

17h – Ava Gardner 100 Anos (Mogambo)

19h15 – Sinal de Alerta – Lory F. + 5 Casas

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'A Última Festa'

Sinopse: A Última Festa é uma comédia romântica jovem que acompanha um grupo de quatro amigos em sua festa de formatura do Ensino Médio. Cada protagonista com seu dilema amoroso para resolver ao longo da noite, todos conectados pelas questões dessa geração. É a última noite enquanto adolescentes. 

Matheus Souza possui uma predileção ao explorar o lado complexo da juventude atual e da qual a mesma transita entre a morte da inocência e o começo de uma nova etapa da vida. Em "Apenas o Fim" (2008), por exemplo, ele fala sobre um jovem casal que decide terminar para obter novos rumos, mas não deixando para trás o que eles haviam construído no passado. "A Última Festa" (2023) fala sobre uma juventude que busca o verdadeiro significado do amor atual, quando na verdade está mais próximo do que eles podiam imaginar.

Em "A Última Festa", acompanhamos a festa de formatura de um grupo de estudantes que se preparam para seguirem suas vidas em diferentes faculdades. Em meio a festa, histórias acabam se cruzando. Um casal de namorados decide terminar o relacionamento para curtir a vida. Enquanto outro tenta ter a sua tão esperada primeira vez, mas é sempre interrompido. Na ambulância da festa, um casal improvável se conhece depois de os parceiros beberem demais. Um jovem com autoestima baixa é desafiado pelo menino mais bonito da festa. E assim segue o baile onde o quarteto central se mete em situações imprevisíveis.

Com coprodução em Portugal, é preciso reconhecer que o filme vai muito além de uma simples comédia romântica adolescente, pois visualmente a produção é caprichada e desde já uma das mais interessantes deste início de ano para o cinema brasileiro. Pelo fato da festa ter o tema sobre determinadas épocas, o filme é recheado de referências de outros tempos, talvez de períodos mais simples, mas dos quais as pessoas lidavam com os mesmos dilemas se formos comparar os de hoje. Em contrapartida, é notório que a fotografia siga a tendência com cores em neon, do qual não somente sintetiza sobre a juventude atual, como também a onda da diversidade que veio para ficar haja o que houver.

Curiosamente, é um filme sobre uma geração cada vez mais presa as suas redes sociais, onde alguns relacionemos nascem por aí, mas mal sabendo como realmente começar no mundo real onde as situações venham acontecer. Traições, fofocas é términos ocorrem a todo momento durante a trama e tudo isso orquestrado por diversas linhas de escrita sendo jogadas na tela e sendo uma representação do que ocorre nos celulares dos protagonistas. Um exemplo de como essa geração se mantém ainda mais presa a esses aparelhos, quando na verdade deveria desfrutar um pouco mais do seu próximo.

Matheus Souza consegue saber transitar muito bem o tom do filme, que anivela desde ao humor para os momentos dramáticos e porque não dizer apimentados, porém, com bom gosto. É interessante, por exemplo, como a sua câmera acompanha os seus protagonistas, onde diversos momentos o realizador tem uma leve tentação em fazer um grande plano-sequência, porém, tendo que frear para sempre direcionar para outra subtrama que acontece logo em seguida. Ao final, revelações são jogadas na tela, emoções são transbordadas para fora do copo e nos dando a sensação de que essa festa se encaminha para uma grande tragédia.

Ao final, testemunhamos o quarteto central tendo que enfrentarem os seus próprios dilemas particulares, seja com relação ao que se deseja futuramente, como também em saber como lidar com sentimentos em que os próprios não conseguem entender em hipótese alguma. Entre uma discussão e outra há uma transição para o amadurecimento e o preparo para a vida adulta, mesmo quando nada está planejado, mas é desta maneira que nos faz realmente humanos. "A Última Festa" é sobre términos e recomeços e tudo embalado com muita bebida, desabafos e se conhecendo a ti mesmo. 


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domingo, 29 de janeiro de 2023

Cine Especial: Próximo Cine Debate - 'O Milagre'

Sinopse: Em 1862, uma enfermeira inglesa assombrada por seu passado vai até um remoto vilarejo irlandês para investigar o jejum supostamente milagroso de uma jovem.

Sobre o Filme: 

Sebastián Lelio é um de muitos diretores latinos que tem chamado atenção ao conseguir dirigir diversos temas, tanto dentro como fora do seu país de origem. Se por um lado ele havia surpreendido em "Glória" (2014) e "Mulher Fantástica" (2017), do outro, ele provou não ter limitações em território estrangeiro ao dirigir o surpreendente "Desobediência" (2018). Em "O Milagre" (2022) ele adentra em um tema espinhoso, cuja a fé das pessoas pode acobertar o lado mais errôneo do ser humano.

No filme, inspirado no fenômeno do século 19 das "garotas em jejum" e adaptado do aclamado romance de Emma Donoghue (Quarto), na Irlanda de 1862, uma jovem para de comer, mas permanece milagrosamente viva e bem. A enfermeira inglesa Lib Wright é levada a essa pequena vila para observar Anna O'Donnell, de onze anos. Turistas e peregrinos se reúnem para testemunhar a menina que teria sobrevivido sem comida por meses. Nesse thriller psicológico, o grande mistério gira em torno dessa aldeia, que pode estar abrigando um santo - ou mistérios mais sinistros do que parecem.

Confira a minha crítica completa clicando aqui e participe do Cine Debate nesta terça.


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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Cine Especial: Revisitando 'Gata em Teto de Zinco Quente (1958)'

Por mais glamorosa que seja os anos dourados do cinema norte-americano há de se reconhecer que ele é um tanto que conservador para dizer o mínimo. Criado pela própria Igreja e pelos produtores da época, o Código Hays, por exemplo, serviu para censurar tudo aquilo que alguns acreditavam ser impróprio para a época, mas sendo extinguido no final dos anos sessenta quando a realidade já batia muito forte nas portas de Hollywood. Porém, antes disso, nem todos viam isso como um grande obstáculo.

Alfred Hitchcock era um que se divertia com essa censura, pois dava ele a chance de criar inúmeras cenas cujo o teor mais explicito ficava somente nas entrelinhas, mas tendo sido fisgado pelos cinéfilos mais antenados na época. No final do filme "Intriga Internacional" (1959), por exemplo, o casal central se beija na cabine dentro de um trem, sendo que último entra logo em um túnel e se tornando uma representação do ato sexual daquele momento. Mas eu acho que um dos filmes que melhor soube jogar contra a censura na época foi realmente "Gata em Teto de Zinco Quente", talvez um dos filmes mais corajosos daqueles tempos conservadores e até mesmo ousado para o mais puritano diga-se de passagem.

Dirigido por Richard Brooks, o filme conta a história de Brick (Paul Newman), um ex-famoso jogador de futebol americano, agora alcóolico pela vergonha, nega sua bela esposa (Elizabeth Taylor), a quem culpa, por causa de um incidente com seu amigo de campo Skipper, de ter abandonado sua carreira profissional. Brick também não quer saber de seu pai Harvey – ou “Big Daddy”, como todos o chamam, interpretado por Burl Ives -, que está morrendo de câncer, pois ambos nunca tiveram um diálogo aberto e são demasiado orgulhosos para se tornarem amigos nessa altura da vida. Porém, no dia do aniversário de Harvey toda a família está reunida, incluindo seu irmão advogado, e nesse dia segredos serão desenterrados e verdades serão ditas entre todos os presentes à festa.

O filme é baseado na obra do Tennessee Williams e cuja a trama fez grande sucesso nas peças de teatro na época. Com o sucesso monumental da versão cinematográfica de "Uma Rua chamada Pecado" (1951) parecia uma escolha obvia que seria Elia Kazan que fosse dirigir a versão para as telas, já que o mesmo havia dirigido algumas ocasiões a peça. Porém, coube Richard Brooks realizar a façanha e da qual muita gente almejava. Embora não sendo exatamente um diretor autoral, Brooks conseguiu a proeza de alinhar a linguagem teatral da história para o cinema e o resultado é fascinante, principalmente pelo fato de que quase o tempo todo os personagens se encontram no mesmo cenário, ou seja, a grande mansão onde ocorre os principais acontecimentos.

É uma reunião de família onde cada um naquele momento se encontra em um estado de ebulição e que a qualquer momento irá explodir. Isso acaba gerando uma sensação quase claustrofóbica, já que os personagens não tem para onde ir, como se aquela casa fosse a sua prisão e tendo que conviverem entre a mentira e segredos não revelados. Não me admira, por exemplo, que o filme serviu de inspiração para outras obras que vieram décadas depois, onde os realizadores criam tramas em que os personagens ficam em um único ponto do cenário e gerando assim cada vez mais atritos.

Mas o filme funciona graças ao seu grande elenco, sendo que os pilares principais se encontram entre Elizabeth Taylor e Paul Newman. Se o primeiro estava dando os seus primeiros grandes passos na carreira naquela época, Elizabeth, por sua vez, já era uma grande jovem atriz de talento extraordinário, além de uma beleza que encanta até nos dias de hoje. Várias atrizes estavam sendo cotadas na época para interpretar Maggie, mas Elizabeth nasceu para interpreta-la, ao ponto que as suas cenas com o seu belo vestido branco estão entre os momentos mais marcantes da história do cinema.

Tennessee Williams disse certa vez que o filme era desrespeitoso se for comparado a sua versão original e chegando até mesmo fazer propaganda contra a exibição. Mas não tinha como ser diferente, já que os pontos onde é revelado que o personagem de Newman era um homossexual e tinha um caso com o seu falecido amigo foi completamente limado durante a produção. Porém, sabendo do conteúdo, tantos os atores como o diretor souberam passar nas entrelinhas esse teor proibido para época e quem assiste hoje em dia repara facilmente nisso, principalmente no diálogo entre Brick e o seu pai Bi Daddy e que é magistralmente interpretado por Burl Ives.

Aliás, é nesse confronto entre pai e filho que ocorre a melhor parte do filme, já que esse último é colocado na parede pelo seu pai e logo em seguida começa a colocar para fora a sua relação conflituosa entre o seu melhor amigo e que havia se suicidado. Se na versão original o teor homossexual era óbvio, aqui é apenas identificado através do olhar dos interpretes e que contradiz o que eles falam naquele momento. Além disso, se percebe que há uma insinuação de impotência vinda do personagem Brick, sendo que o mesmo não sente prazer mesmo quando a sua esposa insinua de uma forma quase explicita e é nestes momentos em que Elizabeth Taylor enche a tela.

Mas, se por um lado sai de cena a questão homossexual, do outro, se tem um filme cheio de referências com relação aos dilemas vindos do mundo real, onde pessoas poderosas acabam obtendo uma vida tremendamente vazia, pois não realizaram o que realmente queriam em vida. Se por um lado Brick lamenta por não ser mais um jogador em seus tempos dourados, seu pai Daddy, por sua vez, se afogou de inúmeras coisas que comprou ao redor do mundo ao longo da vida, mas não obtendo a mesma felicidade que o seu pobre e falecido pai havia obtido. Essa cena em que ele desabafa para Brick ocorre no porão, sendo que ela me lembra muito ao do clássico final de "Cidadão Kane" (1941), sendo que aqui os personagens ainda tem a chance de encontrar o seu "rosebud" antes que seja tarde demais.

Ao longo das décadas a peça obteve inúmeras outras versões, mas "Gata em Teto de Zinco Quente" de 1958 ainda continua insuperável e caso estivesse vivo o dramaturgo Tennessee Williams não poderia mais negar esse fato. 



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Cine Dica: Estreias do Final de Semana (27/01/23)

 O Pior Vizinho do Mundo

Sinopse: Um viúvo mal-humorado cuja única alegria vem de criticar e julgar seus vizinhos exasperados encontra seu par quando uma jovem e animada família se muda para a casa ao lado, levando a uma amizade inesperada que vai virar seu mundo de cabeça para baixo. 



A Profecia do Mal

Sinopse: Uma poderosa empresa de biotecnologia possui uma tecnologia inovadora que permite clonar as pessoas mais influentes da história com apenas alguns fragmentos de DNA. Por trás dessa empresa está uma cabala de satanistas que rouba o manto de Cristo colocando-os de posse do DNA de Jesus. 



A Última Festa

Sinopse: Em A Última Festa, acompanhamos a festa de formatura de um grupo de estudantes que se preparam para seguirem suas vidas em diferentes faculdades. Em meio a festa, histórias acabam se cruzando. Um casal de namorados decide terminar o relacionamento para curtir a vida.


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Cine Dica: Semana de repescagem na Cinemateca Capitólio

Veludo Azul

A partir de quinta-feira, 26 de janeiro, a Cinemateca Capitólio oferece uma segunda e derradeira chance para os espectadores assistirem a alguns dos títulos programados na mostra A Era do VHS, que vem atraindo um grande público ao longo das últimas semanas.

A sessão de encerramento da mostra, na quarta-feira, dia 1º de fevereiro, às 19h, terá entrada franca. O filme exibido será escolhido pelo público entre os três títulos mais vistos da mostra. O resultado da enquete, feita através das redes sociais da Cinemateca Capitólio, será divulgado na segunda-feira, dia 30.

Além disso, entre os dias 26 e 29 de janeiro, acontece a repescagem da Sessão Plataforma, que exibe filmes de produção recente sem distribuição comercial no Brasil (a divulgação da mostra já foi enviada na semana passada).


GRADE DE HORÁRIOS

26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2023


26 de janeiro (quinta-feira)

15h – Picardias Estudantis (A Era do VHS)

17h – A Marca da Pantera (A Era do VHS)

19h – Dias (Repescagem Sessão Plataforma)


27 de janeiro (sexta-feira)

15h – Veludo Azul (A Era do VHS)

17h – Videodrome – A Síndrome do Vídeo (A Era do VHS)

19h – Întregalde (Repescagem Sessão Plataforma)


28 de janeiro (sábado)

16h30 – Mutzenbacher (Repescagem Sessão Plataforma)

18h30 – Crime Culposo (Repescagem Sessão Plataforma)


29 de janeiro (domingo)

16h30 – Eyimofe – Esse é Meu Desejo (Repescagem Sessão Plataforma)

18h30 – Uma Noite sem Saber Nada (Repescagem Sessão Plataforma)


31 de janeiro (terça-feira)

15h – Fuga para a Vitória (A Era do VHS)

17h – O Enigma do Mal (A Era do VHS)

19h15 – Beijo Ardente – Overdose (A Era do VHS)


1º de fevereiro (quarta-feira)

15h – Sexo, Mentiras e Videotape (A Era do VHS)

17h – Corpos Ardentes (A Era do VHS)

19h – Sessão de encerramento da mostra A Era do VHS, com entrada franca (filme será escolhido a partir de enquete com os espectadores)

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