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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 3 de março de 2020

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: 'Você não estava aqui' - Os tempos modernos que ninguém quer

Sinopse: Ricky (Kris Hitchen) e a sua família lutam arduamente contra as dívidas desde o colapso financeiro de 2008.  

Ken Loach conquistou o público e a crítica com o filme "Eu Daniel Blake" (2017), obra que fala sobre a burocracia implacável perante as pessoas que buscam pelos seus direitos trabalhistas. Nos últimos tempos, por exemplo, outros filmes vieram sintetizar cada vez mais sobre esse assunto, tanto em filmes que falam sobre um sistema implacável, como visto no recente "Coringa", como também sobre a divisão de classes cada vez mais explicita como foi vista em "Parasita". "Você Não Estava Aqui" fala sobre esses temas e de como a sociedade está cada vez mais sendo engolida pelo trabalho informal moldado pelo sistema capitalista corrupto e sem escrúpulos.
Na trama, Ricky (Kris Hitchen) e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora. No entanto, o trabalho informal não taz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros.
Com uma fotografia azulada e nada acolhedora, o filme se passa em Londres, mas que poderia se passar em qualquer parte do globo, pois o tema é universal e cuja as situações vistas na tela nós acabamos achando, infelizmente, bem familiares. Ricky sonha com a sua independência, mas as engrenagens no mercado informal o engolem sem dó e fazendo com que o protagonista seja drenado gradualmente até chegar ao ponto que não tem mais o controle. Além de um trabalho que não lhe trará equilíbrio, ele também procura se equilibrar nos problemas que surgem em sua pequena família, mas correndo sério risco de cair dessa corda bamba.
O filme explora tanto o trabalho de Ricky como entregador, como também de sua mulher Abby (Debbie Honeywood) como cuidadora de pessoas enfermas. É nesse ponto que também testemunhamos pessoas comuns jaz há muito tempo trituradas pelo sistema, mas que tentam sobreviver com o que tem e fazendo com que Abby se torne uma espécie de ouvinte para elas. Aliás, Abby surpreende ao tentar contornar os obstáculos que ela e seu marido enfrentam e chegando ao ponto de ser até mesmo mais forte do que ele perante situações, por vezes, difíceis de serem controladas emocionalmente.
A questão emocional, por exemplo, é colocada a prova em situações que colocam o protagonista em momentos que parecem que não há mais saída. Além de um trabalho que lhe suga, há também um filho rebelde pronto para explodir e fazendo com que Ricky não saiba mais o que fazer. Além de tudo isso, temos um patrão sem nenhum escrúpulo, mas que sabe como as engrenagens funcionam para fazer a maquina continuar andando e obtendo com o seu discurso em uma determinada cena o direito de nos dar um verdadeiro tapa na cara, porém, inesquecível pelo seu realismo e sinceridade mórbida naquele momento.
O ato final da obra nos puxa para um caminho sem volta, onde vemos o protagonista abraçar um sistema que lhe suga, mas fazendo ele acreditar que não tem mais escolha. Aliás, não há escolha, pois nós do lado de cá da tela sabemos que é um caminho árduo e sem volta, que cabe o mais forte sobreviver perante a um futuro incerto, nebuloso e sendo moldado por esse capitalismo atual e desenfreado. O final é de um grande realismo que nos esfrega na cara fortemente, mas do qual já estamos mais do que acostumados a receber por aqui no mundo real.
"Você Não Estava Aqui" é um retrato sobre nós mesmos sendo triturados pelo trabalho informal e que não nos dá nenhum direito de sonhar por um futuro melhor.  

NOTA: Filme visto pelos associados do Clube de Cinema de Porto Alegre no último sábado (29/02/2020).

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