Sinopse: O menino Toto se encanta pelo cinema e inicia uma grande amizade com o projecionista de sua pequena cidade. Já adulto e agora um cineasta bem-sucedido, Toto volta a lembrar de sua infância ao descobrir que seu velho amigo faleceu.
O cinema não vai morrer, não agora e talvez isso nunca venha acontecer. Mas aqui fala alguém que ama a sétima arte, que ama apreciar um belo filme ao lado de pessoas, mesmo quando essas sejam desconhecidas, pois não tem coisa melhor do que apreciar algo ao lado de alguém que tem o mesmo pensamento. Portanto trate de ficar com um pé atrás com relação ao que eu falo, pois sou suspeito, um amante do cinema e que vezes essa paixão cega.
A morte do cinema sempre esteve à espreita, talvez desde quando essa arte foi criada. Os seus criadores, os irmãos Lumière, não deram crédito a sua própria criação, veio então o cinema sonoro, cinema a cores, a televisão, vídeo cassette, DVD, Blu-Ray e, enfim, a Netflix. Tudo isso não foi o suficiente para matar o cinema, pois há um público sempre fiel para manter o seu coração pulsando e não permitindo que isso aconteça. Infelizmente vivemos a sombra do Coronavírus, o que obrigou vários cinemas a fecharem suas portas e fazendo com que muitos cinéfilos fiquem em prontidão pela retomada.
Será como antes? Difícil responder essa pergunta, mas o cinema sempre estará ali a nossa espera, pois a nossa história nos mostra que as artes prevalecem perante aos ventos da mudança, ou até mesmo da ignorância que nos cerca. O próprio cinema já lançou obras primas que são verdadeiras declarações de amor com relação a essa arte de contar histórias. Em um desses casos, o clássico do cinema italiano "Cinema Paradiso" (1988) é sem sombra de dúvida o exemplo mais genuíno.
Dirigido por Giuseppe Tornatore, do filme "Malena" (2001) o filme se passa nos anos que antecederam a chegada da televisão em uma pequena cidade da Sicília, o garoto Toto (Salvatore Cascio) ficou hipnotizado pelo cinema local e iniciou uma amizade com Alfredo (Philippe Noiret), projecionista que se irritava com certa facilidade, mas tinha um enorme coração. Todos estes acontecimentos chegam em forma de lembrança quando Toto (Jacques Perrin), agora um cineasta de sucesso, recebe a notícia de que Alfredo faleceu.
Giuseppe Tornatore tinha a intenção de que esse filme fosse uma espécie de "obituário" dos cinemas tradicionais e da indústria cinematográfica em geral. Porém, após o sucesso do filme, ele nunca mais mencionou isso. E com razão, pois o filme não é sobre a extinção sobre o cinema, mas sim como a sua magia prevalece através das memórias daqueles que sempre apreciaram a sétima arte. O pequeno Toto é uma espécie de representação de todo o cinéfilo que cresceu e levou essa paixão consigo, mesmo quando os ventos da mudança vem para destruir tudo.
O filme fala sobre a magia da infância, sobre épocas mais douradas, mas dando lugar ao amadurecimento, paixões não correspondidas e sobre os dilemas que o passado nos ensina. A relação de amor e amizade de Toto com o projecionista Alfredo é o coração pulsante do filme e é através dele que a sala de cinema vista no filme ganha vida a cada projeção vista na tela. Não deixa de ser apaixonante ver diversos clássicos na tela servindo, tanto como ingredientes crucias dentro da trama, como também símbolos que nos provoca pura nostalgia.
Nostalgia, aliás, que se torna o motor que move em diversos momentos do filme, principalmente quando a trilha sonora composta pelo mestre Ennio Morricone dispara em nossos ouvidos e fazendo a gente se emocionar como um todo. Assim como no clássico "Era Uma Vez no Oeste" (1968) a sua trilha sonora nos passa a sensação sobre o começo do fim das coisas, sobre a morte e o nascimento de uma nova ideia. No ato final do filme nós sentimos na pele a morte do cenário principal da trama, mas ficamos aliviados quando no epílogo constatamos que as nossas memórias pela sétima arte jamais serão destruídas.
Curiosamente, eu havia comprado esse filme em DVD anos atrás, mas havia colocado na minha prateleira particular e me esquecendo então de assistir. Foi então que o mestre Ennio Morricone veio a falecer dias atrás e decidi assistir aos filmes que ele havia composto as suas trilhas sonoras. Devo agradecer a mim mesmo pelo meu desleixo, pois se eu tivesse assistido a esse filme antes, talvez, não teria o mesmo impacto.
Assistir "Cinema Paradiso" agora, em um momento em que todos os cinemas se encontram fechados, faz ele ser mais atual do que nunca, mesmo quando o maior vilão contra essa arte seja bem diferente do que foi visto nos anos oitenta. Eu chorei junto com o protagonista, pois amor talvez seja a única forma de manter essa nossa paixão intacta e desfrutar futuramente ao lado de várias pessoas que sentem essa mesma sensação boa. "Cinema Paradiso" é uma declaração de amor a todos cinéfilos e que desejam sempre que as salas de cinema sobrevivam mesmo em tempos nebulosos que nos assombram.
Onde Assistir: Em DVD e Google Play Filmes.