É preciso estar fora desse planeta para nunca ter ouvido falar sobre King Kong, o famoso gorila gigante que se apaixonou por uma indefesa jovem e que escalou em direção ao topo do Empire State Building com ela em sua mão. A criatura gigante se tornou um verdadeiro símbolo da sétima arte, obtendo inúmeros fãs ao redor do globo e se tornando desde então um sucesso absoluto. Mesmo nos dias de hoje ele ainda é homenageado e lembrado em diversos filmes, séries, programas de tv e até mesmo vídeo games, tudo isso teve o seu início há exatos noventa anos atrás, ou mais precisamente 02 de março de 1933, sendo considerado por muitos estudiosos como o primeiro grande cinema espetáculo do início do cinema falado e desde então essa arte nunca mais foi a mesma.
Dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, a trama segue o famoso diretor de cinema Carl Denham (Robert Armstrong) que após encontrar um mapa para a desconhecida Ilha da Caveira, segue viagem para ela junto de sua equipe de filmagens. Chegando lá eles se deparam com uma tribo indígena que acaba sequestrando a jovem atriz e estrela do filme de Denham, Ann Darrow (Fay Wray) para ser oferecida como oferenda ao gorila gigante que habita a ilha e, então, a equipe é obrigada a adentrar a floresta para resgatarem ela.
Ao chegarem na floresta adentro para socorrer atriz eles descobrem que o grande gorila não é o único ser vivo de grandes proporções que vive no local. Há também vários seres pré-históricos que se encontram vivos por lá e fazendo da vida desse grupo um verdadeiro inferno, pois aos poucos são caçados e a maioria sendo mortos. Todos esses seres incríveis foram criados pela técnica de animação Stop-Motion e que, embora até a pouco tempo era considerada antiquada, atualmente está sendo bem reutilizada em obras como no caso de "Pinóquio" (2022) de Guilherme Del Toro. Para a época, esse recurso criado por Charles R. Knight foi uma verdadeira revolução em todos os aspectos, sendo que o Kong em si impressiona até nos dias de hoje e fazendo a gente se perguntar como os realizadores tiveram tanta paciência em fazer diversas cenas quadro a quadro.
Inicialmente estava sendo pensado em utilizar atores fantasiados para criar os enormes monstros, mas agora se percebe o quanto estavam certos em utilizar bonecos para dar vida e obtendo assim maior realismo. Todos os bonecos e maquetes confeccionadas são fascinantes, dando um verdadeiro espetáculo a combinação de ambos, principalmente nas cenas de luta entre Kong e Tiranossauro. Essa cena, aliás, é uma das mais empolgantes, pois ela é divertida, empolgante e terminando de uma forma surreal e surpreendente.
A obra consegue sintetizar a visão do ser humano com relação ao gorila gigante, mesmo quando nós do lado de cá da tela não enxerga da mesma forma hoje em dia. Para os personagens na trama, ele não passa de um ser monstruoso e que somente procura destruir o que encontra pela frente. Porém, se formos analisar mais a fundo, se percebe que as suas ações estão todas voltadas para a personagem Ann Darrow e fazendo com que isso sele o destino do gorila gigante.
No decorrer do filme vemos sempre Kong tentar manter a protagonista a salvo, tanto que ele a protege quando ela grita ao ver o Tiranossauro-Rex se aproximando. Mesmo sendo de forma subliminar o espectador atento irá perceber isso de imediato e fazendo com que a gente se simpatize com a criatura mesmo quando ele toca o terror, tanto na Ilha da Caveira como na cidade de Nova York. Neste último caso, o ato final reserva um dos momentos mais espetaculares da história do cinema.
Quando me perguntam qual é a melhor cena do filme eu digo de forma imediata que é aquela em que King Kong sobe até o topo do Empire State Building e luta com os aviões e fazendo da sequência a mais famosa "Via-Sacra" do cinema. Até hoje muitos se perguntam de que forma foi criada essa cena, pois ela impressiona pela sua escala, ousadia e culminando na morte trágica do protagonista e que fez muitos cinéfilos da época chorarem sem pestanejar. O próprio Merian C. Cooper não esperava essa reação do público e fazendo do resultado algo ainda mais precioso.
Mas embora o gorila gigante seja a verdadeira estrela o elenco humano não fica muito atrás, pois cada um ali tem o seu papel relevante dentro da trama. Tanto Fay Wray como Robert Armstrong e Bruce Cabot estão ótimos em seus respectivos papeis, sendo que a primeira possui um dos gritos mais famosos da história do cinema. Fay Wray interpreta a aspirante a atriz, Ann Darrow que é capturada por Kong e nos brindar com uma atuação digna de nota, pois ela consegue nos passar todo o horror que a sua personagem está sentindo nas mãos do gorila.
Robert Armstrong interpreta o famoso diretor de cinema, Carl Denham, sendo que o personagem é uma alusão ao próprio cineasta Merian C. Cooper, sendo alguém aventureiro e que busca as mais diversas aventuras pelo globo para obter as melhores imagens para os seus documentários. Já Bruce Cabot que interpreta o marinheiro Jack Driscoll, de início pensamos que seu personagem seja um pouco sociável, mas ao passar do filme vemos que na verdade ele é muito corajoso e que usara de todas as formas para resgatar a Ann.
Vale também destacar a trilha sonora realizada pelo compositor Max Steiner para o filme, sendo ela uma das primeiras trilhas da história criadas especialmente para um longa-metragem. Ela consegue nos transmitir todos os significados das cenas, sendo que as notas se casam de tal forma em determinados momentos que ficamos impressionados em todos os sentidos. Belo exemplo é a cena da primeira aparição de Kong, sendo a trilha faz com que ela se torne dramática e cheia de suspense.
Por fim, "King Kong" é com toda certeza um verdadeiro marco do cinema, sendo um filme revolucionário para época e sobrevivendo com bravura ao teste do tempo ao longo destes noventa anos.
NOTA: A Cinemateca Capitólio celebra o aniversário de 90 anos de King Kong, obra-prima de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack lançada em março de 1933, com uma sessão especial no sábado, 18/03, às 18h, comentada pelo pesquisador Marcelo Severo.
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