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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 22 de março de 2016

Cine Dica: Mostra de Cinema Argentino Contemporâneo na Sala P. F. Gastal

SALA P. F. GASTAL EXIBE FILMES ARGENTINOS INÉDITOS EM PORTO ALEGRE
 
A programação especial da 57ª Semana de Porto Alegre da Sala P. F. Gastal apresenta a mostra Nuevos Cines – Cinema Argentino Contemporâneo. Entre os dias 29 de março e 10 de abril, o cinema da Usina do Gasômetro (3º andar) exibe onze longas-metragens argentinos inéditos na cidade. Com curadoria do Giovani Borba e Leonardo Bomfim, produção da Livre Associação e apoio do Consulado Geral da República Argentina em Porto Alegre, a mostra também celebra o bicentenário do movimento que deu início ao processo de emancipação política da Argentina. O valor do ingresso é R$ 4,00 – a exceção é a sesão de abertura e o Projeto Raros, ambos com entrada franca.
 
 
NUEVOS CINES – CINEMA ARGENTINO CONTEMPORÂNEO

A mostra Nuevos Cines – Cinema Argentino Contemporâneo apresenta uma seleção de longas-metragens realizados na Argentina que não têm distribuição comercial no país. Bastante diversificada entre temáticas e olhares, o ciclo propõe um retrato da geração que escreve neste momento uma parte importante da história do cinema de invenção do país, com produções independentes que se destacaram em festivais e mostras ao redor do mundo.
 
A sessão de abertura exibe Dois Disparos, o mais recente longa-metragem de Martín Rejtman, nome decisivo do cinema independente argentino desde o início da década de 1990, época em que lançou o cultuado Rapado.  O filme é citado como o outro lado da moeda recordista Relatos Selvagens pelo crítico Martín Alomar na Revista Teorema. Representam, segundo o crítico, “duas visões completamente oblíquas, maneiristas e necessárias do que a ‘argentinidade’ significa no imaginário dentro e fora de nossas fronteiras (termo anacrônico, se eles existem), construindo identidade, mas também a questionando”. Repleto de digressões e ousadias narrativas, Dois Disparos busca um desconcertante retrato da classe média argentina e da convivência familiar, pontuado por um humor de viés absurdista e pela vontade de lançar um olhar afetuoso às inconstâncias juvenis.
 
A mostra dedica uma parte da programação à admirável produtora El Pampero Cine, que surge em 2002 com a proposta de experimentar e renovar as práticas cinematográficas do país. Resgatamos dentro de seu catálogo um filme incontornável do cinema contemporâneo, Histórias Extraordinárias, de 2008, uma coleção ficções com mais de 4 horas de duração do diretor, roteirista e produtor Mariano Llinás, um dos principais mentores da nova geração argentina. Em O Escaravelho de Ouro, Alejo Moguillansky aproveita a parceria com a cineasta sueca Fia-Stina Sandlund e a inspiração de Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson para colocar em debate várias tensões, como as relações entre latino-americanos e europeus, entre mulheres e homens e entre os cinemas independentes e aqueles bancados por fundos internacionais. O contraponto ao gosto alucinado pela fantasia e pelos jogos narrativos dos dois filmes é o minimalismo sereno de A Mulher dos Cachorros, de Laura Citarella e Verónica Llinás, sobre uma mulher (interpretada pela própria Llinás) soberana e solitária que vive acompanhada pelos seus companheiros caninos.  
 
Outro nome de destaque do jovem cinema é Matías Piñeiro, diretor de Viola, exibido em Porto Alegre na Sessão Plataforma em 2014. Trouxemos seu último longa-metragem, A Princesa da França, uma ode ao teatro e aos encontros e desencontros amorosos. O quarto longa-metragem de Piñeiro reforça o lugar do cineasta dentro do cenário contemporâneo: é um dos poucos que ainda instiga as possibilidades da mise en scène e da dramaturgia cinematográfica.   
 
O Movimento é o novo filme de Benjamin Naishtat, diretor que teve sucesso no circuito comercial porto-alegrense com seu primeiro longa-metragem, Bem Perto de Buenos Aires, lido como uma espécie de O Som ao Redor argentino, por revelar as tensões entre as classes sociais dentro de um condomínio fechado. Na nova obra, o cineasta embarca em outro contexto e, trabalhado de forma extremamente estilizada, investiga as conspirações políticas que aconteceram na primeira metade do século dezenove, um período histórico bastante delicado da Argentina.
 
Aos 64 anos, Raúl Perrone é o nome mais radical e prolífico do nuevo cine argentino. Muitas vezes inclassificáveis, seus filmes conseguem ao mesmo tempo assumir inspirações do período silencioso, aproveitando a janela reduzida da imagem e a pequena quantidade de diálogos, e documentar um estado de espírito contemporâneo, através da presença da música pop e de sonoridades eletrônicas. Extremamente audacioso, P3ND3JO5 resume bem a obra do diretor, unindo a pulsação juvenil dos melhores filmes do norte-americano Gus Van Sant à busca pelo sublime visual de mestres como o dinamarquês Carl Theodor Dreyer.
 
Para além da Capital, também marcam presença destacados filmes produzidos em Córdoba, da geração conhecida como el nuevo cine cordobés. Exibido na Forum, a seção mais transgressora do Festival de Berlim, a estreia de Mariano Luque, Salsipuedes, introduz uma atmosfera de estranhamento nas longas crises de um casal em um cenário bucólico.   Atlântida, primeiro longa-metragem de Inés María Barrionuevo, aborda com sutileza as descobertas amorosas e a relação turbulenta entre duas irmãs adolescentes. Yatasto, de Herme Paraluello, documenta com um olhar livre o cotidiano juvenil de Villa Urquiza, bairro pobre da periferia da cidade.
 
A mostra ainda apresenta uma edição especial do Projeto Raros com a exibição do documentário Uma Importante Pré-Estreia, de Santiago Calori, um apaixonante retrato da cinefilia argentina e dos saudosos cinemas de rua das décadas de 1960, 70 e 80.
  
PROGRAMAÇÃO
 
Histórias Extraordinárias
Direção: Mariano Llinás
(Historias extraordinárias, 2008, 245 minutos)
 
Nos Pampas Argentinos, três homens anônimos, X, H e Z, enfrentam seus medos, obsessões e idiossincrasias. X, única testemunha de um assassinato, foge e se esconde com receio de que os assassinos o tenham visto. Z consegue um trabalho enfadonho em uma pequena cidade rural, e, para espantar o tédio, decide investigar o misterioso passado de seu antecessor no emprego. Já H ocupa-se de uma estranha tarefa: percorrer todo o Rio Salado a bordo de um pequeno barco em busca dos monolitos de um projeto de clube aquático abandonado. Exibição digital.
 
Salsipuedes
Direção: Mariano Luque
(Salsipuedes, 2012, 66 minutos)
 
Eles tiveram sorte: o camping para onde viajaram fica em uma floresta com uma linda paisagem. O canto dos pássaros é suave e por sorte não há muitos turistas. No entanto, Carmen e o seu marido Rafa não conseguem aproveitar o feriado. Exibição em HD.
 
O Movimento
Direção: Benjamin Naishtat
(El Movimento, 2015, 70 minutos)
 
O filme revisita e reconstrói de maneira apocalíptica a história da Argentina. O caos reina no país, em 1835, e os Pampas se tornam uma terra sem lei e sem líder, constantemente em guerra. O ambicioso Señor vê no caos uma oportunidade para se erguer como líder e ditador do território e para atingir seus objetivos usa a força e o assassinato. Exibição em HD.
 
P3ND3JO5
Direção: Raúl Perrone
(P3ND3JO5, 2013, 150 minutos)
 
Um musical sobre adolescentes em um subúrbio de Buenos Aires. Exibição em HD.
 
A Mulher dos Cachorros
Direção: Laura Citarella e Veronica Llinás
(La Mujer de los Pejos, 2015, 98 minutos)
 
Llinás sobrevive em uma borda selvagem da cidade, cercada por cães e por pouco. Pouco abrigo, poucos humanos. Uma história sobre a solidão em seu modo majestoso, misterioso e triste. Exibição em blu-ray.
 
Dois Disparos
Direção: Martín Rejtman
(Dos Disparos, 2014, 95 minutos)
 
Em um dia de verão particularmente quente, Mariano, um adolescente de 16 anos, encontra uma arma de fogo ao procurar ferramentas em sua casa, e acaba disparando contra si mesmo. Mas, para a surpresa de todos, inclusive dos médicos, Mariano sobrevive com a bala dentro de algum lugar de seu corpo. Seu único efeito colateral parece ser a misteriosa nota breve que emite ao tocar com seus amigos. Mas o ato impulsivo de Mariano terá outras consequências sobre as pessoas que o rodeiam. Exibição em HD.
 
O Escaravelho de Ouro
Direção: Alejo Moguillansky e Fia-Stina Sandlund
(El Escarabajo de Oro, 2014, 102 minutos)
 
Todos lutam: cineastas europeus contra cineastas latino-americanos; cinema independente contra fundos de financiamento para os países emergentes; civilização contra a barbárie; Norte contra o Sul; piratas contra piratas; um velho político do século XIX contra uma antiga poeta feminista do século XIX; produtores contra diretores; Poe contra Stevenson; Long John Silver contra o Capitão Smollett; aventura contra dinheiro; beleza contra a ganância; busca pela Verdade e  Sabedoria contra a Hipocrisia e a Crueldade; ricos contra pobres; homens contra mulheres; ficção vs. realidade. Todos lutam, mas apenas um ganha. Exibição em blu-ray.
 
A Princesa da França
Direção: Matias Piñeiro
(La princesa de Francia, 2014, 66 minutos)
 
Victor retorna a Buenos Aires após a morte de seu pai e decide realizar um novo projeto para sua antiga companhia de teatro. Mas essa se mostra uma tarefa difícil, pois Victor deve reunir seu grande elenco feminino, ligado ao diretor por uma série de laços românticos do passado. O filme é o resultado de uma imersão de oito anos com o mesmo grupo de atores. Inspirado pela peça de Shakespeare, Trabalhos de Amor Perdidos. Exibição em blu-ray.
 
Uma Importante Pré-Estreia
Direção: Santiago Calori
(Un importante preestreno, 2015, 72 minutos)
 
O documentário conta a história por trás da história da cinefilia de Buenos Aires nos anos sessenta, setenta e oitenta. Como o espectador argentino conseguiu assistir filmes censurados ou banidos durante certos períodos históricos do país, e como certos distribuidores de filmes fizeram jogadas loucas de publicidade para lançar filmes. Exibição em HD.
 
Atlântida
Direção: Inés María Barrionuevo
(Atlantida, 2014, 88 minutos)
 
Argentina, 1987. É um dia quente de verão e uma tempestade lentamente se aproxima da cidade. Lucia e sua irmã Elena lutam contra o calor na piscina local, onde a fofoca é o principal esporte. Elena conhece Ignacio, um médico com o dobro de sua idade, Lúcia encontra-se com Ana, uma amiga de sua irmã, e juntos eles vão para a periferia da cidade. As duas irmãs vivem um momento de iniciação, que começa e termina nessa tarde de tempestade – e onde nada mais será o mesmo para elas. Exibição em blu-ray.
 
Yatasto
Direção: Hermes Paralluelo
(Yatasto, 2011, 95 minutos)
 
O documentário de estreia do diretor tem como cenário Villa Urquiza, bairro pobre da periferia de Córdoba (Argentina). Nele, três garotos são aprendizes de carroceiro. O filme acompanha sua rotina, a transmissão dos conhecimentos que precisam adquirir com os mais velhos, seu falar próprio e visão de mundo. Exibição em blu-ray.
 
 
GRADE DE HORÁRIOS
PRIMEIRA SEMANA
29 de março a 3 de abril de 2016
 
 
29 de março (terça)
19h – Coquetel
20h30 – Sessão de abertura com o filme Dois Disparos
 
30 de março (quarta)
20h – O Movimento
 
31 de março (quinta)
20h – P3ND3JO5
 
1 de abril (sexta)
20h – Projeto Raros: Uma Importante Pré-Estreia
 
2 de abril (sábado)
15h – A Princesa da França
16h30 – O Escaravelho de Ouro
18h30 – Histórias Extraordinárias

3 de abril (domingo)
15h – Salsipuedes
16h30 – A Mulher dos Cachorros
18h30 – Atlântida
 
GRADE DE HORÁRIOS
SEGUNDA SEMANA
5 a 10 abril de 2016
 
5 de abril (terça)
20h – Salsipuedes + Yatasto
 
6 de abril (quarta)
20h – O Escaravelho de Ouro
 
7 de abril (quinta)
20h – Atlântida
 
8 de abril (sexta)
20h – A Mulher dos Cachorros
 
9 de abril (sábado)
15h – Histórias Extraordinárias
19h30 – P3ND3JO5 + debate com os curadores
 
10 de abril (domingo)
15h – Dois Disparos
16h45 – A Princesa da França
18h – O Movimento
19h15 – Yatasto
  
Sala P. F. Gastal
Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia
Av. Pres. João Goulart, 551 - 3º andar - Usina do Gasômetro
Fone 3289 8133

www.salapfgastal.blogspot.com

segunda-feira, 21 de março de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: TERRA E A SOMBRA



Sinopse: Alfonso (Haimer Leal) volta para casa após 17 anos de ausência, devido à doença que seu filho sofre. A situação tem mobilizado toda a família, com a esposa dele e sua mãe trabalhando na plantação de cana de açúcar para conseguir o sustento financeiro necessário. Mesmo com Gerardo (Edison Raigosa) praticamente trancafiado em casa, já que todas as janelas permanecem sempre fechadas para que não entre poeira, ainda assim ele não apresenta melhora no estado de saúde. Diante da situação, a família busca algum meio de interná-lo.



Atuado por interpretes amadores (atriz Marleyda Soto, intérprete da esposa do filho, é a única atriz realmente do elenco), o filme é franco desde o princípio na sua aproximação do qual faz com o setor primário da economia da Colômbia. Da fúria dos canavieiros, das queimadas ou mesmo da forma como a cana toma a casa, é evidente que o cineasta Cezar Azevedo condene a tomada industrial na agricultura colombiana e na forma como ela gradualmente acaba com a terra, agora virada em cinzas e sem nenhum sinal de vida. A doença do filho dentro da trama, assim como inúmeros outros exemplos a serem vistos, dá o movimento na história, na identificação dos efeitos do capitalismo selvagem sobre o homem, que dá pouco crédito e tão pouco dá assistência médica para aqueles que trabalham ferozmente abaixo do sol.
Os planos de dentro da casa são sombrios com o mais puro silencio. A penumbra e o silêncio comandam o cenário e transformando o ambiente num clima de luto em respeito ao rapaz doente após anos de sacrifício no trabalho de cana. Portas e janelas estão sempre trancadas para que não entre sujeita, o que demonstra um trabalho quase inútil visto a enorme montanha de cinzas que invadem o local por conta das fumaças das queimadas constantes de terrenos ao redor.
Esse cenário é um verdadeiro contraste quando nos deparamos com a parte externa da casa: quente e cantada aos sons dos passarinhos. A paisagem, embora simples, é muito bela de ser vista, registrada de uma forma sublime pela câmera e provando que, apesar dos problemas e dramas humanos, há ali uma natureza viva e boa para ser apreciada. 
O drama da família é um reflexo no espelho que reflete um problema sério vem do horror da exploração dos ricos pelos pobres. O médico do local é um inútil e nada faz pela recuperação do rapaz, além de lhe receitar meia dúzia de medicamentos, assim como nada se pode esperar dos chefões dos canaviais, que sugam os seus trabalhadores até o máximo possível sem sequer pagar os meses de trabalho a fio.
O filme tem uma aproximação com a nova onda que acontece no cinema do qual se chama ficção/documentário (filmes como Castanha) e, portanto prega uma aproximação quase documental, sempre deixando as imagens falarem por si, muito mais do que as palavras, que são bem curtas. A janela da casa, raramente aberta, mostra muito pouco o lado de fora da paisagem, que vai morrendo na frente dos nossos olhos devido à exploração do homem.
O lado cinematográfico é tão bem filmado que acaba reduzindo o impacto político trazido pelos temas colocados na mesa, nos conquistando mais pela manifestação estética. Algumas imagens se aproximam de um quadro em movimento, lembrando aquelas imagens que dá sempre a sensação de estarem se mexendo. O filme merecidamente ganhou o prêmio Câmera D’or no Cannes, destinado a diretores estreantes.
Acima de tudo, o personagem de Alfonso, que no principio poderia ser facilmente alvo de desprezo, ganha gradualmente um brilho cada vez maior dentro da história, abrindo o nosso olhar e perspectiva que não se contenta com maniqueísmos nem com respostas de simples solução. Uma obra realmente bem feita que nos leva a ficar atentos com os próximos trabalhos, não somente desse cineasta, como também do cinema colombiano como um todo.


  

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