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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Cine Especial: Retrospectiva 2024 e um Feliz 2025

Ano de 2024 está acabando e posso dizer que foram doze meses que eu fiquei muito ocupado, tanto em assistir muitos filmes, como também saber lidar com diversos obstáculos e dois quais muitos de nós enfrentaram. Para mim e para muitos que moram no RS foi um ano em que encaramos a primeira grande enchente depois de mais de oitenta anos e da qual nos afetou profundamente. Quando ela começou eu estava em Sapucaia do Sul e vi a minha cidade natal Porto Alegre ser sucumbida pelas águas e sendo algo que nunca imaginei testemunhar em vida.

Foi com muita tristeza, por exemplo, ao ver as salas que eu frequento como a Cinemateca Paulo Amorim ser inundada e fazendo com que o futuro do local se tornasse indefinido. Felizmente a união fez com que elas voltassem a funcionar, assim como também a Cinemateca Capitólio e Cinebancários que haviam fechado durante o evento climático. Infelizmente por conta disso acabei tendo pouco acesso ao cinema nacional, pois são através dessas salas que eu assisto o nosso patrimônio cinematográfico e que merece ser valorizado.

Na medida em que a situação foi normalizando eu prossegui participando dos cursos do Cine Um, criado por Jorge Ghiorzi, onde eu tive o prazer de conhecer pessoalmente o crítico de cinema Waldemar Dalenogare Neto e do qual eu muito admiro. Foi um ano que o meu trabalho como crítico ganhou um passo à frente ao fazer parte do Zineclube, um fanzine elaborado pelo Clube de Cinema de Porto Alegre, onde trabalhei fazendo análises especiais e fiz também uma nova parceria com o site Teoria Geek, onde eu faço críticas e análises por lá também. Não posso deixar de mencionar a iniciativa do Cine Debate, criado pela minha amiga e psicóloga Maria Emília Bottini, onde quinzenalmente nos reunimos online para debatermos determinado filme que é escolhido para assistirmos e darmos a nossa opinião.

Em termos de comparação ao ano passado, 2024 não foi exatamente um ano em que tivemos um grande número de ótimos filmes, sendo que Hollywood continua presa às suas franquias de sucesso e não se arriscando em realizar muitos filmes originais. Enquanto o gênero de Super-heróis para o cinema teve como o seu melhor representante  "Deadpool e Wolverine", em contrapartida, o gênero de horror mostrou a sua força plena em longas desafiadores e muito criativos diga-se de passagem. "A Substância" da diretora Coralie Fargeat não teve medo em tocar o dedo na ferida e ousando ao fazer uma crítica ácida contra a própria Hollywood.

Voltando ao nosso cinema nacional, Walter Salles surpreendeu a nós e o mundo com o ótimo "Ainda Estou Aqui" e fazendo com que o longa se tornasse um forte concorrente ao próximo Oscar e sendo algo que não acontecia já há um bom tempo. Atraindo mais de três milhões de cinéfilos brasileiros, o filme se tornou uma chama de esperança para que o público voltasse a enxergar o nosso cinema com novos olhos e fazendo com o futuro se torne bastante positivo. Resta saber se os futuros governos irão investir cada vez mais em nossa cultura, pois se não ficaremos somente na vontade de valorizar o que é nosso como um todo.

Enfim, desejo a todos um feliz 2025, ótimas sessões de cinema e cuja ida às salas continue sendo uma experiência muito prazerosa e que nenhum streaming irá superá-lo.  


Melhores Filmes Internacionais 2024:

01º A Substância

02º Wicked

03º Duna: Parte 2

04º Pobres Criaturas

05º Rivais

06º Love Lies Bleeding: O Amor Sangra

07º O Quarto ao Lado

08º Jurado Nº2

09º O Mal Não Existe 

10º Dias Perfeitos


Menção honrosa:  'Furiosa: Uma Saga Mad Max',  'Deadpool e Wolverine', 'Coringa: Delírio a Dois', Robô Selvagem, 'Um Homem Diferente', O Aprendiz, 'Megalópolis', 'Gladiador 2', 'Super/Man: A história de Christopher Reeve', Pisque Duas Vezes, 'O Menino e a Garça', "Zona de Interesse', 'Meu Amigo Robô', 'Guerra Civil', 'Sorria 2', 'Imaculada', 'A Primeira Profecia'. 


Melhores Filmes Nacionais 2024:

01º Ainda Estou Aqui 

02º Propriedade

03º Motel Destino 

04º Uma Família Feliz

05º A Paixão Segundo GH

06º Saudosa Maloca

07º Sem Coração

08º Placa Mãe 

09º Lupicínio Rodrigues: Confissões de Um Sofredor 

10º Placa Mãe 

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Histórias Que é Melhor Não Contar'

Sinopse: Com encontros inesperados, momentos ridículos ou decisões absurdas, cinco histórias ácidas e compassivas exploram a incapacidade de governar nossas próprias emoções.

Cesc Gay é um diretor espanhol que me chamou atenção há vários anos atrás quando dirigiu o ótimo e divertido "O Que os Homens Falam" (2012), onde o longa era dividido em oito tramas episódicas. Posteriormente o realizador nos provou ao saber alinhar drama com humor através do maravilhoso "Thuman" (2016). Neste "Histórias Que é Melhor Não Contar" (2022) retorna ao estilo do seu primeiro grande sucesso e provando que consegue ainda provocar no público grandes risos.

O longa é dividido em cinco tramas, onde grandes segredos e humilhações se cruzam e vêm à tona. Sendo situações das quais nós identificamos e que preferimos não contar, ou melhor, que preferimos esquecer a todo custo. Encontros inesperados, momentos ridículos ou decisões sem sentido é o que moldam o filme como um todo e fazendo dele um ótimo entretenimento.

Cesc Gay consegue de uma forma bastante refinada criar um humor não ofensivo, porém, adulto e que fará muitos se identificarem na trama como um todo. É como se fosse aquelas típicas situações das quais a gente guarda segredo, mas que na ficção os personagens começam a colocar para fora e gerando assim situações maravilhosamente desconcertantes. A primeira trama, por exemplo, poderia soar até mesmo homofônica, mas o realizador consegue a proeza de nos fazer rir da situação e ao mesmo tempo nos passar uma bela lição de moral.

Do elenco, dou destaque ao ator Chino Darín, filho do veterano ator argentino Ricardo Darín e que na trama protagoniza a história final. É nesta trama, inclusive, que se encontram os verdadeiros dilemas com relação a segredos e mentiras e que uma vez falando a verdade pode correr sério risco de outras revelações serem colocadas a prova e gerando assim uma grande bola de neve. O que parecia ser a trama mais fraca do longa acaba se tornando, talvez, a mais criativa.

Outro fato interessante é a forma como o realizador explora o universo particular das mulheres e de como as mesmas possuem características que não são muito diferentes dos homens com relação à fidelidade. Se em uma trama um trio de amigas se surpreendem com os segredos, ou mentiras uma da outra, por outro lado, a sinceridade da mulher pode levar o homem a procurar também ser sincero e acabar revelando, ou construindo, uma situação que não estava prevendo. A trama protagonizada pelo veterano José Coronado, por exemplo, nos brinda com maior complexidade sobre o assunto, já que nunca sabemos ao certo até onde a verdade é genuína sobre ambas as partes e fazendo dessa passagem do longa terminar de forma aberta, porém, bastante construtiva.

Ao final, tudo o que eu queria desejar é que o longa continuasse, já que são histórias absurdas, porém, bastante humanas e que conseguem fazer a gente se colocar na pele dos protagonistas. Em tempos em que é problemático fazer uma comédia devido a onda do politicamente correto, Cesc Gay consegue a proeza de extrair o leite da pedra e fazer das quase duas horas de sessão uma das mais rápidas que eu senti dentro de um cinema recentemente. "Histórias Que é Melhor Não Contar" nos convida para testemunhar situações embaraçosas, engraçadas e ao mesmo tempo verdadeiramente humanas.      

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domingo, 29 de dezembro de 2024

Cine Dica: Próxima Sessão Cineclube Torres - 'Sonhos de uma Noite de Verão'

 O ano de 2024 do Cineclube Torres encerra na segunda, dia 30 às 20h, com o filme shakespeariano  "Sonho de uma Noite de Verão".

Desde março, este ano foram mais de 50 sessões, sempre com entrada franca, na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto da Up Idiomas Torres. Um elenco de estrelas, com Michelle Pfeiffer e Kevin Kline, dá vida à imortal comédia romântica de Shakespeare, ambientada na Itália do final do século XIX. Quando dois casais de amantes desafortunados, um par de duendes sobrenaturais e uma poção do amor que deu errado se reúnem em uma encantada floresta sob a luz do luar, o resultado é uma deliciosa mistura de alegria e magia. 

A peça já tinha sido adaptada pelo Ingmar Bergman no filme "Sorrisos de uma Noite de Amor" e posteriormente, inspirado nesta versão mas de forma irônica e jocosa, pelo Woody Allen, em "Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão". A versão a ser exibida é a do norte americano Michael Hoffman, de 1999, que se vale de uma direção de arte magnífica para representar com brilho esta clássica comédia sobre os encontros e desencontros do amor.

O filme encerra o ciclo de dezembro, Solstícios, pois toda a trama se passa em pleno solstício de verão, na noite mais curta do ano.

A sessão, com entrada franca, integra a programação continuada realizada na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos com 13 anos de história, em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística certificada pelo Ministério do Turismo (Cadastur), contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.

Serviço:

O que: Exibição de "Sonho de uma Noite de Verão", de Michael Hoffman, ficção, 116min., 1999.

Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres

Quando: Segunda-feira, dia 30/12, às 20h.

Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).

Cineclube Torres

Associação sem fins lucrativos

Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva

Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus

CNPJ 15.324.175/0001-21

Registro ANCINE n. 33764

Produtor Cultural Estadual n. 4917

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Cine Especial: 'Nosferatu - O vampiro da noite'

Muitos acreditam que refilmagens são algo recente e que sintetiza a falta de ideias originais dos estúdios. Porém, elas sempre existiram desde o início da criação da sétima arte, pois basta pegarmos, por exemplo, o fato de conhecermos mais a refilmagem de "Ben Hur" de 1959 do que a sua versão lançada em 1925. É um caso raro da nova versão ser superior ao original, mas ela não foi a única.

Não é segredo para ninguém que o livro "Drácula" de Bram Stoker seja uma das histórias literárias mais adaptadas para o cinema, sendo que uma das primeiras e melhores adaptações até hoje tenha sido "Nosferatu" (1922) do realizador F. W. Murnau. O filme é um marco do expressionismo alemão e fica até mesmo dificil de imaginar uma refilmagem deste clássico que desce certo. Mas foi exatamente isso que aconteceu em 1979, com o lançamento de "Nosferatu - O vampiro da noite", dirigido pelo diretor Werner Herzog e que mesmo sendo uma refilmagem possui alma própria e que nos surpreende até hoje.

A trama é basicamente a mesma, onde assistimos Jonathan Harker, um agente imobiliário que visita a Transilvânia para fazer um negócio, ignorando o mal presságio de sua esposa Lucy. Ele visita o castelo do Conde Drácula e acaba se tornando prisioneiro deste. O vampiro então parte para a cidade de Weismar onde provoca uma verdadeira peste contra os habitantes.

Diferente do clássico de F. W. Murnau, onde o mesmo não pode usar os nomes originais do livro devido aos direitos autorais, Werner Herzog tem a liberdade de ser mais fiel ao conto literário, mas ao mesmo tempo não esquecendo a sua fonte principal e criando cenas que remete ao clássico do expressionismo. A cena em que vemos Drácula atacar pela primeira vez Jonathan Harker em seu quarto é extremamente idêntica, assim como também a cena do navio onde o vampiro está viajando escondido. Werner Herzog se aproveitou ao máximo para a realização de um filme extremamente gótico, onde a sensação da morte é sentida até mesmo nos momentos mais tranquilos e claros do longa como um todo.

Essa sensação mórbida já é sentida nos primeiros minutos do longa, onde o realizador filmou cadáveres realmente reais para a história e sendo embalado por uma trilha musical assustadora é feita pela banda alemã Popol Vuh. Logo em seguida surge um grande morcego voando em câmera lenta e simbolizando um mal presságio que poderá surgir a qualquer momento. O filme segue a mesma linha narrativa, mas Herzog filma de sua maneira e fazendo com que algumas passagens, principalmente da ida de Jonathan indo para o castelo de Drácula, quase parecem um documentário.

As cenas, aliás, destacam o teor natural dos cenários, sendo algo destacado no longa de Murnau, mas sendo potencializado ainda mais na obra de Herzog. Uma vez que Jonathan chega ao castelo do Conde é então que testemunhamos um Drácula fora do comum até aquela época. Klaus Kinski era o ator fetiche de Herzog, mesmo quando ambos se digladiavam durante as filmagens dos filmes, como foi visto no documentário "Meu Melhor Inimigo" (2001).

Kinski era um ator que interpretava os seus personagens ao extremo, improvisando situações que não estavam no roteiro e criando momentos até mesmo surpreendentes durante as filmagens. Para "Nosferatu" a situação não foi diferente, onde ele cria um Drácula para si e se distancia do que o ator Max Schreck havia criado para o personagem no clássico de 1922. Esse Drácula não possui nenhum charme, sendo uma criatura assustadora, mas que não esconde o peso dos séculos em que vive e desejando a morte plena que jamais alcança.

Ao mesmo tempo, o seu desejo por Luci lhe desperta algo que jamais havia experimentado, sendo que o amor foi algo nunca sentido e desejando experimentá-lo a todo custo. Portanto, a cena em que ambos se encontram pela primeira vez é outro grande ponto alto do filme. Destaque o lado criativo desta cena, onde Herzog faz com que a personagem esteja se penteando na frente do espelho, para logo em seguida surgir atrás dela a sombra assustadora de Nosferatu. Curiosamente, Klaus Kinski surge em cena de uma forma como se a sombra estivesse deslocada dele e fazendo da cena ainda mais surpreendente.

No embate entre os personagens se destaca o incrível desempenho da atriz Isabelle Adjani como Lucy e fazendo com ela se torne a verdadeira protagonista do filme.  A partir deste ponto o filme ganha um teor apocalíptico, com o direito de vermos um mar de ratos infestando a cidade Weismar e fazendo com que a população se entregue aos prazeres antes da morte. Nos dias de hoje isso seria facilmente feito em CGI, mas na época Werner Herzog usou realmente diversos ratos em cena e fazendo com que o momento ganhasse maior peso e uma morbidez jamais vista.

Tudo, logicamente, se encaminha para o embate de Drácula com Lucy, onde a mesma se entrega ao sacrifício para que o horror seja destruído pelos primeiros raios de sol do amanhecer do dia.  Curiosamente, o filme foi rodado em duas formas, sendo que os atores filmaram primeiro em alemão para depois em inglês. Sinceramente nunca vi essa versão, mas há quem diga que na versão em inglês parece que o filme flui de forma mais rápida, muito embora eu acredite que o resultado seria o mesmo. O filme revisto hoje possui ainda o mesmo grande impacto, onde o lado gótico é a peça central para modelar esse grande espetáculo de horror até hoje insuperável.

"Nosferatu - O Vampiro da Noite" é uma refilmagem com alma própria, sendo algo cada vez mais raro de se ver hoje em dia e um belo exemplo de longa que cresce a cada revisão que se faz no decorrer das décadas. 


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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Cine Dica: Streaming - 'Jurado Nº 2'

 Sinopse: Pai de família serve como jurado em um importante julgamento de assassinato. Ele se depara com um dilema moral significativo que pode influenciar o veredito do júri. 

Clint Eastwood é um daqueles talentos que somente irá parar de trabalhar quando estiver morto. Aos seus 94 anos de vida o realizador parece não pensar em parar mesmo quando vemos fotos dele já bastante fragilizado devido ao peso da idade. Porém, quando assistimos o seu último filme "Jurado nº 2" (2024) constatamos que ele dá ainda uma verdadeira aula de direção e cuja a geração nova de cineastas deveria parar para assistir e aprender como se faz um bom filme para variar.   

Na trama, acompanhamos a história de Justin Kemp, interpretado por Nicholas Hoult, que está servindo em "jury duty", o serviço obrigatório dos Estados Unidos que escala os membros do júri de casos criminais. Ele e sua mulher estão prestes a terem o seu primeiro filho depois de uma longa tentativa, mesmo com os problemas financeiros que os aflige. Porém, o julgamento do crime do qual ele participa pode colocar o seu futuro em xeque.     

Clint Eastwood claramente se inspirou nos melhores filmes do subgênero tribunal, principalmente com relação ao clássico "11 Homens e uma Sentença" (1957) do realizador Sidney Lumet. Curiosamente, enquanto no clássico sentimos uma sensação claustrofóbica devido ao fato da trama se passar em um único cenário, aqui essa sensação acontece a partir do desconforto que o protagonista sente a todo momento a partir do instante em que começou a participar desse caso. O porquê de isso estar acontecendo Eastwood revela por cenas fragmentadas que se encontram nas memórias do protagonista, mas sendo o suficiente para compreendermos o seu dilema.

Nicholas Hoult obtém o melhor desempenho de sua carreira desde "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015), já que ele consegue construir um personagem que busca pela sua redenção, mas tendo que encarar um terrível erro que havia cometido. O diretor, por sua vez, procura colocar o protagonista em um grande dilema e tendo o feito de fazer com que isso nos afete de forma imediata, pois querendo ou não, todos cometemos erros falhos em nossa jornada da vida e cabe corrigirmos isso. O problema que a verdade doí, mesmo quando ela precisa ser colocada em prática, mas tendo um alto preço a se pagar em seguida.

Já a promotora, interpretada de forma brilhante pela veterana Toni Collette, é o outro lado dessa moeda, ao tentar ganhar a causa e se tornar poderosa no mundo da política. Porém, uma vez que ela encara a possibilidade de condenar uma pessoa inocente, Collete consegue passar através de sua personagem toda a dúvida se é realmente necessário colocar em prática o sacrifício de uma vida para ganhar status, ou se não seria melhor colocar na mesa a verdade incontestável mesmo lhe prejudicando. É um filme recheado de dilemas e do qual sintetiza toda a complexidade do peso da culpa que é carregado dentro da alma humana.

Clint Eastwood nos revela então uma história em que não há bem e mal bem definidos, mas sim pessoas comuns com as suas falhas e das quais algumas buscam fugir delas, mesmo quando sente remorso no mais fundo de sua alma. Não é um filme que nos dá soluções fáceis para esses problemas, mas cabe no final das contas termos que as encarar mesmo que percamos tudo, mas que ao menos nos sintamos mais leves desse ponto em diante. Os erros do passado servem para não serem repetidos no futuro próximo e cabe nós todos darmos o bom exemplo.

"Jurado nº 2" é um filme que nos pega desprevenidos, ao nos colocar lado a lado do protagonista devido aos seu grande dilema e ao mesmo tempo sintetizando a boa forma do veterano Clint Eastwood em sua direção perfeccionista. 

Onde Assistir: Apple TV, Amazon Prime Vídeo, Google Play Filmes.   

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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Especial de Natal: 'Os Dez Mandamentos'

Nos últimos anos eu sempre me peguei assistindo a um filme no natal, mas que de natalino ele não tem nada, mas sim como devemos usar a fé para enfrentar os desafios da vida. O que dizer então de um homem que foi escolhido por Deus para libertar um povo das mãos do Egito e tem então a história de Moisés, talvez uma das passagens bíblicas mais surpreendentes. Portanto, o clássico "Os Dez Mandamentos" (1956) faz jus ao peso dessa história e sendo apontado por muitos como um dos maiores épicos da história do cinema.

Cecil B. DeMille já era um diretor veterano na época e que quase sempre dirigia grandes espetáculos cinematográficos que entrariam para a história. Após a finalização do "Maior Espetáculo da Terra" (1951) o realizador decidiu retornar à história sobre Moisés, já que em 1923 ele havia feito uma primeira versão da história e sendo já apontado na época como um grande espetáculo. Porém, Demille queria fazer um grande épico de quase quatro horas de duração e que fosse fiel, tanto o que está escrito no velho testamento, como também os Manuscritos do Mar Morto, coleção de pergaminhos encontrados no deserto a leste de Jerusalém, na costa do Mar Morto.

Por ser um realizador que começou a carreira nos primeiros anos do cinema, DeMille queria filmar o grande projeto da maneira como se fazia cinema antigamente, mas ao mesmo tempo usando a tecnologia de ponta para a época. Diante disso, o diretor filmou tanto cenas no Egito, como também nos próprios estúdios da A Paramount, ao ponto que uma mesma passagem da história era rodada em ambos os locais. Belo exemplo disso é a saída de Moisés (Charlton Heston) do Egito, sendo que a sua ida para o deserto é um local verdadeiro, enquanto Ramses (Yul Brynner) se encontra em estúdio, mas com cenas do Egito atrás dele, mas que em pré produção era uma tela azul.

Isso está espalhado em boa parte do filme, além de cenários pintados em vidro, cenários feitos em tamanho natural e uma imensidão de figurantes que representaram o povo Hebreu saindo do Egito e sendo uma bela representação do que foi o Êxodo. Agora, nada supera a surpreendente cena da abertura do mar vermelho, onde o povo de Moisés atravessa enquanto os soldados do faraó sucumbem as ondas quando elas caem novamente. A cena da abertura das águas, por exemplo, foi rodada em um grande tanque do estúdio, sendo então colocada na cena crucial da trama e se tornando uma das melhores cenas de ação de todos os tempos.

Com figurino, fotografia e edição de arte impecáveis, a produção também é recheada tanto de grandes astros da época, como também da participação de intérpretes que posteriormente fariam sucesso logo em seguida. Interessante exemplo é a presença do ator Vincent Price, que aqui interpreta justamente o Egípcio morto por Moisés e que anos mais tarde se consagraria como um dos grandes atores dos filmes de horror. Outro destaque é presença curta de Woody Strode em cena, mas que se consagraria em um papel marcante em "Spartacus" (1960) e se tornando um dos primeiros grandes atores negros de Hollywood.

No caso do elenco principal destaque logicamente Charlton Heston, que na época já era um grande astro de cinema e tendo já trabalhado com Cecil B. DeMille em "O Maior Espetáculo da Terra". Heston foi escolhido pelo diretor pelo fato do intérprete ter um rosto parecido com a estátua de Moisés criada por Michelangelo e uma vez ele maquiado concordamos que a escolha foi mais do que perfeita. Houve outros intérpretes que já interpretaram Moisés, seja para o cinema ou para tv, mas nenhum superou o seu incrível desempenho.

Outro destaque tem que ser dado a Yul Brynner como o ambicioso Ramses. Conhecido na época pelo clássico "O Rei e Eu" (1956), Brynner teve a proeza de possuir um físico invejável mesmo nunca ter feito grandes exercícios e tendo o costume de ficar sem cabelos, pois achava sua careca perfeita. Portanto, o papel lhe caiu como uma luva, onde ele se sentiu mais do que a vontade em colocar para fora o lado sombrio de um Ditador ambicioso e que não medirá esforços para esmagar o povo Hebreu.

Curiosamente, o filme começa justamente com o próprio Cecil B. DeMille em cena. Ao se apresentar em um grande palco, DeMille exemplificou em suas palavras que o filme nasceu com o intuito de, tanto agradar os religiosos, como também historiadores que sempre buscam por respostas sobre tempos longínquos. Acima de tudo, foi um filme realizado em uma época em que o mundo já enfrentava inúmeros ditadores no mundo e a produção veio para levantar a seguinte questão: É o destino do homem servir as ordens de outros homens, ou servir aos desígnios de Deus?

Vários anos depois eu digo que o filme é uma lição sobre fé, onde as adversidades existem para serem superadas, mesmo quando elas pareçam impossíveis de serem enfrentadas. Portanto, Cecil B. DeMille encerrou a sua carreira como cineasta de forma digna, sendo que essa lição ainda é necessária nos dias de hoje e revisto se percebe que ele não somente envelheceu bem, como está mais atual do que nunca. Curiosamente, é um filme que simboliza uma época em que os estúdios realmente colocavam a mão na massa, onde se faziam grandes cenários, figurinos e culminando em um grande espetáculo e que nenhum CGI de hoje consegue superá-lo.

Quase setenta anos depois, "Os Dez Mandamentos" é um exemplo da palavra épico e se tornando hoje para mim um dos meus filmes favoritos em tempos festivos de final de ano. 


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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'O Conde de Monte Cristo (2024)'

Nota: Filme exibido aos associados no último sábado (21/12/24). 

Sinopse: Edmond Dantes é preso por um crime que não cometeu. Após 14 anos na prisão, ele consegue realizar uma fuga ousada. 

O conto literário "O Conde de Monte Cristo", obra máxima do escritor Alexandre Dumas, obteve tantas adaptações para o cinema que hoje fica até mesmo difícil dizer quantas já houveram. Eu, sinceramente, conheci o conto em um desenho animado obscuro que eu vi anos atrás na rede Manchete e posteriormente assisti a adaptação de 2002 estrelada por Jim Caviezel. Agora, temos a nova versão francesa e da qual está conquistando o público de forma gradual, porém, bastante precisa.

Dirigido por Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, ambos do filme "Qual o Nome do Bebê? (2011), acompanhamos a trama de Edmond Dantès (Pierre Niney) um jovem marinheiro que sofre uma injustiça no dia de seu casamento. Ele é preso devido a uma enorme conspiração contra ele organizada pelos seus supostos amigos. Se passam 14 anos desde esse dia, onde Edmond recebe a ajuda de um outro prisioneiro para fugir do sinistro Château d'If após o mesmo dizer a localização exata de um tesouro perdido. Edmond, então, consegue achar esse tesouro que o torna enriquecido e parte para vingança com esse poder em mãos e com um novo nome, o Conde de Monte Cristo.

Quem já leu ou assistiu alguma adaptação irá notar que a história serviu de inspiração para a criação de outros personagens ao longo das décadas, que vai desde "Batman", "Zorro" e "V de Vingança", obra escrita por Alan Moore e já levada para o cinema. Porém, diferente das outras adaptações, esse filme possui um teor épico de grandes proporções, onde é nítido onde foi investido o orçamento, desde a sua edição de arte, como também o seu rico figurino. Além disso, a sua trilha sonora emana o teor épico, trágico e envolvente da obra como um todo.

Com três horas de duração, nota-se que muitas passagens não vistas em outras adaptações foram então levadas aqui, ao ponto que até alguns personagens quase sempre excluídos em outras versões obtém agora o seu espaço. A personagem Haydée, vivida aqui pela atriz Anamaria Vartolomei, talvez seja a figura mais excluída de todas as adaptações, mas tendo um papel relevante na obra e sendo finalmente revelada para o grande público. Devido a longa duração era mais do que óbvio que os realizadores tentaram ao máximo serem fiéis ao conto clássico, mas não permitindo que o filme se tornasse cansativo.

Pelo contrário, o longa nos prende atenção principalmente quando assistimos ao personagem tentar escapar da prisão, quando obtém o seu poder para construir a sua vingança e ao mesmo tempo fazendo com que a gente testemunhe a sua mudança perante o desejo pela desforra. Pierre Niney se sai muito bem ao dar vida ao protagonista, já que ele nos transmite um ar de inocência nos primeiros minutos de trama, para logo depois ela ser destroçada pelo mal que causaram ao personagem. É nesta transformação que Pierre se sobressai, onde os seus olhos transmitem todo o ódio profundo que o personagem sente nas diversas passagens da trama.

Mas diferente do que se imagina, o filme não se envereda facilmente para uma aventura de capa e espada, sendo que o lado dramático se sobressai na adaptação como um todo, além de momentos em que o suspense psicológico se torna cada vez mais envolvente diga-se de passagem. O protagonista, por sua vez, cada vez mais afunda pelo seu desejo de vingança e fazendo a gente se perguntar até onde ele vai para alcançar o que mais deseja. No final das contas, a história é uma lição de moral em que o desejo de se vingar envenena a alma como um todo e cuja velha lição ainda funciona nos dias de hoje.

Ao final, vemos um Conde de Monte Cristo obter a sua vingança contra aqueles que o prejudicaram, mas ao mesmo tempo fazendo com que ele se transforme em alguém que não pode mais se desvencilhar. Para aqueles que se sentirão acomodados com os finais felizes das outras adaptações aqui a situação é inversa, ao ponto de talvez frustrar a maioria do público, mas que irá satisfazer aqueles que são grandes fãs do livro. Uma atitude corajosa por parte dos realizadores e que atraiu milhares de pessoas ao cinema francês neste ano.

"O Conde de Monte Cristo" é um exemplo de adaptação fiel a sua fonte literária, mas que não se esquece de nos transmitir o verdadeiro significado da palavra cinema. 

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