Sinopse: Simone (Sol Miranda) é uma jovem defensora pública que defende mulheres em casos de abuso. No entanto, seus próprios interesses sexuais a levam a um mundo de violência e erotismo.
Júlia Murat tem uma predileção na realização de filmes em que se retrata uma parcela de uma sociedade escondida do nosso olhar, mas da qual se expressa através de sua cultura, arte e do seu próprio corpo cheio de cicatrizes em que tem muito a dizer. No seu ótimo "Histórias Que Existem Quando São Contadas" (2011), por exemplo, vemos uma jovem fotografa que encontra uma cidadezinha perdida no mapa, mas da qual a mesma possui uma vida adormecida e da qual desperta no momento em que a protagonista coloca os pés por lá. E se por um lado a cultura e o prazer são expressados através do corpo no seu filme "Pendular" (2017), do outro, o seu recente "Regra 34" (2022) explora até que ponto leva o indivíduo em querer obter prazer físico através da dor, pois a realidade o acaba lhe trazendo tristeza e a destruição da pele parece uma espécie de fuga para uma outra realidade.
“Regra 34” conta a história de Simone (Sol Miranda), uma jovem negra que acabou de ser aprovada na defensoria pública e pagou os estudos fazendo performance on-line de sexo como camgirl. O filme, é uma produção das brasileiras Esquina Filmes e Bubbles Project (“Benzinho”, “Família Submersa”, “Pendular”), além da francesa Still Moving, tem distribuição da Imovision.
Abertura do filme me fez lembrar do ótimo "Má Sorte no Sexo ou Pornó Acidental" (2022), onde a protagonista de lá se filmava para obter maior prazer através do seu parceiro, mas tendo as suas cenas vazadas e causando um sério problema. Aqui a situação é inversa, já que Simone não tem vergonha de ser despir, já que o dinheiro que ganha acaba sendo usado para o pagamento dos seus estudos, mas ao mesmo tempo podendo pagar um alto preço em um futuro próximo. O problema talvez nem seja o fato dela pôr em prática isso, mas sim permitindo que o dia a dia dentro da Defensoria Pública lhe prejudique mentalmente, pois a mesma vê com horror a situação atual da mulher do Brasil.
O filme é uma crítica pesada sobre o sistema Judicial em um país que se diz democrático, mas cuja a superfície mais parece um território Patriarcado em que as mulheres são tratadas como lixo. Curiosamente, fico na dúvida se algumas das vítimas vistas na tela são interpretes ou atores reais, já que o desabado de algumas é verossímil e nos dando uma dor no peito. Só temos uma ligeira suspeita de que seja ficção no momento em que entra em cena o ator Babu Santana, do qual o mesmo interpreta um marido violento e se tornando um estopim para que a protagonista fique em declínio.
Porém, Simone é alguém que transita entre a lucidez e o desejo de se entregar ao próprio prazer, nem que para isso corra o risco de perder os seus melhores amigos. Sol Miranda entrega no que talvez seja o melhor desempenho até aqui, onde ela nos passa em que a interprete enche a tela e nos fazendo questionar o que irá acontecer em seguida.em determinados planos, por exemplo, os mais diversos sentimentos em atrito através de sua expressão e da qual o seu olhar tem muito mais a dizer do que qualquer palavra que poderia lançar. Se alguém acha exagerado no que eu estou falando aguarde então o minuto final
Até lá, o filme nos passa a sensação de um Brasil indefinido com relação ao que é certo e errado, onde a Justiça somente se torna justa através dos bem aventurados homens de boa fortuna, enquanto os menos favorecidos se preocupam em até mesmo em cruzar na rua, pois temem pela sua própria vida. Simone, por exemplo, pode ser a fagulha de esperança para essas pessoas que precisam de ajuda, mas cabe ela ser forte para não sucumbir as escolhas erradas após ser abatida pela realidade nua e crua. "Regra 34" é sobre uma geração brasileira perdida, que busca por Justiça, mas que acaba enfrentando diversos espinho através desta estrada nebulosa.
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