Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
Me acompanhem no meu:
Twitter: @cinemaanosluz
Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com
Sinopse: Através de materiais de arquivo de diferentes mídias, nacionais e internacionais, o filme revive o período da redemocratização brasileira, do movimento das Diretas Já à posse de Jair Bolsonaro.
Não há dúvida que Carla Camurati tem um papel importante dentro da história do nosso cinema. Se por um lado já no início de carreira ela estrelou clássicos como "O Olho Mágico do Amor" (1980), por outro, ela se arriscou na cadeira de cineasta e dirigindo "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil" (1995) e abrindo assim a retomada do cinema brasileiro naquela época. De forma inevitável acabou explorando a história da nossa política conturbada e lançado como produtora executiva o filme "Getúlio" (2014).
Do pouco que eu a conheço como pessoa eu acredito que ela procura não escolher um lado da história, mas sim ser neutra e assistir aos fatos que ocorrem em sua volta e no resto do país. Por conta de ela somente assistir aos fatos eu acredito que ela tenha uma opinião de que todo governo tem as suas turbulências e que para mantê-lo nos eixos é preciso saber jogar dentro desse cenário, por vezes, corrompido. "8 Presidentes 1 juramento - A história de um tempo presente" é mais ou menos isso, ao exibir os principais fatos dos oito governos Presidenciáveis do nosso país e não escondendo as corrupções que sempre vieram a estourar.
Através de materiais de diferentes mídias, nacionais e internacionais, Carla Camurati reúne diversas cenas de arquivos para revisitarmos o período da redemocratização brasileira, do movimento das Diretas Já, eleições, os governos de cada um até a posse de Jair Bolsonaro. Se tem aqui uma história sobre a democracia brasileira e que já perdura há trinta e cinco anos.
Assistir ao ato inicial do documentário é como recobrar os meus primeiros anos de infância, já que eu assisti ao funeral de Tancredo Neves em 1985, mas pouco entendia sobre o que estava acontecendo. Após o governo Sarney foi aí que eu tive uma noção sobre o que é democracia, onde as pessoas vão votar pelo seu candidato favorito e que para assim ele possa ser eleito. É mais ou menos assim que Carla Camurati joga tudo isso na tela, ao mostrar a extinção dos tempos de chumbo e dando lugar a um cenário onde o povo que decide os rumos do país através das urnas.
A diretora não entrevista em nenhum momento algum político de determinado período, mas sim somente nos passando as principais cenas de cada época, além de letreiros explicando a situação de cada governo naquele exato momento. O documentário em si é uma espécie de grande retrospectiva dessas mais de três décadas de democracia brasileira e fazendo até mesmo eu recobrar certas passagens da história que havia me esquecido até agora. Curiosamente, não deixa de ser interessante que as mesmas crises, desde ao aumento da alimentação, gás, luz e gasolina são um cenário que vem e vai a todo momento em nossa história.
Além disso, a cineasta procura colocar um equilíbrio em cada período, ao mostrar tanto os acertos, como também os erros de cada governo. É fácil, portanto, dizer que ela não procurou se colocar de um lado da história, muito embora alguns pontos dessa linha de tempo ficaram um tanto que obscuras. Para os historiadores de nossa política o documentário se torna um prato cheio sobre o que não foi mostrado na tela, muito embora isso não seja uma situação muito explicita.
O ato final do documentário é o que talvez ela tenha pisado em um terreno mais delicado, principalmente que é uma linha do tempo em que ainda estamos vivendo. Há uma retrospectiva do governo Lula, Dilma, além dos casos de corrupção com relação ao mensalão e o esquema da Lava Jato vindo de Curitiba. Se por um momento achamos que a cineasta irá endeusar para um determinado lado da história, eis que ela mostra exatamente o que acontece desde o dia em que ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff, onde vemos um povo dividido, entre a razão e a ingenuidade daqueles que acreditavam que teríamos um futuro melhor.
Os minutos finais da projeção é uma mostra do resultado daqueles que brincaram com a democracia brasileira e nos levando à beira de uma possível nova ditadura, da qual não foi conseguida com tanques nas ruas, mas através de fake news, ideologia fascista e que estava escondida a muito tempo e mais perto do que imaginávamos. Os créditos finais ouvimos as falas do Presidente atual, sendo que nada mais são do que um puro retrocesso e nos colocando a beira do limbo.
"8 Presidentes 1 juramento - A história de um tempo presente" é um retrato sobre os altos e baixos de uma democracia e da qual se torna fragmentada a partir do momento em que alguns anseiam por tempos mais retrógrados.
(SESSÃO SOMENTE NOS DIAS 19, 23 E 24 – SEXTA, TERÇA E QUARTA)
15h – UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA Assista o trailer aqui.
(Family Romance, LLC - Estados Unidos/Japão, 2020, 90min). Direção de Werner Herzog, com Ishii Yuichi, Mahiro Tanimoto. Arteplex Filmes, 14 anos. Drama.
Sinopse: Em tempos de fake news e relações virtuais, por que não contratar amigos e familiares? Na empresa Family Romance LLC, há locações para todos os tipos de necessidades, inclusive seguidores para redes sociais e substitutos para reuniões de trabalho. Entre as muitas contratações da empresa, Ishii é chamado para representar o pai desaparecido de uma menina de 12 anos.
(SESSÃO SOMENTE NOS DIAS 18 E 19 – QUINTA E SEXTA)
17h – UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA Assista o traileraqui.
(Family Romance, LLC - Estados Unidos/Japão, 2020, 90min). Direção de Werner Herzog, com Ishii Yuichi, Mahiro Tanimoto. Arteplex Filmes, 14 anos. Drama.
Sinopse: Em tempos de fake news e relações virtuais, por que não contratar amigos e familiares? Na empresa Family Romance LLC, há locações para todos os tipos de necessidades, inclusive seguidores para redes sociais e substitutos para reuniões de trabalho. Entre as muitas contratações da empresa, Ishii é chamado para representar o pai desaparecido de uma menina de 12 anos.
(Made in Italy - Reino Unido/Itália, 2020, 95min). Direção de James D'Arcy, com Liam Neeson, Micheál Richardson, Valeria Bilello, Lindsay Duncan. California Filmes, 14 anos. Drama.
Sinopse: Robert e Jack são pai e filho, mas nunca conseguiram lidar com a perda da esposa e mãe, morta num acidente de carro. Agora, ambos viajam para a região da Toscana, na Itália, com a intenção de vender uma antiga casa da família. Em meio às reformas que o lugar exige e ao cenário de extrema beleza, pai e filho precisam aprender a expressar os seus sentimentos e buscar uma maneira de recomeçar.
16h30 – BOB CUSPE, NÓS NÃO GOSTAMOS DE GENTE Assista o traileraqui.
(Brasil, 2021, 90min). Direção de Cesar Cabral, com vozes de Milhem Cortaz, Paulo Miklos, André Abujamra. Animação, Vitrine Filmes.14 anos.
Sinopse: Um dos personagens mais famosos dos quadrinhos dos anos 1980, o punk mal-humorado Bob Cuspe aparece agora num deserto pós-apocalíptico onde alguns seres insuportáveis do mundo pop estão tentando matá-lo. Tudo, na verdade, é fruto da imaginação do cartunista Angeli, criador do personagem – numa combinação de stop-motion com documentário, comédia, road-movie e muito rock´n´roll.
18h30 – A NOITE DO FOGO *ESTREIA* Assista o trailer aqui.
(Noche de Fuego - México-Alemanha-Brasil, 2021, 110min). Direção de Tatiana Huezo, com Norma Pablo, Mayra Batalla, Olivia Lagunas. Vitrine Filmes, 14 anos. Drama.
Sinopse: Em uma cidade solitária situada nas montanhas mexicanas, os homens não estão mais em suas casas: ou foram mortos, ou fugiram, ou foram cooptados pelas milícias. Com medo, as mulheres se protegem e tentam esconder as meninas dos grupos de narcotraficantes que atuam na região – sendo que uma estratégia é vesti-las como garotos. Indicado pelo México ao Oscar de melhor filme internacional, o filme é adaptado do livro "Reze Pelas Mulheres Roubadas", da escritora mexicana-americana Jennifer Clement.
*NÃO HAVERÁ SESSÃO NO DIA 23 (TERÇA)
SESSÕES ESPECIAIS DA SEMANA
Sessão do ciclo Clássicos na Cinemateca – 35 anos.
DIA 21 DE NOVEMBRO ÀS 15h
SENHORITA JULIA
(Suécia, 1951, 90min). Direção de Alf Sjoberg.
Sinopse: Baseado na peça de August Strindberg, o filme é ambientado em fins do século XIX e conta a história de Julie, uma jovem de família aristocrática que se envolve com um ambicioso serviçal.
Sessão da oficina “Escola de Cinéfilos”
DIA 23 DE NOVEMBRO ÀS 19h
OS INTOCÁVEIS
(EUA, 1987, 120min). Direção de Brian de Palma.
Sinopse: Adaptado do livro homônimo, o filme acompanha os esforços do agente norte-americano Eliot Ness para prender o gângster Al Capone durante o período da Lei Seca nos Estados Unidos.
FESTIVAL CINEMA NEGRO EM AÇÃO
Mostra competitiva de curtas-metragens, videoclipes, videoartes e longas-metragens assinados por realizadores negros, além de filmes do diretor Jeferson De, homenageado do festival. A curadoria da programação é da cineasta Camila de Moraes.
TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES.
Professores tem direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional. Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013. Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.
*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.
A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos. Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.
Sinopse: O detetive aposentado John Scottie sofre de um terrível medo de alturas. Certo dia, um amigo pedem a John que siga sua esposa. Ele aceita a tarefa e começa a segui-la por toda parte.
Alfred Hitchcock era um estranho no ninho dentro da fábrica de sonhos de Hollywood, da qual os seus produtores criavam filmes para gerar lucro, independente do filme ser ou não relembrado nos próximos anos. Hitchcock ia contra maré nesta questão, ao comandar os seus próprios filmes e sempre injetar neles a sua visão autoral, que vai desde a personagens duplos, planos-sequências mirabolantes e um suspense que beira ao psicológico que somente Freud explica. Dando sempre carta branca para si, ele resolveu se arriscar em um filme complexo e a frente do seu tempo que foi "Um Corpo que Cai" (1958).
A trama se passa em São Francisco, onde um detetive aposentado John 'Scottie' Ferguson (James Stewart) sofre de um terrível medo de alturas. Certo dia, encontra com um antigo conhecido, dos tempos de faculdade, que pede que ele siga sua esposa, Madeleine Elster (Kim Novak). John aceita a tarefa e fica encarregado da mulher, seguindo-a por toda a cidade. Ela demonstra uma estranha atração por lugares altos, levando o detetive a enfrentar seus piores medos. Ele começa a acreditar que a mulher é louca, com possíveis tendências suicidas, quando algo estranho acontece nesta missão.
Com um visual mórbido na abertura dos créditos, o cineasta já deixa claro para o seu público que eles não irão assistir a um filme fácil, principalmente ao vermos o protagonista pendurado em um prédio e vendo seu parceiro cair diante dos seus olhos. É neste ponto que Hitchcock dá um salto revolucionário em termos técnicos, ao criar a sequência de zooms e afastamento da câmera, que dá ao público a sensação de vertigem sentida por John 'Scottie' Ferguson. Por apenas alguns segundos utilizando esta sequência foi pago cerca de US$ 19 mil e nestes momentos serviriam de inspiração para outros cineastas posteriormente, como no caso de Steven Spielberg com o seu clássico "Tubarão" (1975).
Embora conhecido por preferir dirigir cenas em estúdio, Hitchcock opta aqui em sair com a sua câmera e filmar o personagem John de James Stewart vigiando a personagem Madeleine de Kim Novak nas ruas de San Francisco. As cenas, aliás, são as melhores que sintetizam a beleza da cidade dentro da história do cinema, sendo que o ápice delas ocorre próximo a ponde de Golden Gate. Mas se o seu visual impressiona a trama não fica atrás de forma alguma.
Embora conhecido como o mestre do suspense, o diretor quase nunca criou um filme cuja a temática era o sobrenatural em si, mas a própria sendo usada como uma cortina de fumaça para ocultar o verdadeiro segredo da trama. Ele já havia usado isso de forma perfeita no seu primeiro filme em solo americano que foi "Rebecca - A Mulher Inesquecível" (1940), sendo que naquela obra Rebecca já se encontra morta, mas o passado da própria ainda assombra os protagonistas. Aqui acontece algo similar, onde vemos a personagem Madeleine ser, aparentemente, possuída por um espirito vindo do passado, mas a verdade se encontra muito mais embaixo.
Além do caso sobrenatural servir como distração existe a questão do duplo, onde Hitchcock gosta de construir personagens que constroem para si outra pessoa e assim enganar a próxima. Neste caso, o protagonista cai em uma profunda depressão após não ter conseguido salvar Madeleine do, aparentemente, suicídio e ficando obcecado pelo seu retorno mesmo ela já tendo falecido. É aí que ele conhece Judy, uma mulher extremamente semelhante com a Madeleine e deseja ficar com ela para sentir de volta o seu amor perdido.
É aí que chegamos ao ponto mais surpreendente do filme, já que John deseja ressuscitar a sua amada morta através de Judy, fazendo com que ela se vista e fique com os cabelos loiros. É um caso de amor necrófilo, onde o ápice acontece no momento em que Judy se transforma por completo, fazendo com que John abrace uma lembrança morta e fazendo com que o mesmo se dê conta disso, mas ignorando o fato. A cena, aliás, serviu de inspiração anos mais tarde para Brian de Palma criar o seu "Duble de Corpo" (1984), sendo que o mesmo usaria também "Um Corpo que Cai" de inspiração anos antes para a construção do filme "Vestida para Matar" (1980).
Embora o espectador saiba da verdade antecipadamente, é somente no ato final que John descobre que Judy e Madeleine eram na verdade a mesma pessoa e se viu envolvido em uma grande armação ao longo da história. Em seu final, John venceu os seus medos enfrentando a verdade, mas pagando um alto preço nos segundos finais da obra e fazendo disso um final justo, porém, não menos mórbido. Não é à toa que na época o filme quase não se pagou, pois o público não estava preparado para uma obra tão complexa, cheia de camadas e que fala sobre paixões e medos na mesma medida.
Em duas ocasiões, o crítico de cinema e escritor Luiz Carlos Merten apontou o filme como a obra prima do diretor nos seus livros "Cinema - Um Zapping de Limiere a Tarantino" e "Cinema - Entre a Realidade e o Artifício". Em 2011, eu havia escrito um texto intitulado "Rei Kane. Não tão rei assim", onde eu fiz uma lista de possíveis filmes que poderiam pegar o título de melhor filme de todos os tempos no lugar de "Cidadão Kane" (1941). Um ano depois, a revista Sight and Sound lançou a lista dos cem melhores filmes de todos os tempos e "Um Corpo que Cai", enfim, aparece em primeiro no pódio.
Curiosamente, "Um Corpo Que Cai" esteve inacessível ao público em geral durante décadas. Isto porque o diretor comprou de volta os direitos de cinco de seus filmes e os deixou de legado para sua filha. Estes filmes receberam o apelido de "os cinco filmes perdidos de Hitchcock" e voltaram ao alcance do público em 1984, quando foram relançados nos cinemas, com uma distância de quase 30 anos desde seu primeiro lançamento. Os demais filmes do pacote eram “Festim Diabólico” (1948), “Janela Indiscreta” (1954), “O Homem Que Sabia Demais” (1956) e “O Terceiro Tiro” (1955).
Mais de sessenta já se passaram, mas "Um Corpo que Cai" ainda é um exercício psicológico sobre paixões e medos reprimidos e fazendo dele uma das maiores obras primas de todos os tempos.
NOTA: O filme será exibido na retomada do Clube de Cinema de Porto Alegre. Será no próximo sábado (20) na Sala Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana às 10:15 da manhã
Faça parte do Clube de Cinema de Porto Alegre. Mais informações através das redes sociais:
Sinopse: O menino Toto se encanta pelo cinema e inicia uma grande amizade com o projecionista de sua pequena cidade. Já adulto e agora um cineasta bem-sucedido, Toto volta a lembrar de sua infância ao descobrir que seu velho amigo faleceu.
O cinema não vai morrer, não agora e talvez isso nunca venha acontecer. Mas aqui fala alguém que ama a sétima arte, que ama apreciar um belo filme ao lado de pessoas, mesmo quando essas sejam desconhecidas, pois não tem coisa melhor do que apreciar algo ao lado de alguém que tem o mesmo pensamento. Portanto trate de ficar com um pé atrás com relação ao que eu falo, pois sou suspeito, um amante do cinema e que vezes essa paixão cega.
A morte do cinema sempre esteve à espreita, talvez desde quando essa arte foi criada. Os seus criadores, os irmãos Lumière, não deram crédito a sua própria criação, veio então o cinema sonoro, cinema a cores, a televisão, vídeo cassette, DVD, Blu-Ray e, enfim, a Netflix. Tudo isso não foi o suficiente para matar o cinema, pois há um público sempre fiel para manter o seu coração pulsando e não permitindo que isso aconteça. Infelizmente vivemos a sombra do Coronavírus, o que obrigou vários cinemas a fecharem suas portas e fazendo com que muitos cinéfilos fiquem em prontidão pela retomada.
Será como antes? Difícil responder essa pergunta, mas o cinema sempre estará ali a nossa espera, pois a nossa história nos mostra que as artes prevalecem perante aos ventos da mudança, ou até mesmo da ignorância que nos cerca. O próprio cinema já lançou obras primas que são verdadeiras declarações de amor com relação a essa arte de contar histórias. Em um desses casos, o clássico do cinema italiano "Cinema Paradiso" (1988) é sem sombra de dúvida o exemplo mais genuíno.
Dirigido por Giuseppe Tornatore, do filme "Malena" (2001) o filme se passa nos anos que antecederam a chegada da televisão em uma pequena cidade da Sicília, o garoto Toto (Salvatore Cascio) ficou hipnotizado pelo cinema local e iniciou uma amizade com Alfredo (Philippe Noiret), projecionista que se irritava com certa facilidade, mas tinha um enorme coração. Todos estes acontecimentos chegam em forma de lembrança quando Toto (Jacques Perrin), agora um cineasta de sucesso, recebe a notícia de que Alfredo faleceu.
Participe do próximo Cine Debate e leia essa análise completa sobre o clássico clicando aqui.
CLÁSSICOS DA ALEMANHA ORIENTAL EM EXIBIÇÃO NA CINEMATECA CAPITÓLIO
Solo Sunny
O Goethe-Institut Porto Alegre e a Cinemateca Capitólio promovem entre 13 e 24 de novembro a mostra O Cinema da Alemanha Oriental, com doze obras realizadas entre 1946 e 1990 pela DEFA (Deutsche Film-Aktiengesellschaft), a produtora estatal da República Democrática Alemã. Em 2021 são celebrados os 75 anos da produtora que, na altura da reunificação alemã, havia produzido mais de 700 longas-metragens e cerca de 2.500 curtas e documentários.
O panorama histórico da mostra revela diversas facetas das produções da DEFA. Integram a programação os clássicos Os Assassinos Estão Entre Nós, lançado logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Berlim – Esquina Schönhauser, retrato da rebeldia juvenil nos anos 1950; obras modernas e polêmicas, realizadas em sintonia com as Nouvelle Vagues dos anos 1960, como O Céu Dividido, O Coelho Sou Eu, Karla e Rastro de Pedras; e filmes de grande apelo popular como A Lenda de Paul e Paula e o musical Solo Sunny, um êxito arrebatador de público e influência para a moda de toda uma geração jovem do leste alemão no fim dos anos 1970.
Os últimos anos da Alemanha Oriental são retratados em obras impactantes como Coming Out, marco do cinema queer dos anos 1980, e Adeus, Inverno, uma pequena obra-prima documental realizada pela jovem diretora Helke Misselwitz. A mostra tem curadoria da Coordenação de Cinema e Audiovisual de Porto Alegre.
19h – Adeus, Inverno (apresentação do Cineclube Academia das Musas)
14 de novembro (domingo)
15h – O Terceiro
17h – Solo Sunny
19h – Rastro de Pedras
16 de novembro (terça)
15h – Berlim – Esquina Schönhauser
17h – O Céu Dividido
19h – Karla
17 de novembro (quarta)
15h – O Coelho Sou Eu
17h – O Terceiro
19h – A Lenda de Paul e Paula
18 de novembro (quinta)
15h – Solo Sunny
17h – Coming Out
19 de novembro (sexta)
15h – Os Assassinos Estão Entre Nós
16h30 – Rastro de Pedras
19h – O Céu Dividido
20 de novembro (sábado)
17h – O Muro
21 de novembro (domingo)
17h – Coming Out
19h – O Coelho Sou Eu
23 de novembro (terça)
15h – A Lenda de Paul e Paula
17h – O Terceiro
19h – Karla
24 de novembro (quarta)
15h – Adeus, Inverno
17h – O Muro
Para a retomada da programação presencial, uma série de adaptações para a utilização do espaço foram implementadas, desde entrada e saída do público, o estabelecimento de limite de espectadores por sessão (teto de 50% de ocupação), distanciamento entre os presentes, sendo bloqueados os assentos demarcados, além do uso obrigatório de máscara durante toda a sessão e o incentivo à higienização constante das mãos. É obrigatória a apresentação de Comprovante de Vacinação Oficial (CONECTE SUS) de acordo com calendário de vacinação estadual para público e trabalhadores de cinemas do Rio Grande do Sul.
SESSÃO ESPECIAL DA MOSTRA O CINEMA DA ALEMANHA ORIENTAL
Neste sábado, 13 de novembro, às 19h, a Cinemateca Capitólio e o Goethe-Institut Porto Alegre apresentam a sessão especial de abertura da mostra O Cinema da Alemanha Oriental, com a exibição gratuita do filme Adeus, Inverno, de Helke Misselwitz, baseado em uma viagem de trem do norte ao sul do país no final dos anos 1980. A sessão será apresentada pela crítica e pesquisadora Juliana Costa, integrante do Cineclube Academia das Musas.
No mês de novembro, em comemoração à Semana da Consciência Negra, a Sessão Vagalume exibe um programa de curtas em torno da questão negra, trazendo uma série de títulos premiados em festivais, que têm como traço comum o fato de apresentarem um adorável grupo de protagonistas mirins. O valor do ingresso é R$ 10,00.
15h – Sessão Vagalume: Semana da Consciência Negra
17h – O Muro
19h – Sessão Especial Dia da Consciência Negra (divulgação em breve)
21 de novembro (domingo)
15h – Sessão Vagalume: Semana da Consciência Negra
17h – Saindo
19h – O Coelho Sou Eu
23 de novembro (terça)
15h – A Lenda de Paul e Paula
17h – O Terceiro
19h – Karla
24 de novembro (quarta)
15h – Adeus, Inverno
17h – O Muro
19h – Cabeça de Nêgo (pré-estreia)
Para a retomada da programação presencial, uma série de adaptações para a utilização do espaço foram implementadas, desde entrada e saída do público, o estabelecimento de limite de espectadores por sessão (teto de 50% de ocupação), distanciamento entre os presentes, sendo bloqueados os assentos demarcados, além do uso obrigatório de máscara durante toda a sessão e o incentivo à higienização constante das mãos. É obrigatória a apresentação de Comprovante de Vacinação Oficial (CONECTE SUS) de acordo com calendário de vacinação estadual para público e trabalhadores de cinemas do Rio Grande do Sul.
Para eu entender o sucesso de "Round 6" (2021) não bastou somente assistir e escrever uma crítica, mas sim ir mais a fundo sobre o que levou a se tornar a série mais vista da história da Netflix. Os ingredientes para esse feito já estavam lá há muito tempo, mas é somente ao digerir a série como um todo é que me fez relembra-los. Portanto, o que eu trago abaixo é uma recapitulação desses ingredientes que foram inseridos ao longo dessa linha de tempo.
Voyeurismo
Janela Indiscreta
No clássico "Janela Indiscreta" (1954) de Alfred Hitchcock vemos o protagonista, interpretado por James Stewart, preso em uma cadeira de rodas em seu apartamento e testemunhando um possível assassinato ocorrido no apartamento do outro lado do pátio. Ao mesmo tempo ele fica observando o dia a dia dos outros vizinhos, desde a vizinha bailarina, como também o casal que a recém se casou e a mulher solitária que vive abaixo. Cada janela que o protagonista observa é uma história, como se o diretor prestasse uma curiosa homenagem ao cinema, mas também é um dos primeiros casos de Voyeurismo, ou seja, o prazer de assistir ao outro, vistos na tela do cinema e que posteriormente seria algo corriqueiro nos anos que viriam.
Voyeurismo e Repressão
1984
O desejo por observar o próximo pode simplesmente terminar em simples curiosidade ou se tornar algo muito maior do que se imagina. Em 1949 o escritor George Orwell escreveu o clássico literário "1984" onde narra a história de Winston Smith, homem de meia idade e membro do Partido Externo. Trabalhava como funcionário do Ministério da Verdade, onde reescrevia e alterava dados de acordo com os interesses do Partido. Os capítulos do livro podem ser divididos em três partes: a primeira parte relata como era a sociedade criada por George Orwell, uma sociedade inspirada na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40. O mundo era dividido em três nações distintas: Oceania (onde Winston vivia), Eurásia e Lestásia, territórios que se mantinham em guerra uns contra os outros. Cada nação era governada pelo Partido, que era coordenado pelo Grande Irmão (Big Brother) e pelos membros do Partido Interno. O restante da população era dividido entre os membros do Partido Externo e a prole. Os membros do Partido Interno eram pessoas ricas e com benefícios, já o Partido Externo não possuía benefícios, mas não era totalmente abandonado quanto à prole.
O livro serviu de inspiração para vários outros contos que viriam a ser lançados posteriormente, como no caso de "V de Vingança" lançado em 1982, escrito por Alan Moore e tendo obtido uma adaptação para o cinema em 2006. O próprio "1984" seria adaptado para as telas justamente em 1984, dirigido por Michael Radford e estrelado por John Hurt. Em ambos casos são tramas em que mostra o desejo pelo controle vindo do estado perante as pessoas, em sua ânsia de controla-las e fazendo as mesmas praticarem atividades contra suas vontades do dia a dia.
Curiosamente, "1984" inspirou décadas depois programas de tv, mais precisamente os reality shows onde pessoas comuns são colocadas em uma casa, participando de diversos jogos e tendo o seu dia a dia sendo vigiado por demais pessoas pelo país. Se hoje o brasileiro convive com isso através de emissoras como a Rede Globo, a origem portanto se encontra no universo literário, do qual serviu de aviso sobre o que aconteceria no futuro, mas que nem todos capitariam a mensagem de imediato. O povo, pelo visto, não precisa ficar preso as ordens do governo, mas sim nas mãos de emissoras com o intuito de obter cada vez mais lucro.
Cinema e Reality Show
O Show de Truman
Antes da entrada do século 21 o Big Brother já estava sendo explorado pelo cinema e nos dando uma ideia do que viria nos anos seguintes. Em "O Show de Truman" (1998) dirigido por Peter Weir. Protagonizado por Jim Carrey, o filme conta a vida de Truman Burbank, um agente de seguros que não sabe que, desde pequeno, está vivendo em uma realidade simulada por um programa da televisão, transmitido 24 horas por dia para pessoas ao redor do mundo. Até sua cidade, Seahaven, é um cenário fictício povoado por atores e a equipe do programa, permitindo que Christof, o produtor do reality, controle todos os aspectos da vida de Truman, até o clima e seus possíveis sentimentos. Entretanto, a saga não sai como esperado e Truman sente o desejo de escapar.
O filme é uma crítica acida das grandes emissoras pelo desejo da audiência, ao ponto de usar uma pessoa e fazer de sua vida um show a ser degustado por uma sociedade cada vez mais escravizada por esse tipo de entretenimento. Porém, Truman decide sair de sua bolha e adentrar o mundo real que ele até então nunca havia testemunhado. O final vemos o homem derrotar o sistema moldado pelo Voyeurismo, mas do qual seria ainda mais mortífero.
Em "Jogos Vorazes", tanto na literatura como em sua versão cinematográfica, a trama se passa após uma grande guerra. A Capital cria os Jogos Vorazes, um evento anual no qual cada distrito deve enviar dois tributos (um garoto e uma garota, com idades entre 12 e 18 anos) para lutarem até a morte em uma arena cheia de câmeras, como uma versão macabra do big brother. Portanto, pode-se dizer que em "Jogos Vorazes" se encontra o ingrediente principal que serviu de inspiração para Round 6", mas ainda faltaria algo de essencial.
Jogos Vorazes
A Quebra do Sistema e Beco Sem Saída
Coringa
Nos últimos anos, tanto no cinema como em séries de tv, vemos os protagonistas de determinadas tramas quebrarem as regras do sistema capitalista para, ou obter lucro nunca antes alcançado, ou simplesmente jogar tudo para o ar e se desprender das cordas das quais se encontrava preso. Na série "La Casa de Papel", por exemplo, vemos um grupo de ladrões liderados por um professor invadindo um banco, mas não para roubar, mas sim criar milhões de dinheiro e leva-los consigo. A série virou mania entre os esquerdistas e a música “Bella Ciao“, que no passado se tornou hino de resistência contra o regime fascista de Mussolini na Itália, ficou conhecida por todo o mundo.
Porém, se na série vemos pessoas comuns se tornarem heróis contra o sistema capitalista, eis que o mundo real nos diz que nem tudo são flores e o cinema escancarou isso em 2019. Tanto filmes como "Coringa" como também "Parasita" são obras que nos mostra uma sociedade dividida, sendo que os de pouca sorte são escorraçados em subúrbio sem nenhum recurso e tendo que sobreviverem com o que tem para continuarem vivos. Porém, em ambos os casos, os protagonistas obtêm uma chance de mudar de vida, mas para logo depois não conseguirem ter o total controle desse cenário cheio de regras.
Após perderem o controle, vemos os protagonistas saírem deste sistema, abraçando uma realidade até então desconhecida, mas se tornando prisioneiros devido as suas ações revolucionárias. Temos aqui como resultado o fato de nos encontrarmos presos a um sistema que não nos dá uma porta de saída, fazendo com que retornemos as suas regras, pois lá ainda poderá haver uma oportunidade de obter algumas cifras. Porém, se os dois títulos são sobre pessoas que não conseguem achar uma saída, por outro lado, "Nomadland" (2020) vemos uma parcela de uma sociedade cansada de sempre perder e embarcando em uma realidade que se tornam nômade e chefes de suas próprias vidas.
Parasita
E Chagamos, Enfim, a "Round 6 "
Round 6
Na série criada por Hwang Dong-hyuk vemos uma parcela da sociedade Sul Coreana endividada, procurando a todo custo uma oportunidade para se resolver na vida, mas nunca alcançando uma solução para os seus problemas. Aqui não há um regime autoritário, porém, o seu sistema faz com que a sociedade se vicie nas oportunidades de compra, ao ponto de gastar mais do que se tem e perdendo tudo o que já havia obtido um dia. É a lei do retorno, onde o paraíso das oportunidades se torna uma prisão uma vez que o cidadão não paga o que usufruiu.
Curiosamente, a série faz um paralelo com tempos mais simples, onde as brincadeiras eram muito mais físicas e fazendo as crianças não sentirem o tempo passando em sua volta. Os tempos dourados se foram, onde as pessoas nem olham mais para as estrelas do céu e se preocupando mais com os seus status em suas redes sociais. Vemos, portanto, poderosos não obtendo a felicidade quando se tem tudo, enquanto os endividados, ao menos, ainda lutam para obter a felicidade e o que fazem ainda continuarem vivos.
Não obtendo mais prazer através do lucro, vemos esses poderosos criando um enorme Reality Show mortal, onde os desafios podem custar diversas vidas e fazendo disso um entretenimento peculiar, porém, que fazem eles obter uma felicidade mórbida que não conseguiam mais alcançar. As presas mais fáceis acabam se tornando os cidadãos endividados, que acham que suas vidas não tem mais solução e veem neste Reality Show uma forma de, enfim, obter o dinheiro nunca alcançando, ou então acabar com a vida que já não faz nenhum sentido.
Temos então o protagonista Seong, interpretado por Jung Jae Lee, que embarca neste jogo mortal para pagar as suas dívidas, mas que não se vende de imediato a esse sistema. Porém, em uma oportunidade de retorno para sua realidade, se percebe que o sistema do mundo real não lhe trará uma solução de imediato e fazendo com que o mesmo retorne ao lado de inúmeros que optaram em se arriscar dentro do jogo de novo. Curiosamente, ele tenta não se vender as regras como um todo, ao ponto de evitar até mesmo matar o seu próximo, mas quase lhe custando a sua sanidade ao longo do percurso.
Concluímos, portanto, que o protagonista procura jogar entre os dois lados da mesma moeda, ao não desejar se vender por completo, pois aos poucos percebe que o seu bem mais precioso é ainda continuar vivo. O dinheiro se torna mero objeto a ser gastado, o homem não quer se tornar um mero cavalo de corrida em um jogo e procura desafiar esse sistema criado por poderosos. Em meio ao horror, vemos um protagonista ainda tendo a sua fé pela humanidade intacta, mesmo quando a própria lhe deu todos os motivos para renega-la.
Como toda ótima série ela termina com algumas pontas soltas, talvez para uma eventual segunda temporada, mas já deixando aqui a sua proposta intacta, de fazer as pessoas repensarem sobre as suas próprias vidas, das quais cada vez mais se encontram presas em reality shows, redes sócias e demais sistemas cheios de regras e que fazem da pessoa criar a sua própria prisão mesmo sem nenhuma grade que o separe do mundo real. A solução, talvez, não esteja em nenhuma revolução, mas talvez em cada indivíduo que possa conseguir obter uma iniciativa para acordar para o mundo real. Se em "Matrix" (1999) nos passava uma síntese de uma previsão sobre o que aconteceria com a humanidade, "Round 6 " nos diz que a previsão já aconteceu e cabe a você saber como irá lidar com uma realidade que nunca pediu.
"Round 6 " é sobre tudo que já aconteceu, sobre o que já está acontecendo e não nos dando nenhuma resposta sobre o nosso incógnito futuro.