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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 4 de junho de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Cruella'

Sinopse: Inteligente, criativa e determinada, Estella quer fazer um nome para si através de seus designs e acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman. Entretanto, o relacionamento delas desencadeia um curso de eventos e revelações que fazem com que Estella abrace seu lado rebelde e se torne a Cruella. 

Sejamos honestos para nós mesmos quando pensamos nas versões live-action dos clássicos da Disney. Boa parte deles não tem alma, não passando de uma cópia sem nenhum brilho se for comparado ao original e existindo somente para gerar lucro ao estúdio. "O Rei Leão" (2019), por exemplo, talvez seja o pior exemplo de um filme sem alma, cuja a perfeição dos animais em cena não possui nenhum pingo de vida se for comparado ao desenho tradicional do clássico de 1994 que nos fazia até mesmo chorar em diversos momentos.

Porém, nem tudo são maçãs podres neste cenário, pois se puxarmos pela memória o estúdio havia começado com o pé direito nestas releituras dos seus clássicos. "Malévola" (2014) foi uma grata surpresa para a época, pois deu uma nova dimensão a uma personagem já bastante complexa do clássico "A Bela Adormecida" (1959) e provando que não custa ousar para inovar e nos surpreender. "Cruella" (2021) vem para jogar esse cenário de pernas pro ar e a gente só tem que agradecer.

Dirigido por Craig Gillespie, do magistral "Eu Tonya" (2017), o filme é ambientado entre os anos 60 e 70, em meio à revolução do punk rock, o filme da Disney mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone). Inteligente, criativa e determinada a fazer um nome para si através de seus designs, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadora. Entretanto, o relacionamento delas desencadeia um curso de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado rebelde e se torne a Cruella, uma pessoa má, elegante e voltada para a vingança.

O clássico da Disney "101 Dálmatas" (1961) não somente apresentava animais fofos como também uma das vilãs mais carismáticas do estúdio. Cruella possuía uma presença contagiante, cuja a sua ambição em transformar cachorrinhos inocentes em casacos de pele era somente a ponta de um iceberg de uma figura que tinha ainda mais para nos oferecer. Convenhamos, a versão do clássico em  live-action  de 1996 somente funcionou graças a personagem e isso muito se devia a veterana Glenn Close ao dar vida a famigerada vilã. Parecia, portanto, uma missão impossível dar uma nova roupagem para esse curiosa figura em pleno século 21, mas eis que surge Emma Stone.

Vencedora do Oscar por ´"La La Land" (2016), Stone embarcou de cabeça na personagem, ao não somente ficar perfeita visualmente, como também em transforma-la em alguém mais humana e próxima a nós. Sua Cruella é uma personagem de origem trágica, que comeu o pão que o Diabo amassou, mas não desistindo de sua grande ambição de se tornar uma grande estilista. A primeira meia hora de filme é uma verdadeira aula de como se faz uma história de origem e cuja a narração off da personagem se encaixa profundamente.

Outro grande acerto do filme talvez seja o fato da trama transitar entre o verosímil e o cartunesco, sendo que esse último é representado por situações e personagens que mais parecem que saíram do clássico desenho animado, mas não dominando a cenas como um todo. Há uma preocupação na construção dos personagens, que antes em suas versões originais não possuíam profundidade e sendo apenas figuras para nos entreter. É surpreendente, por exemplo, vermos Horácio e Jasper, antes simples capangas da protagonista, se tornando peças fundamentais na vida da personagem e isso graças ao bom desempenho de Paul Walter Hauser e Joel Fry.

Voltando a protagonista, não me surpreenderia se Emma Stone fosse indicada ao próximo Oscar, pois atriz se sobressai em momentos em que a personagem dá de encontro com situações que desafiam o seu ser e a forçando a dar um novo passo para colocar para fora o seu lado mais sombrio e calculista. Porém, essas situações somente acontecem porque a sua antagonista Baronesa funciona também em cena e isso graças ao incrível desempenho de Emma Thompson. Aliás, ambas em cena são protagonistas de momentos em que o filme adentra a um terreno ousado, corajoso e até então um pouco inédito para o estúdio.

Tecnicamente o filme é um colírio para os olhos, cuja a edição de arte e fotografia se alinham com perfeição e nos passando uma bela reconstituição de época. Porém, é bom destacar a impressionante montagem das cenas, cujo o seu ritmo faz com que jamais sintamos o tempo passar e cujo um plano-sequência no primeiro ato da trama irá nos surpreender. Mas é no seu figurino que se encontra o seu maior triunfo, cujo o trabalho da estilista Jenny Beavan, vencedora do Oscar pelo figurino de "Mad Max - Estrada da Fúria" (2015) sintetizam tempos ousados do mundo da moda e se casando muito bem com as cores da época.

O filme, logicamente, não se esquece dos fãs do clássico do estúdio e cujo os créditos finais nos brindam com uma bela homenagem nostálgica e muito bem-vinda. Aliás, o filme termina exatamente quando o clássico começa, ou seja, respeitando a sua fonte original, mas sem copia-la. Com uma trilha sonora surpreendente e com as melhores músicas dos anos 60 e 70,  "Cruella" é o melhor filme live-action dos clássicos da Disney e provando que ousar nunca é demais para nos surpreender.


Nota: O filme está também disponível pelo Disney + 


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quinta-feira, 3 de junho de 2021

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (03/06/21)

 Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

Sinopse: O casal Ed e Lorraine Warren investigam um assassino que alega ter sido possuído por um demônio.


Acqua Movie

Sinopse: Duda é uma documentarista e ambientalista que trabalha com a questão indígena e é mãe de Cícero, de 12 anos. Após a morte do pai, ele convence Duda a viajar de São Paulo ao sertão para jogar as cinzas no rio São Francisco.

Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos

Sinopse: Antes do País das Maravilhas e da viagem à Terra do Nunca, os irmãos Peter (Jordan A. Nash) e Alice (Keira Chansa) deixaram a imaginação correr solta durante um verão repleto de brincadeiras com espadas, chás da tarde e navios piratas. Quando uma tragédia toma conta da família e muda completamente a vida de seus pais, Jack (David Oyelowo) e Rose (Angelina Jolie), Peter e Alice embarcam numa aventura fantástica e entendem que crescer pode não ser o maior dos seus problemas.


Verão de 85

Sinopse: No seu aniversário de 16 anos, Alexis é heroicamente salvo da morte por David, de 18 anos, depois do seu barco afundar na costa da Normandia. As férias de verão estão apenas começando e Alexis acaba de conhecer o amigo dos seus sonhos.


Confira também: Estreias na Cinemateca Paulo Amorim. 


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Cine Dica: Programação de 03 a 09 de Junho de 2021 na Cinemateca Paulo Amorim

 PROGRAMAÇÃO DE 3 A 9 DE JUNHO DE 2021

SEGUNDAS-FEIRAS NÃO HÁ SESSÕES

Raia 4


SALA 1 / PAULO AMORIM

15h30 - LEGADO ITALIANO

(Brasil, 2020, 90min). Documentário de Márcia Monteiro. Lança Filmes, 10 anos.

Sinopse: Com locações na Serra Gaúcha e no norte da Itália, o documentário revisita os 145 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul e os vários legados que hoje fazem parte da cultura gaúcha. Entre depoimentos e imagens, os descendentes de imigrantes abordam temas como a religiosidade, a música, a gastronomia, a arquitetura, a indústria, o dialeto talian e, claro, a produção do vinho.


17h30 - BABENCO – ALGUÉM TEM QUE OUVIR O CORAÇÃO E DIZER: PAROU

(Brasil, 75min, 2020). Documentário de Bárbara Paz. Imovision, 12 anos.

Sinopse: A atriz Bárbara Paz encontrou forças na dor da despedida precoce para realizar um filme póstumo e fazer uma homenagem emocionante ao marido Hector Babenco (1946 - 2016). Em meio a lembranças, histórias e cenas dos muitos títulos que ele dirigiu, o público conhece um pouco mais da trajetória do diretor, que lutou contra um câncer durante três décadas e fez do cinema um motivo para continuar vivendo. Melhor documentário no Festival de Veneza de 2019, o longa também foi indicado para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional.


SALA 2 / EDUARDO HIRTZ


14h30 - ALVORADA

(Brasil, 2020, 90min). Documentário de Anna Muylaert e Lô Politi. Vitrine Filmes, Livre.

Sinopse: O filme acompanha o período que antecedeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mostrando reuniões, longos telefonemas e as atuações de políticos e equipe de trabalho nos bastidores. Rodado entre julho e setembro de 2016, o longa também destaca a intimidade da presidente em meio a suntuosidade do Palácio da Alvorada - entre grandes salões e longos corredores, ela fala de política, história, literatura e de si própria.


16h30 - RAIA 4

(Brasil, 2020, 96min). Direção de Emiliano Cunha, com Brídia Moni, Kethelen Guadagnini e José Henrique Ligabue. Boulevard Filmes, Drama. 14 anos.

Sinopse: Duas adolescentes de temperamentos distintos convivem no mesmo clube, onde treinam e se preparam para competições de natação. Além dos conflitos típicos da idade, as diferenças de personalidade entre as duas se intensificam por conta das disputas na piscina e também na vida pessoal. Rodado em Porto Alegre, as protagonistas do filme são estreantes e foram selecionadas entre mais de 100 jovens nadadoras. “Raia 4” se destacou no Festival de Gramado de 2019, quando conquistou os prêmios do Júri da Crítica, Fotografia (assinada por Edu Rabin) e Melhor Longa Gaúcho.


18h30 – PORTUÑOL *ESTREIA*

(Brasil, 2020, 70 min). Documentário de Thais Fernandes. Lança Filmes, 14 anos.

Sinopse: A equipe do filme viajou pelas fronteiras do Brasil com Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia para investigar a cultura que nasce da convivência entre estes vizinhos hispanohablantes. Trata-se de um filme de estrada que, no percurso, vai desfazendo limites físicos e desvendando a latinidade de personagens tão diversos quanto crianças, professores, estudantes ou músicos. O que une todos eles é o portuñol, essa língua que também é uma síntese da América Latina. O documentário venceu a Mostra Gaúcha de Longas do Festival de Gramado em 2020.


PREÇOS DOS INGRESSOS:

TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS).

SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS).

CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES. 

Professores tem direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional.

Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013.

Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.

*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.

A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos.

Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.


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Blog: https://cinematecapauloamorim.wordpress.com/

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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: ‘Mães de Verdade’

Sinopse: O casal Kiyokazu Kurihara e Satoko decide adotar um bebê. Seis anos depois, felizes no casamento, eles recebem uma ligação de uma mulher chamada Hikari Katakura alegando ser a mãe biológica de Asato, o filho adotado do casal. 

No filme americano "Juno" (2007) vemos de forma lucida e bem humorada a jovem protagonista doar para adoção o seu bebê, pois ela ainda é muito nova para criar. Porém, no mundo real, e na prática, as coisas não funcionam de forma mecânica, pois os sentimentos humanos sempre estarão lá para nos lembrarmos do que realmente somos feitos. "Mães de Verdade" (2021) retrata de forma delicada diversas mães, das quais tiveram sorte, mas outras tiveram o azar de encarar a dura realidade.

Dirigido por  Naomi Kawase,  o filme conta a história de Kiyokazu Kurihara (Arata Iura) e Satoko (Hiromi Nagasaku), um casal que, no desejo de ter um filho, adotam um bebê. Seis anos depois, enquanto vivem um feliz casamento, eles recebem uma ligação de uma mulher chamada Hikari Katakura (Aju Makita), alegando ser a mãe biológica de Asato (Reo Sato), o filho adotado do casal. Hikari diz querer seu filho de volta, chantageando a família com a pedida de uma alta quantia de dinheiro.

De forma lírica, porém, não menos realista, Naomi Kawase procura construir essa história de forma verossímil, mas jamais se esquecendo de estar lidando com o cinema. Por conta disso, a diretora usa diversos artifícios, desde ao criar uma bela fotografia de cores claras, das quais sintetiza o equilíbrio que o casal principal vai passando, como também para momentos obscuros em que a mãe biológica vai enfrentando. Tudo isso moldado por um curioso flashback, do qual surge sem nenhum aviso, mas que não nos confundem em nenhum momento.

Embora o filme seja um retrato da cultura japonesa atual, por outro lado, o tema sobre adoção é universal e devendo ser visto e debatido por todos. Se por um lado alguns países tratam o assunto com certo conservadorismo, é curioso observar que isso não acontece em outros como no caso do Japão, que trata o assunto de forma lucida e não se esquecendo do peso que ela traz para as pessoas envolvidas. O conservadorismo está ali, principalmente ao ser retratado através dos pais da mãe biológica, mas isso não é algo para ser jogado para debaixo do tapete, mas sim sendo encarado de frente.

Embora o casal o casal central seja os verdadeiros protagonistas do primeiro ato, Hikari Katakura surpreende em uma atuação comovente como a mãe biológica, da qual ela retrata diversas meninas sonhadoras de todo mundo, mas tendo o conto de fadas desfeito quando encara o mundo real como um todo. É neste último caso, por exemplo, que a diretora Naomi Kawase muda o tom do filme de uma forma quase documental, ao focar a jovem protagonista em meio a outras meninas com a mesma situação em um refúgio para dar à luz e assim conhecemos cada uma de suas histórias. Ou seja, não é um caso isolado, mas um de muitos ao redor do globo.

No ato final verdades precisam ser ditas, para que elas sejam administradas de forma coerente, seja pelos vai adotivos ou biológicos. Não importa qual o sangue fale mais alto, mas sim os sentimentos que precisam serem ouvidos. "Nossas Mães" fala sobre o amor universal vindo de mães que anseiam pelo melhor para os seus filhos em meio adversidades que vão surgindo no mundo. 


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terça-feira, 1 de junho de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Cine Marrocos'

Sinopse: Conheça a história de sem-tetos, refugiados africanos e imigrantes latino-americanos que ocuparam o prédio de um antigo cinema do centro de São Paulo e o processo artístico que os transformou em estrelas de cinema.  

Os antigos cinemas de rua brasileiros estão definhando, sendo desativados e reformulados para se tornarem shopping center, ou na pior das hipóteses, palanque para pregação de religiosos cuja a ambição é dominar os meios políticos. O prédio do Cine Imperial de Porto Alegre, por exemplo, há anos está desativado, não sendo refeito e cujo os responsáveis nos passam a desculpa até hoje que há uma enorme pedra embaixo que provocaria a queda do prédio caso fosse removida. Tudo se torna uma representação do descaso do estado perante aos seus patrimônios e dois quais ficam abandonados e esquecidos conforme o tempo vai passando.

Curiosamente, esses prédios se tornam abrigos de moradores sem teto, refugiados de outros países e buscando, enfim, uma forma de recomeçar do zero. Porém, quando acontece isso, não demora muito para que o estado expulse essas pessoas e coloque novamente o prédio em abandono e dando meras justificativas que não convencem nem o mais leigo sobre o assunto. "Cine Marrocos" (2021) é um retrato da resistência desse povo que, curiosamente, abraça por alguns momentos a magia do cinema que em um passado longínquo deixava aquele cenário muito mais dourado.

Dirigido por Ricardo Calil, do filme "Uma Noite em 67" (2010), acompanhamos no documentário a história de sem-tetos, refugiados africanos e imigrantes latino-americanos que ocuparam o prédio de um antigo cinema do centro de São Paulo e o processo artístico que os transformou em estrelas de cinema. Passado e presente transitam naquele cenário e recriando uma verdadeira janela do tempo.

Ícone do meio cinematográfico dos anos 1950, o Cine Marrocos teve um fim triste, sendo desativado e abandonado. Nos tempos ativos, o local serviu de cenário para festivais inesquecíveis e dos quais os cinéfilos veteranos jamais se esquecem. É por esse pensamento que o cineasta Ricardo Calil decide convidar esses moradores a conhecerem os filmes que eram exibidos na época, para que então os mesmos façam encenações dos trechos clássicos como "A Grande Ilusão" (1949), "Crepúsculo dos Deuses" (1950) e "Júlio César" (1953).

A intenção do cineasta não é tornar aquelas pessoas em profissionais da área, mas sim para que eles se misturem com a aura da sétima arte impregnada naquele lugar abandonado, mas contendo grandes histórias que obteve ao longo do tempo. Em meio aos preparos para a criação das cenas ficamos conhecendo um pouco sobre alguns moradores, sendo que cada um deles possuem histórias surpreendentes e os motivos que alguns levaram abandonar os seus país de origem. É pela arte de atuação, portanto, que eles encontram um meio para colocar para fora as suas dores, frustações e tornando as suas atuações quase impecáveis.

Para o deleite do cinéfilo, Ricardo Calil faz um paralelo entre a cenas clássicas e as recriadas pelos moradores. O resultado é surpreendente, principalmente pelo fato da fotografia ser similar a dos clássicos, além do figurino que não faz feio em nenhum momento. Vale destacar, novamente, o bom empenho de cada uma daquelas pessoas que decidiram abraçar essa forma de fazer arte mesmo com o pouco que obtiveram.

Curiosamente, o documentário transita pelos fatos que ocorriam lá dentro com o que era noticiado pelos jornais tradicionais da época. Os moradores eram liderados por um líder do MSTS lá dentro, que era responsável, segundo reportagens da Rede Globo, de esquemas de tráfico de drogas e armas dentro do local. A pergunta que fica no ar é se Ricardo Calil sabia disso tudo ou preferiu ignorar para continuar com o seu projeto lá dentro?

Polêmicas à parte, o documentário fala sobre tempos dourados que não voltam mais, onde vemos pessoas em situação miserável buscando abrigo através de um local que um dia era o glamour do cinema. Ao mesmo tempo, a obra sintetiza que os sonhos não podem morrerem perante a um sistema cheio de regras e dos quais somente existem para aniquilar o que um dia valia a pena. Ao presenciarmos no prólogo e epílogo e cena final clássica de "Crepúsculo dos Deuses" constatamos que não foi colocada ali de forma gratuita, mas sim para nos dizer que precisamos abraçar o que é nosso por direito, mesmo que isso custe a nossa própria identidade perante a esses tempos loucos.

"Cine Marrocos" é sobre um ato de resistência cultural, do qual pessoas comuns tem muito mais a oferecer para nós do que políticos que se acham no direito de tirar o nosso livre arbítrio de ir e vir. 


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segunda-feira, 31 de maio de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'The Sunset Limited'

Sinopse: Um debate filosófico se estabelece entre um sujeito espiritualizado e um professor suicida. 

Não é de hoje que determinados filmes apresentem tramas em que elas se passem em um único cenário e gerando assim até mesmo uma sensação claustrofóbica de quem assiste. O clássico "12 Homens e uma Sentença" (1957), por exemplo, colocava os seus doze personagens principais em uma única sala e fazendo que os seus ânimos aflorassem na medida em que o tempo avançava. "The Sunset Limited" (2011) nos apresenta uma situação ainda mais estreita, ao nos colocar frente a frente com somente dois protagonistas em um único cenário e discutindo sobre descrença e fé ao mesmo tempo.  

Dirigido pelo veterano Tommy Lee Jones, o filme é protagonizado pelo mesmo, do qual tenta o suicídio ao se jogar nos trilhos do trem. Porém, ele é salvo pelo funcionário do local, interpretado pelo ator Samuel L. Jackson. Após o ocorrido, o funcionário tenta dialogar com o suicida e os motivos que o levaram a querer fazer isso.  

Tommy Lee Jones provou ter mão segura na direção, pois basta assistirmos o seu "Três Enterros" (2005) com um ótimo exemplo. Aqui o caso ainda é mais complexo, onde vemos o mesmo dirigindo a si próprio e contracenando com outro grande interprete que é Samuel L. Jackson. O suposto suicídio, por exemplo, jamais é visto, mas sim somente sabemos sobre o ocorrido através do diálogo de ambos.  

Neste último caso, o dialogo se torna a peça fundamental para que o filme continue funcionando, pois é através dele que construímos mentalmente sobre quem são e o que foram na vida esses dois personagens que acabaram se conhecendo de uma forma peculiar. Se formos simplificar, o filme seria uma versão resumida do clássico "A Felicidade Não Se Compra" (1946), mas de uma forma mais mórbida, realística e sem anjos para salvar o dia. O que se tem aqui é o embate entre a fé e descrença, sendo uma briga que perdura a séculos e não encontrando um ponto final nisso.   

Enquanto Samuel busca uma solução através do que aprendeu com a sua crença, o personagem de Jones, por sua vez, sempre anseia pela saída da porta, mas sempre ocorrendo uma desculpa para ele continuar com o diálogo na mesa. Diferente do que se imagina, Samuel L. Jackson não é uma espécie de salvador da pátria, já que o mesmo possui as suas falhas que acumulou ao longo da vida, mas acreditando que conseguiu obter, ao menos, um equilíbrio através da palavra da bíblia. Já o personagem de Jones é o típico personagem que acumulou cultura em abundância, mas cuja a própria não foi suficiente para escapar de uma realidade em ele acha que não há mais sentido algum em conviver com ela.  

O filme se torna cada vez mais estreito, claustrofóbico e sem nenhuma solução na medida em que a trama avançando. Em sua reta final, prevemos até mesmo o pior, mas sendo concluído sem nenhuma solução para ambas as partes, já que a desavença entre a fé e descrença é algo que perdura e perdurará ainda por muito tempo. Se conclui que essas duas pessoas não estão predestinadas a conviver em suas realidades, mas sim ela se mantém através de suas próprias escolhas e cabe a elas enfrentarem as suas consequências. 

"The Sunset Limited" é um resumo sobre um debate que perdura a séculos, onde razão e crença sempre procuram um equilíbrio entre ambas as partes para conviverem neste mesmo plano. 

Onde Assistir: HBO Go.  

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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Cine Dica: Em DVD e Streaming: 'Oxigênio'

Sinopse: Mulher que, recuperando a consciência sem qualquer conhecimento de onde ela está, se vê trancada dentro de uma câmara criogênica, amarrada dentro de uma cápsula semelhante a um caixão, com sistemas de computador monitorando cada movimento seu.

No filme “Enterrado Vivo” (2010) vemos o protagonista lutar contra o tempo para escapar do caixão onde ele se encontra preso. “Contágio” (2011) é, talvez, o melhor filme que profetizou os tempos em que vivemos da pandemia atual. Agora, imagine misturar esses dois filmes em um único ingrediente e se tem “Oxigênio” (2021) filme que é uma espécie de metáfora sobre a força de vontade do ser humano atual em lutar pela sobrevivência em tempos nebulosos e cujo o futuro se encontra indefinido.

Dirigido por Alexandre Aja, do filme “Predadores Assassinos” (2019), o filme conta a história de uma mulher chamada Liz, interpretada pela atriz Mélanie Laurent do filme “Bastardos Inglórios” (2009), que se encontra presa em uma câmara criogênica. Com ajuda do computador virtual, ela começa agir com calma para conseguir escapar do local. Porém, quanto mais ela tenta escapar mais ela vai perdendo oxigênio e fazendo com que ela lute contra o próprio tempo.

Falar mais sobre o filme seria como estragar diversas surpresas que ele nos brinda ao longo de sua projeção. O que eu posso dizer é que o filme sintetiza esses tempos atuais em que vivemos, onde ficamos sempre com aquela sensação de estarmos pisando em um campo minado e sendo expostos pela coronavírus a todo o momento. O prólogo, por exemplo, onde vemos um rato em busca da saída em um gigante labirinto representa muito bem isso e se tornando o primeiro de inúmeros simbolismos que o filme vai nos apresentando.

Claustrofóbico, o filme nos passa uma sensação de incomodo a todo momento, fazendo com que nós estivéssemos lado a lado da protagonista dentro daquele cenário tão apertado. O cenário em si é tecnológico, familiar e se casando com os tempos atuais em que estamos cada vez mais conectados através das redes sociais. Porém, quanto mais a protagonista usa essa tecnologia, mais complexa se torna a sua tentativa de fuga daquele lugar, ao ponto de que sua agonia e nervosismo lhe compliquem e faça com que ela tenha até mesmo delírios durante a sua luta pela vida.

Mélanie Laurent nos brinda com uma ótima atuação, onde ela nos passa através de sua personagem toda angustia e desespero em tentar saber o que realmente está acontecendo, já que, além dela estar presa, ela está sofrendo de uma forte amnésia e não sabe ao certo quem ela é. Na medida em que as respostas vem, seja através da tecnologia do local, ou de suas lembranças, mais a gente fica se perguntando o que é real e o que é ilusão.

Neste último caso, o filme não foge de certas teorias de conspiração que tanto pipocam ao longo dos anos no cinema, que vai desde a filmes como “Matrix” (1999) como “Vanilla Sky” (2001) em que os sonhos e lembranças estão apenas separados em uma camada bastante fina e se tornando a peça para a solução, ou então para uma grande armadilha. Mas, independente disso, o filme é sobre a luta do ser humano em estar liberto, em sua busca pelo desejo de viver, mesmo que para isso pague um alto preço ao descobrir a trágica verdade.

Com uma trilha sonora poderosa, o filme vai aos poucos descascando diversas camadas dessa cebola, cuja as suas revelações podem desconcertar alguns, mas ao mesmo tempo empolgando muitos. O filme com certeza irá dividir a opinião do público, principalmente em seu ato final que levantará mais perguntas do que respostas e que culminara em diversas horas de debates acalorados ao longo do tempo. O filme pode ser simplificado como uma metáfora sobre a força de vontade de viver em nossos tempos atuais, ou simplesmente um filme de suspense que mistura outros gêneros para se criar algo que nos prenda até o seu ultimo minuto.

“Oxigênio” é, desde já, um dos melhores filmes de suspense do ano, do qual nos coloca frente a frente com a força de vontade do ser humano em querer continuar vivendo em tempos cada vez mais complexos.  

Onde Assistir: Netflix.

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