Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

quinta-feira, 30 de março de 2017

Cine Dica: Era o Hotel Cambridge ganha Sessão de Lançamento no CineBancários

Com direção de Eliane Caffé, Era o Hotel Cambridge entra em cartaz no CineBancários no dia 30 de março, com uma Sessão de Lançamento às 19h30. Após a exibição do filme será realizado um debate que contará com a presença do ator Jose Dumont e Carmen Silva (Frente de Luta por Moradia). O longa narra a trajetória de refugiados recém-chegados ao Brasil que, juntos com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho edifício abandonado no centro de São Paulo. Em meio à tensão diária da ameaça do despejo, revelam-se dramas, situações cômicas e diferentes visões de mundo. Desde a sua apresentação no Festival do Rio, em setembro/outubro passados, Hotel Cambridge vem tendo expressiva participação em eventos de cinema no País e no exterior.
A distribuição de senhas será realizada a partir das 19h e a entrada é franca.

O filme ficará em cartaz nas sessões das 15h e 19h. Os ingressos podem ser adquiridos no local ou no site ingressos.com a R$10,00. Estudantes, idosos, pessoas com deficiência, bancários sindicalizados e jornalistas sindicalizados pagam R$5,00. Aceitamos os cartões Vale Cultura do Banrisul, Banricompras, Visa e Mastercard.

FICÇÃO

Era o Hotel Cambridge aborda a questão do movimento de refugiados/imigrante em conexão com a luta de trabalhadores sem-teto que disputam uma moradia digna nascidades do mundo inteiro. O filme é um hibrido de ficção e documental no qual participam atores e personagens reais de uma ocupação no centro de São Paulo. O convívio entre línguas, mundos e culturas diferentes transforma a narrativa em uma rica polifonia de situações tragicômicas. As janelas do edifício se abrem para outros mundos através da web, quando os refugiados se conectam com seus familiares e países de origem deixados para trás.

A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto por quatro frentes principais: equipe de produção do filme; lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia); grupo dos refugiados e núcleo de estudantes de arquitetura da Escola da Cidade. Por meio oficinas dentro da ocupação surgiu a matéria prima para o aprimoramento do roteiro e da direção de arte. A ousadia do experimento garantiu autenticidade e força dramática ao filme.

MOVIMENTO

A FLM (Frente de Luta pela Moradia) acolheu e orientou a produção do filme Era o Hotel Cambridge. Constituída por indivíduos com extração nas camadas mais vulneráveis da população, a Frente de Luta pela Moradia tem entre suas principais lideranças mulheres pobres, negras, trabalhadoras e chefes de família, que veem na organização a esperança em dias melhores para si e seus filhos. Carmen Silva Ferreira, atriz do filme, é uma dessas novas lideranças na cidade de São Paulo. Baiana, vítima de violência doméstica, oito filhos, imigrante, ela mesma foi uma sem-teto. Na luta pela reforma urbana, constituiu vários oásis de solidariedade e respeito em São Paulo, uma cidade acostumada a excluir os mais pobres, os mais fracos, os diferentes. Assim são os prédios hoje ocupados pelos sem-teto organizados na FLM.
Antes imóveis mortos (mortos pela especulação imobiliária, diga-se), esqueletos de concreto e ferro inúteis na paisagem urbana, focos da criminalidade, da doença e do desespero, esses edifícios transformaram-se em generosa experiência coletiva de acolhimento sem discriminação.
O convívio respeitoso que vemos entre os moradores, a proteção às crianças, aos idosos, aos deficientes, o cuidado com seu futuro, para não falar da limpeza esmerada das áreas comuns, tudo isso reforça em nós a idéia de que, ali, entre os pobres, encontra-se uma nova forma de vida e de luta social –mais feminina, mais gentil, mais solidária.
São Paulo merece o amor e a dignidade humana que vemos prevalecer no trato entre os moradores desses imóveis onde quem fala mais alto é a voz da esperança em uma cidade mais justa e gentil. É disso, estamos certos, que o Brasil e o mundo precisam.

OS REFUGIADOS

O filme Era o Hotel Cambridge representa o universo do refugio em sua dimensão humana, intimista e diferente dos preconceitos com os quais ele é percebido pelo imaginário dominante. A trama os situa em pé de igualdade com brasileiros que também vivem em situações limites. A presença deles transforma profundamente a geografia restrita do edifício, pois trazem consigo fortes referências sensoriais, afetivas, ideológicas e linguísticas. No interior da ocupação o convívio entre línguas, mundos e culturas diferentes exibe um rico território de situações tragicômicas. Espaços reais e virtuais se mesclam na ficção para uma experiência com a narrativa cinematográfica cuja importância é aproximar o espectador da figura do refugiado.

ARQUITETURA, EDUCAÇÃO E CINEMA

O que definiu a ambiência do filme não foi somente a série de demandas do roteiro, mas também as demandas dessa comunidade que temporariamente habita o edifício Cambridge. A diretora de arte, Carla Caffé, juntamente com professores e estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, trabalhou os cenários para que terminadas as filmagens, com a da saída da equipe do filme, os espaços permanecem equipados para promover o encontro, para empoderar a comunidade. Essa experiência possibilitou não somente a extensão da educação para fora de seus padrões tradicionais de ensino, como também ampliou o diálogo entre arquitetura e cinema.

SOBRE A DIRETORA

Seu primeiro longa metragem Kenoma (1998) alcançou reconhecimento internacional e foi exibido em diversos festivais pelo mundo. Seus filmes seguintes Narradores de Javé (2002) e O Sol do Meio Dia (2009) seguiram o mesmo caminho. Na televisão, Eliane dirigiu minisséries e documentários com um viés experimental, além de trabalhar na coordenação de coletivos audiovisuais em zonas de conflito no interior do Brasil.

AURORA FILMES

É uma produtora audiovisual que desenvolve projetos para o cinema e televisão no Brasil e no exterior. Foi fundada em 2006 pelos produtores Rui Pires e André Montenegro, que possuem em seus currículos mais de 40 obras entre longas-metragens e séries. A Aurora Filmes produziu a série A Grande Viagem e os longas-metragens Tudo por Amor ao Cinema, Entre Vales, Estamos Juntos, Reflexões de um Liqüidificador e A Via Láctea. Atualmente a produtora finaliza os filmes Era o Hotel Cambridge e A Comédia Divina.

TU VAIS VOIR

Fundada em 2001 é uma produtora francesa que produz filmes nacionais e de coproduções internacionais. Um de seus maiores sucessos é o filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles. A produtora possui sólidos vínculos com coprodutores de diversos países europeus, assim como na América Latina e Israel.

FICHA TÉCNICA

2016 / Brasil / Drama / 90 min
Direção: Eliane Caffé
Produção: Aurora Filmes
Coprodução: Tu Vas Voir
Distribuição: Vitrine Filmes


GRADE DE HORÁRIOS

30 de março (quinta-feira)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h30 – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

31 de março (sexta-feira)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

01 de abril (sábado)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

02 de abril (domingo)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

04 de abril (terça-feira)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

05 de abril (quarta-feira)
15h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
17h – Sessão Vitrine: O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
19h – Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

quarta-feira, 29 de março de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Fragmentado



Sinopse:O psicopata Kevin (James McAvoy) tem nada menos que 23 personalidades. Um dia, ele sequestra três garotas. No cativeiro, Kevin começa a atormentá-las com seu comportamento instável. Para o terror das jovens, a pior dessas personalidades, conhecida como The Beast, ganha vida.


Após as desastrosas super produções como O Último Mestre do Ar e Depois da Terra, parecia que M. Night Shyamalan havia se vendido aos grandes estúdios e criando filmes sob encomenda. Contudo, aquele cineasta autoral que nós conhecemos em obras geniais como Sexto Sentido e Corpo Fechado, havia se reencontrado com produção barata e estimulante que foi A Visita. Agora, Shyamalan finalmente se estabilizou novamente e lançando então Fragmentado, um filme que, não só prova que o lado autoral do cineasta está mais vivo do que nunca, como também comprova que sua criatividade ainda não se esgotou. Acompanhamos a história de Kevin (James McAvoy, espetacular), um rapaz atormentado, que decide sequestrar a jovem Casey Cooke (Anya Taylor-Joy, do filme A Bruxa) e suas duas amigas num estacionamento. Quando acordam, elas se encontram numa espécie de porão, onde há somente uma porta onde é aberta e fechada pelo Kevin. Para piorar, Kevin possui 23 personalidades diferentes, das quais comandam o seu corpo e correndo o sério risco de haver uma 24ª quarta ainda desconhecida e muito perigosa.
Após a apresentação dos personagens, Shyamalan não tem pressa em nos dizer o que realmente está acontecendo na tela, mas sim usando charadas através da sua câmera e criando assim inúmeras possibilidades sobre o que realmente está acontecendo na história. Só começamos a ter uma base da situação quando conhecemos, não só as outras personalidades de Kevin, como também a outra peça chave desse tabuleiro que é a psiquiatra Karen Fletche (Betty Buckley, do clássico Carrie: A Estranha), da qual cuida de Kevin, mas o analisa não só para ajudá-lo, como também estudar os significados da mente humana e seus mistérios. Ao mesmo tempo, a jovem sequestrada Casey já vive enfrentando os seus demônios interiores, já que ela sofre com lembranças do passado e das quais vão se revelando de forma trágica.
Mais do que um filme de suspense, Shyamalan cria um verdadeiro mosaico de significados e teorias sobre a mente do ser humano e fazendo a gente se perguntar até onde ela começa e quando ela termina. Tanto o sequestrador como a sequestrada são vitimas de abusos desde cedo, mas tendo consequências distintas se comparado ambos os casos. Casey, por exemplo, não esconde o fato de ser uma possível psicopata em potencial, mas demonstrando que no fundo há algo que a separa do universo insano de Kevin. 
James McAvoy nos brinda aqui com o melhor desempenho de toda a sua carreira, pois a sua interpretação é tão intensa e assombrosa que, por um momento, acreditamos que ele está trocando realmente de personalidade em cena. Sabendo do potencial que tem em mãos, Shyamalan não desgruda a câmera do rosto do ator e captando todas as mudanças faciais no momento da transição de uma personalidade para a outra do personagem: o plano sequência em que Kevin se encontra em uma sessão com a psiquiatra e ocorrendo então a mudança de personalidade é desde já um dos melhores momentos do filme.
Embora não seja um falso documentário, assim como foi apresentado no filme A Visita, Shyamalan pegou gosto em focar os rostos dos protagonistas durante vários minutos e registrando cada momento de mudança de comportamento deles. Embora o personagem de McAvoy seja o foco principal neste quesito, a veterana atriz Betty Buckley não fica muito atrás, já que o cineasta registra toda a ambiguidade da qual a sua personagem transmite para nós e fazendo a gente se perguntar quais os motivos dela querer ajudar Kevin a fundo, mesmo correndo sério risco de vida. As sequências de ambos em cena é sempre um deleite, não só pelo fato do extraordinário desempenho McAvoy, mas também pelo fato de Betty Buckley não ficar muito atrás no domínio de cena.
É claro que por ser um filme de M. Night Shyamalan, muitos fãs esperam que ocorra uma reviravolta no final da trama, assim como aconteceu em seus melhores filmes. Adianto que não é exatamente isso que acontece aqui, mas sim uma espécie de pergunta da qual ele deixa no ar sobre os eventos que aconteceram no decorrer do filme, já que a trama pode ser interpretada como algo que faça parte tanto do gênero fantástico, como também algo que transita pelo mundo real, gerando então uma verossimilhança e da qual ela sempre esteve presente nas entrelinhas dos seus filmes anteriores. De quebra, o cineasta nos brinda com uma cena final inesperada e fazendo os fãs de um dos seus filmes mais conhecidos pularem das cadeiras de tanta alegria. 
Fragmentado, não só é um dos melhores filmes de M. Night Shyamalan, como também é uma aula de como se deve ser feito os filmes atualmente, já que muitos são lançados com grandes expectativas, mas a maioria ficando sempre só na promessa. 




Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram

Cine Especial: Entrevista com o cineasta Marcelo Muller



 Marcelo Muller (dir) e o ator Anderson Di Rizzi (esq)

Confira a entrevista que eu fiz com o cineasta e roteirista Marcelo Muller, cujo o seu primeiro trabalho atrás das câmeras (Eu te Levo) estreia em breve em nossos cinemas.
 
Depois de muito tempo como roteirista, como foi à experiência na cadeira da direção pela primeira vez?

- É engraçado porque antes de estudar roteiro, eu estudei direção então a minha primeira formação acadêmica como estudante é a direção. O roteiro na verdade, foi um encontro pelo “Infância Clandestina” que foi a primeira vez que eu escrevi um longa a partir de um processo de colaboração com um outro diretor. Eu gosto muito das duas cadeiras, acho que são complementares. São duas funções que estão preocupadas em contar histórias, em construir universos e acho que um bom roteirista tem que entender como é sentar na cadeira de diretor, e um bom diretor tem que saber muito de como se conta. Nessa área temos que ser bastante coisa, eu sou roteirista, diretor, às vezes arrisco na produção – principalmente de televisão, sou professor de cinema, pesquisador,etc. Acho que o audiovisual é um universo tão fantástico que nos dá a oportunidade de navegar por diversas funções e ir aprendendo de todas as outras para fazer cada vez melhor. 


O filme é uma ficção ou tem muito de você na trama?

- O filme é uma ficção sim, mas que foi feita num espaço familiar. Ele acontece na cidade onde eu nasci e vivi até os 19 anos e aí nesse processo de aproximar uma trama com um personagem ficcional de um universo familiar, eu levei as locações para ambientes familiares mesmo. Então a casa onde filmamos, a casa do Rogério, é a casa onde meu pai nasceu e morou até casar, é a casa dos meus avós. A loja do Rogério, é a loja do meu avô que ainda funciona normalmente, não é a loja de ficção do filme, mas que leva o nome real da loja. Mas nesse sentido o personagem, principalmente, se aproxima desse universo familiar porque é um universo de gente comum, de uma família de descendência de imigrantes numa cidade do interior do país, uma cidade industrial que passou por uma porção de mudanças e um crescimento enorme, que foi um processo que acompanhei e vejo refletido em muita gente. Isso condiciona toda a história, faz com que o filme seja mais intimista e que os personagens sejam até um pouco mais, de certa maneira, reais e menos cinematográficos. São personagens inspirados em pessoas que eu vi, que eu conheço, misturados num universo que tem um realismo muito forte e importante. É uma ficção familiar, sem falar diretamente da minha família, mas nesse espaço que pertencem a esse tipo de família do interior.


Como foi a escolha do elenco?

 - Como o personagem do Rogério é triste, eu queria que o ator que fosse representar não fosse triste. Então a principio, estávamos procurando até comediantes pra fazer esse personagem para que ele pudesse ter, mesmo com tanta angustia, ter uma energia interior que pudesse me fazer acreditar que ele pode sorri. O Anderson se encaixa bem nisso, ele é um ator alegre que costuma fazer personagens positivos, ele não faz dramas, não é um galã. Ele é muito interessante nesse sentido então quando eu pensei no Anderson e pesquisei o trabalho dele, por indicação de alguns amigos que sabiam da produção executiva do filme, eu achei que ele funcionaria perfeitamente para esse personagem. A Rosi não precisa de explicação, é uma atriz maravilhosa e o Giovanni Gallo é outro que eu gostava muito do trabalho e achei que encaixava muito nessa atitude despojada do Chris, que é o personagem dele.  


Porque a opção pela fotografia em preto e branco?

 Foi um longo processo pra chegar no PB. Porque eu, a equipe, e as pessoas envolvidas na construção do filme achamos que tem uma conexão muito forte essa ausência de cor com a história que a gente está contando e o roteiro. O filme tem uma opção estética minimalista, tanto que tem uma piada interna que a gente fala que tiramos até a cor do filme pra poder expressar essa ausência de cor da vida do personagem mas, eu acho que o que mais influenciou na decisão, é que como o personagem expõe muito pouco o seu interior, se decidiu que era mais interessante, ao mesmo tempo que o público tem que imaginar o que está acontecendo dentro do Rogério, ele também ter que imaginar as cores que estão por trás desses tons de cinza. Isso é de verdade, quando assistimos o filme PB, vemos insconscientemente as cores, intuimos as cores e preenchemos essa ausência de cores com coisas da nossa cabeça. O filme convida o telespectador a preencher esse silêncio e essa falta de informação do que está acontecendo dentro do personagem, com algo que ele mesmo possa criar. É um convite a participar e acredito que a imagem do filme passa essa sensação, principalmente se visto no cinema, em tela grande como teremos a oportunidade de ver a partir da semana que vem. 


Em sua opinião, porque no Brasil está cada vez mais havendo o crescimento da chamada geração Canguru?

 Mais do que o Brasil, acredito que esse seja um fenômeno mundial. Conheço gente de vários países diferentes que tem a mesma questão: a liberdade de poder querer alguma coisa e a dificuldade de colocá-la em prática. Esse inferno que é a sociedade contemporânea. De fato eu tenho visto isso – a questão da geração canguru- com meus amigos que vão de Jundiaí – onde se passa a história- até Buenos Aires, São Paulo. A geração Canguru tem uma relação afetiva com a família, esse afeto conflituoso e complicado. Acredito que seja mundial e não só aqui. 


O filme toca em alguns pontos com relação ao quadro político atual no Brasil e de como anda dividindo a opinião das pessoas. Foi proposital ou mera coincidência durante o desenvolvimento do longa?   

Tudo no filme é proposital de alguma maneira, mesmo que eu obviamente não pensasse que a situação política do Brasil seria essa quando o filme fosse lançado. O Rogério é um personagem que reflete sobre o mundo que circula, tem valores bastante claros para ele ou pelo menos os limites do quão flexível a gente pode ser na vida, e ele toma decisões a partir da maneira que ele lê o mundo. Se a situação do país se agravou de lá pra cá, de quando o filme foi filmado ou o roteiro foi escrito, é consequência daquilo que a gente estava começando a perceber naquele momento. Na verdade, a coisa mais especifica em relação a política ou ao quadro social brasileiro que tem no filme, é o conflito entre a visão que se tem do policial militar e do bombeiro. Um é o herói e o outro é um personagem mais complexo e que muitas vezes pode ser injustiçado também. Então se colocar nos pés de quem quer ser bombeiro e que para isso, precisa ser policial militar, porque é assim que funciona em São Paulo. Ou o simples fato de ser militar, de qualquer maneira, ter esse tratamento diferente da sociedade ou ter que exercer a autoridade, esse poder coercitivo é muito complicado para um personagem como o Rogério. E hoje a gente vive um momento onde existe mais conflito em relação a isso, a gente ta vendo todos os dias, o conflito na rua e todo ato. Então a critica e o posicionamento é do personagem que tem aqueles valores e que não vai traí-los. Ou talvez vá. Mas, o País continua se aprofundando nessa crise que já era vista quando começamos a escrever.O filme se relaciona bem com a realidade e é um filme atual, mesmo sendo em preto e branco, é um filme atual. Pelo menos essa é a minha opinião como diretor e um dos autores do filme.
   Marcelo Muller (dir), o ator Anderson Di Rizzi (esq) e técnicos

Confira a minha crítica sobre o filme clicando aqui


Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram

terça-feira, 28 de março de 2017

Cine Dica: (Breve em cartaz) Eu te Levo



Sinopse:Rogério (Anderson Di Rizzi) mora com a mãe e nunca se preocupou em ser um homem responsável. Com a morte do pai, ele se vê forçado a tomar decisões importantes para seguir com o negócio do pai. No entanto, Rogério resolve ir atrás do sonho de ser bombeiro.

“Geração Canguru” é o termo que se dá aos jovens de 25 a 34 anos que permanecem vivendo com os pais ou voltam a morar com eles por opção. Segundo a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no último mês de dezembro, esse comportamento segue avançando no país: subiu de 24,3% para 25,3% a fatia dos jovens nessa faixa etária ainda morando sob o teto dos pais, entre 2014 e 2015. Esta é a maior parcela registrada em 11 anos.
Muitos fatores levam a esse índice a crescer, principalmente pelo fato de que as pessoas cada vez mais se vêem perante uma situação política indefinida e da qual deixa com certo receio sobre o que realmente fazer no futuro próximo. Num tempo em que o governo cada vez mais se cria, ou extingue leis que fazem retroceder o país em pelo menos vinte anos, o quadro acaba se tornando mais desolador quando paramos para analisar o assunto. Em Eu te Levo, acompanhamos a história de somente um indivíduo dessa geração, mas onde qualquer um pode se identificar facilmente com ele.
Em sua estréia como diretor, o roteirista Marcelo Müller nos apresenta a história de Rogério (Anderson Di Rizzi), rapaz que não sabe ao certo o que quer da vida e, devido a isso, continua morando na casa dos seus pais. A situação piora quando o seu pai vem a falecer e se vê obrigado a ter que cuidar dos negócios e ter que tomar decisões difíceis daqui para frente. Seu sonho na realidade é ser bombeiro, mas para conseguir realizar o tal feito, Rogério se vê obrigado a passar por provas das quais testam o seu próprio caráter.
Embora seja uma ficção, se percebe que estamos diante de uma história realista, da qual qualquer um se identifica facilmente com ela, principalmente para aqueles que passaram do período de transição para criar o seu próprio caminho, ou que até mesmo não conseguiu esse tal feito. Com uma bela fotografia em preto e branco, o clima das passagens da história sintetiza o conflito interno do protagonista, que se vê querendo realizar os seus sonhos, mas também tendo a preocupação em não desapontar a sua mãe. Ao mesmo tempo, se percebe que o protagonista é um observador, do qual sempre encontra uma situação da qual se identifique, como no caso ao lado de seus amigos e fazendo com que ele se torne um ouvinte, ou até mesmo um ombro amigo que clama também por auxílio.
O filme também abre espaço sobre o papel de servir e proteger atualmente em território brasileiro. Rogério deseja ser bombeiro, mas precisa ser PM ao mesmo tempo e tendo que ter a consciência de que pode acabar matando o seu semelhante em uma ação. A trama então escancara o lado feio da formação daqueles que desejam fazer a diferença a serviço de um bem maior, mas que se vê obrigado a ter que sujar as mãos até mesmo numa simples entrevista e fingir ser algo que não se encontra dentro de si. Anderson Di Rizzi carrega então todo o filme nas costas, ao conseguir o feito de transmitir através do seu papel todo o conflito e angustia do qual Rogério se encontra perante uma situação que testa a sua própria identidade dentro do mundo do qual ele vive.
Com um final em aberto, Eu te Levo é um pequeno filme, mas que tem muito a dizer sobre o Brasil de hoje, cuja geração atual se encontra no momento em uma estrada sem rumo. 
 
Nota: Amanhã vocês encontrarão por aqui a entrevista que eu fiz com o cineasta  Marcelo Müller.


Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram