Sábado passado, o SBT surpreendeu a todos com a exibição do clássico O Exorcista e surpreendentemente ficou por alguns momentos em primeiro lugar em audiência, provando que o filme ainda atrai seguidores e não seguidores. Mas o que torna essa produção tão contagiante? Seria pelos acidentes e mortes que ocorreram durante as filmagens? Seria pelo fato, em parte, do filme ser baseados em fatos reais? No meu caso o que me atraiu em assistir a trama não foi pelo fato das cenas de terror ou tão pouco pelo tema de possessão e sim pelo fato da trama criar o verdadeiro retrato dos pais perante o sofrimento de seus filhos e simplesmente não conseguirem tirar eles dessa horrível situação. Retrato de situação muito bem liderado pela atriz Ellen Burstyn que aqui tem seu melhor desempenho de toda a sua carreira. É incrível a dor que ela transmite ao encarar os horrores que a filha passa e simplesmente não conseguir compreender porque esta acontecendo isso, ao ponto que não lhe resta mais nada, a não ser recorrer à fé.
A primeira vez
Quando o filme completou 20 anos em 1998, imediatamente foi feita uma matéria especial do filme no programa do Fantástico (esse ninguém se esquece) que fala, não só do filme, mas do caso de possessão real que serviu de base para a criação do livro que por sua vez deu origem ao filme. Claro que com toda aquela divulgação e pelo fato de eu já ser um cinéfilo de carteirinha, não poderia ficar de fora, então fui alugar o filme, escondido alias, já que minha mãe tinha o maior medo da trama.
Assisti, achei arrepiante e consegui sobreviver na sessão toda. Realmente o filme é único pelo fato de ser uma trama com o pé no chão. Na época, quando o filme foi lançado (1973) o publico ainda estava acostumado a ver filmes com casas mau assombradas ou castelos góticos de Drácula, mas no caso desse não. Era um filme que retratava o dia a dia de pessoas normais em um ambiente normal e que de uma hora para outra tudo vira do avesso quando uma simples menina (Linda Blair assustadoramente ótima) começa a agir de um modo estarrecedor e demoníaco. William Friedkin (Operação França) faz aqui seu filme como se fosse o ultimo da carreira e não poupou esforços, tanto que colocava o elenco a beira da loucura e do nervosismo, principalmente quando trazia nos sets armas para disparar no ar e deixar o seu elenco em frangalhos dos nervos. Bom exemplo disso é quando o jovem padre Karras (Jason Miller) leva um susto com a famosa cena do toque do telefone. O rosto dele é de realmente assustado, já que o próprio diretor havia dado um tiro perto da cabeça do ator, um pequeno exemplo do que rolava na produção. Fora o fato que por coincidência ou não, alguns dos que trabalharam na produção morreram misteriosamente o que acabou levantando mais a aura de mistério ao redor do filme.
Mesmo com tudo isso na época, o filme arrastou milhões de pessoas no mundo todo, arrecadando só nos estados unidos mais de R$ 60 milhões de bilheteria, uma quantia exorbitante para época e levou para casa quatro Globos de Ouro (incluindo melhor filme) e dois Oscar (incluindo melhor roteiro adaptado).
Encarando na tela grande
O Exorcista já e um filme assustador na tela pequena, mas como teria sido no telão? Li muito sobre o fato de muitas pessoas desmaiarem ou vomitarem de medo durante a projeção em 1973 e a pergunta que pairava no ar era: Será que teria o mesmo efeito no publico atual? Entre 2001 e 2002, o filme voltou em cartaz no cinema com 11 minutos a mais até então inéditos (como a famosa cena da aranha da escada) e com o som remasterizado. Mesmo tendo o filme em VHS em casa, não resisti e fui assistir no cinema para encarar terror na tela grande e ver como o publico atual (principalmente o jovem) se comportaria atualmente. Durante a projeção eu pude ouvir algumas risadas em cenas nas quais não entendia a graça, como a cena em que ela urinava na festa, ou a cena em que ela vomita na cara de Karras. São momentos que chacoalharam o publico de 1973 mas que pelo visto virou piada para o publico atual, Porem, não importa qual época, há partes que ainda impressionam e marcam a pessoa ao assistir, como a estarrecedora cena do crucifixo, esse foi o momento que todos do cinema ficaram chocados, é aquele momento que o publico fica mudo e simplesmente não sabe descrever o que viu.
Então chega a tão famosa cena do exorcismo, onde acontece de tudo um pouco, desde cabeça girando ou o diabo falando palavrões a torto a direito. O publico em si, continuava rindo em alguns momentos, mas ao mesmo tempo se impressionava com as cenas. Com o termino do filme, créditos sobem, eu levanto e vejo jovens ainda sentados, algumas garotas chorando e nervosas ao lado dos namorados, uns saindo rapidamente arrependidos de ter gastado o dinheiro, mas esses que agiram dessa forma com certeza não estavam prestando atenção durante a projeção. Pelo menos foi assim na sessão que eu fui, na inesquecível sala Imperial do centro de Porto Alegre.
Conclusões
O Exorcista pertence a uma lista de bons titulos dos anos 70 que simplesmente ainda não envelheceram com o tempo e se não impressionam alguns jovens de hoje que estão acostumados a filmes de terror aos montes é porque eles simplesmente não tem noção do verdadeiro significado de qualidade de uma boa trama, e o Exorcista é isso, assustador não somente pelas imagens explicitas mas por saber mexer dentro de nos, nos nossos terrores mais profundos. Entendemos muito bem a mensagem sr Friedkin, pode abaixar a arma.
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