Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
Me acompanhem no meu:
Twitter: @cinemaanosluz
Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com
A cinesemana que abre o mês de maio traz nada menos que cinco estreias na nossa programação. Um dos títulos vem da Coreia do Sul e coloca na tela as tensas relações de UMA FAMÍLIA NORMAL. Os filmes SEX e LOVE, do diretor norueguês Dag Johan Haugerud, são exibidos em sequência e fazem parte de uma trilogia sobre as relações amorosas. A comédia dramática norte-americana UM PAI PARA LILY se vale das redes sociais para criar uma trama de amizade a afeto, enquanto SEMPRE GAROTAS é uma produção indiana com um delicado olhar feminino sobre o amor na adolescência.
Também entra em cartaz A MAIS PRECIOSA DAS CARGAS, estreia na animação do diretor Michel Hazanavicius que apresenta uma comovente história sobre a importância da empatia e da compaixão em tempos de guerra. Seguimos com CIDADE DOS SONHOS, clássico de David Lynch que é um grande sucesso de público, e o Oscarizado FLOW, agora com sessões nos finais de semana.
Esta é a última semana para conferir as produções brasileiras MILTON BITUCA NASCIMENTO, da diretora Flavia Moraes; e OESTE OUTRA VEZ, grande vencedor do Festival de Gramado 2024.
Confira a programação completa no site oficial da Cinemateca clicando aqui.
Na terça-feira, 29 de abril, entram em cartaz na Cinemateca Capitólio um programa duplo com os novos filmes do francês Leos Carax e da italiana Alice Rohrwacher, e a cópia restaurada de Onda Nova, clássico brasileiro de Ícaro C. Martins e José Antonio Garcia.
A partir de quinta-feira, 1 de maio, a Cinemateca Capitólio exibe a produção indiana Sempre Garotas, dirigido por Shuchi Talati, premiada no juri popular do festival de Sundance, em 2024.
Em maio, a Sessão Vagalume do Programa de Alfabetização Audiovisual apresenta uma história sobre a criatividade como ferramenta para lidar com as dificuldades da vida. O Sonho de Clarice (Brasil, 2023, animação/fantasia, 83 min), dirigido por Fernando Gutiérrez e Guto Bicalho, será exibido nos dias 03 e 04, às 15h! O valor do ingresso é R$ 4,00.
Planeta Feminino será exibido na próxima terça-feira (29/04) na Cinemateca Capitólio. A sessão acontece às 19h30 e contará com a ilustre presença das personagens Angélica Santos e Renata Koch Alvarenga, junto à diretora Aletéia Selonk, para um debate. Entrada franca.
Na quarta-feira, 30 de abril, às 19h, a 14ª Bienal do MERCOSUL apresenta a sessão do documentário O que é nosso: reclaiming the jungle, de Allyson Alapont, Jerry Clode e Murilo Yamanaka, seguida de debate com integrantes do Coletivo Arruaça. Entrada franca.
No domingo, 4 de maio, às 18h30, o ator e dramaturgo Artur José Pinto, falecido em novembro de 2023, receberá uma homenagem de seus colegas e do público, com a exibição do longa-metragem Bio: construindo uma vida, de Carlos Gerbase, um de seus últimos trabalhos na tela. A iniciativa da homenagem é de Prana Filmes. Entrada franca.
Sinopse: Peter vive os seus primeiros dias como Homem Aranha. Porém, dever e responsabilidade faz com que ele fique em um grande dilema.
Homem Aranha é um personagem que já teve diversas adaptações para o cinema e inúmeras séries de desenho animado. Eu, por exemplo, cresci assistindo a série em desenho de 1994 e que para mim foi uma das melhores adaptações do personagem para outras mídias. Porém, a Marvel aposta novamente o herói neste formato e temos então "Seu Amigão da Vizinhança Homem Aranha" (2024).
Na trama, conhecemos os primeiros dias de Peter na faculdade. Porém, o jovem logo se vê envolvido em grandes aventuras a partir do momento que é picado por uma estranha aranha que surgiu de uma outra realidade. A partir daí o jovem decide combater o crime, mas mal sabendo das dificuldades que surgiriam através de sua escolha.
Tecnicamente o visual da série remete aos longas do "Aranhaverso", além de fortalecer ainda mais o seu elo dos quadrinhos. Em diversos momentos, por exemplo, é como se estivéssemos lendo uma HQ em movimento e fazendo com que visualmente o projeto se difere das outras obras que a Marvel lançou nos últimos tempos. Além disso, é notório o uso de efeitos digitais em alguns momentos, mas nada que atrapalhe o resultado final como um todo.
Mas diferente do que a gente imagina, esse não é o Peter visto nos filmes do MCU, mas dando a entender que ele seja uma versão de uma realidade alternativa. Porém, é curioso observar que essa série possua elementos já vistos no universo principal da Casa das Ideias, como no caso do "o Tratado de Sokovia" que surgiu a partir de "Capitão América: Guerra Civil" e que nasceu para o governo ter maior controle com relação aos super seres. Uma forma de não distanciar muito do que já conhecemos dessa grande franquia, mas ao mesmo tempo não dificultando o entendimento para os marinheiros de primeira viagem.
Claro que a série não irá agradar o fã mais raiz, pois há elementos de origem diferente, personagens visualmente modificados e que acaba desagradando o fã mais velho. Embora eu seja um fã confesso que essas mudanças não me incomodaram, sendo que a essência primordial do personagem está ali intacta, de jovem normalmente se tornar um herói, mas tendo que lidar com os problemas normais do dia a dia. Neste último caso, por exemplo, isso acaba sendo mais fiel do que as últimas adaptações para o cinema que tentaram transformar o personagem em uma espécie de novo Homem de Ferro.
Com ótimas cenas de ação, além de personagens muito bem construídos, a série fecha de forma redonda, mas dando pistas sobre o que irá acontecer em uma eventual segunda temporada. Resta saber se o fã mais radical irá se aquietar um pouco e aceitar as mudanças que das quais não me incomodou nenhum pouco. Nunca é demais atualizar uma velha e conhecida história para os novos tempos.
"Seu Amigão da Vizinhança Homem Aranha" é uma agradável surpresa para os fãs menos exigentes, mas que também espera uma boa história.
Sinopse: Cinebiografia de Ney Matogrosso, Homem com H apresenta a intensa trajetória do artista desde a infância até se tornar uma das grandes figuras da música e cultura brasileiras. O filme acompanha a origem em Bela Vista no Mato Grosso do Sul e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos de seu pai. Ao sair de casa e se mudar para São Paulo, Ney dá início à sua carreira artística. Com uma voz única e uma veia criativa e performática inesquecível, Ney Matogrosso compõe um terço da banda Secos & Molhados e enfileira sucessos como Rosa de Hiroshima e Sangue Latino em meio à repressão da ditadura militar. Passando por cada fase de sua carreira, Homem com H conta a história de vida de um ícone artístico, demonstra sua identidade revolucionária e arrebatadora, seu ímpeto libertário e sua inconfundível presença de palco. Dodos maiores artistas brasileiros da atualidade.
Elenco: Jesuíta Barbosa, Bruno Montaleone, Jullio Reis
SEMPRE GAROTAS
Índia, França, EUA, Noruega/ Comédia/ 2023/ 118 min.
Direção: Shuchi Talati
Sinopse:Em um rigoroso internato situado no Himalaia, Mira, de 16 anos, descobre o desejo e o romance. Mas seu despertar sexual e rebelde é interrompido por sua jovem mãe, que nunca conseguiu amadurecer.
Sinopse: Documentário musical que busca rastros deixados pelo compositor no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. O artista morreu aos 26 anos, em 1937, e deixou um legado de quase 250 músicas. O filme cria paralelos entre passado e presente, sobretudo pela forma como o samba e a figura de Noel Rosa se misturam até hoje ao redor de seu berço criativo. Vozes de antigos parceiros, como Cartola, Aracy de Almeida e Marília Batista, se juntam às de intérpretes atuais, como Dori Caymmi, Moacyr Luz, Mart'nália e Edu Krieger, entre outros.
Elenco: Dori Caymmi, Edu Krieger, Moacyr Luz, Martn'ália, Cláudio Jorge
HORÁRIOS DE 01 A 07 DE MAIO (não há sessões nas segundas-feiras):
15h: SEMPRE GAROTAS
17h: NOEL ROSA, UM ESPÍRITO CIRCULANTE
19h: HOMEM COM H
Ingressos: Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 14,00 na bilheteria do CineBancários. Idosos (as), estudantes, bancários (as), jornalistas sindicalizados (as), portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 7,00. São aceitos PIX, cartões nas bandeiras Banricompras, Visa, MasterCard e Elo. Na quinta-feira, a meia-entrada é para todos e todas. EM TODAS AS QUINTAS TEMOS A PROMOÇÃO QUE REDUZ O VALOR DO INGRESSO PARA TODOS E EM TODAS AS SESSÕES PARA R$ 7,00.
Sinopse: O encontro de duas mulheres que inauguraram a psicanálise no Brasil, Virgínia e Adelaide.
A psicanálise criada por Sigmund Freud foi uma forma de extrair os problemas mais obscuros escondidos na mente humana e fazendo com que isso ajudasse inúmeras vidas. Infelizmente não foi fácil esse método se tornar popular, pois obstáculos que vão desde a ignorância, preconceito e a palavra da igreja que vinha quase sempre em primeiro plano. "Virgínia e Adelaide" (2025) não somente retrata uma parte da história das primeiras mulheres do Brasil que fundaram a psicanálise no país, como também explora os percalços que ambas enfrentaram ao longo desse percurso.
Dirigido pela estreante Yasmin Thayná e pelo veterano Jorge Furtado, O filme retrata a vida e a obra de Virgínia Leone Bicudo (Gabriela Correa), uma socióloga e psicanalista negra brasileira, e Adelaide Koch (Sophie Charlotte), uma médica e psicanalista autodidata, judia alemã e branca. As duas se encontraram em 1937, um ano após a chegada de Adelaide ao Brasil, ao fugir da perseguição nazista, acompanhada pelo marido e suas duas filhas. Juntas, elas foram pioneiras na divulgação da psicanálise no país, enfrentando barreiras e preconceitos.
Embora sejam países diferentes um do outro, o Brasil e Alemanha tiveram algo em comum no decorrer dos séculos, que vai desde ao preconceito contra os negros como também a simpatizarão pelo partido nazista. No documentário "Menino 23" (2016), por exemplo, era revelado uma investigação do historiador Sidney Aguilar referente a tijolos com suástica nazista numa fazenda do interior de São Paulo. Ao chegar lá, ele descobre que nos anos 30, 50 meninos negros e mulatos foram usados como escravos pelo dono da propriedade, que era simpatizante do nazismo.
Esse documentário logo me veio à mente ao assistir ao filme "Virgínia e Adelaide", pois vemos duas protagonistas fugindo de algo em comum, sendo que uma foge do preconceito desde pequena por ser negra enquanto a outra fugiu do seu próprio país por ser judia. Ao se encontrarem em cena elas acabam se ajudando uma outra mesmo de forma indireta no princípio, mas logo que as sessões de terapia começam, isso se torna uma espécie de livro aberto para que ambas pudessem revelar os seus temores e dons que se poderia colocar em prática perante os males do mundo. Tanto Gabriela Correa como Sophie Charlotte estão ótimas em cena, sendo que a última de nada lembra a sua última atuação no cinema que foi como a cantora Gal Costa no filme "Meu Nome é Gal" (2023) e provando a sua versatilidade nos papéis que alcança.
Curiosamente nos perguntamos no decorrer da projeção até onde começa e até onde termina os trabalhos de direção de Yasmin Thayná e Jorge Furtado, mas o cinéfilo de olhar mais apurado identifica logo de imediato. Furtado, por exemplo, sempre construiu uma carreira realizando obras, tanto da ficção, como também documentários e por conta disso, as cenas em que vemos as protagonistas narrando as suas trajetórias e surgindo na tela fotos verdadeiras de suas jornadas é a própria genialidade de Furtado conduzindo as cenas, sendo algo que me fez relembrar um dos seus melhores documentários que foi "O Mercado de Notícias" (2014). Já Yasmin Thayná eu acredito que o seu trabalho se voltou mais na direção das duas atrizes, sendo que ambas transmitem segurança e entrega total em cena, mas cujo esse feito, acredito eu, foi obtido pela participação da cineasta que soube extrair o melhor das intérpretes.
O filme por si só, não é somente uma homenagem sobre essas duas mulheres pioneiras no ramo da psicanálise, como também um exemplo de força e determinação de pessoas que encararam de frente o lado mais obscuro do ser humano, mas que não se intimidaram perante o perigo inevitável. O que talvez faltasse para elas seguirem em frente foi a partir do encontro de ambas e que fizeram com que elas se complementam e obtivessem mais coragem de realizar os seus sonhos e deixarem o medo do preconceito e da perseguição de lado. Uma história para não ser esquecida, mesmo quando ainda existem aqueles que querem escondê-la.
"Virgínia e Adelaide" é sobre o encontro de duas grandes mulheres com personalidades distintas, mas que tinham mais em comum do que se imaginava.
O sonho/pesadelo americano no ciclo sobre distopias/utopias do Antropoceno, na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo. A crise econômica no final da primeira década do novo século e o contexto do desmonte da estabilidade e proteção da classe trabalhadora nos EUA é o ponto de partida de "Nomadland". O filme transita fluidamente entre ficção e documentário se baseando no ensaio de 2017 "Nomadland: Sobrevivendo à América no Século XXI" de Jessica Bruder.
Acompanha a jornada de uma mulher, a Fern, interpretada pela excelente Frances McDormand, numa migração forçada pelos dilatados orizontes estadunidenses, em busca de emprego e de uma almejada liberdade da opressão do sistema neocapitalista. O filme foi sucesso de crítica e, apesar do formato inusitado, de público, obtendo recordes de bilheteria nos EUA. No 93º Oscar o filme ganhou as estatuetas de Melhor Filme , Melhor Diretor e Melhor Atriz para McDormand.
"O poder da direção está na estética de “diário de viagem” que pega elementos de contemplação física e emocional, os belos desertos do meio-oeste americano, a honestidade dura dos planos aproximados do personagens e da panorâmica abordagem em planos abertos" (Kevin Rick, em Plano Crítico).
A sessão, com entrada franca, finaliza o ciclo de abril "Distopias/Utopias do Antropoceno", realizado na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos com 13 anos de história, em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística certificada pelo Ministério do Turismo (Cadastur), contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.
Serviço:
O que: Exibição do filme "Nomadland", de Chloé Zhao (EUA - 2020) - 1h45m
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, 28/4, às 20:00
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus
Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística - Cadastur
Quem nasceu nos anos oitenta teve o privilégio de assistir diversos filmes na saudosa “Sessão da Tarde” e que viriam a se tornar grandes clássicos. Foi uma época dourada em que as pessoas tinham que se preparar para tal horário para desfrutar de um bom filme, seja ele dramático, ou até mesmo a pura comédia pastelão. Talvez um dos gêneros mais lembrados da época tenha sido as comédias adolescentes, onde os jovens da trama se metiam em situações corriqueiras dessa fase e fazendo com que a gente se identificasse com eles facilmente.
Talvez um dos melhores realizadores da época com relação a esse tema tenha sido realmente John Hughes a partir do seu primeiro grande sucesso que foi "Gatinhas & Gatões" (1984) e atingindo o seu ápice na sua obra prima "Curtindo Adoidado" (1987). Os seus filmes abordam temas que vão desde a questão sobre o que o jovem será depois do final das aulas, ou como saber se encaixar em uma realidade tão complexa que é essa vida. Esse e outros assuntos são abordados em seu outro grande clássico "O Clube dos Cinco" (1985), apontado por muitos críticos como um dos melhores filmes adolescentes da história e ingredientes é o que não falta para o filme ter obtido esse status.
Na trama, cinco adolescentes são confinados no colégio em um sábado, pois cada um ali havia cometido um delito dias anteriores. Como castigo, eles têm a tarefa de escrever uma redação de mil palavras sobre o que pensam de si mesmos. Apesar de serem jovens diferentes um do outro, o tempo vai passando, ao ponto de fazerem com que eles se conheçam melhor e assim tendo a chance de serem eles mesmos e até mesmo amigos.
Rever o filme é que nem entrar em uma máquina do tempo, tendo a chance de desembarcar no universo dos anos oitenta e testemunhando o melhor e o pior de uma época em que ser adolescente não era menos complicado se compararmos com os jovens de hoje em dia. Ao menos naquela época eles tinham chances maiores de se enturmar com os demais adolescentes, mesmo quando alguns pareciam estranhos, mas que se tornavam a sua própria ilha para se protegerem com relação ao mundo em volta. É disso que se trata o filme, ao vermos cinco jovens presos em seus mundinhos particulares, mas que aos poucos vão baixando a guarda para tentar compreender o que eles estão fazendo ali e quais as suas perspectivas com relação ao futuro que os aguarda.
John Hughes não brinca no serviço, principalmente ao criar cinco personagens tão diferentes um do outro, mas que possuem pontos mais em comum do que imaginam. O primeiro a se destacar neste bando é John Bender, interpretado com intensidade por Judd Nelson e que aqui faz o típico bad boy sem causa, mas cujo seu status é para somente esconder as suas dores emocionais e físicas. Já Andrew, interpretado por Emilio Estevez, parece o garoto perfeito vindo do time de futebol americano, mas ele nada mais é do que um jovem emoldurado pelos pais que exigem que ele seja o garoto perfeito. Já Claire, interpretada por Molly Ringwald, é a típica riquinha que tem tudo, mas não tendo ao mesmo tempo nada de especial em sua vida como um todo.
Já Brian, interpretado por Anthony Michael Hall, e Allison, interpretada por Ally Sheedy, são personagens curiosos, já que o primeiro aparenta ser um simples nerd enquanto a última é tão fechada de si mesma que muitos se perguntam o que ela fez para ter chegado ali. São essas dúvidas e outras que aumentam ainda mais a nossa curiosidade com relação a esses personagens que são tão ricos de personalidades, mas que se encontram presos naquele microcosmo escolar e para não enlouquecerem começam a dialogarem mesmo de forma indireta inicialmente. Mesmo em um cenário limitado, é curioso o quanto ele se torna rico a partir das conversas dos protagonistas e fazendo daquele lugar um símbolo de uma juventude perdida, porém, tendo muito ainda a oferecer.
Vale destacar a sua trilha sonora, da qual simboliza o melhor da música dos anos oitenta. A música "Don't You (Forget About Me)" tornou-se uma coqueluche da época e sendo lembrada pelos fãs do filme sempre quando ela é tocada. Curiosamente, há uma frase muito bonita do cantor David Bowie na abertura e que faz uma referência ao seu álbum de sucesso "Hunky Dory" (1971).
"E essas crianças em que você cospe enquanto elas tentam mudar seus mundos, são imunes aos seus conselhos, elas sabem muito bem pelo que estão passando."
O texto de Bowie prepara o terreno do que iremos testemunhar a seguir, sendo tudo dosado com humor típico da época, mas de uma forma mais reflexiva, tocante e fazendo com que a gente se identifique ainda mais com os personagens em cena. Talvez o momento em que os cinco se encontram com os seus sentimentos em total ebulição é então que eles decidem colocar para fora eles mesmos, sobre as suas dificuldades de se encaixarem na escola, assim como tentar agradar os pais que mal sabem o que eles realmente querem na vida. São dilemas que não envelheceram nenhum pouco, pois adolescência é uma fase perigosa, delicada, porém, podendo ser bastante transformadora quando a juventude se abre e não se esconde em sua própria ilha.
Ao final vemos cada um seguir o seu rumo, assim como uma geração inteira que mal sabia qual seria o seu propósito no futuro. Não é à toa que o longa se tornou bastante cultuado através dos anos, sendo que em 2016 ele foi selecionado para preservação no National Film Registry pela Biblioteca do Congresso estadunidense sendo considerado "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo". Nada mal para uma simples história sobre cinco jovens de castigo, mas que conquistou a minha geração como um todo.
"O Clube dos Cinco" é um dos melhores filmes adolescentes de todos os tempos e um dos melhores que soube sintetizar os dilemas dessa complexa fase da vida.