Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Planeta dos Macacos: O Reinado realiza um salto no tempo após a conclusão da Guerra pelo Planeta dos Macacos. Muitas sociedades de macacos cresceram desde quando César levou seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras.
DIÁLOGOS COM RUTH DE SOUZA
Sinopse: Ruth de Souza inaugura a existência de atrizes negras em palcos, televisão e cinema no Brasil. Carrega em si a gênese de parte importante das conquistas para as mulheres negras ao longo de quase um século de vida.
Sinopse: A professora de nutrição Miss Novak aceita um emprego em uma escola de elite e estabelece um vínculo estreito com cinco alunos, mas o relacionamento acaba tomando um rumo perigoso.
Em tempos atuais em que muitas religiões tentam persuadir a maioria da sociedade, seja pela internet, ou até mesmo por setores políticos, é preciso ter muito cuidado com o que testemunhamos e ouvimos hoje em dia. Por outro lado, temos um sistema capitalista desenfreado e do qual ele nos obriga em alimentarmos dos mais diversos alimentos e dos quais nem todos são realmente necessários. Agora, imagine uma crença duvidosa, alinhada com o desejo de não seguir a lei e a ordem desse sistema alimentar, temos então "Clube Zero" (2023), o filme que se não for analisado com bastante cuidado pode sim ser mal avaliado.
Dirigido por Jessica Hausner, o filme conta a história de Novak (Mia Wasikowska), uma professora que obtêm uma vaga em um colégio particular e forma um forte laço com os alunos locais. Porém, ela introduz na aula de nutrição um conceito que não é necessário comer muito, ou nada para continuar vivendo de forma saudável. Não demora muito para os pais dos alunos começarem a desconfiarem da professora, pois os seus filhos começam agir de forma radical a cada dia que passa.
É interessante observar que Jessica Hausner retrata os pais desses meninos completamente alienados com relação ao verdadeiro mundo real em que estão vivendo e achando que nada é o suficiente para serem realmente felizes. Ao mesmo tempo, isso se torna uma forma para que os alunos se tornem cada vez mais desamparados e se tornando presas fáceis para a professora que quase não esconde a sua obsessão de levá-los ao clube zero. É notório, por exemplo, que cada um ali possui um problema alimentar e fazendo com que isso se torne somente um passo para cair em uma armadilha iminente.
O filme, porém, é um daqueles casos que podem ser mal interpretados em um primeiro momento, já que ele não procura exatamente demonizar a crença de Novak, mas sim colocando elementos que a fizeram crer nesta ideia e se tornando uma peça importante para atrair outras. Isso dá o direito de o filme abrir um leque de diversos assuntos, desde ao consumismo desenfreado, capitalismo vicioso, política e fé por vezes cega demais. Não existe um lado da história, já que a realizadora procura atirar para todos os lados, pois o ser humano pode sim ser facilmente persuadido.
Conhecida mundialmente pela sua atuação em "Alice no País das Maravilhas" (2010) Mia Wasikowska procura construir para a sua personagem uma ambiguidade ao extremo, ao ponto que ela sabe persuadir facilmente os seus alunos, mas deixando fragmentos errôneos pelo percurso. Uma personagem extremamente humana, porém, falha em suas ações, mas não escondendo o seu desejo de mudar o caminho daqueles jovens que ainda estão conhecendo o mundo. Na medida em que começa até mesmo ser encurralada pela direção da escola e pelos pais dos alunos, eis que a sua lábia acaba sendo verossímil para que consiga seguir com os seus objetivos.
O ato final, por sua vez, é algo ainda mais delicado, pois ele transita por um resultado mórbido, porém, necessário para ser analisado, principalmente em tempos em que cada vez mais há jovens que são facilmente persuadidos por fake news ou ideias formadas por pessoas que se dizem sérias no assunto. Se no mundo real existe dez porcento de jovens brasileiros que acreditam que a terra é plana, então o filme vem unicamente para nos darmos um sinal de alerta.
"Clube Zero" é um filme que pode ser tachado facilmente como perigoso, desde que você seja facilmente persuadido com a ideia de que a obra fala somente de um lado da história como um todo.
Sinopse: Lou é uma garota solitária que trabalha como gerente de uma academia. Após conhecer a a fisiculturista Jackie, que pretende viajar até Las Vegas para realizar seu sonho, as duas acabam se apaixonando em meio a violência do local.
O bom gênero policial mescla elementos em torno de investigação, violência e paixão. Tudo isso começou especificamente com o subgênero noir pelos anos quarenta e servindo de inspiração para demais filmes que foram lançados ao longo das décadas. "Love Lies Bleeding – O Amor Sangra" (2024) segue a linha desse meu raciocínio, mas mesclando com elementos vistos nos bons tempos dos anos oitenta.
Dirigido por Rose Glass, do filme "Saint Maud" (2020), a trama se passa na década de oitenta, onde acompanhamos a vida da gerente de academia Lou (Kristen Stewart), que acaba se apaixonando por Jackie (Katy M. O'Brian), uma fisiculturista que viaja da cidade até Las Vegas para concorrer em uma disputa. Porém, a violência do local faz com que essa relação entre em desiquilíbrio, principalmente pelo fato de que o pai de Lou é o principal suspeito de inúmeros crimes não resolvidos.
Rose Glass capricha na reconstituição da época, que exala puramente os anos oitenta, mas não de uma forma mais colorida da qual sempre nos lembrando, mas sim mais opressora, claustrofóbica e pouco acolhedora. É uma cidade violenta, da qual os que não tem nada se sustentam com o tráfico de drogas, armas e outros trabalhos ilícitos que surge toda hora. Neste cenário Lou procura sobreviver com o que tem, mesmo tendo que cair em certos vícios que a fazem lutar contra as suas próprias dores emocionais o tempo todo.
Já Jackie é uma sobrevivente vinda de uma cidade conservadora, que faz dela se tornar uma andarilha e assim exercitando o seu físico para que vá enfrentar o mundo. Uma vez que ambas se conhecem na academia se nasce uma grande paixão, já que elas dão a entender que são dois lados da mesma moeda, pois o mundo as construiu para serem assim em vida. A química entre as duas atrizes é certeira, ao ponto que é bastante verossímil o nascimento da paixão entre as duas personagens e fazendo com que as cenas de amor entre elas se tornem ainda mais incríveis para os nossos olhos.
Kristen Stewart novamente surpreende em um papel desafiador, onde ela nos passa cada vez maior amadurecimento e não se limitando diante de novos desafios, pois já a vimos em quase todos os gêneros. Já Katy M. O'Brian é um novo talento para mim, já que a vi somente no recente "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania" (2023), mas já posso adiantar que ela não se limita em ter somente um grande e belo porte físico, mas sim sabendo construir uma personagem já carregando diversas feridas emocionais e pronta para a qualquer momento transbordar. Curiosamente, é neste ponto que vose Glass me parece querer que a gente intérprete isso com a mente aberta, mas disso eu falo mais adiante.
Como não poderia deixar de ser, essa relação começa a sofrer desiquilíbrio quando a violência ronda o casal central e fazendo com que uma delas cometa uma ação que as levará para um caminho sem volta. É a partir daí que o filme adentra em uma realidade que mais parece um puro pesadelo, onde as emoções ficam a flor da pele e fazendo com que ambas as personagens percam a razão em alguns momentos. Neste último caso, por exemplo, isso é ´muito bem representado por Jackie, que busca de todas as maneiras abraçar os seus sonhos, mas tendo consequências devido ao uso de drogas para obter mais músculos.
Porém, é neste ponto que Rose Glass decide criar uma liberdade mais poética com relação a Jackie, já que o seu corpo reage até mesmo de uma forma bem inverossímil e podendo dividir a opinião do público. Isso se intensifica ainda mais na reta final, onde cada um levantará a melhor interpretação sobre o que irá testemunhar. A meu ver, o que vemos é toda aquela força que a mulher deseja obter para eliminar o pior do machismo, muito embora o resultado acaba se tornando até mesmo cartunesco, mas que funciona se seguir esse meu pensamento.
Com interpretação assombrosa de Ad Harris como antagonista, "Love Lies Bleeding – O Amor Sangra" é um filme policial sedutor, violento e ao mesmo tempo surpreendente mesmo nos momentos mais absurdos.
Sinopse: Em Saint Maud, uma jovem enfermeira acaba de receber alta psiquiátrica. Agora encarregada dos cuidados de Amanda, uma dançarina aposentada devastada pelo câncer.
Rose Glass é um nome a ser observado de perto, já que mesmo em pouco tempo ela conseguiu obter elogios da crítica especializada. Confesso que a conheci somente recentemente com o ótimo "Love Lies Bleeding - O Amor Sangra" (2024) e que em breve postarei a minha crítica por aqui. Porém, é preciso assistir antes "Saint Maud" (2020), filme de horror psicológico, pesado e que deixará muitos que forem assistir perplexos.
Na trama, acompanhamos a jovem chamada Maud, que a pouco tempo recebeu alta psiquiátrica e obtendo um emprego como enfermeira. Ela consegue uma oportunidade ao cuidar de Amanda (Jennifer Ehle), uma dançarina aposentada que sofre de câncer e fazendo dela uma pessoa peculiar perante as pessoas. Maud decide salvar a sua alma a todo custo, nem que para isso atravesse os limites da lógica e do bom senso.
Rose Glass já deixa claro que Maud possui um passado sombrio, principalmente em seus primeiros minutos de projeção onde vemos a protagonista estática e presenciando uma ação terrível que ela havia cometido. Essa abertura já nos deixa uma dica com relação ao que irá acontecer, não somente com relação a história, mas com relação a própria Maud, que se apresenta como seguidora absoluta de Deus, mas cuja sua fé cega poderá assustar até mesmo as pessoas mais frias. É no caso de Amanda, que se apresenta como uma espécie de Norma Desmond do clássico "Crepúsculo dos Deuses" (1950), porém bem mais lúcida e muito mais fria com as palavras perante a protagonista.
Ambas começam a ter um vínculo forte, porém, cada uma possuindo uma visão diferente com relação a existência de Deus e criando se assim um embate verbal que somente irá aumentar a tensão em cena. Rose Glass procura criar uma trama que nos dê a entender que as duas personagens são dependentes uma da outra, mas que a qualquer momento podem se ferirem entre si, seja verbalmente ou até mesmo fisicamente. Isso acaba gerando uma tensão claustrofóbica, principalmente quando a obsessão de Maud cada vez mais aumenta.
Morfydd Clark nos brinda com uma atuação poderosa, sendo que sua Maud transita entre um ser angelical, mas que não esconde o seu lado mais sombrio e diabólico e cujo conflito interno com o seu lado mais sombrio irá levá-la para momentos indescritíveis. É nestes momentos que Rose Glass usa e abusa até mesmo de efeitos visuais, porém, que colaboram para que tenhamos uma dimensão da confusão mental que a protagonista está passando, principalmente nas cenas em que ela se encontra sozinha em seu apartamento. É notório, por exemplo, que a cineasta deve ter bebido da fonte do maravilhoso Cisne Negro (2009), ou até mesmo da "trilogia do Apartamento" de Roman Polanski, mas dessa inspiração se criou algo e que merece ser analisado mais de perto.
O final com certeza está entre os momentos mais perturbadores do cinema recente, que fará com que cada um tenha a sua opinião própria, seja para aqueles que tem fé ou não acredita em nada nesta vida. Um filme que quando acaba lhe dá um verdadeiro soco na cara, mas talvez essa deve ter sido a intenção de Rose Glass desde que iniciou a construção dessa obra. “Saint Maud' é um filme que lhe convida para adentrar em uma trama que transita entre a crença, horror e a loucura e cabe cada um levantar as suas próprias opiniões após assisti-la.
Onde Assistir: Google Play Filmes, Apple TV, Amazon Prime.
Sinopse: Devastado pela guerra, o Japão enfrenta uma nova crise na forma de um monstro gigante, o Godzilla.
O clássico "Godzilla" (1954) de Ishirō Honda era uma espécie de representação sobre o temor que os japoneses tinham com relação a bomba atômica principalmente após o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki. O sucesso foi tão gigantesco que deu origem a uma franquia que rendeu inúmeros filmes no Japão, além da franquia norte americana iniciada em 2014. Eis que então o estúdio a TOHO lança "Godzilla Minus One" (2023), aonde novamente o monstro retorna as suas raízes e faz dele uma metáfora sobre o temor do homem perante as consequências do horror da guerra e das catástrofes vindas da própria natureza.
Dirigido e roteirizado por Takashi Yamazaki, a trama se passa em um Japão ainda devastado após o término da Segunda Guerra Mundial. Para piorar, surge uma misteriosa criatura que começa assolar o país, apelidada pelos habitantes de Godzilla. Em meio a isso temos o protagonista Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um piloto Kamikaze que durante algum tempo buscou fugir da morte durante a guerra, mas que agora terá que lutar para manter vivos os seus novos amigos e a sua família que criou em meio as ruínas de uma Tóquio moribunda.
Se tem uma coisa que é facil reclamar dos últimos filmes americanos estrelados por Godzilla é que são produções que dão por demais destaque para os personagens humanos e colocando o monstro em segundo plano. Até não é problema dar destaque para esses personagens, desde que sejam bem construídos, mas o que não acontece na maioria das vezes. Aqui é o inverso, sendo que os personagens humanos têm maior destaque, porém, nos simpatizamos com eles, principalmente por Kōichi Shikishima que enfrenta os seus medos internos antes mesmo da trama começar e sendo que tudo piora no momento que ele encara Godzilla pela primeira vez.
A meu ver, aqui Godzilla é novamente usado como uma espécie de metáfora sobre todo o temor que o Japão já enfrentou, desde as baixas durante a Segunda Guerra Mundial como também as catástrofes naturais que assolaram o país ao longo da história. Se você está acostumado com a criatura que surge somente para enfrentar um novo monstro em território americano pode estranhar por demais esse Godzilla, já que ele nada mais é do que uma entidade da natureza transformada pelos efeitos da bomba atômica e destruindo tudo que está na sua frente. Isso é intensificado ainda mais quando o monstro surge em Tóquio e é aí que o filme nos brinda com um grande espetáculo.
Com apenas R$ 15 Milhões de Dólares, os realizadores criam cenas impressionantes da criatura, onde nos passa uma sensação real de peso e tamanho do ser em meio as ruas da cidade. O melhor de tudo isso é que tudo nos é apresentado na luz do dia, o que difere das produções americanas que sempre usam a noite para esconder os defeitos especiais e não justificando os enormes orçamentos que são, na maioria das vezes, absurdos. Portanto, foi mais do que merecido o filme ter levado o Oscar de Efeitos Visuais deste ano e se tornando o primeiro da franquia ao levar o prêmio.
Curiosamente, o ato final é uma representação da maneira como os japoneses agem perante uma catástrofe, sendo que a união coletiva é algo que eles sempre pregaram para si e fazendo com que se levantassem mesmo em meio ao caos iminente. Porém, mesmo se diferenciando do convencional norte americano, o filme não escapa de algumas soluções fáceis, principalmente com relação ao destino de alguns personagens centrais que se tornam inverossímil, mas que não tira o brilho do resultado da obra. Infelizmente, há aquela famigerada dica para uma eventual continuação, mas que só esperamos que não chegue aos níveis absurdos da franquia americana.
"Godzilla Minus One" é o melhor filme do monstro desde o clássico de 1954, ao não se enveredar para as fórmulas costumeiras do cinemão norte americano e nos brindando com um belo espetáculo.
Onde Assistir: Por enquanto somente no Amazon Prime japonês.
Se você gosta realmente de algo coloque em prática para que assim você possa exorcizar as suas dores internas. Esse é o meu pensamento quando sempre escrevo sobre cinema e talvez tenha sido essa a maneira que o desenhista e roteirista James O'Barr tenha encontrado na vida. No final dos anos 70 a sua noiva havia sido atropelada por um bêbado causando a sua morte e fazendo da vida do escritor um inferno.
Para encontrar algum significado na vida ele começou a criar de forma pessoal uma HQ em que contava a história de Eric Drave, um rapaz que havia sido assassinado junto com a sua noiva na noite do Dia das Bruxas. Um ano depois um corvo pousa em seu túmulo, fazendo com que voltasse a vida e partindo para se vingar contra aqueles que tiraram a sua vida e de sua amada. A HQ foi lançada gradualmente ao longo da década em forma independente, mas sendo logo descoberta pelo grande público e passando a ser cultuada ao longo do tempo.
Quando a HQ foi lançada os heróis dessa arte estavam começando aos poucos sendo levados para o cinema. Porém, para aqueles que ainda são jovens, é necessário entender o mercado daqueles tempos, onde não havia efeitos visuais ainda de ponta e cujo estúdios sempre viam com certo risco investir neste tipo de projeto. Talvez as adaptações mais bem lembradas da época foram "Batman" (1989), "Batman - O Retorno" (1992), "As Tartarugas Ninja" (1990)"Dick Tracy" (1990), "O Sombra" (1994) e "O Máscara" (1994).
Foram filmes que se tornaram grandes sucessos, mas não sendo o suficiente para os estúdios abraçarem o gênero como um todo. Parece que havia certo medo devido a fonte, sendo que alguns produtores ainda via isso como algo infantil e descartável. Não é o caso de "O Corvo", sendo uma trama adulta que fala sobre vingança, em meio a uma cidade violenta e com sua sociedade cada vez mais perdida entre a violência e as drogas. Um material de peso e que se fosse levado a sério renderia um grande filme como um todo.
O até então desconhecido pelos cinéfilos Alex Proyas pertence a geração de diretores que construíram a carreira fazendo vídeo clips pela MTV. Sua intenção era sempre fazer um filme que falasse sobre um indivíduo estranho, deslocado e que acordasse em uma cidade que agora ele desconhece como um todo. Esse enredo, porém, não se aplica no filme estrelado por Brandon Lee, mas sim em "Cidade das Sombras" (1998), obra que ele há tempos queria realizar, mas para isso precisaria de um sucesso para que assim ganhasse carta branca. "O Corvo" veio em um momento oportuno, mas mal sabendo o que posteriormente viria.
Depois de vários testes para o elenco principal, Proyas finalmente escolheu Brandon Lee como ator principal. Conhecido por ser filho de Bruce Lee, o ator estava procurando um desafio maior para a carreira, já que até ali estava colecionando somente filmes de ação no seu currículo como "Assassinato no Bairro Japonês" (1991) e "Rajada de Fogo" (1992). Brandon via no personagem uma forma de abrir caminho para personagens mais desafiadores e que fizesse com que o público não o visse somente como um astro de filmes de ação. Sonho realizado, mas obtendo um alto preço.
Quando quase todas as cenas estavam concluídas o ator acabou sendo gravemente ferido durante as filmagens. Na cena em que se passa no apartamento, onde Eric e sua noiva Shelly (Sofia Shinas) são brutalmente assassinados por bandidos, uma das armas estava carregada com uma bala de verdade e ferindo mortalmente o ator. Brandon foi levado para o hospital, mas logo em seguida viria a falecer em 31 de março de 1993. Alex Proyas não queria retornar para concluir o filme, porém, ele voltou para terminar as filmagens que restavam a pedido da noiva de Brandon, pois ela acreditava que ele gostaria que o filme fosse lançado.
Olhando para traz é impressionante como o filme acabou se tornando o que ele é depois de trinta anos, pois além dessa tragédia o diretor possuía um orçamento apertado de apenas R$ 6 milhões de dólares e fazendo com que diversas possibilidades fossem limadas ao longo da produção. Porém, Proyas se aproveitou da simplicidade para realizar algo mais crível, como se fosse realmente possível alguém voltar dos mortos para buscar vingança e que andasse pela noite vestindo de preto e correndo pelos telhados. Visualmente o protagonista serviu de modelo para as adaptações de HQ seguintes, como "Blade" (1998) e até mesmo "X-Men" (2000), sendo que o figurino escuro era muito mais verossímil do que qualquer outra coisa que poderia se criar na época e acabar ficando ridículo.
Além disso, embora seja um personagem criado por James O'Barr, o ator Brandon Lee fazia questão de sempre fazer a própria maquiagem no seu rosto, sendo que as vezes parecia que nunca era perfeito, mas era intencional vindo do próprio ator que desejava que tudo parecesse mais crível assim como também a roupa que gradualmente começava a ficar mais rasgada. E se Brandon fazia questão de levar o papel a sério o mesmo pode-se se dizer de Alex Proyas que fazia com que cada cena tivesse um significado, seja quando o corvo sobrevoava a cidade em chamas, ou quando era imundada por uma enorme chuva. Com um visual extremamente gótico, o filme transita nos melhores momentos do expressionismo alemão assim como também dos tempos do cinema Noir, sendo que ambos os casos era algo que estava sendo muito revisitado nos tempos da era MTV.
Neste último caso, é evidente que Proyas criou um filme que transita para elementos do vídeo clipe daqueles tempos, sendo que a sua câmera sempre segue em movimento, mas não de uma forma frenética, porém, mais suave e como se não houvesse limitações. Um belo exemplo disso é na cena do encontro entre Eric e o policial Albrecht (Ernie Hudson), pois quando o primeiro desaparece a câmera gira em torno do policial em 360º graus de forma fluida e que nos evidência a não existência do protagonista em cena. Além disso, a beleza das cenas são quase todas entrelaçadas com ótimas músicas compostas pelas melhores bandas de sucesso da era MTV como no caso Stone Temple Pilots com a sua música "Big Empty".
Curiosamente, é um filme que agrada tudo e a todos, desde a geração MTV, como também do já citado cinema expressionista, Noir, com diversos elementos dramáticos e até mesmo com ótimas cenas de ação. Era o início dos anos noventa, onde o subgênero "Exército de um homem só" estava se desgastando e era preciso ser revitalizado. John Woo, por exemplo, foi um que deu novo sangue para esses filmes, ao injetar muita câmera lenta, folhas e pássaros voando e fazendo com que tudo se tornasse mais poético. A pedido de Brando Lee, o diretor Alex Proyas cria uma incrível sequência de tiroteio quando Eric invade a reunião entre os bandidos comandada por Top Dollar (Michael Wincott) é o resultado é simplesmente perfeito.
O filme foi lançado em 1994, sendo que no Brasil o seu lançamento foi em 19 de agosto do mesmo ano e todos ainda sentindo a perda de Brandon Lee. Tendo recebido ótimas críticas pela crítica especializada o filme acabou se tornando um verdadeiro sucesso, sendo indicado a vários prêmios e levando o MTV Movie Awards 1995 de melhor canção. Logicamente, o filme renderia mais quatro continuações, uma pior do que a outra, além de um remake que será lançado ainda esse ano e que já está gerando opiniões divisórias. Curiosamente, a história ganharia uma versão televisava, desta vez estrelado por Mark Dacascos, mas obtendo somente uma temporada.
Em tempos em que o gênero de HQ de Super Heróis para o cinema anda sofrendo o seu desgaste após anos com diversos sucessos, é sempre bom olharmos para trás para obtermos uma nova visão sobre esse tipo de filme que era lançado antes de virar moda. "O Corvo" estreou em um momento que não havia muito vícios ao usar fórmulas manjadas, mas sim nos passando uma identidade própria e que falava por si. Entre dores e perdas o filme é um exemplo de esforço dos seus realizadores em fazer algo original, que se diferenciasse se comparado ao que hollywood lançava na época e que com certeza teria aberto novas portas para Brandon Lee em vida.
"O Corvo" não é somente uma das melhores adaptações de HQ para o cinema, como também o melhor filme que soube nos transmitir o calor da geração MTV dos anos noventa.
NOTA: O filme foi lançado em Bly-Ray pelo Obras Primas do Cinema com diversos extras e incluindo a última entrevista de Brandon Lee.
Sinopse: O dublê Colt Seavers volta à ação quando uma estrela de cinema desaparece de repente. À medida que o mistério se aprofunda, Colt se envolve em uma trama sinistra que o leva à beira de uma queda mais perigosa do que qualquer uma de suas acrobacias.
TRANSE
Sinopse: Luisa (Luisa Arraes) é uma jovem atriz que vive com seu namorado músico, Ravel (Ravel Andrade). Ela conhece Johnny (Johnny Massaro), um espírito livre, e os três vivem um relacionamento baseado no amor livre quando um perigo iminente ameaça colocar o futuro de todos em risco.
Guadalupe: Mãe da Humanidade
Sinopse: Nunca nenhuma mãe se mostrou tão terna e tão poderosa ao mesmo tempo como aquela que apareceu há 500 anos ao índio Juan Diego. Hoje, a Virgem de Guadalupe mostra, mais do que nunca, a sua ternura e o seu poder em tantos lugares do mundo.