Sinopse: Trama que reimagina a vida de Marilyn Monroe, que discute o preço pago por ela para atingir a fama.
Marilyn Monroe, assim como foi o mestre Charles Chaplin, se tornou uma espécie de símbolo que representa o cinema como um todo e se caso houvesse uma eleição para que se votasse qual imagem melhor representaria essa arte com certeza ela estaria no páreo. Porém, estamos falando de Marilyn Monroe, o mito que Hollywood criou, mas não a pessoa por detrás da maquiagem, figurino e todo o lado circense que esta indústria do entretenimento havia criado para ela a qualquer custo. Portanto, "Blonde" (2022) não é sobre Monroe que nós conhecemos, mas sim sobre a pessoa por detrás de todo o mito que havia sido criado para ela como um todo.
Dirigido por Andrew Dominik, do filme "O Homem da Máfia" (2012), o filme conta a história de Norma Jeane Mortenson (Ana de Armas) de como ela tornou-se atriz, na Hollywood dos anos 1950 e início dos anos 1960. Ela se transformou em uma figura mundialmente famosa, sob o nome artístico de Marilyn Monroe. Todavia, por trás dos holofotes da fama, a atriz vivia guerras pessoais, e suas aparições na tela contrastam fortemente com os problemas de amor, exploração, abuso de poder e dependência de drogas que ela enfrentava em sua vida privada.
Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme do começo ao seu fim não é uma obra inspirada em faltos realmente verídicos sobre atriz, mas sim baseado no romance escrito por Joyce Carol Oates, que por sua vez escreveu o livro buscando inspiração sobre relatos, notícias e pessoas próximas da atriz naqueles tempos. Contudo, alguns eventos podem ter sido realmente inventados, mas ao meu ver podem não ter se distanciado muito das situações que Monroe tenha enfrentado para alcançar os seus reais objetivos. Se nos últimos dez anos choveu denúncias de escândalos sexuais que as atrizes sofreram ao longo das décadas o que dizer sobre os anos dourados de Hollywood em que tudo era jogado para debaixo do carpete?
Portanto, ao vermos a pequena e futura atriz sofrendo nas mãos de sua debilitada mãe, interpretada de forma poderosa pela atriz Julianne Nicholson, já começamos a nos preparar sobre o que está por vir. Aliás, é interessante observar a maneira como é apresentada pela primeira vez Los Angeles, onde mãe e filha adentram em uma estrada em chamas, como se aquele lugar fosse o verdadeiro inferno na terra e do qual nem todas as riquezas se compra a real felicidade que as pessoas realmente querem na vida. Ao meu ver, a pequena e futura Marilyn Monroe buscou o seu misterioso e desconhecido pai nas entranhas de um sistema em que se fabrica mitos, do qual ela se beneficiou, mas pagando um alto preço.
Com uma fotografia que transita entre as cores quentes e douradas da época para um preto e branco frio e desolador, vemos Norma Jeane Mortenson já caracterizada com a personagem que havia criado para ela, ou seja, Marilyn Monroe, mas não obtendo os papeis que realmente desejada. É aí então que finalmente conhecemos a verdadeira face do mito, ou seja, a sua real pessoa e isso se deve graças atuação extraordinária de Ana de Armas. Tendo se tornado mais conhecida a partir de "Blade Runner 2049" (2017), Ana se transforma de corpo e alma, se entregando no que talvez tenha sido um dia Marilyn Monroe, uma mulher em busca de sucesso, porém, sempre desejando respeito e a felicidade familiar que ela nunca havia alcançado.
Vale destacar a edição do filme como um todo, onde Andrew Dominik capricha em cenas em que sentimos estarmos entrando em uma transição entre sonhos, pesadelos e delírios da atriz enquanto a história vai seguindo o seu curso. Essa sensação sintetiza a forma como ela enxerga a si própria nas telas, uma personagem que ela própria havia construído para o mundo do entretenimento, mas sentindo total desgosto por tudo aquilo que ela estava testemunhando. Além disso, não deixa de ser chocante as passagens em que atriz sofre abortos, seja acidentalmente, ou obrigada a provoca-los para continuar no espetáculo cinematográfico.
Chocante, aliás, é a palavra que melhor define a reta final do filme, onde vemos uma Norma Jeane Mortenson entrando em total desiquilíbrio, abusando por demais de bebidas e drogas e sucumbindo nas mãos daqueles que somente querem explora-la até a sua última gota. A situação se torna ainda mais pesada principalmente pelo fato se alongar um tanto que demais em determinadas passagens e cujo o ápice desse peso se localiza durante o encontro em que ela tem com Presidente John F. Kennedy. A cena é por demais explicita, onde o mito é despedaçado e dando lugar a real mulher que ainda tenta se manter lucida perante o horror vindo do machismo.
Ao final, vemos Norma Jeane Mortenson finalmente descansando, para dar lugar ao mito que se imortalizou ao longo dos anos para entrar para história, porém, jamais experimentando a real felicidade que quase nunca havia abraçado. Um filme que fala sobre tempos dourados do cinemão norte americano, mas que por detrás das cortinas havia muita crueldade contra as mulheres e cuja as diversas histórias de abuso jamais podem ser repetidas em hipótese alguma. "Blonde" não é sobre Marilyn Monroe, mas sim sobre a construção de um mito, modelado pela ambição hollywoodiana e fazendo a gente não ter conhecido ao longo dos anos a verdadeira mulher por detrás da personagem que se tornou mundialmente conhecida.
Onde Assistir: Netflix.
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