Sinopse: A cruzada de Thor é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que procura a extinção dos deuses.
Taika Waititi gosta de oscilar a mais pura comédia com momentos dramáticos e fazendo com que essa mistura se torne um tanto que incomum e estranha em um primeiro momento. Foi essa minha sensação quando eu assisti ao seu premiado "Jojo Rabbit" (2019), cujo o humor e drama se misturavam e causando diversas sensações durante a sessão a todo momento. "Thor: Amor e Trovão" (2022) não veio somente para ser uma continuação do genial "Thor: Ragnarok" (2017) como também veio para incomodar, dividir a opinião do público, crítica e se tornando um exemplo de como Waititi gosta de esculhambar determinado gênero que cai no seu colo.
Após os acontecimentos de "Vingadores - Ultimato" (2019), Thor ansiando por um propósito, retorna a Nova Asgard e sua aposentadoria é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr (Christian Bale), o Carniceiro de Deus, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda da Rainha Valquíria (Tessa Thompson), Korg (Taika Waititi) e Jane Foster (Natalie Portman), sua ex-namorada, que - para surpresa de Thor - inexplicavelmente consegue empunhar seu martelo mágico, Mjolnir, o que imbuiu Jane com o poder de Thor. Juntos, eles embarcam em uma aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança do God Butcher e detê-lo antes que seja tarde demais.
Se você gostou muito de "Thor: Ragnarok" com certeza irá também gostar desse, porém, Waititi pisa no acelerador de tal forma que tudo vira uma grande mistura e que nos faz a gente se se perguntar se ele e os demais realizadores não cheiraram alguma coisa durante a realização da obra. Só dessa maneira para explicar a sua abertura, já que ela é dramática, pois revela a origem do ódio de Gorr tem contra os deuses, mas que logo vira uma piada colorida no momento em que uma das entidades celestiais surge como algo mesquinho, piadista e tirando sarro do sofrimento do vilão. Logo em seguida tudo vira algo cartunesco, como se fosse um grande desenho animado de antigamente e com um Thor com diversas frases de efeito e fazendo piada a todo momento.
A fórmula Marvel de fazer piadas sempre esteve lá desde o seu nascimento, mas aqui nas mãos do cineasta ele eleva esse ingrediente de tal forma que nos dá a entender que ele está fazendo piada com o próprio gênero que anda transitando atualmente entre o sucesso e o esgotamento. Ao assumir a obra como uma verdadeira farsa no bom sentido da palavra isso faz com que não levemos a sério o filme em momento algum, mesmo quando surge os momentos dramáticos que provocam dentro de nós diversas sensações que acabam se chocando a todo momento. Belo exemplo disso é quando Thor está em sua maior glória para logo a seguir testemunharmos o drama da personagem Jane Foster que luta contra o câncer.
Inspirado em uma das melhores passagens da personagem nas HQ, Jane Foster ganha maior importância dentro do universo do MCU e Natalie Portman finalmente entrega uma atuação digna para a personagem, mesmo que sintamos que poderia ter sido melhor ela protagonizando o seu próprio filme. Porém, a química dela com Chris Hemsworth está ótima, principalmente pelo fato do ator está mais a vontade do que nunca encarnando novamente o personagem e por soltar por completo a sua veia cômica. Claro que os fãs mais velhos do personagem sempre irão reclamar que esse não é o Thor que eles amavam, porém, isso é cinema e não adianta exigir sempre fidelidade pura e plena.
Curiosamente, o filme sofre com certos efeitos visuais falsos demais em alguns momentos, como se a todo momento os atores estivessem contracenando com o fundo verde e tornando tudo muito mais inverossímil. Mas quando chega neste patamar, eis que Waititi esculhamba ainda mais, principalmente ao colocar os heróis em um cenário que mais parece que foi extraído dos filmes do Zack Snyder e tornando tudo mais pesado. Um artificio para a gente esquecer em um primeiro momento que tudo parecia uma piada pronta, para logo depois nos passar uma sensação claustrofóbica.
Falando em piada pronta, não tem como não deixar de rir do retrato que é feito dos Deuses do Olimpo, sendo que aqui Zeus em nada lembra um Deus Supremo, mas sim um diretor de segunda categoria de alguma rede de televisão aberta. Longe dos seus tempos de glória dentro do cinemão norte americano, Russel Crowe se entrega ao ridículo em uma cena que poderia em tempos passados facilmente enterrar a carreira de um ator, porém, ela funciona pois o filme é vendido para ser uma grande aventura ridícula. O tom farsante da trama funciona mesmo quando o realizador nos choca com momentos pesados e todos orquestrados pelo vilão Gorr.
Camaleão como sempre, o ex-Batman Christian Bale se entrega em uma atuação que transita entre momentos shakespearianos para a mais pura canastrice e nos surpreendendo como um ser que realmente nos assusta ao sair das sombras. É o personagem mais bem desenvolvido dentro da história, já que ele possui começo, meio e fim, sendo que é algo bem diferente do que acontece com alguns outros personagens, como no caso, por exemplo de Valquíria (Tessa Thopson), uma personagem com um enorme potencial, mas que aqui quase cai ao segundo plano do conflito. Quanto ao casal de heróis central, cada um tem o seu destino traçado ao final da aventura, mas ambos obtendo uma brecha para um eventual novo capítulo da saga.
Com um final que dá novos indícios sobre os rumos do MCU no cinema, "Thor: Amor e Trovão" é uma grande piada no bom sentido da palavra orquestrada pelo realizador Taika Waititi, pois já que esse gênero se encontra em certo declínio nada melhor então do que rirmos do mesmo estando neste momento na beira do precipício.
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