Sinopse: Um
trabalhador ferroviário encontra milhões em notas de dinheiro nos trilhos. Como
recompensa, a assessora do Ministério de Transportes lhe dá um relógio. Tudo
isso é para servir de distração para cobrir um caso de corrupção, transformando
a vida do trabalhador num caos.
Embora uma parte do
povo brasileiro finja não querer enxergar os verdadeiros fatos, é mais do que notório
que os eventos do ano passado desencadearam um verdadeiro golpe e culminando
nesse governo ilegítimo. Logicamente o que assistimos de lá para cá foi uma espécie
de teatro, moldurado pela direita, aliado com uma mídia sensacionalista, cujo
objetivo era enganar o público com falsas promessas e criando então uma cortina
de fumaça para esconder a verdadeira corrupção. Mesmo não sendo um filme brasileiro,
o longa búlgaro Glory é uma obra da qual soa familiar a todo o momento e por
isso mesmo um filme com uma linguagem universal para ser visto e revisto por todos.
Dirigido pelos diretores
e roteiristas Kristina Grozeva e Petar Valchanov (A Lição), o filme acompanha a
cruzada de Tsanko Petrov (Stefan Denolyubov) trabalhador humilde de uma ferroviária,
que em certo dia acha um monte de dinheiro durante a sua caminhada nos trilhos
e o governo local decide então premia-lo pela sua honestidade. É então que
surge em cena Julia Staikova (Margita Gosheva), chefe do departamento de
relações públicas que está cuidando da cerimônia de premiação, tirando então relógio
de Petrov e lhe dando um bem vagabundo como prêmio. Após o evento, ele trata de
procurar pela moça, que já tinha deixado o local. Apegado ao objeto (herança do
seu pai), além de estar descontente com o fato do novo relógio não funcionar
direito, Petrov passa então a procurar por Julia, que já não tem ideia de onde
o objeto se encontra.
A partir do momento
em que o protagonista é acolhido pelo poder local para ser venerado diante da
imprensa, se cria então um verdadeiro teatro hipócrita, onde a imagem e
palavras falsas valem muito mais do que qualquer coisa. Os realizadores do
filme, por exemplo, fazem questão de criar situações que beiram ao pastelão, mas
que, por mais absurdo que seja, soa realístico pela sua profundidade e com os
seus inúmeros significados. Quem vê a situação, imediatamente irá se lembrar de
certos políticos, que fazem questão de ficarem bem apresentados diante das câmeras,
mas não escondendo o seu desdém para se criar todo esse teatro.
Diante disso, temos
dois lados da mesma moeda, sendo então Petrov e Julia Staikova. Se o primeiro é
uma representação de uma humildade e inocência perante o mundo cruel em que vive,
Staikova seria uma representação do poder político, que faz de todas as formas para
se manter firme no controle dentro do seu trabalho, mas não escondendo o fato
que até ela mesma reconhece no fundo que é tudo um jogo das aparências. Se por
um momento chegamos a querer tachá-la como antagonista, os realizadores fazem
questão de mostrar que o problema se encontra bem mais em baixo e revelando
então uma pessoa que não consegue mais administrar a sua vida profissional e
pessoal ao mesmo tempo.
Mas se presenciamos a
desconstrução de Staikova, a de Petrov acaba sendo, infelizmente, muito mais
dolorida. Ao não conseguir obter o seu humilde relógio, o protagonista acaba
caindo numa teia de eventos, onde a corrupção e a burocracia (algo semelhante
visto em Eu, Daniel Blake) acabam se revelando os seus piores inimigos e lhe
obrigando a ir num caminho sem volta. Os momentos finais nos deixam impotentes,
perante uma situação que beira ao absurdo, mas que reconhecemos ser duramente
real ao mesmo tempo.
Glory é um filme sobre
atos e consequências, cujo lado bom do ser humano, infelizmente, acaba sendo
sufocado pela cobiça e da obsessão pelas aparências.
Onde assistir: Casa de Cultura Mario Quintana. Rua das Andradas 736, centro de Porto Alegre. Horário: 15h30min
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