Nos dias 14 e 15 de fevereiro, estarei participando do curso “David Cronenberg: Seu Cinema e suas Obsessões”, criado pelo CENA UM e ministrado pela Prof.ª Dr.ª Rosângela Fachel de Medeiros. E enquanto esses dois dias não vêm, por aqui, estarei postando um pouco sobre cada filme, desse diretor que passa sua visão obscura (mas que fascina) para a tela do cinema!
EM INICIO DE CARREIRA, O QUE A MENTE DE CRONENBERG QUERIA DIZER PARA NOS?
CALAFRIOS
Sinopse Num condomínio fechado localizado em uma bela ilha canadense, os turistas estão lentamente cedendo à loucura. Um estranho vírus toma conta de seus corpos , infectando a todos. Os sintomas são incontroláveis: homens e mulheres são acometidos de acessos de violência e desejo... Não há como escapar, nem onde se esconder ...Enfim, entregam-se a um comportamento sexual animalesco e bizarro. Nonsense, humor penetrante, terror e morte, o filme mais escatológico de Cronenberg. Neste filme a mortal epidemia ganha contornos de uma doença altamente contagiosa, que hoje em dia poderíamos associar com o HIV e a guerra biológica.
O filme poderia muito bem ser visto como uma metáfora sobre as doenças venéreas (como HIV) quando pessoas começassem agir com muita libertinagem, digo poderia, pois o filme vai muito, além disso. A produção pode ser vista como uma espécie de verdadeira profecia do que aconteceria no inicio dos anos 80, sendo que a produção foi lançada em 1975, e até aquela data, não havia ainda uma noção exata da existência da AIDS. Na época de lançamento do filme, muitos críticos acusaram Cronenberg de ser um cineasta com uma mente perturbada, que estava tentando dizer alguma coisa, ou simplesmente insinuaram que ele tinha a maior aversão ao sexo, por colocar o ato sexual como vilão da historia.
A meu ver, tudo que Cronenberg fez foi se adiantar no tempo, pois talvez já tivesse uma noção do que viria nos anos seguintes com relação a doenças sexualmente transmissíveis, tanto que ele chegou por um tempo estudar medicina antes de se tornar cineasta. Portanto, os perigos das doenças vindas do sexo, ele simplesmente as usou como uma metáfora (e profética) para a criação do seu primeiro filme, que por vezes, lembra Invasores de Corpos ou A Noite dos Mortos vivos. O curioso é o fato que alguns elementos usados no filme serviriam de base para a criação de outros filmes posteriormente como Alien: O 8º Passageiro. Lembrando que, como esse foi o primeiro longa metragem que Cronenberg fez na sua carreira e no Canada, os atores (na maioria amadores) não tinha uma noção exata de como atuar neste tipo de filme, pois o gênero de horror, era muito raro naquele País. O diretor chegou até mesmo a agredir a atriz Barbara Steele para ela realmente chorar com autenticidade, mas segundo ele, foi um pedido vindo da própria atriz
Com um ato final inesperado e que certamente deixou muita gente abalada, Calafrios foi o ponta pé inicial da carreira desse diretor de cinema, que através de suas obsessões internas, tinha muito que dizer na tela grande!
Enraivecida na Fúria do Sexo
Sinopse: Mulher que se alimenta de sangue, após acidente de moto, começa a espalhar um vírus, que faz com que os infectados fiquem raivosos e atacar outras pessoas. .
Dois anos depois de Calafrios, Cronenberg voltaria a querer dizer alguma coisa neste filme de terror, que é muito mais do que uma versão nova sobre o tema do vampirismo. As vésperas da descoberta da AIDS, o mundo já vivia com um grau preocupante de mortes através de doenças até então desconhecidas, que na maioria delas, se desconfiava que poderia vir através do sexo desenfreado, pois fins dos anos 60 e durante todo os anos 70, as pessoas praticavam mais sexo do que o normal (ou vocês acham que eles eram magrinhos porque?). Ou então, através de experiências cientificas na descobertas de novas curas, mas que por vezes, algo dava errado.
Unindo essas duas hipóteses, Cronenberg cria novamente, um filme profético sobre o que aconteceria se uma doença desconhecida começasse há assolar a civilização, e através dela, uma verdadeira onda de paranóia e anarquia. Se em Calafrios, A Noite dos Mortos Vivos era levemente usado como inspiração, aqui a coisa aumenta, pois os infectados ficam descontrolados e tem um desejo enorme de morder as pessoas, ao mesmo tempo que demonstram uma raiva descomunal. Curiosamente, a portadora desse mal que acontece durante á historia, é interpretada pela atriz pornô famosa na época, Marylin Chambers, sendo que aqui, age mais como uma figura do que como uma pessoa, o que combina bem para a personagem. Sendo uma verdadeira origem do caos, mas sem má intenção, unicamente age pelos seus instintos novos, uma verdadeira sedenta por sangue.
Com um final tão impactante quanto o filme anterior, Enraivecida na Fúria do Sexo é pouco conhecido pelo publico brasileiro, mas super cultuado pelos admiradores do diretor!