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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: As Boas Maneiras



Sinopse: Ana contrata Clara, uma solitária enfermeira moradora da periferia de São Paulo, para ser babá de seu filho ainda não nascido. Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos.
 
Em seu primeiro longa metragem, o elogiado Trabalhar Cansa, Marco Dutra surpreendeu ao apresentar uma trama de suspense, com pitadas de terror, mas cuja a possibilidade da existência do sobrenatural acabava se tornando meio que banal, já que as adversidades do mundo real acabam se tornando muito mais assustadoras do que se possa imaginar. Já em Quando eu era Vivo, o cineasta foi feliz na transição do mundo real e com a possibilidade da presença do sobrenatural dentro da história. É aí que chegamos ao seu mais recente filme As Boas Maneiras, onde ele potencializa essa transição, ao não se esquecer do mundo real em que vivemos, mas injetando um grau do gênero fantástico até então inédito em sua carreira.
Na trama acompanhamos a história de Clara (Isabel Zuaa, de Joaquim), que ganha à oportunidade de trabalhar para Ana (Marjorie Estiano, de Entre Irmãs), que mora sozinha, esperando um bebê, mas cujo pai é um mistério. Aos poucos ambas se tornam amigas e, posteriormente, confidentes e amantes. Porém, Ana começa agir de uma forma estranha, principalmente à noite e Clara acaba por então testemunhando algo surpreendente.
Com co-direção de sua montadora Juliana Rojas, Dutra cria aqui basicamente duas tramas em uma, sendo que a primeira uma hora de projeção acompanhamos o relacionamento de duas mulheres solitárias, das quais são diferentes uma da outra, mas não escondendo de ambas o desejo pelo afeto há tanto tempo perdido. Clara, por exemplo, se torna uma espécie de observadora nessa primeira parte da história, onde testemunha a mudança de comportamento de Ana e, ao mesmo tempo, conhecendo as reais raízes de seus problemas. Isabel Zuaa e Marjorie Estiano possuem ótima sintonia uma com a outra em cena e fazendo com que embarquemos de um modo mais fácil nas situações absurdas que logo virão em seguida.
É ai que ambos os cineastas criam um cenário curioso, onde o mundo real do qual nós conhecemos vai se alinhando por uma realidade mais próxima do gênero fantástico. Os cenários da cidade, por exemplo, são próximos de um visual de uma HQ e as aparições da lua cheia acabam por romantizar isso. Falando em HQ, é bem criativo o surgimento das ilustrações em cena, onde representa o passado de Ana e já fazendo a gente se preparar para o que logo virá em seguida.
Após o encerramento da primeira parte da trama, Marco Dutra e Juliana Rojas não se intimidam em dosar a sua proposta e deixar que o gênero fantástico tome conta da projeção. Contudo, há um belo alinhamento de uma realidade brasileira com o horror que surge em cena e isso é obtido graças ao bom desempenho do pequeno Miguel Lobo, que aqui interpreta Joel, filho de Ana e que carrega um fardo do qual ela própria desconhecia. Infelizmente os cineastas meio que falham ao inserir efeitos visuais para a revelação do lado até então obscuro de Joel, sendo que a maquiagem do personagem que havia aparecido num primeiro momento é muito mais convincente.
É claro que na reta final do filme tudo se encaminha para um verdadeiro cataclismo, onde os personagens principais terão que aceitar as consequências pelo que eles são, mas não abandonando as suas vontades, mesmo perante a intolerância do homem. Curiosamente, os minutos finais remetem os clássicos filmes de horror da Universal de antigamente, mas deixando em aberto sobre o que virá em seguida. As Boas Maneiras é uma releitura curiosa de uma velha e conhecida figura do gênero de horror, mas não se esquecendo do lado humano, complicado e verossímil do mundo real.

Onde assistir: Cinemateca Capitólio. Rua Demétrio Ribeiro, nº1085 centro de Porto Alegre. Horário: 16h. Sala Noberto Lubisco: Rua das Andradas nº736 centro de Porto Alegre. Horário: 15h30.  


Cine Dicas: Estreias do final de semana (29/06/18)



Os Incríveis 2
Sinopse: A Mulher Elástica entra em ação para salvar o dia, enquanto o Sr. Incrível enfrenta seu maior desafio até agora: cuidar dos problemas de seus três filhos.
 
50 São os Novos 30
Sinopse: Aos 50 anos, Marie-Francine está muito velha para o seu emprego e para o marido, que a troca por uma mulher mais nova. Ela volta a morar na casa dos pais, que a tratam de forma infantilizada, e começa a trabalhar em uma pequena loja de cigarros eletrônicos, onde finalmente conhece Miguel. Sem admitir, ele está na mesma situação que ela, e com a paixão emergente, eles precisam abrigar o novo amor sem que nenhum dos dois tenha uma casa própria.

Além do Homem
Sinopse: Alberto Luppo mora em Paris há muitos anos e não tem vontade de retornar ao país de origem. Mas quando o antropólogo francês Marcel Lefavre é supostamente devorado por canibais no interior do Brasil, Alberto é obrigado a retornar à terra natal para investigar o mistério e transformar a história em um livro. Chegando lá, recebe a ajuda do taxista Tião que o leva até o local. Alberto vai penetrando em um Brasil alegórico e misterioso. Temendo por um final como o do francês, se desespera.

Oh Lucy!
Sinopse: Setsuko Kawashima (Shinobu Terajima) é uma mulher solitária que trabalha em um monótomo escritório em Tóquio. Quando vê que precisa sair da rotina, ela decide estudar inglês, e a partir daí, sua vida nunca mais é a mesma. É durante as aulas que Setsuko descobre sua outra identidade, o alter ego "Lucy". Enquanto experimenta desejos e situações antes impessáveis, ela precisa lidar com o desaparecimento do seu instrutor John (Josh Hartnett).

Sexy por acidente
Sinopse: Renee, uma mulher comum, luta diariamente com sua insegurança. Depois de cair de bicicleta e bater a cabeça, ela de repente acorda acreditando ser a mulher mais capaz e bonita do mundo, começando a viver a vida mais confiante e sem medo das falhas.

Sicario - Dia do Soldado
Sinopse: Alejandro Gillick e Matt Graver trabalham juntos em uma ação secreta que envolve a filha de um chefão das drogas, Isabelle. Alejandro acaba se vendo em uma encruzilhada moral e suas escolhas podem acabar desencadeando uma sangrenta guerra de cartéis.

Ex-Pajé
Sinopse: Um pajé passa a questionar sua fé depois de seu primeiro contato com os brancos, que alegam que sua religião é demoníaca. A missão evangelizadora comandada por um pastor intolerante é questionada quando a morte passa a rondar a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta se mostra indispensável.


Cine Dica: Homenagem a The Band e Fantaspoa Revisitado (28 de junho a 4 de julho)



THE BAND POR MARTIN SCORSESE EM SESSÃO ESPECIAL
FILMES PREMIADOS DO FANTASPOA EM EXIBIÇÃO

 Garotos Selvagens

No dia primeiro de julho de 1968, The Band lançou um dos grandes discos de estreia da história do rock: Music from Big Pink. Para celebrar o aniversário de cinquenta anos de uma das obras-primas do grupo, no dia primeiro de julho de 2018, às 17h30, a Cinemateca Capitólio Petrobras apresenta uma exibição especial (e com volume bem alto!) de O Último Concerto de Rock (The Last Waltz, 1978, HD), de Martin Scorsese. O valor do ingresso é R$ 10,00, com meia entrada para estudantes e idosos.

FANTASPOA REVISITADO
A partir de sexta-feira, 29 de junho, a Cinemateca Capitólio Petrobras recebe a mostra Fantaspoa Revisitado, com uma seleção de filmes premiados na edição deste ano do festival de cinema fantástico de Porto Alegre. O valor promocional do ingresso para as sessões do Fantaspoa é R$ 10,00.

"THIS FILM SHOULD BE PLAYED LOUD!"

O ÚLTIMO CONCERTO DE ROCK
(The Last Waltz)
EUA, 1978, HD Direção: Martin Scorsese
O último concerto da banda canadense The Band. Era para ser apenas um show de despedida, mas acabou por tomar dimensões muito maiores, e virou uma celebração. Imagens da apresentação, que contaram com a participação de Neil Young, Bob Dylan e outros, se intercalam com curtas entrevistas com os membros da banda, com especial atenção para Robbie Robertson. Elenco: The Band, Bob Dylan, Eric Clapton, Neil Young, Joni Mitchell, Van Morrison, Neil Diamond, Emmylou Harris, Muddy Waters, The Staples, Ringo Starr, Ron Wood, Dr. John, Paul Butterfield, Ronnie Hawkins.
 

GRADE DE HORÁRIOS
28 de junho a 4 de julho de 2018

28 de junho (quinta-feira)
14h – Branca de Neve e Os Sete Anões (dublado)
16h – As Boas Maneiras
18h30 – De Boca em Boca
20h – Baronesa + debate com Juliana Antunes

29 de junho (sexta-feira)
14h – De Boca em Boca
16h - As Boas Maneiras
18h30 – Baronesa
20h - The Endless (Fantaspoa Revisitado)

30 de junho (sábado)
14h - Branca de Neve e Os Sete Anões (dublado)
16h – As Boas Maneiras
18h - Rock Steady Row (Fantaspoa Revisitado)
20h - Plano-Sequência dos Mortos (Fantaspoa Revisitado)

1 de julho (domingo)
14h – De Boca em Boca
16h - Baronesa
17h30 – O Último Concerto do Rock
20h – Madraza (Fantaspoa Revisitado)

3 de julho (terça)
14h - Branca de Neve e Os Sete Anões (dublado)
16h – As Boas Maneiras
18h30 – Baronesa
20h - Blood Fest (Fantaspoa Revisitado)

4 de julho (quarta)
14h - De Boca em Boca
16h - As Boas Maneiras
18h30 – Baronesa
20h - Os Garotos Selvagens (Fantaspoa Revisitado)

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Hereditário


Sinopse: Após a morte da reclusa avó, a família Graham começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse uma sombra sobre a família, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie, por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do infeliz destino que herdaram.

O cinema de horror atual vive colhendo frutos através de franquias de sucesso como Sobrenatural, Invocação do Mal, seus derivados e de outros títulos que fortaleceram esse meu pensamento. Porém, filmes como ‘Corra!”e “A Bruxa” vão muito além de meros entretenimentos para provocar sustos, mas sim ousando em nos brindar com algo novo e imprevisível. Hereditário é um caso raro, onde consegue transitar entre as fórmulas de sucesso e territórios raramente explorados dentro do gênero.
Dirigido por Ari Aster, o filme acompanha a história da família Graham, que a pouco havia perdido avó em circunstâncias, aparentemente, naturais. Sua neta Charlie (Milly Shapiro) age de uma forma estranha perante a situação de luto que se encontra a sua família e sua mãe (Toni Collette, de O Sexto Sentido) parece guardar segredos e sentimentos sobre essa situação. Aos poucos, situações estranhas começam acontecer na casa em que eles vivem e gerando inúmeras situações preocupantes.
Falar muito sobre a obra é o mesmo do que quebrar a experiência de assisti-la, já que raramente o cinema americano atual nos brinda com um filme do qual nos testa e nos faz adentrar em territórios em que não estamos muito acostumados a pisar. Claro que o cinéfilo mais atento, principalmente aquele que estuda sobre cinema, irá se lembrar do horror dos anos 70, onde muitas histórias daquela época não aconteciam exatamente nas típicas casas mal assombradas do gênero, mas sim em cenários que representavam o nosso mundo real e tornando a experiência muito mais inesquecível. Hereditário é, portanto, um filme de horror psicológico, mas que consegue transitar pelo gênero fantástico e nascendo dessa mistura algo novo.
A trama, por exemplo, possui um ritmo lento, principalmente em seu primeiro ato, onde é apresentado gradualmente o cenário e os seus respectivos personagens. O cenário, aliás, é carregado de simbolismos, onde maquetes representando ambientes com seus respectivos bonecos seriam uma espécie de metáfora com relação ao mundo em que os personagens vivem e cada vez mais presos em suas cordas invisíveis. Ari Aster, por sua vez, surpreende da maneira como filma, onde lentamente sua lente adentra os cenários, como se ele quisesse que prestássemos mais atenção a cada detalhe que vai surgindo em cena.
Ainda sobre o lado técnico, por exemplo, a trilha sonora aqui se difere de outros títulos dentro do gênero, onde ela não surge nos momentos em que nos assustam, mas sim em situações desconcertantes e deixando os momentos assustadores no mais puro silêncio. Os jogos de luzes e sombras, aliás, exigem que nos faça prestar atenção ao que realmente se encontra escondido no canto do cenário e fazendo com que a gente se encolha no meio da poltrona a todo o momento. Sinceramente, não me lembro de um filme de horror recente que me fazia temer pelo que iria acontecer em seguida, mas é exatamente isso que  essa obra nos provoca.
Até lá, a produção nos brinda com ótimas interpretações, sendo algo que raramente vemos nesse gênero cinematográfico. Se o mundo for justo, Toni Collette poderá ser indicada ao Oscar no ano que vem, já que ela está assustadoramente bem, ao interpretar uma personagem em que transita entre a razão, loucura e de uma ambiguidade que nos assombra sempre que ela surge em cena. E se por um lado o veterano Gabriel Byrne se apresenta numa atuação estática, por outro, os jovens atores Milly Shapiro e Alex Wolff se sobressaem, sendo que esse último tem papel fundamental na reta final do filme.
Falando nisso, não me admiraria se muitos não forem gostar do final da história, já que ela não é reconfortante, não há uma redenção e deixando em aberto inúmeras possibilidades sobre o que realmente aconteceu. Ari Aster procura se fechar em seu final, onde deixa cada um nós tirarmos nossas próprias conclusões sobre o que aconteceu a partir de várias possibilidades jogadas no decorrer do filme. O resultado é artisticamente ambíguo e nos deixando paralisados perante os acontecimentos. 
Hereditário é um filme de horror maravilhosamente memorável, onde nos pega desprevenidos e fazendo a gente não se esquecer do que testemunhamos.