Sobre o Filme:
A trama começa a partir de um conflito que se tornou comum ao ser observado de perto em vários países do mundo. É o dilema do indivíduo perante os engravatados do poder, do indivíduo simples contra poderosos de sistemas milionários que não se intimidam em vender a própria mãe para obter um bom lucro. Aqui, o senhor Hasan tem as suas terras ameaçadas porque a fiação de uma torre de energia elétrica precisa passar justamente por sua propriedade, onde ele cultiva tomates para comercialização.
O enredo parece que vai seguir um caminho maniqueísta habitual desses filmes, sendo que num primeiro momento o longa me lembrou do ótimo "As Bestas" (2022). Porém, diferente do que acontece no filme de Rodrigo Sorogoyen, o protagonista passa a fazer parte da rede de negociações e especulações nem sempre honestas a fim de preservar o seu trabalho, muito embora ele continue sendo um mísero indivíduo contra o sistema. Hasan também tem lá o seu lado ambíguo, pois o mundo já é por si complexo.
Mas o mais curioso nesse filme do turco Semih Kaplanoglu é que toda essa disputa que toma boa parte do longa funciona como uma introdução para uma discussão a se revelar perto do fim da obra, quando Hasan precisa confrontar o seu passado que vem a tona. Pode parecer uma volta grande demais para uma linha de chegada muito pontual, até mesmo inesperada, mas o filme toma o seu tempo, desenvolve seus personagens sem vitima-los, sendo que a esposa de Hasan possui uma percepção aguda da situação como um todo e faz Hasan rever suas atitudes e seu passado com dureza, enquanto as árvores vão dando lugar a torres de metal.
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