Sinopse: Alana Kane e Gary Valentine crescem e se apaixonam em San Fernando Valley, na Califórnia, em 1970.
Paul Thomas Anderson gosta de nos apresentar personagens obsessivos, que vão correndo de encontro com os seus objetivos, mesmo que para isso lhe custem muito caro. Se em "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" (1997) vemos os protagonistas sobrevivendo através da era de ouro da pornografia, em "Sangue Negro" (2007) vemos o personagem de Daniel Day-Lewis completamente enlouquecido em obter rios de petróleo e se tornando uma representação sobre a obsessão dos principais líderes do mundo que vivem e morrem para obter esse tesouro a qualquer custo. Seguindo por essa mesma linha de raciocínio, "Licorice Pizza" (2022) é o filme mais leve da carreira do diretor, mas não menos do que fantástico e arrebatador.
Licorice Pizza é a história de Alana Kane (Alana Haim) e Gary Valentine (Cooper Hoffman) crescendo, correndo e se apaixonando no Vale de San Fernando, 1973. Os dois iniciam vários negócios, flertam, fingem que não se importam um com o outro e, inevitavelmente, se apaixonam por outras pessoas para evitar se apaixonar um pelo outro. Mas há um detalhe entre os dois: ela tem 25 e ele 15. Eles se conhecem em um dia de foto na escola de Gary, onde Alana está ajudando os fotógrafos no fatídico dia.
Já no primeiro ato nos damos conta que estamos diante de uma obra de Paul Thomas Anderson. Seus planos-sequência mirabolantes, onde a sua câmera sempre acompanha os protagonistas, nos convida para adentrar o passado, porém, não muito distante e cheio de cores quentes. É os anos setenta, onde uma geração de jovens começa a perder a sua inocência, onde se enveredam pelos prazeres daquela época, mas ao mesmo tempo decidindo se tornarem logo adultos para conquistarem o mundo. Gary Valentine, por exemplo, explora as mais diversas formas para obter lucro, mesmo quando nada parece que dará certo.
Já Alana possui pés mais no chão com relação ao assunto, ao tentar se entrosar com poderosos mesmo quando corre um sério risco de se distanciar do seu melhor amigo. É neste ponto, por exemplo, que surgem astros de grande calibre dentro da trama, mesmo que suas presenças sejam breves, porém, marcantes. Tanto os personagens de Sean Penn como de Bradley Cooper seriam uma manifestação de tempos em que uma geração vivia da emoção, adrenalina e cuja uma determinada noite poderia ser sua última de suas vidas.
Os anos setenta retratados por Paul Thomas Anderson é um colírio para os nossos olhos, cuja a edição de arte e fotografia se tornam uma representação da contracultura daqueles tempos e cuja a sociedade norte americana parecia que finalmente estava acordando para o mundo real e sobre a maneira de como as coisas realmente funcionavam. Vale salientar que o filme é carregado de uma trilha sonora familiar, cujo os principais sucessos daqueles anos se tornam o coração pulsante da obra como um todo. Portanto, as faixas “Life on Mars?”, de David Bowie, e “Let Me Roll It”, de Paul McCartney e Wings são alguns dos inúmeros aperitivos que se encontram ao longo do percurso.
É claro que o filme funciona principalmente graças a sua dupla central. Ambos se apaixonam, mas cujo os sentimentos quase nunca se afloram por medo, mesmo em situações que se torna cada vez mais explicito a dependência um pelo outro. Não deixa de ser surpreendente, por exemplo, quando um vai pela procura do outro em determinados momentos da história, cuja a busca de Alana por Gary na delegacia, ou quando ambos juntos estão em uma situação envolvendo um caminhão sem combustível indo ladeira abaixo, estão entre os melhores sequências que eu vi num filme neste ano.
Tanto Alana Haim como Cooper Hoffman estão impressionantes em seus respectivos papeis, sendo que o último tem todas as chances de ser um interprete tão bom quanto o seu pai, o falecido, porém, inesquecível Philip Seymour Hoffman. Curiosamente, Anderson presta uma curiosa homenagem ao clássico "Taxi Drive" (1976) do mestre Martin Scorsese, já que ambos os filmes possuem uma similaridade sobre questões políticas. Porém, enquanto o clássico de Scorsese falava de uma parcela daquela geração que estava pronta para explodir, aqui Paul Thomas Anderson prefere optar em enxergar o outro lado dessa moeda, ao falar de uma geração que não vivia presa ao mundo fácil das coisas de hoje em dia, mas sim que possuíam inúmeros sonhos e que colocavam a mão na massa mesmo quando tudo parecia estar desmoronando.
"Licorice Pizza" é uma deliciosa nostalgia para o nosso olhar, sobre uma época cheia de vida e cuja a sua geração perseguia as suas metas mesmo quando toda situação parecia perdida.