CICLO COMÉDIA ROMÂNTICA
Sessão comentada Clube de Cinema
ENTRADA FRANCA
Local: Sala Redenção, Campus Central da UFRGS
Data: 11/04/2023, terça-feira, às 19:00 horas
"Ninotchka"
EUA, 1939, 110 min, legendado, 10 anos
Direção: Ernst Lubitsch
Elenco: Greta Garbo, Melvyn Douglas, Bela Lugosi, Ina Claire
Sinopse: Nina Yakushova (Greta Garbo), comissária do governo soviético, é mandada a Paris para averiguar o comportamento de três representantes do governo que têm como missão negociar uma joia. Aos poucos sucumbe ao capitalismo e a Leon d'Algout (Melvyn Douglas), um galanteador francês que está apaixonado por ela.
Sobre o Filme:
Era 1939, que hoje é considerado o ano do cinema, um determinado filme era lançado com a frase "Garbo ri". Mundialmente conhecida pelos seus papéis sérios, além de uma vida social bastante reservada, tanto dentro como fora da tela, o fato de testemunharmos Garbo no cenário da comédia era o mesmo do que presenciarmos uma realidade alternativa. Mas isso ocorreu pelas mãos de Ernst Lubitsch, conhecido na época como o grande líder da comédia clássica que Hollywood dos anos 30 e 40, onde a MGM, por exemplo, obteve vários sucessos.
Porém, “Ninotchka” estava distante de ser o primeiro filme em que Garbo sorri. Só para se ter uma ideia a sua risada já era bem conhecida pelos fãs, principalmente para aqueles que assistiram "Maria Walewska" (1937), grande fracasso da carreira da atriz, mas que soube contornar essa situação. Para o filme de 1939 foi chamado Ernst Lubitsch, que por sua vez chamou Billy Wilder para ser um dos seus braços direitos para a realização desse clássico. Para os cinéfilos de carteirinha nem preciso explicar quem era e quem seria Billy Wilder.
“Ninotchka” conta a história, em forma de sátira, sobre o atrito de pensamentos entre o comunismo da União Soviética, e o lado capitalista de Paris. No início, chegam Iranoff (Sig Ruman), Buljanoff (Felix Bressart) e Kopalski (Alexander Granach), que, embora trazendo bem estudadas as lições de devoção a uma causa, logo se rendem ao fascínio da capital francesa, ao ponto de se entregarem ao luxo, bebidas e as mais encantadoras mulheres. A missão era vender as joias da grã-duquesa Swana (Ina Claire), confiscadas durante a revolução. Mas quer o destino que a grã-duquesa viva em Paris e seja prontamente informada da intenção. Através do seu homem de confiança, o galã conde Léon d’Algou (Melvyn Douglas), a grã-duquesa vai impugnar a venda, tornando-a uma disputa em tribunal. Para desbloquear a situação chega a ainda mais austera enviada-especial, Nina Ivanovna Yakushova, de diminutivo Ninotchka (Greta Garbo).
Inicialmente condenando toda a decadência de costumes permitida pelos três enviados russos, Ninotchka vai tratar Paris e os parisienses sobranceiramente, como objetos de estudo. Exemplo é o tratamento dado a Léon, que conhece casualmente, sem saber quem é. Só que Léon, imediatamente fascinado por Ninotchka, não vai descansar até quebrar o gelo. Com uma sátira elegante, porém corajosa para os padrões da época, Lubitsch é um dos primeiros autores a fazer humor com a situação política da União Soviética, mas cuja visão não se enxergava o que viria depois da Segunda Guerra Mundial. Embora a intenção seja realmente caricatural, ela funciona para enxergarmos os contrastes destes dois mundos e dos quais a personagem de Garbo vai testemunhando aos poucos. Os seus colegas, por exemplo, se fascinam por algo que já existia no seu país de origem, mas nunca haviam parado para desfrutá-lo e podendo somente enxergar nas ruas de Paris. Os três, aliás, são protagonistas das melhores cenas de humor do filme como um todo e sempre enchendo a tela quando surgem em cena.
Porém, o coração do filme pertence ao casal central, onde Léo tenta quebrar a todo custo o lado duro da protagonista e cuja mesma mantem as suas convicções pela mãe Rússia. Porém, a cena em que ele tropeça em um restaurante faz com que a personagem de Greta estampe um largo sorriso em seu rosto e fazendo até hoje uma das cenas mais inesquecíveis de sua carreira. Acima de tudo, é um filme que faz questionar a visão dos dois lados, sendo que ambos estão certos e ao mesmo tempo errados e não podendo assim desfrutar do que faz deles realmente humanos.
Políticas à parte, “Ninotchka” é uma comédia romântica de diálogos primorosos, situações criativas, e um conjunto de interpretações admiráveis. Se os “russos” Sig Ruman, Felix Bressart e Alexander Granach estão perfeitos nos seus papéis cómicos de funcionários pategos e deslumbrados, Melvyn Douglas (pela segunda vez com Garbo) faz excelente uso do papel do sofisticado, e algo cínico parisiense, rapidamente convertido ao amor, e disposto a converter Ninotchka, mesmo que para isso acabe motivo de riso, num papel que fora disputado por Spencer Tracy, William Powell, Robert Montgomery e Cary Grant. Porém, é mesmo Greta Garbo que brilha do começo ao final da obra sendo que, curiosamente, ela demora para surgir pela primeira vez em cena no filme, mas logo dominando obra como um todo e colocando em seu bolso.
“Ninotchka” resulta em um enredo gostoso de ser assistindo, onde possui todos os ingredientes das comédias românticas de passados mais dourados e é por isso mesmo que é sempre lembrado.
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