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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: 'O Beco do Pesadelo'

Sinopse: Em O Beco do Medo, quando o carismático, mas sem sorte, vigarista Stanton Carlisle (Bradley Cooper) acaba entrando para um "circo dos horrores" após perder tudo. Lá ele encontra a vidente Zeena (Toni Collette) e seu marido Pete (David Strathairn), que fazem um show de leitura fria e um engenhoso sistema de linguagem codificada para fazer parecer que ela tem poderes mentais extraordinários.  

Nas mãos de Guillermo del Toro os personagens sofrem, ao ponto que um pingo de felicidade que acontece se torna o único consolo em meio a uma jornada de dor e morte. Nem mesmo o singelo "A Forma da Água" (2017) escapa dessa fórmula de sucesso, pois até mesmo no mais lírico conto de fadas se encontra o seu lado feio."O Beco do Pesadelo" (2021) fala sobre personagens desajustados, mastigados pela realidade nua e crua e que se vendem ao Diabo para obter algum lucro.

Na trama, quando o carismático, mas sem sorte, vigarista Stanton Carlisle (Bradley Cooper) acaba entrando para um "circo dos horrores" após perder tudo. Lá ele encontra a vidente Zeena (Toni Collette) e seu marido Pete (David Strathairn), que fazem um show de leitura fria e um engenhoso sistema de linguagem codificada para fazer parecer que ela tem poderes mentais extraordinários. Mas logo Pete começa a ensinar a Stan sobre os truques, fazendo com que Stan tenha uma ideia para um "passaporte" para a riqueza e tirar dinheiro da elite Nova Yorkina dos anos 1940. Anos depois, após sair do circo e se juntar com Molly (Rooney Mara), uma das intérpretes do show, Stan é conhecido como "O Grande Stanton", pondo em prática o que tinha imaginado anos antes. Mas durante uma de suas performances, ele acaba se envolvendo em um jogo de gato e rato com a psicóloga Lilith Ritter (Cate Blanchet) que tentar expor suas habilidades fraudulentas.

Estamos nos anos quarenta, época em que o planeta está em guerra contra o nazismo enquanto isso os EUA ainda tentam sobreviver se recuperando após a crise dos anos trinta. Ao entrarem na guerra que não pediram muitos soldados retornaram miseráveis, feridos ou com os nervos e almas quebrados como um todo. Portanto, o primeiro ato onde se concentra a trama cujo o cenário é um circo de horrores nada mais é do que uma representação do pouco de dignidade das pessoas que viram o horror de perto e usam desse próprio horror para sobreviverem mesmo que se humilhando.

Carlisle seria um homem transitando neste cenário de sorte e azar, onde os momentos traumáticos e não resolvidos o moldaram a ser o homem que é, mas tentando não se abalar para não cair em uma vala qualquer. Se percebe que Guillermo del Toro apresenta o personagem como alguém misterioso, porém, meio que seguro de si e cuja a sua imagem relembra a de um Humphrey Bogart dos tempos dourados do cinema. Aliás, isso é proposital, já que a trama se passa na época em que o "cinema noir" estava em alta, onde luz, sombras e damas fatais moldavam essas obras e isso graças aos realizadores alemães dos tempos do expressionismo e que fugiram para os EUA para escaparem do horror do nazismo.

Por conta disso, Guillermo del Toro usa e abusa de um enquadramento que relembra esses tempos, cuja a chuva, sombras e personagens sempre em volta de uma janela fazem com que quase nem sintamos a falta de uma fotografia em preto e branco. Ao invés disso as cores são fortes, o sangue vermelho se torna quase explicito quando surge e cuja a edição de arte fazem das cenas ainda mais simbólicas. É um filme que o cineasta presta uma homenagem ao cinema dos tempos dourados, mas ao mesmo tempo falando que as mentiras e mazelas dos homens do passado ainda persistem nos tempos contemporâneos.

Mentira, aliás, é catalisador que movem os personagens centrais, seja nos eventos vistos no circo, como posteriormente na cidade grande. Ao adquirir os ingredientes para se tornar um grande vidente, Carlisle acaba por alimentar as esperanças de uma sociedade enfraquecida, cujo os horrores da guerra e de uma cidade corrupta acabam sugando qualquer tipo de esperança e, portanto, o mesmo acaba se tornando um meio para essas pessoas acreditarem em algo. Se hoje a sociedade atual se alimenta de fake news por achar que a verdade já não o suficiente naquela época isso não seria diferente.

Com um grande elenco, quem acaba se sobressaindo é próprio Bradley Cooper, cujo o seu personagem  Stanton Carlisle acaba se tornando o melhor personagem de sua carreira. Desde o princípio sentimos que o personagem carrega um passado trágico, o que lhe faz ser alguém em busca de uma felicidade que jamais irá alcançar e cujo o seu destino acaba sendo definido antes mesmo dele chegar lá. A sua cena final, aliás, é sublime, trágica e ao mesmo tempo realista.

"O Beco do Pesadelo" é uma prova que Guillermo del Toro não se vende pelo obvio e nos brindando com um filme complexo, corajoso e não estando nenhum pouco preocupado com os seus resultados. 


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