Sinopse: Rob, um homem que vive isolado na floresta, colhendo cogumelos. Um dia, sua única companhia, uma porca especialista em encontrar trufas valiosíssimas e extremamente saborosas, desaparece.
Nicolas Cage aprendeu da melhor e pior maneira possível sobre como funcionam as engrenagens de Hollywood. Ganhador do Oscar por "Despedida em Las Vegas" (1995), o interprete decidiu aproveitar o prestigio e relaxar atuando em filmes de ação como "A Rocha" (1996), "Con Air - A Rota da Fuga" (1997) e "A Outra Face" (1997). A partir dos anos 2000 a coisa deslanchou de vez, onde o ator começou a errar nas escolhas de determinados projetos e resultando em filmes cada vez mais sofríveis.
"Adaptação" (2002) foi um filme que deu até esperança para os fãs, mas não foi o suficiente para livra-lo do estigma de atuar em filmes ruins. O problema é que, talvez, a fama tenha subido a sua cabeça, além de problemas pessoas e financeiros que fizeram o ator ser obrigado em atuar em filmes cada vez mais ruins unicamente para pagar as contas. Ou seja, um talento sendo mastigado pela verdadeira face do que é essa indústria de cinema norte americana.
Porém, nem tudo está perdido e o ator nos surpreende com "Pig" (2021), do qual talvez venha se tornar no filme mais importante de sua carreira tão sofrida. Dirigido pelo estreante Michael Sarnoski, Cage interpreta Rob, um homem que vive isolado na floresta, colhendo trufas, sua única companhia, uma porca especialista em encontrar trufas valiosíssimas e extremamente saborosas, desaparece. Este episódio faz com que o ermitão parta em busca do seu animal de estimação, retornando à vida que deixou para trás quando ainda era um chef de cozinha conceituado.
Pela premissa a gente até imagina que o protagonista irá partir para a vingança e bem ao estilo "John Wick". Porém, esse pensamento é natural, já que a maioria dos cinéfilos do mundo está acostumado pelo lado previsível deste gênero vindo do território americano e, portanto, sempre vem o obvio em nossos pensamentos. Porém, não é isso o que acontece.
O filme está mais pelo lado existencialista, onde gradualmente vamos conhecendo o personagem e as motivações que o levaram a desistir da civilização. Tudo é apresentado de uma forma lenta, mas que nos prende atenção graças ao seu visual, pois uma vez o protagonista adentrando novamente a selva de pedra se percebe que ele não perdeu muito ao deixa-la para atrás. Se percebe, por exemplo, que há um jogo pelo poder dentro do universo da culinária, mas ao mesmo tempo é analise pessimista de como esse sistema os suga e me lembrando até mesmo o já clássico "Clube da Luta" (1999).
Nicolas Cage, por sua vez, nos brinda com a melhor atuação de sua carreira, já que em sua interpretação podemos enxergar os piores e os melhores momentos de seus trabalhos de atuação. O seu personagem Rob seria uma espécie de metáfora de sua pessoa do mundo real, onde se encontra cada vez mais cansado perante ao mundo cheio de regras e cuja as mesmas é o dinheiro que comanda. Trocamos o universo dos filmes pela culinária e se tem a mesma coisa sobre o que o ator quer nos dizer com relação ao seu estado de espirito de agora.
Porém, Alex Wolff, que vem cada vez crescendo mais desde ao impressionante "Hereditário" (2018) não fica muito atrás com relação em termos de atuação e surpreende novamente em cena. Ao interpretar um jovem rico que tenta ganhar fortuna através do talento de Rob, o mesmo não esconde certa inocência perante a realidade que convive e conhecendo, enfim, uma nova realidade que antes desconhecia através de Rob. O final irá dividir a opinião de muitos, mas com certeza fará com que saiam da sala pensativos.
"Pig" é uma grata surpresa deste ano ao nos apresentar um Nicolas Cage farto das regras do cinemão hollywoodiano e nos brindando com algo no mínimo significativo.
Onde Assistir: GloboPlay