Sinopse: Enquanto aproveitam seu primeiro encontro, Queen e Slim são parados por uma pequena infração de trânsito. Quando a parada descontrola e Slim mata o policial em um ato de autodefesa, o casal é forçado a fugir.
O roadie movie (ou filme de estrada) é um subgênero que não fala somente da jornada dos protagonistas, como também da realidade em sua volta. Se por um lado "Sem Destino" (1969) falava de uma sociedade norte americana cansada do seu conservadorismo hipócrita, por outro lado, "Bonnie e Clyde" (1967) falava sobre uma população tentando sobreviver da sua maneira em meio a depressão dos anos trinta. É aí que chegamos a "Queen Slim" filme que fala da população negra cada vez mais perseguida pelo preconceito devido a era Donald Trump.
Dirigido pela estreante Melina Matsoukas, o filme conta a história de Queen, interpretada pela atriz Jodie Turner-Smith do filme "Demônio de Neon" (2016), e Slim, interpretado pelo ator Daniel Kaluuya do filme "Corra" (2017), um casal negro que a pouco haviam se conhecido, mas que são detidos por uma pequena infração de trânsito. A situação se agrava, com resultados repentinos e trágicos, quando Slim mata o policial em legítima defesa. Aterrorizados e com medo da destruição de suas vidas pessoais e profissionais, são forçados a fugir. Mas o incidente é registrado em vídeo e viraliza na internet, e o casal involuntariamente se torna um símbolo de trauma, terror, pesar e dor para pessoas de todo o país.
O filme poderia se passar em qualquer época dos EUA, já que o país ainda é uma das nações mais preconceituosas do mundo contra a comunidade negra. Contudo, devido ao fato de vivermos em uma época de perseguição da extrema Direita, o filme vem em um momento mais do que apropriado, principalmente pelo fato de os últimos assassinatos ocorridos terem sido orquestrados por policiais racistas por lá. Porém, é um tema para ser discutido de forma universal, já que o Brasil não fica muito atrás com relação a essa questão, principalmente nos tempos de governo fascista em que nos domina.
Ao se defenderem contra a intolerância imposta por um policial, Queen e Slim adentram em uma corrida contra o tempo e acabam conhecendo a verdadeira face dos EUA. Na medida em que a trama avança, os protagonistas conhecem diversos personagens, onde cada um tem um ponto de vista sobre eles e fazendo assim levantar diversos debates. Não deixa de ser curioso, por exemplo, que através dos protagonistas e dos personagens que surgem em sua jornada é que se levanta opiniões similares com as de Malcolm x e de Martin Luke King e cujo esse debate perdura até hoje.
Já o casal de protagonistas eles seriam uma espécie de representação da comunidade negra atual, da qual se divide entre ficar em silêncio ou se levantar contra o preconceito. Durante a jornada, ambos acabam aprendendo certos valores até então desconhecido e, aos poucos, começando a se apaixonarem um pelo outro. Tanto Daniel Kaluuya como Jodie Turner-Smith estão ótimos em seus respectivos papéis e fazendo com que o nascimento da paixão entre ambos se torne realmente verossímil.
Em termos de direção, Melina Matsoukas demonstra total controle no que faz, ao passar para nós uma direção segura e fazendo a gente ter interesse em seus próximos projetos que poderão vir em seguida. Com uma boa edição, o filme transita entre a calmaria para momentos de pura tensão e embalados por uma ótima trilha sonora que remete até mesmo aos tempos dos anos setenta. O final da obra não é muito diferente dos clássicos citados no início do texto, mas acaba sendo mais do que satisfatório, pois nos faz pensar diversas horas sobre o que nós testemunhamos.
"Queen e Slim" é sobre resistir contra os tempos de intolerância, mesmo quando a causa parece perdida.
Onde assistir: Google Play Filmes