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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Os Golfinhos vão para o Leste

Sinopse: Miguel Angel Garcia Mazziotti, figura gay decadente do showbiz no Rio de la Plata, é visitado por sua filha Virginia, de quem se manteve afastado por anos. "El Gordo", como o chamam em Punta del Este, rejeita abertamente a visita de Virginia mas, ao saber que vai se tornar avô, não consegue controlar a emoção e acaba cedendo e compartilhando da felicidade de sua filha. Eles compartilham então um verdadeiro fim de semana em família que, para ser feliz como em muitas famílias, deve ser de mentira.


Dos países Sul Americanos que adotaram a ditadura, o Uruguai, por exemplo, ainda se mantinha com as cicatrizes em aberto em anos posteriores. Coube então ao presidente Jose Mujica dar um novo frescor ao país e rejuvenescê-lo, já que não se poderia mais ser comandado por uma velha guarda e com seus antigos costumes. O cinema de lá acabou se tornando uma espécie de reflexo dessa virada, pois na maioria dos casos eram protagonizados por pessoas que não possuía a mesma linguagem dessa nova geração. Os Golfinhos vão para o leste é uma espécie de pequena síntese desse cinema rejuvenescedor, mas não escondendo ainda as suas marcas de um passado conservador.
Dirigido por Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta, o título pode não ser compreendido num primeiro momento, mas há sempre uma explicação para tudo. Quando os golfinhos vão para oeste, a expectativa é de tempo bom, de felicidade, mas a ideia de que eles estão indo em direção contrária cria então uma tensão dentro da trama, ou pelo menos uma sensação de que há algo de podre na Dinamarca. 
Delgado e Verónica não só dirigem como também escrevem e interpretam ambos os protagonistas, sendo que ela recebeu o Kikito de melhor atriz da seleção latina no Festival de Gramado do ano passado. Embora ainda hoje façam poucos filmes, o Uruguai sempre fez parte de Gramado, desde que o Festival de Cinema Brasileiro virou também latino, no terrível pós-Collor, quando não se tinha uma representação nacional para se manter uma competição de longas. Curiosamente, há quem diga que o cinema de lá se sobressai com relação ao conteúdo da TV e, portanto, na maioria das vezes, boas histórias se veem por lá somente na tela grande.
Aliás, é dessa decadência televisiva que conhecemos o personagem chamado El Gordo, um grande astro da TV de antigamente e gay assumido. Numa certa manhã surge do nada Virginia, filha do protagonista e da qual ela própria pega o seu pai no flagra com um jovem garoto de programa. Embora de entender que ambos não se falavam por um bom tempo, a protagonista arrisca em revelar uma importante notícia para ele. Tem-se então o início de um conflito entre pai e filha e do quais ambos não se mostram preparados para uma eventual reconciliação e mudanças que podem ou não surgir no horizonte.
Embora num certo momento de a entender que os realizadores não sabiam ao certo em que direção ir, seja no drama ou comédia, o filme pelo menos se sustenta através dos dois grandes talentos, onde ambos se mantém firmes na corda bamba até a sua reta final. Curiosamente não é um filme do qual se julga ninguém, mas sim testemunhamos pessoas com as sua vidas vazias e tentando sobreviver numa realidade corrida, alienada e sem muitas expectativas futuras. Cabe aqui o cinéfilo, não só julgar, como também fazer com que a trama continue em suas mentes e ficarem se perguntando o que os respectivos personagens farão posteriormente num futuro próximo. 
Com a participação curta do astro César Troncoso (Banheiro do Papa), Os Golfinhos vão para o leste é somente um pequeno exemplo do choque de gerações distintas, mas que ambas tem mais em comum do que se imagina. 


NOTA: Filme exibido no último sábado para sócios do Clube de Cinema de Porto Alegre.    

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Assassinato no Expresso do Oriente (2017)



Sinopse: A história se passa dentro de um luxuoso trem no ano de 1934. Mas a tranqüila viagem é interrompida por conta de um misterioso assassinato. Para a surpresa dos passageiros, Hercule Poirot (Kenneth Branagh), um dos mais conceituados e famosos detetives criminais da época, estava na composição. O profissional então inicia uma minuciosa investigação para tentar descobrir quem cometeu o terrível delito.

Kenneth Branagh é um sobrevivente em meio à indústria cinematográfica, pois embora tenha criado uma carreira sólida tanto como ator como também cineasta, ele nunca exatamente se vendeu aos engravatados do cinemão americano, mas sim sempre se preocupou em fazer um cinema de sua autoria e independente de qual gênero ele fosse abraçar. Das adaptações da obra de Shakespeare (Enrique V e Hamlet) a adaptações de HQ (Thor), Branagh também ousou se aventurar no horror, ao criar, para mim pelo menos, a melhor versão do conto de Mary Shelley's, Frankenstein de 1994. Agora em pleno 2017 o cineasta se arrisca em trazer de volta ao cinema Assassinato no Expresso do Oriente, obra máxima da escritora Agatha Christie.
O filme se passa nos anos 30, onde um luxuoso trem prossegue em sua longa viagem pela Europa. Entre os passageiros se encontra o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh), um dos melhores do ramo e que é sempre chamado para investigações misteriosas. Após uma avalanche, do qual deixou o trem parado nos trilhos, um misterioso assassinato ocorre, sendo que a vitima recebeu doze facadas e fazendo com que Poirot inicie a investigação que terá desdobramentos imprevisíveis.
Nem vou me estender muito em fazer comparações dessa versão com a do clássico de 1974 comandado por Sidney Lumet (Um Dia de Cão), pois embora seja a mesma trama, ambos os filmes são moldados de uma forma completamente diferente. Enquanto a versão de Lumet segue de uma forma fiel e simples ao adaptar o conto da escritora, Branagh opta em fazer com que as passagens do conto criado naquele período (1934) soem mais verossímeis nos dias de hoje. Não que o clássico da literatura tenha envelhecido mal, muito pelo contrário, mas Branagh optou até mesmo em explorar os dilemas e os conflitos que cada um daqueles misteriosos personagens vive naquele momento no trem e enveredando as situações até mesmo num grau de verossimilhança aceitável.
Essa versão de Hercule Poirot, por exemplo, criada pelo próprio Branagh para si soa até mesmo mais humana, pois embora demonstre um lado pretensioso ao dizer que é o melhor detetive do mundo, ele acaba não escondendo o quão se sente fragilizado perante uma investigação da qual ele mesmo reconheça que talvez não esteja preparado para concluí-la. Os fãs mais conservadores talvez não venham aceitar tais mudanças, mas no meu entendimento Branagh tirou leite da pedra, pois o resultado nas mãos de outra pessoa poderia ser muito pior hoje em dia.
Tecnicamente, o filme possui um dos mais belos visuais cinematográficos do ano, do qual não é preciso de um 3D para que as cenas saltem na tela, pois os cenários fazem que os nossos olhos brilhem para cada quadro de cena revelado. Além de uma edição de arte e fotografia que anda sempre em mãos dadas, Branagh, assim como fez em seus filmes anteriores, usa e abusa do uso da câmera e fazendo com que ela não tenha limite em alcançar determinado local de cena: o plano sequência onde se é apresentado cada um dos personagens principais embarcando no trem antes da partida é disparado um dos melhores momentos da obra.
Assim como na versão de 1974, o filme é moldado por um elenco estelar, do qual cada um tem uma função importante e que faz com que as engrenagens da trama fluem perfeitamente. Mas não esperem grandes interpretações, pois eles estão ali mais para dar vida à obra de Agatha Christie do que sobrepor ao que já havia sido feito pela autora. Porém, é preciso reconhecer o esforço de alguns, principalmente com relação ao belo desempenho de Michelle Pfeiffer que, ao interpretar a personagem Caroline Hubbard, ela consegue a proeza de moldá-la com inúmeras camadas, fazendo dela um ser trágico e sintetizando o lado ambíguo de todos que se encontram naquele trem.
Com uma referencia explicita a Santa Ceia de Leonardo da Vinci nos seus minutos finais, Assassinato no Expresso do Oriente de 2017 é cinema autoral de qualidade vindo do diretor Kenneth Branagh, mesmo quando se preocupa em ser fiel a sua fonte de origem literária.  



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Cine Dica: Curso FILME NOIR

CURSO

Apresentação

Noir, como objeto artístico, é “o gênero que nunca existiu”. Durante sua ocorrência original, localizada em algum ponto entre o princípio dos anos 40 e meados dos 50, nem indústria, nem crítica, nem público jamais utilizaram o termo, em terras americanas, em referência ao que hoje se cultura como Filme Noir.


Foram os franceses os seus criadores, e não os americanos. Privados de cinema hollywoodiano durante a Ocupação, os franceses viram-se diante de uma leva de filmes que incluía Relíquia Macabra (1941); Laura (1944);Até a Vista, Querida (1943); Pacto de Sangue(1944); Um Retrato de Mulher (1944); Assassinos (1946); A Dama do Lago (1946); Gilda (1946) e À Beira do Abismo (1946). Então, em 1946, o crítico e cineasta Nino Frank, em alusão à “série noire” (coleção editada na França contendo obras da literatura policial hard-boiled americana, base para a maioria desses filmes), cunhou o rótulo “Noir”.


Noir não é gênero, nem tom, nem estilo. É um fenômeno, e acima de tudo social. A maior prova de que existe? A fascinação que produz, o desejo que desperta: a “mística noir”.


Objetivo

O Curso FILME NOIR: CINEFILIA E SEXUALIDADE, ministrado por Fernando Mascarello, vai tratar das bases e do conceito que permeia toda a produção cinematográfica do período, enfocando com destaque a estética fílmica e o comportamento (a)moral das personagens, particularmente das femme fatales, figuras indissociáveis do imaginário clássico do Noir.





Temas

Afinal o que é Film Noir?
O contexto histórico
A invenção do termo na França
Noir, cinefilia e cinema de autor
Os EUA do pós-Segunda Guerra Mundial

Noir é gênero?
Definindo o Noir
O embate Masculino x Feminino
Femmes fatales e triângulos amorosos
A estética e a iconografia Noir


O termo Noir nos EUA
Neonoir ou o Noircontemporâneo
Cinefilia, sexualidade e o Noir


Ministrante: Fernando Mascarello
Doutor em Cinema pela ECA/USP, Professor do CRAV (Curso de Realização Audiovisual) e Coordenador da Especialização em Cinema na UNISINOS, organizador dos livros História do Cinema Mundial (7ª ed.) e Cinema Mundial Contemporâneo (2ª ed.). Já ministrou os cursos “Cinema de Autor” e “Neorrealismo Italiano: O Movimento e Seu Legado” pela Cine UM.


Curso
FILME NOIR: CINEFILIA E SEXUALIDADE
de Fernando Mascarello


Datas: 16 e 17 / Dezembro (sábado e domingo)

Horário: 14h às 17h

Duração: 2 encontros presenciais (6 horas / aula)

Local: Cinemateca Capitólio Petrobras

Investimento: R$ 85,00
* Desconto para pagamento por depósito bancário:
a) R$ 70,00 (primeiras 10 inscrições)
b) R$ 80,00 (demais inscrições)

Formas de pagamento: Depósito ou transferência bancária / Cartão de crédito (PagSeguro)

Material: Certificado de participação e Apostila

Informações
cineum@cineum.com.br  /  Fone: (51) 99320-2714

Inscrições
cinemacineum.blogspot.com.br

Realização
Cine UM Produtora Cultural

Patrocínio
Editora Intrínseca
Back in Black
B&B Games

Apoio
Cinemateca Capitólio Petrobras

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Meu Corpo é Político



Sinopse: O cotidiano de quatro militantes LGBT que vivem na periferia de São Paulo. A partir da intimidade e do contexto social dos personagens, o documentário levanta questões contemporâneas sobre a população trans e suas disputas políticas.

Uma coisa é saber que existe a comunidade LGBT, mas outra coisa é debater sobre o assunto para que então todos nós possamos assim compreendê-lo. Infelizmente num país como o nosso, principalmente no “pós-golpe 2016”, vivemos em uma realidade em que esse governo ilegítimo cada vez mais tenta esconder essas pessoas das demais, ou então criando propostas conservadoras e das quais somente tornariam a vida delas cada vez mais complicada. Em Meu Corpo é Político, testemunhamos uma realidade crua, do dia a dia de algumas dessas pessoas que vivem na luta contra o preconceito e no direito de obter um lugar ao sol.
Dirigido pela cineasta Alice Riff (Casa Vazia), acompanhamos o dia a dia de quatro militantes LGBT, que tentam viver o seu dia a dia através dos seus afazeres, trabalho e na luta pelo reconhecimento. Fernando Ribeiro é um homem transgênero batalhando para ter direito a utilizar o nome masculino em seus documentos. Giu Nonato, mulher trans, tem um importante trabalho fotográfico, feito na base da raça, que visa incentivar a valorização dos corpos. Paula Beatriz é a primeira trans diretora de escola do estado de São Paulo. E, por fim, Linn Santos é uma funkeira quer, ou “bicha lacradora”, como a própria provavelmente gostaria de ser chamada, em alusão às letras fortes de suas músicas.
Além dos quatro personagens centrais terem algo em comum, eles também vivem na periferia, região que, infelizmente, não é bem vista com bons olhos pelos poderosos, corruptos e conservadores. Esses últimos, aliás, dos quais são formados por políticos evangélicos, tem sido normalmente os principais responsáveis pela maioria da comunidade LGBT viver às vezes num verdadeiro calvário. Linn Santos, por exemplo, usa a sua musica do funk como uma espécie de protesto contra o presente e de um passado opressor, do qual se vivia preso nas mãos de pastores, mas que a partir do momento que largou dessa vida se sentiu livre para obter então o seu voo mais alto.
Seguindo a nova onda do cinema independente, dos quais esses filmes são uma espécie de ficção/documentário, ou simplesmente “cinema verdade”, o filme serve de plataforma para cada uma dessas pessoas falarem sobre suas vidas e, logicamente, soltar a voz numa forma de protesto e desabafo. Fernando Ribeiro, por exemplo, bota pra fora com um atendente sobre o fato de ainda não conseguir o direito de obter o seu nome masculino em seus documentos. É nesse momento em que a realidade transborda como um todo, não havendo nenhum resquício para que aquele momento soasse como artificial, mas sim uma espécie de desabafo sincero e do qual pudéssemos melhor apreciá-lo e compreende-lo.
Infelizmente o filme somente peca um pouco por não dar um espaço maior para alguns dos seus protagonistas. Paula Beatriz, por exemplo, é a que menos tem tempo em cena, mas que, toda vez que surge, ficamos nos perguntando como deve ter sido árdua a sua cruzada para ter chegado aonde chegou como diretora de uma escola. Em tempos em que os conservadores querem proibir assuntos de gênero dentro das escolas, Paula Beatriz seria uma voz forte contra esses retrocessos e que, pensando assim, um filme protagonizado somente pela própria seria muito bem vindo.
Com pouco mais de uma hora de duração, Meu Corpo é Político, é um manifesto contra esses tempos conservadores e que cada vez mais tornam o futuro do nosso país nebuloso e indefinido.   

Assista o trailer clicando aqui.

Onde assistir: Cinebancários. Rua General da Câmara 424, Porto Alegre. Horários: 15h e 19h. 


Cine Dica: Cine Dica: Em Blu-Ray - DVD – VOD: ATÔMICA

Leia a minha crítica já publicada clicando aqui.