Para o público atual que aprecia filmes de horror, já acostumado com muito sangue, vísceras à mostra e todo o tipo de atrocidade sendo escancarada em closes de mesas de cirurgia, “O Massacre da Serra Elétrica” (1974), produzido com um orçamento baixíssimo, pouco mais de R$ 140 Mil Dólares, além de um elenco desconhecido e inexpressivo, pode até ser taxado como um filme de horror “light”, sem grande apelo. Mas essa impressão só seria sentida por aqueles que buscam nesse tipo de filme uma sensação barata de pavor, aquele pavor provocado por sustos gratuitos e gosto pelo repúdio da exposição desnecessária de carnificina. Já os que preferem embarcar em uma experiência sádica para uma ambientação intimidadora marcada por uma sucessão de cenas de teor absolutamente, fazendo-nos ranger os dentes de apreensão, esse filme dirigido por Tobe Hooper pode ser facilmente considerado um dos mais perturbadores já realizados, sendo um dos responsáveis pela criação de um subgênero, o slasher, altamente difundido na década seguinte, em diversos filmes, entre eles o mais célebre, “Sexta Feira 13”.
Assim como muitos outros filmes como "Psicose" (1960) e “O Silêncio dos Inocentes" (1991), o filme de Tobe Hooper tem como inspiração principal a figura do psicopata Ed Gein, que havia aterrorizado uma cidade chamada Plainfield, nos EUA, durante os anos 50. O enredo do filme trata da história de um grupo de jovens, entre eles os irmãos Sally e Franklin (esse paraplégico) que viajam até a casa onde viveram na infância, agora abandonada, numa pequena cidade do interior do Texas, impulsionados pelos rumores envolvendo violação dos túmulos no cemitério local, onde foram verificar se não haviam mexido nos ossos de seus ancestrais. Acabam, porém, como todo bom grupo de adolescentes xeretas de filmes do gênero, invadindo uma outra casa, aparentemente também abandonada, e a partir daí se deparam com um nível de terror que jamais imaginariam poder passar um dia, nem nós, que embarcamos junto a eles, nessa inserção sem volta àquela atmosfera macabra.
O filme lhe envolve de tal maneira que mesmo que o natural asco ao presenciar cenas de morte grotesca como a de um garoto levando uma marretada na cabeça e caindo, mexendo as pernas em espasmos nervosos, ou a contemplação da imagem de uma mulher sendo dependurada em um gancho pelas costas, como um animal prestes a ser abatido num matadouro. Talvez isso lhe faça em um primeiro momento rejeita-lo, como se algo dentro de nós querer impedir assistir até o fim, mas ao mesmo tempo nos dando a sensação de poder ao estarmos somente espiando a desgraça alheia.
A última meia hora, onde a tensão chega a níveis insuportáveis, com a família de necrófilos (incluindo aí um avô meio zumbi) torturando a mocinha física e psicologicamente, é o ponto alto do filme. É nessa reta final que fica claro o poder hipnótico que ele consegue, nos deixando fisicamente fadigados, afoitos por um desfecho, seja ele qual for, para que possamos enfim sair de dentro daquele universo de sangue, corpos sendo esquartejados por um maluco portando uma moto serra, e ossos de animais ornamentando a decoração de uma casa que de acolhedora não tem nada. Tendo ganhado continuações, prequels e refilmagens ao longo dos anos, “O Massacre da Serra Elétrica” ainda é um perturbador registro nu e cru sobre até onde pode ir a insanidade humana, do qual merece ser visto não somente a título de curiosidade, pela aura “cult” que o filme obteve, mas como contemplação de um dos melhores registros de filmes horror, no sentido mais literal possível da palavra, em todos os tempos.
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