Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Morreu no ultimo 15
de Janeiro, Nagisa Oshima, que nos anos 70 sacudiu o mundo do cinema com o
elogiado e polemico Império dos Sentidos. Abaixo, leiam mais um pouco desse
clássico que deu o que falar quando foi lançado por aqui.
O IMPÉRIO DOS
SENTIDOS
Sinopse: Proibido na
sua primeira exibição no Festival de Nova York de 1976, esta obra-prima do
erotismo, pe baseada em um dos mais famosos escândalos do Japão. Esta é a história
de uma ex-prostituta que acabou se envolvendo em um obsessivo caso de amor com
o mestre da casa onde trabalha como doméstica. Aquilo que começou como uma
diversão casual, atinge níveis em que a paixão não encontra mais seus limites.
Nagisa Oshima já era
um veterano do cinema do Japão, tendo sido inclusive ter feito parte do grupo
de jovens cineastas, que criaram ótimos filmes, no inicio dos anos 50, que
muitos consideram esse período como "Nouvelle Vague" do cinema
japonês. Mas foi somente em 1976, que Oshima ganhou os holofotes pelo mundo,
através desse filme erótico, provocante e que tem muito a dizer.
Lembrando um pouco
elementos de sucesso do clássico O Ultimo Tango em Paris, acompanhamos os
encontros sexuais do casal central da trama, cujo os encontros vão evoluindo
de tal forma ao longo da projeção, que culmina num dos momentos mais
inesperados daquela época. Sexo, loucura e morte atravessam juntas a cada cena,
numa espécie de ritual, onde cada ato não é o suficiente para saciar ambos.
Devido a isso, o filme foi considerado em muitos países como obsceno e
impróprio para ser assistido, mas devido a toda essa polemica, atraiu milhares
de cinéfilos curiosos, para ver cenas eróticas até então limitadas ao mercado
da pornografia.
Muitos tentam entender a
mensagem que o filme passa. Talvez a mais valida seja, que a entrega dos
protagonistas para um sexo sem limites tenha sido um símbolo de um final de
uma época. Sendo que os anos de 1960, onde a paz, amor e o sexo sem limites dos
jovens daquele tempo, estavam sendo ultrapassados por uma sociedade e política
mais conservadora. Talvez a intenção do cineasta nunca tenha sido polemizar,
mas sim criar um filme premonitório, embora outras teorias possam ser levadas
mais a fundo.
Sinopse: O longa é
dividido em quatro segmentos. Em um deles, um casal americano (Woody Allen e
Judy Davis) viajam para Roma para conhecer a família do noivo de sua filha.
Outra história envolve Leopoldo (Roberto Benigni), um homem comum que é
confundido com uma estrela de cinema. Um terceiro episódio retrata um arquiteto
da Califórnia (Alec Baldwin) que visita a Itália com um grupo de amigos. Por último,
temos dois jovens recém-casados que se perdem pelas confusas ruas de Roma.
Pelo andar da carruagem, tão
cedo Woody Allen não irá retornar para a sua amada Nova York, pois desde Match
Point, o genial diretor vem fazendo inúmeros filmes no mundo a fora e bola da
vez é Roma. Baseado no clássico "Decamerão", o filme acompanha inúmeras
historias de pessoas sem nenhuma ligação uma com a outra, mas que passam por situações
parecidas, desde há achar um novo rumo na vida, vidas amorosas em conflito, com
direitos a teste de fidelidade e situações que beiram a surreais bem ao modo do
diretor.
É claro que em todas as situações
dos personagens são sempre as mesmas habituais que sempre nos vimos, desde os
primeiros grandes sucessos do diretor, mas com um novo revestimento e o que torna algo novo. Das inúmeras
tramas, que mais lembram os velhos tempos de Allen é aquela que é protagonizada
pelo próprio diretor, que embora seja um pouco esquecida na meia hora final, é
uma das mais divertidas. E como sempre, quando Wood Allen não está atuando em sua própria
trama, sempre acha o seu alter ego a altura e a bola da vez é Roberto Benigni.
Embora protagonize uma trama mais simples, acaba sendo uma das mais surreais,
pois Benigni interpreta o típico sujeito que deseja uma vida normal, que de uma
hora para outra vira tudo de cabeça para baixo, quando inexplicavelmente se
torna famoso.
Com um elenco que inclui
astros que já havia trabalho com o cineasta anteriormente como Penélope Cruz (mais
linda e fogosa do que nunca), Para Roma, Com Amor pode não ter a mesma
desenvoltura do seu filme anterior (Meia Noite em Paris), mas é uma prova de
que o diretor neurótico está muito longe de fazer filmes que fiquem aquém de
seu talento. A pergunta que fica é: Quando ele virá filmar no Brasil?
Sinopse: Georges
(Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados,
que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a
família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um
lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que
colocarão o seu amor em teste.
“Pessimismo” é a
palavra que melhor define a filmografia de Michael Haneke como um todo. Nos
seus filmes, os seus personagens nos incomodam, nos fazer pensar e nos
surpreendem pelas suas atitudes imprevisíveis, mas ao mesmo tempo humanas. Em
Amor, embora seja um filme leve se comparado a outras obras do cineasta, não
deixa de ser incomodo o fato, que o que vemos na tela nada mais é do que um
retrato de uma situação que todos nos um dia iremos passar queira ou não.
O filme já começa com
isso, onde vemos um grupo de bombeiros e policiais arrobando um apartamento, para
então encontrar uma idosa, jaz morta em seu leito. Haneke já de cara nos
prepara o terreno para o que estar por vir e mesmo à gente já sabendo o que irá
acontecer, até lá, vemos a degradação psicológica e física que o casal de idosos
protagonista passa, devido ao fato da esposa ter sofrido um derrame. Raramente
outros personagens de fora contracenam com eles (a não ser um pianista ou a
filha), sendo que aquele universo apresentado por nos é somente eles e o
apartamento, que embora esse ultimo esteja cheio de riquezas culturais como
livros e musicas, aos poucos se torna um cenário mórbido, mesmo não havendo nenhuma
alteração
Não há salvação nem
esperança, apenas as coisas vão acontecendo e vão piorando. Nestes momentos, é
quando Jean Luis Trintignant e Emmanuelle Riva se sobressaem e principalmente
ela, que nos surpreende no inicio do filme, onde a sua personagem da os primeiros sinais de um mal que estará por vir.
Mas não há como negar que Trintignant é quem rouba o filme da metade para o final, sendo
que seu personagem começa a sentir o grande peso que é de ter que cuidar de sua
esposa, que cada vez mais se distancia dessa vida. O ator consegue passar para o espectador controle,
mas ao mesmo tempo um desespero interior do seu personagem, que o leva a uma difícil
decisão, que embora possa ser terrível para alguns olhos, fez na verdade por
amor a esposa, por mais mórbido que seja.
Mesmo com esse
retrato sobre o fim da vida de cada um de nos, Michael Haneke nos brinda com
momentos nos quais nos da certa esperança, mas isso somente aflora dependendo
de cada pessoa que for assistir, sendo crente ou não sobre os significados da
vida e da morte. É um filme que vai junto com a gente quando nos saímos de
dentro do cinema, que embora não nos traga nenhuma sensação agradável, sabemos
que acabamos de assistir algo diferente e ao mesmo tempo familiar para todos
nos.
Sinopse: Ambientado no sul
dos Estados Unidos dois anos antes do advento da Guerra Civil Django Livre é
estrelado por Jamie Foxx no papel de Django um escravo cujo passado brutal com
seus antigos senhores o deixa cara a cara com um caçador de recompensas alemão
o dr. King Schultz. Schultz está no encalço de assassinos os irmãos Brittle e
Django é o único que poderá levá-lo até eles. O heterodoxo Schultz compra
Django com a promessa de alforriá-lo após a captura dos Brittle mortos ou
vivos.br Com o sucesso da missão Schultz liberta Django mas ambos optam por não
se separar e seguir pelo mesmo caminho. Com Django ao seu lado Schultz sai em
busca dos criminosos mais procurados do sul. Enquanto vai aperfeiçoando suas
habilidades como caçador Django permanece focado no seu único objetivo:
encontrar e resgatar Broomhilda a esposa que ele perdera para o tráfico de
escravos anos atrás.br A busca de Django e Schultz acaba por levá-los a Calvin
Candie o proprietário de Candyland uma abominável propriedade agrícola. Explorando
a fazenda sob falsos pretextos Django e Schultz despertam a suspeita de Stephen
o escravo doméstico de confiança de Candie. Seus passos passam a ser seguidos e
uma organização perigosa fecha o cerco em torno deles. Se Django e Schultz
quiserem escapar com Broomhilda serão obrigados a escolher entre a
independência e a solidariedade entre o sacrifício e a sobrevivência.
Do jeito que a carruagem
anda, Quentin Tarantino está fazendo uma espécie de trilogia histórica, onde se
explora uma determinada raça oprimida em ir à desforra contra a opressão
dominante. Foi assim em Bastardos Inglórios, onde os Judeus dessem a lenha
contra os Nazistas e aqui a historia se repete, onde Tarantino explora um dos períodos
mais vergonhosos dos EUA, que foi a escravidão. Mais do que um tapa na cara
contra os racistas daquele tempo, Tarantino aproveita ao máximo para homenagear
um gênero que ele já estava namorando já algum tempo: o faroeste, ou mais
especificamente o Western spaghetti, no
qual surgiram perolas como a trilogia dos Dólares comandada por Sergio Leone e
Jango, estrelado por Franco Nero (que aqui faz uma bela ponta).
Mas mesmo com todos esses ingredientes,
a primeira vista a historia é simples, mas o que faz dela diferente de outras produções
dentro do gênero é com certeza o olhar afiado de Tarantino em injetar a todo o
momento a sua afinidade pelo humor negro e seus diálogos afiadíssimos, que
sempre renderam momentos inesquecíveis em seus filmes. O primeiro ato
representa a construção desse cenário, que aqui no caso é comandada pela interpretação
certeira e refinada de Christoph Waltz, que embora lembre em alguns momentos o
seu personagem marcante que o consagrou em Bastardos Inglórios, aqui suas intenções
são bem mais nobres, mesmo possuindo as mais ardilosas idéias para se dar bem,
tanto ele, como o seu mais novo parceiro, Django (James Foxx, cujo seu
personagem vai crescendo gradualmente no decorrer da trama).
Com a dupla feita, ambos
embarcam numa jornada cheia de perigos, onde se tornam uma dupla de caçadores
de recompensas, que em meio a suas caçadas, sempre dão de encontro com almofadinhas
ricos e que acreditam estarem por cima da carne seca. Nesse momento, Quentin
Tarantino tira o maior sarro desse tipo de pessoa daquele período, em especial,
de um grupo de pessoas alienadas que se vestem de Ku Klux
Klan, que acabam discutindo uns com os outros, devido a abertura para os olhos
mal feita das mascaras que vestem. Infelizmente esses momentos hilários se
perdem um pouco a partir do momento da entrada do segundo ato, sendo que
Tarantino não consegue manter o mesmo ritmo, pois a meu ver, acaba esticando a
trama mais do que deveria.
Felizmente, o ritmo se acelera
graças à entrada de um dos personagens mais asquerosos da trama: Calvin Candie,
dono um grande império e que usa escravos para lutas livres até a morte. Para a
surpresa de todos, Leonardo Dicaprio surpreende interpretando esse personagem
de uma forma tão insana e fora de controle, que em alguns momentos chegamos até
nos assustar com suas ações imprevisíveis, principalmente na seqüência em que
ele levanta uma teoria sobre um crânio que ele carrega de um falecido escravo.
Devido a essa seqüência (com direito ao Dicaprio realmente machucar a mão em
cena), o ator nos brinda com uma de suas melhores interpretações de sua
carreira, mas que acabou injustamente ignorado pelos membros da academia. Mas o
que dizer então do braço direito de Candie, que nada mais é do que um escravo
vira casaca e que não hesita em trair a sua própria raça para melhor agradar o
seu senhor. Não é um dos personagens mais fáceis de ser aceitos hoje em dia devido
as suas ações, mas só mesmo um ator de calibre como Samuel L. Jackson, para nos
fazer rir de suas ações endiabradas e de suas palavras racistas que ele dispara
do inicio ao fim. É o melhor momento da carreira do ator depois de muito tempo.
Com todos os piões reunidos no
mesmo tabuleiro, Tarantino como ninguém cria uma verdadeira montanha russa de emoções
no terceiro ato, nos quais a gente jamais sabe o que irá acontecer em seguida. A
aflição é tanta, que nos faz acreditar que os mocinhos (modo de dizer) não irão
se dar bem depois que toda a merda é jogada no ventilador. Quando isso
acontece, o espectador é jogado em um verdadeiro banho de sangue, no qual a
gente não via em sua filmografia desde Kill Bill: Volume 1, mas tudo de uma forma
cartunesca, chocante, hilária e com uma rica montagem de câmera e trilha sonora,
que nos contagia e da vontade de gritar um olé.
Mas embora com tudo isso, a
tempestade se ameniza e embora o cineasta entregue um final que o publico em
geral irá aceitar de bom grado, faltou ali um Gran Finale mais corajoso. Talvez fosse uma espécie de
forma de Tarantino conseguir conquistar uma fatia maior do publico cinéfilo em
geral, que embora isso possa ser valido, faz com que ele se afaste um pouco de
tempos mais corajosos como em Cães de
Aluguel. Apesar disso, esse ultimo filme nos faz desejar querer ver o que ele
irá aprontar na eventual terceira parte dessa trilogia histórica que ele está inventando.
Que os Tarantinescos estejam futuramente lá para conferir.