Nos dias 14 e 15 de fevereiro, estarei participando do curso “David Cronenberg: Seu Cinema e suas Obsessões”, criado pelo CENA UM e ministrado pela Prof.ª Dr.ª Rosângela Fachel de Medeiros. E enquanto esses dois dias não vêm, por aqui, estarei postando um pouco sobre cada filme, desse diretor que passa sua visão obscura (mas que fascina) para a tela do cinema!
MARCAS DA VIOLENCIA
Sinopse: Tom Stall mora com sua esposa Edie e seus dois filhos na pequena cidade de Millbrook, no estado de Indiana. Certo dia, Tom percebe um assalto em andamento em seu restaurante e mata os assaltantes para defender seus clientes. Depois disso, passa a ser visto por muitos como um herói e a mídia passa a incomodá-lo. Porém, o que Tom não esperava é que um homem chamado Carl Fogarty lhe procurasse para acusá-lo de ter lhe feito um grande mal no passado.
Um dos melhores filmes da primeira década do século 21, Assim como em seus filmes anteriores, David Cronenberg cria um palco onde ele apresenta determinados personagens de uma forma gradual, que a principio não temos idéia das suas ações ou motivações. Bom exemplo disso é a curiosa cena de abertura, onde se é apresentado dois indivíduos, que aos poucos, se apresentam como verdadeiras entidades do caos, sendo que, graças à forma como o diretor apresenta um determinado cenário, onde com certeza ocorreu um verdadeiro massacre, mas tudo de uma forma lenta e muito bem dirigida. Esse inicio é um pequeno exemplo do que ira ocorrer durante a trama, onde nos somos apresentados os personagens principais, mas ao longo do filme, certos eventos fazem com que os protagonistas se transformem numa pálida imagem do que eles foram um dia.
A trama pode ser vista como uma critica ou exemplo do sonho americano, em que existe a segunda chance para todos, embora certas situações sejam difíceis de serem perdoadas, mas também não impossível. Viggo Mortensen apresenta um dos seus melhores desempenhos (pós Senhor dos Anéis) em que seu personagem vai se descascando, ao ponto de revelar seu verdadeiro eu, mas também não abandonando o homem que se tornou em sua segunda vida. Do elenco secundário, Ed Harris está assustador como uma figura do passado do protagonista, Marisa Bello (Janela Secreta) consegue um ótimo desempenho em cenas intensas (a cena de sexo dela com Mortensen é marcante), mas é William Hurt que tem um desempenho extraordinário (indicado ao Oscar), mesmo aparecendo em poucos minutos e no ato final da trama.
Curiosidade: Os gângsters originalmente seriam italianos, mas após as contratações de Ed Harris e William Hurt o diretor David Cronenberg decidem mudar sua nacionalidade para irlandeses. Cronenberg acreditava que Harris e Hurt não convenceriam como italianos.
Senhores do Crime
Sinopse: O misterioso e carismático russo Nikolai Luzhin é o motorista de uma das mais conhecidas famílias do Leste Europeu que atua no crime organizado de Londres. A família faz parte da irmandade do crime Vory V Zakone, dirigida por Semyon, proprietário do charmoso restaurante trans-siberiano, que encobre o núcleo frio e brutal da fortuna da família coordenada pelo inconstante e violento filho de Semyon, Kirill, que é mais ligado a Nikolai do que a seu próprio pai.
Alguns consideram esse filme como irmão do filme anterior de Cronenberg, mas que embora foque novamente o mundo da máfia, as tramas são completamente diferentes. Repetindo a parceria com o diretor, Mortensen novamente da um show de interpretação, onde ele se apresenta como um personagem ambíguo, embora sabemos que ele é um lacaio da máfia Russa, mas como todo filme de Cronenberg que se preze, nem tudo é o que se parece. Com a sua criação, Cronenberg cria um retrato critico do trafico de prostitutas nas mãos de pessoas ambiciosas e sem escrúpulos, no submundo de uma Londres até então desconhecida para muitos.
O filme ainda conta com coadjuvantes ilustres como Naomi Watts (Cidade dos Sonhos) e Vincent Cassel (Cisne Negro), que como sempre, cria um personagem com atitudes explosivas e imprevisíveis. Atenção para a fantástica cena da sauna, onde o personagem de Mortensen é atacado “nu”, por dois capangas. Nesta cena, Cronenberg usa e abusa de ângulos de câmera inusitados, para uma luta inusitada, onde o sangue jorra e choca, devido a um cenário branco, e que torna a cena muito mais caótica. Não deixa de ser curioso que essa seqüência, seja de uma forma subliminar que o diretor tenha criado, ao tentar unir violência e erotismo, fazendo da luta, um verdadeiro ato sexual sangrento, mas apenas sugerido.