Sinopse: Jovem apaixonada por design de moda que é misteriosamente capaz de ir para a década de 1960, onde encontra seu ídolo, uma deslumbrante aspirante a cantora.
Edgar Wright já pode ser apontado como um dos melhores diretores autorais do cinema atual. Começou de forma mansa, mas logo foi conquistando o público e a crítica através de "Todo Mundo Quase Morto" (2004), "Chumbo Grosso", "Scott Pilgrim Contra o Mundo" (2010) e "Em Ritmo de Fuga" (2017). "Noite Passada em Soho" (2021) ele potencializa o seu lado autoral, ao nos colocar frente a frente com uma Londres sedutora, porém, maquiavélica por detrás das cortinas.
O filme conta a história de Eloise (Thomasin Mckenzie), uma jovem apaixonada por design de moda que consegue, misteriosamente, voltar à década de 1960. Lá, ela encontra Sandy (Anya Taylor-Joy), uma deslumbrante aspirante a cantora por quem é fascinada. O que ela não contava é que a Londres dos anos 1960 pode não ser o que parece, e o tempo passa cada vez mais a desmoronar, levando a consequências sombrias.
Atualmente há um desejo no público atual em voltar em uma época mais dourada, ou mais precisamente em uma década em que a pessoa mais se identifica. Isso é explorado em potência máxima pelo diretor, onde já na abertura deslumbrante vemos Eloise dançando e cantando sobre tempos coloridos dos anos sessenta e casando assim com a sua ambição em ser uma grande estilista de moda. Se abertura já nos conquista o restante do filme nos fascina.
Em uma verdadeira mistura de "Meia Noite em Paris" (2011) com a "Repulsa do Sexo" (1965) Edgar Wright cria para a protagonista uma verdadeira viagem sensorial, onde não sabemos ao certo o que está acontecendo, se ela está delirando, sonhando ou realmente testemunhando aquele novo cenário. Enquanto as respostas não vêm o cineasta capricha na edição, cujo os jogos de cenas são fantásticos e cujo o uso de espelhos se torna uma peça fundamental para a trama como um todo. Arrisco a dizer que a fotografia e a edição de arte que reconstitui Londres dos anos sessenta está entre as melhores do ano e isso não é pouco.
Curiosamente, a trama vai se tornando cada vez mais complexa, ao ponto de ela transitar entre humor, suspense e até mesmo o puro terror sobrenatural. Tudo embalado de uma forma para que nos pegue desprevenidos, como se alguns elementos vistos na tela não passassem de fumaça e espelhos para ocultar a verdade dos fatos. Além disso, não me surpreenderia se Edgar Wright tenha pegado elementos de sucesso criados pelo mestre Alfred Hitchcock, já que há personagens duplos e dos quais ocultam grandes segredos.
Falando em duplo, o filme pertence as duas atrizes jovens de grande talento. Tanto Thomasin Mckenzie como Anya Taylor-Joy se sobressaem em seus respectivos papeis, sendo que essa última já nos chama atenção graças aos seus enormes olhos e que tem mais a dizer do que imaginamos. Já a personagem de Mckenzie vai crescendo na trama de tal maneira que consegue brilhantemente até mesmo ofuscar a sua contraparte.
Se há um defeito no filme está justamente em sua reta final, onde o diretor arrisca em usar certos elementos convencionais dos filmes de terror e quase prejudicando o resultado final. Felizmente Os minutos finais nos surpreende com uma incrível revelação e pegando muita gente desprevenida, inclusive eu. No saldo geral, o filme é uma crítica acida dessa nova geração em querer voltar para outros tempos, sendo que os mesmos problemas de hoje já se encontravam lá desde o princípio.
Com inúmeras e famosas músicas dos anos sessenta, "Noite Passada em Soho" é desde já um dos filmes mais criativos do ano, com um visual vibrante e história envolvente.