Sinopse: James Bond deixa o MI6 e se muda para a Jamaica, mas um antigo amigo aparece e pede sua ajuda para encontrar um cientista desaparecido. Bond mergulha no caso e percebe que a busca é, na verdade, uma corrida para salvar o mundo.
James Bond é uma criação dos tempos da Guerra Fria e, portanto, o personagem precisou ser renovado caso os estúdios quisessem que a franquia continuasse viva quando o mundo vinha mudando. Embora tenha ocorrido certas mudanças na medida em que o tempo passava alguns títulos, infelizmente, acabaram ficando presos a sua época, não sabendo sobreviver ao teste do tempo e se tornando até mesmo descartáveis. O problema foi talvez terem usado sempre a mesma fórmula de sucesso, mas que acabou com o tempo virando até mesmo uma piada pronta em sátiras como a vista nos filmes de "Austin Powers".
Na época de Pierce Brosnan, ao menos, se deixava muito claro que o personagem era um sobrevivente da Guerra Fria e que precisava se atualizar as novas regras em tempos em que o vilão não possuía uma origem de um país especifico, mas que talvez vivesse até mesmo no território Britânico. Após o 11 de Setembro a franquia precisava se atualizar mais rápido do que nunca e a resposta veio na forma de "007 - Cassino Royale" (2006), onde víamos um James Bond (Daniel Craig) em início de carreira, mais humano, falho e até mesmo se apaixonando. Curiosamente, todos os elementos que giraram em torno desde início se concluem em "007 - Sem Tempo para Morrer" (2021), filme que até se envereda para as velhas fórmulas do passado, mas concluindo de uma forma inesperada, porém, mais do que satisfatória.
Dirigido por Cary Joji Fukunaga, o filme se passa logo depois que James Bond saiu do MI6 e vivendo tranquilamente na Jamaica, mas como nem tudo dura pouco, a vida do espião é agitada mais uma vez. Felix Leiter (Jeffrey Wright) é um velho amigo da CIA que procura o inglês para um pequeno favor de ajudá-lo em uma missão secreta. O que era pra ser apenas uma missão de resgate de um grupo de cientistas acaba sendo mais traiçoeira do que o esperado, levando o agente inglês 007 ao misterioso vilão, Safin (Rami Malek), que utiliza de novas armas de tecnologia avançada e extremamente perigosa.
Embora a premissa nos dá entender que a história vá para os caminhos da previsibilidade, eis que o prólogo nos diz exatamente ao contrário. Para começar, os primeiros minutos começam de forma inesperada, como se estivéssemos assistindo a um filme de terror e culminando em uma semente que teria consequências posteriores ao longo da história. logo em seguida vemos o casal central, Bond e Madeleine (Léa Seydoux) aproveitando aposentadoria do primeiro, mas cujo o passado de ambos retornam para ataca-los.
Depois de mais de meia hora de projeção só aí que surge os famosos créditos de abertura e onde novamente a música rouba a cena. Se percebe que há sempre um cuidado na apresentação dos personagens que serão cruciais para dentro da trama, para só depois as cenas de ação explodirem na tela. Curiosamente, são esses momentos que as vezes poluem uma trama que poderia prejudicar o filme como um todo, mas elas se tornam indispensáveis em momentos em que os personagens se encontram frente a frente com uma revelação ou momento inesperado.
Revelações, aliás, que fazem do filme se diferenciar dos demais títulos da franquia, mas se casando com a proposta principal dos filmes estrelados por Daniel Craig. Embora seja profissional no que faz, esse James Bond nunca escondeu o seu desejo mais profundo de ser feliz com alguém que realmente o amasse, mas que devido a sua profissão isso acabava sendo tirado dele. Se esse tipo de Bond tivemos um pequeno vislumbre lá atrás em "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade" (1969), aqui a situação é intensificada, mas tendo novamente uma conclusão semelhante e ainda mais corajosa diga-se de passagem.
Embora já sentindo peso da idade Daniel Craig se despede do personagem com honras, fazendo a gente já ter saudade e fazendo a gente se culpar quando apontávamos ele de forma negativa quando foi escolhido para o personagem em 2006. Léa Seydoux, por sua vez, não fez de sua personagem uma mera Bond girl, mas sim com conteúdo, com um passado trágico e entregando para o protagonista algo que no passado parecia impossível. E embora tendo pouco tempo de cena Rami Malek surpreende com um vilão verossímil, cuja a sua causa não se envereda somente para um projeto megalomaníaco e fazendo com que tenhamos medo do próprio devido as suas ações a todo momento.
Embora com um ato final, longo, cheio de ação, efeitos visuais e muitos tiros, é preciso dar um salve de palmas para os realizadores em colocar o personagem em um cenário então inédito para a franquia. Claro que haverá muitos que irão me discordar, mas esse final fará com que as pessoas saiam do cinema com o filme ainda em sua cabeça e em tempos em que muitos Blockbuster são lançados para logo serem descartados isso acaba se tornando um grande feito. Um final digno, mas que não é preciso ser gênio que um dia veremos um reboot, mas que por mim o ponto final da franquia fica sendo por aqui mesmo.
"007 - Sem Tempo para Morrer" é o ato final da fase Daniel Graig, que se encerra de uma forma digna e que quebra o lado previsível que boa parte franquia carregava ao longo das décadas.