Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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A cinemasemana que encerra o mês de outubro apresenta uma programação com várias sessões especiais. A principal novidade é a aguardada pré-estreia de O AGENTE SECRETO, de Kleber Mendonça Filho, um dos principais filmes brasileiros deste ano. Também entramos no espírito do Halloween com uma exibição especial do filme HALLOWEEN – A NOITE DO TERROR, de John Carpenter, que deu origem à franquia mundialmente famosa. Na série de filmes sobre a história do RS apresentada pelo Memorial da Assembleia Legislativa, chegou a hora de (re)ver O TEMPO E O VENTO, que terá um bate-papo com a roteirista Leticia Wiershowski, enquanto a sessão acessível deste mês recebe a produção MEMÓRIAS DE UM ESCLEROSADO, com a participação do diretor e protagonista Rafael Correâ.
Entre as novidades da semana, teremos a estreia do imprevisível CONSELHOS DE UM SERIAL KILLER APOSENTADO, em que o cineasta turco Tolga Karaçelik tem Steve Buscemi como protagonista. Já o cinema gaúcho está representado por duas produções da região das Missões que estreiam em nossas telas: SIRIUS, realizado em São Borja, e CONTRABANDO, de Uruguaiana.
Estes são os últimos dias para conferir dois relançamentos de sucesso: AMORES BRUTOS, filme que apresentou ao mundo o talento do diretor mexicano Alejandro Iñárritu, e PARIS, TEXAS, que voltou aos cinemas em comemoração aos 80 anos cineasta alemão Wim Wenders e aos 40 anos da sua estreia.
A produção brasileira segue em destaque na nossa programação, com três títulos em cartaz: NÓ, da diretora Laís Melo, vencedor do Kikito de melhor direção no Festival de Gramado; A REVOLTA DOS MALÊS, que coroa um projeto de muitos anos do ator e diretor Antonio Pitanga; e O ÚLTIMO AZUL, do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, que entra em sua oitava semana de exibição.
Confira a programação completa no site oficial da Cinemateca clicandoaqui.
Sinopse: O filme acompanha Noboru, um menino descendente de imigrantes japoneses que vieram ao Brasil no início do século XX. Em conversas com o avô, ele passa a investigar a história da família e descobre a existência de um tio de quem nunca ouvira falar.
Nos últimos tempos os longas animados brasileiros, não tem somente nos impressionado pela sua qualidade, como também nos passando certas lições de moral a serem colocadas em prática. Em tempos em que cada vez há um grau maior de desavenças entre as grandes potências é sempre bom lembrarmos que todos pertencem ao mesmo mundo independentemente de quais raízes de onde nasceram. "Eu e Meu Avô Nihonjin" (2025) é um pequeno conto animado sobre as raízes de uma família japonesa, mas das quais se misturaram com a nossa cultura.
Dirigido por Célia Catunda, de "Peixonauta - O Filme" (2021), o filme conta a história de Noboru, um menino de 10 anos que resolve investigar a vida de seus antepassados. Por conta de sua descendência japonesa, ele busca saber sobre a origem migratória de sua família, e o único que pode ajudá-lo é seu avô, um senhor que evita falar do passado. No entanto, com a insistência do neto, esse senhor de idade começa a contar uma história surpreendente, desde os seus primeiros passos em terras brasileiras, como também a existência de um tio de Noburo que jamais havia conhecido.
Inspirado no livro “Nihonjin”, de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti em 2012, o filme é um deleite para aqueles que ainda apreciam uma longa animado feito à mão, mas do qual possui tantos detalhes que faz a gente desejar revisitar a obra em uma próxima sessão. Célia Catunda capricha em imagens até mesmo surpreendentes, onde o passado é rico em cores e sintetizando tempos mais dourados, mesmo quando o passado da avó do pequeno protagonista era bastante difícil. Destaco principalmente os detalhes curiosos, desde pingos de água que flutuam em determinados momentos, como se aquelas imagens fossem extraídas de uma água serena de um lago qualquer.
O filme ganha a nossa simpatia principalmente pela relação entre neto e avô, já que o primeiro não possui um bom contato com o seu parente, mas que logo vai compreendendo a sua pessoa, assim como também a história de sua família. Embora seja um longa para todas as idades, o filme toca em assuntos espinhosos, desde ao preconceito, como também a não aceitação de suas origens, quando na verdade é necessário conhecê-la para assim descobrir a sua própria história. Curiosamente, o filme toca até mesmo sobre as indiferenças que o Brasil e o Japão tiveram no passado, mas que felizmente harmonia prevaleceu no decorrer do tempo e hoje fica até mesmo difícil imaginar que um dia essas duas nações tiveram certo atrito.
Acima de tudo, o longa chega para festejar a diversidade e o legado da imigração japonesa no Brasil, já que neste ano marca os 130 anos do Tratado de Amizade entre os dois países. Em tempos em que ainda há preconceito uns com os outros, o filme vem para ensinar os pequenos e adultos que sempre haverá espaço para todos, desde que que possam ouvir e conversar uns com os outros. "Eu e Meu Avô Nihonjin" é uma singela homenagem ao povo japonês que decidiu se aventurar nestas terras brasileiras.
Pré-estreia de O AGENTE SECRETO e estreia de SALVE ROSA são destaques da semana de 23 de outubro no CineBancários
Sala exibe também a trilogia TERRA PARA ROSE e os filmes UMA MULHER DIFERENTE e THIAGO & ÍSIS E OS BIOMAS DO BRASIL
De 23 a 29 de outubro, o CineBancários exibe a estreia de SALVE ROSA, suspense nacional com Klara Castanho e Karine Teles, e recebe a pré-estreia do aguardado filme O AGENTE SECRETO, de Kleber Mendonça Filho, dia 25 de outubro, às 19h. UMA MULHER DIFERENTE, longa francês que aborda romance e autismo, e THIAGO & ÍSIS E OS BIOMAS DO BRASIL, animação infantil repleta de humor, ritmo e descobertas, seguem em cartaz no cinema da Casa dos Bancários.
Ainda nos dias 23 e 24 de outubro, a sala exibe a trilogia da diretora Tetê Moraes sobre a questão agrária: Terra para Rose, Sonho de Rose e o curta-metragem Fruto da Terra. As sessões marcam os 40 anos da ocupação da Fazenda Annoni, primeira ocupação de terra realizada pelo MST.
O AGENTE SECRETO - Ambientado em Recife, em 1977, “O Agente Secreto” acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna a Recife após anos fora em busca de paz, apenas para descobrir que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes.
O elenco do thriller político reúne ainda grandes nomes do cinema brasileiro, incluindo Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Alice Carvalho, Roberto Diogenes, Hermila Guedes, entre outros grandes artistas. A produção é assinada por Emilie Lesclaux, da brasileira Cinemascópio, em coprodução com MK Productions (França), Lemming Film (Holanda) e One Two Films (Alemanha).
SALVE ROSA - No suspense “Salve Rosa”, a renomada cineasta Susanna Lira mergulha em um universo tenso e perturbador. O filme acompanha Rosa (Klara Castanho), uma influenciadora digital de 13 anos com milhões de seguidores, cuja vida por trás da tela esconde um mundo de segredos. Criada com rigor por sua mãe Dora (Karine Teles), que regula cada aspecto de sua vida, Rosa vive sob grande pressão emocional. Um desmaio na escola desencadeia uma busca intensa pelo passado, e cada nova verdade ameaça a relação entre mãe e filha.
Com reviravoltas precisas e uma atmosfera intensa, “Salve Rosa” desconstrói uma aparente normalidade para revelar camadas sombrias e perturbadoras. O longa, dirigido por Susanna Lira - premiada cineasta brasileira com quase duas décadas de trajetória, responsável por documentários como “Torre das Donzelas” e “Mussum, Um Filme do Cacildis" -, marca um passo inédito e ambicioso no gênero thriller nacional.
PROGRAMAÇÃO DE 23 a 29 DE OUTUBRO
PRÉ-ESTREIA:
O AGENTE SECRETO
Brasil/França/Holanda/Alemanha /Drama/2024/ 158 min.
Direção: Kleber Mendonça Filho
Sinopse: O longa é um thriller político, que acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz, mas logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.
Elenco: Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Hermila Guedes, Alice Carvalho, Roberto Diogenes.
ESTREIA:
SALVE ROSA
Brasil/ Drama/2025/ 100 MIN.
Direção: Susanna Lira
Sinopse: Após sofrer um desmaio na escola, a jovem Rosa resolve partir para a investigação sobre o seu passado. A descoberta dela acaba colocando, não apenas a relação com a sua mãe muito protetora em risco, como a sua própria vida.
Sinopse: Katia é uma documentarista brilhante de 35 anos que demonstra uma abordagem única para seus relacionamentos, todos mais ou menos caóticos. Sua participação em um novo documentário finalmente a leva a aceitar suas diferenças. Essa revelação abalará uma vida já complicada.
Elenco: Jehnny Beth, Thibaut Evrard, Mireille Perrier, Irina Muluile, Philippe le Gall
THIAGO E ISIS – E OS BIOMAS DO BRASIL
Brasil/90 min/Ficção – Classificação LIVRE
Direção: João Amorim
Sinopse: Em uma jornada repleta de descobertas e aventuras, os irmãos Thiago e Ísis percorrem três biomas brasileiros ao lado do pai, o cineasta João. A cada parada, precisam ajudar um animal em risco — e, com isso, revelam os segredos e a importância do Cerrado, do Pantanal e da Mata Atlântica.
TERRA PARA ROSE
Brasil/Documentário/1987 /83min.
Sinopse: O premiado documentário dirigido por Tetê Moraes mostra a luta por terra e pela reforma agrária no Brasil da Nova República. O filme apresenta a participação de diversas mulheres no conflito da fazenda Anoni, que foi ocupada por 1.500 famílias no Rio Grande do Sul. A figura central é Rose, que luta para dar uma vida digna ao seu filho pequeno.
HORÁRIOS de 23 a 29 DE OUTUBRO
Não há sessões nas segundas
DIAS 23 e 24 DE OUTUBRO:
15h: TERRA PARA ROSE (23/10) | SONHO DE ROSE (24/10)
17h: UMA MULHER DIFERENTE
19h: SALVE ROSA
DIA 25 DE OUTUBRO:
15h: THIAGO E ISIS – E OS BIOMAS DO BRASIL
17h: UMA MULHER DIFERENTE
19h: O AGENTE SECRETO
DIA 26, 28 E 29 DE OUTUBRO:
15h: THIAGO E ISIS – E OS BIOMAS DO BRASIL
17h: UMA MULHER DIFERENTE
19h: SALVE ROSA
Ingressos
Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 14 na bilheteria do CineBancários. Idosos (as), estudantes, bancários (as), jornalistas sindicalizados (as), portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 7. São aceitos cartões nas bandeiras Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
Na quinta-feira, a meia-entrada (R$ 7) é para todos e todas.
CineBancários
Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre
Mais informações pelo telefone (51) 3030.9405 ou pelo e-mail cinebancarios@sindbancarios.org.br
Nota: Filme exibido para associados no dia 19/10/25
Sinopse: Gilda, uma imigrante brasileira em Lisboa, enfrenta o fim da vida com coragem e lucidez. Diagnosticada com uma doença terminal, ela deseja morrer enquanto ainda é dona de si mesma.
O direito de morrer não é um dos temas mais fáceis de serem levados para o cinema, mesmo quando os realizadores colocam isso em prática com certa delicadeza. Pedro Almodóvar, por exemplo, explorou o tema no seu primeiro filme americano intitulado "O Quarto ao Lado" (2024), do qual dividiu opiniões e gerando debates acalorados. Eis que então chega "Sonhar com Leões" (2025), filme de humor ácido e que nos faz refletir sobre até onde temos o direito de decidir como encerraremos a nossa vida neste mundo.
Dirigido pelo português Paolo Marinou-Blanco, o filme conta a história de Gilda (Denise Fraga), uma imigrante brasileira que vive em Portugal e que foi diagnosticada com câncer e fazendo com que não tenha muito tempo de vida. Após quatro tentativas de suicídio fracassadas, porém, a mulher vai em busca de uma organização clandestina chamada Joy Transition International que diz ensinar aos seus clientes terminais a se suicidarem sem dor ou problemas em países onde a eutanásia é ilegal. Lá conhece Amadeu (João Nunes Monteiro) que trabalha em uma funerária e que busca pelo mesmo objetivo de Gilda.
O filme já se inicia de uma maneira imprevisível e fazendo já termos uma noção do que esperar no decorrer da história como um todo. Paolo Marinou-Blanco procura inicialmente criar uma história mórbida, com pitadas de humor ácido, sedutor e dos quais são protagonizados na maioria das vezes por Denise Fraga. O grande charme neste primeiro e segundo ato do longa está no fato da protagonista quebrar a quarta parede e dosar momentos de sarcasmo, sinceridade em abundância e lucidez mórbida. Boa parte do tempo a intérprete carrega o filme nas costas e fazendo com que a gente a deseje ainda mais em cada cena.
Porém, é preciso destacar o elenco português como um todo, principalmente atuação de João Nunes Monteiro que não desaparece perante a Denise Fraga, mas sim fazendo do seu personagem uma espécie âncora para que a protagonista possa refletir um pouco sobre essa cruzada da qual está passando. Curiosamente, Amadeu conversa com os mortos em uma funerária, o que remete a já clássica série "A Sete Palmos" e do filme brasileiro "Morto Não Fala" (2018). Vale destacar a atuação sarcástica de Joana Ribeiro que trabalha na organização clandestina chamada Joy Transition International e cujo seu sorriso sintetiza o lado hipócrita do sistema perante o principal assunto da trama.
É bem verdade que Paolo Marinou-Blanco brinca com relação às grandes empresas que ganham com isso, seja com relação a morte natural ou provocada e nos jogando na cara de que tudo acaba se tornando um verdadeiro negócio para determinadas pessoas. Não será nenhuma empresa, seja ela legal ou não, que fará com que a morte seja tratada de um modo fácil, pois ela não é. A protagonista, portanto, arrisca em atingir o seu objetivo, mesmo quando sentimos que talvez ela mude de rumo quando começa a degustar mais da vida ao lado de Amadeu.
Infelizmente Paolo Marinou-Blanco falha um pouco no ritmo do segundo para o terceiro ato final, já que o humor ácido acaba ficando em segundo plano e abrindo para elementos mais dramáticos. Porém, isso não diminui a proposta do longa como um todo, principalmente ao explorar que, uma vez que temos o poder da decisão, obtemos então o controle de nossas próprias vidas e fazendo disso o principal poder que a gente almeja contra um sistema cheio de regras, mas que não sabe lidar com a questão da morte. Felizmente o minuto final termina do mesmo tom que começou e mantendo a sua identidade própria que havia sido apresentada inicialmente nos primeiros minutos da trama.
Com uma bela homenagem ao clássico literário "O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway, "Sonhar com Leões" é um filme de humor sombrio perante um tema delicado, mas que é preciso ser debatido mesmo quando tentamos afugentá-lo.
De 20 a 24 de outubro, a Sala Redenção recebe o Panorama Estadual da VIII Mostra SESC de Cinema. A programação reúne 12 obras – entre curtas e longas-metragens – produzidas em seis cidades gaúchas: Porto Alegre, Canoas, Capão de Leão, Pelotas, Rio Grande e Três Passos. Todas as sessões têm entrada franca e são abertas à comunidade em geral.
A Mostra SESC de Cinema objetiva contribuir para a difusão do cinema brasileiro independente, possibilitando reconhecimento, visibilidade e janelas de exibição às produções audiovisuais do país. A seleção de filmes, feita por meio de edital nacional, considera tanto aspectos técnicos e narrativos quanto elementos sociais, de diversidade de linguagens e representatividade de gênero, raça, cor e territórios.
A Sala Redenção exibe os longa-metragens “Mães Atípicas: quem cuida de quem cuida?” (2024), “Memórias de um Esclerosado” (2024) e “Cine Globo: uma vida de cinema” (2024); e os curtas “Ana Cecília” (2025), “A Sinaleira Amarela” (2025), “Cardo” (2025), “Cassino” (2024), “Desvio de Cena” (2024), “Jeguata Xirê” (2024), “Não tem mar nessa cidade” (2024), “O Casaco” (2025) e “O Jogo” (2025).
Confira a programação completa no site oficial da sala clicandoaqui.
O filme integra o ciclo de outubro sobre a Palestina na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, sempre com entrada franca. O filme, criado a partir das recordações familiares da diretora, de origem palestina, é ambientado em 1948, ano em que se deu a formação do Estado de Israel. Os sonhos da protagonista, uma jovem palestina, são repentinamente destruídos pela violência e abusos perpetuados no processo da fundação de Israel na região da Palestina.
Esse período histórico marca o que para os palestinos chamam de Nakba, termo árabe para catástrofe, época de mortes e deportações forçadas, quando mais de 750mil palestinos tiveram que deixar as próprias casas e terras. O filme circulou em vários festivais e foi indicado pela Jordânia para o Oscar, mas acabou não sendo selecionado.
O nome da protagonista e do filme, "Farha", que em árabe é “alegria” é fortemente simbólico: “Farha significa alegria. E Palestina foi a alegria que foi roubada dos palestinos.” (Darin Sallam, diretora do filme).O Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos devidamente formalizada e regularizada, não só é cineclube inscrito na Agência Nacional do Cinema e no Conselho Nacional de Cineclubes, mas é Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus, Equipamento de Animação Turística certificado pelo Ministério do Turismo (Cadastur) e também Biblioteca Comunitária.
Serviço:
O que: Exibição do filme "Farha", de Darin Sallam (2021 - Jordânia) - 1h32m
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, 20/10, às 20h
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus
Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística - Cadastur
Os filmes de Woody Allen são sobre sua pessoa, sobre suas neuroses e suas críticas acidas com relação a realidade em sua volta. É fácil, portanto, acusá-lo de ser repetitivo, já que a maioria dos seus personagens são uma representação sobre si e sobre determinada fase de sua vida particular. Portanto, "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977) é apontado por muitos como um dos melhores filmes de sua carreira unicamente por saber ser um ótimo ponto de partida para aqueles que forem conhecer a sua filmografia.
O filme é composto de uma estrutura narrativa fragmentada e fora da ordem cronológica; além de possuir vários experimentalismos: animações, contando a historia da paixão platônica do personagem do diretor pela bruxa de A Branca de Neve; legendas, que revelam os verdadeiros pensamentos dos personagens; tela dividida, na qual os personagens “conversam” durante sessões de terapia; e a “quebra” da quarta parede: quando Allen se dirige diretamente a platéia ou quando pára diversos pedestres na rua e faz perguntas sobre o amor. Ele explica o porquê: “eu sentia que muitas das pessoas na audiência tinham os mesmo sentimentos e problemas. Eu queria conversar diretamente com elas, confrontá-las”.
Foi pensado inicialmente para ser um suspense, com a trama centrada num assassinato que deveria ocorrer logo nos primeiros 15 minutos de exibição. Porém, percebendo que as melhores cenas estavam no romance, Woody decidiu excluir esta primeira trama – diminuindo o filme de 140 para 93 minutos –, passando a narrar apenas os altos e baixos da relação entre o comediante Alvy Singer (Woody Allen) e a cantora Annie Hall (Diane Keaton), intercalando com histórias anteriores das vidas de cada um deles. Através desse romance, são abordadas a maioria das dificuldades que encontramos em relacionamentos amorosos: obsessões morais, fidelidade, sexo, imaturidade emocional, etc. – assuntos recorrentes a quase todos os filmes de Allen.
Apesar de o diretor negar, Noivo neurótico, noiva nervosa é considerado por muitos um filme quase autobiográfico, devido às inúmeras semelhanças entre personagens e atores, por exemplo: Woody Allen e Diane Keaton mantinham um relacionamento na época da filmagem; quando jovem ela era conhecida como Annie Hall (título original do filme) e as roupas da personagem são da própria atriz; e Alvy Singer “é” Woody Allen, ambos são comediantes, judeus, foram expulsos da NYU, adoram a vida da metrópole (em especial, Nova Iorque) e Fellini – são coincidências demais! O diretor acredita que a comédia “exige a realidade”, talvez seja por isso que os dois protagonistas sejam tão bem construídos, complexos, humanos e, principalmente, reais.
O filme também é marcado por ser o início de uma grande parceria entre o cineasta e a atriz Diane Keaton, que vinha do sucesso "O Poderoso Chefão" (1972), mas obtendo chance maior através desse filme. Vale destacar que nunca Diane Keaton esteve tão à vontade em um personagem que se casou com perfeição com a sua pessoa, pois keaton não era um símbolo da beleza ou da maneira de se vestir, mas sendo ela mesma em seus respectivos papéis. A cena em que ela surge com o seu chapéu e gravata simboliza uma pessoa descontraída, mas não escondendo os mesmos questionamentos de sua cara metade da época.
Ambos em cena possuem uma ótima química em abundância, ao ponto que alguns momentos parecem que nada é improvisado e dando a entender que eles simplesmente estavam atuando como eles mesmos e seguindo apenas a premissa do roteiro. Pode-se dizer que o filme quebra a regra básica de uma comédia romântica como um todo, já que não há exatamente um final feliz para o casório, mas sim um exemplo que devemos obter relacionamentos para continuarmos vivos e seguirmos em frente, pois cada um é um aprendizado a ser guardado para si e com carinho. Ou seja, é um filme a frente do seu tempo e talvez até mesmo a frente da filmografia do realizador, pois se assistirmos aos demais filmes antes deste nos dá a sensação de que é um filme que fala sobre a sua carreira, de como foi a sua pessoa e da qual a mesma não conseguiu encobrir as suas principais falhas genuinamente humanas.
O filme foi aclamado pelo público e pela crítica na época do seu lançamento, as roupas de Annie Hall viraram moda, as falas do filme passaram a ser ouvidas em conversas cotidianas. "Noivo neurótico, noiva nervosa" foi nomeado a cinco Oscar, dos quais ganhou quatro (melhor roteiro, diretor, atriz e filme). Criativo, divertido e envolvente, o filme é, sem dúvida alguma, uma das obras primas de Woody Allen!
NOTA: Em memória da nossa sorridente Diane Keaton
Filmografia:
2023 Do Jeito Que Elas Querem - O Próximo Capítulo
2022 Green Eggs and Ham - Temporada 2
2020 Amor, Casamentos e Outros Desastres
2020 O Poderoso Chefão de Mario Puzo - Desfecho - A Morte de Michael Corleone